terça-feira, 30 de outubro de 2007

Poesia-Orgasmo

De sílabas de letras de fonemas
se faz a escrita. Não se faz um verso.
Tem de correr no corpo dos poemas
o sangue das artérias do universo.

Cada palavra há-de ser um grito.
Um murmúrio um gemido uma erecção
que transporte do humano ao infinito
a dor o fogo a flor a vibração.

A poesia é de mel ou de cicuta?
Quando um poeta se interroga e escuta
ouve ternura luta espanto ou espasmo?

Ouve como quiser seja o que for
fazer poemas é escrever amor
a poesia o que tem de ser é orgasmo.

José Carlos Ary dos Santos
Fotografia: Ana Cruz

domingo, 28 de outubro de 2007

Sick Dez, Oras?

Maddie é a convidada do “Sick dez, oras?” desta semana. A menina encontra-se no estúdio, sentada de frente para a apresentadora Nossa Senhora de Fátima.

Nossa Senhora de Fátima - Boa noite, eu sou a Nossa Senhora de Fátima, e este é o “Sick dez, oras?”. Hoje, temos connosco o quarto pastorinho. Sei que vocês só conhecem três, mas eu vi lá mais um. Só que andou desaparecido durante estes anos todos. Deixemo-nos de conversa. Caros telespectadores, comigo tenho Maddie McCann. Boa noite Maddie. (olhando para os lados) Maddie? Maddie? Onde estás?
Maddie - Posso sair agora, mãe? (olhando para os bastidores)

NSF - Estás aí, sua marota! O que estavas a fazer debaixo da mesa? Ai a menina… Maddie, bem-vinda ao meu programa. Está à vontade, se precisares de alguma coisa… Um copo de água, uma cerveja…
Maddie - Queria um chazinho, se for possível.

NSF - (gritando para os bastidores) Sai um chá de camomila e um copo de água benta, com gás! (virando-se novamente para Maddie) Já não te via há muito tempo. Desde aquele dia de festa, na praia, com música ao vivo… O sol até dançou… Bons tempos…
Maddie - Sim, estava-se muito bem na praia. Mas depois a senhora apareceu, com aquela luz forte que me feriu os olhos…

NSF - Sim, eu lembro-me. Sabes, a minha 4L estava com um problema nos máximos… Então, e onde te escondeste, que eu nunca mais te pus os olhos em cima?
Maddie - Eu estava a brincar na areia com os meus irmãos, mas depois fui embora. Eles não sabem brincar!

NSF - Mas os teus irmãos ainda eram muito pequeninos. Ainda não sabiam falar, pois não?
Maddie - Não sabiam?! O Francisco e a Jacinta falavam muito bem. Já a Lúcia era mais dedicada a inventar histórias. Tinha uma grande imaginação, a rapariga…

NSF - Sim, de facto… Mas, Maddie, nos últimos tempos tens sido notícia de abertura dos telejornais, capa das mais diversas revistas. Tens estado no primeiro plano na Comunicação Social. Como encaras todo este mediatismo à tua volta?
Maddie - Sabe, eu fui sempre bem tratada por todos os locais onde estive. Desde o dia em que desapareci que tenho andado a dar a volta ao mundo. Precisava de espaço para mim, para as minhas coisas…

NSF - Compreendo, eu já não compro uma roupinha para mim há muito tempo. Ultimamente, tenho ido jogar umas partidas de futebol, para ver se faço exercício.
Maddie -
Ah sim?

NSF - Sim, sim. Já joguei contra uns dragões, também já fui a Belém. Há quem diga que foi a segunda vez que dei (à) luz em Belém. (ri-se e olha para Maddie, mas esta não entende a piada) Fui lá jogar com o Bento.
Maddie - O seu empregado?

NSF - Não, não… Aquele do cabelo à tigela.
Maddie - Ah, ok ok.

NSF - (olhando para o relógio) Parece que estamos a chegar ao fim da nossa entrevista. No entanto, não gostaria de terminar sem antes lhe oferecer este ramo de flores.

Ao ver as flores, Maddie entra em pânico e começa a chorar.

NSF - Maddie? Maddie? O que foi?
Maddie - Flores? Já me chega o inspector… (corre para fora do estúdio gritando) Nãaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaooooooo!

Nossa Senhora de Fátima encontra-se sentada no gabinete do produtor do programa “Sick dez, oras?”

Produtor - Então, aqui está o combinado. Oitenta milhões. (diz lentamente enquanto escreve no cheque)
NSF
- Muito obrigada! Estava mesmo a precisar de fazer umas obras lá em casa.

André Pereira

Adivinha Comédia

“DANTEs é que era bom” – diz o reformado – “era vê-los a cair que nem tordos às mãos da Pide.” “Que Inferno” – respondeu o rouxinol – “vai usar a tua língua suja no Purgatório que vais ver! Aí sim, isto é que se tornava um Paraíso.” (E é desta forma absolutamente… como é que se diz?... ESTÚPIDA!!!! que se faz a apresentação do blog mais palerma de todos os tempos).

O Blog dos 13 Workshopistas das Produções Fictícias!

sábado, 27 de outubro de 2007

Mudança de Hora

Estúdio de Rádio
Locutor

Este fim-de-semana muda a hora. Um dos momentos mais esperados pelos portugueses, logo a seguir à actuação do Luís Filipe Reis no “Natal dos Hospitais”. A mudança de hora é um fenómeno que a todos fascina e que é tema de conversa para vários dias.

Conversa entre dois indivíduos, na rua
- Epa, este fim-de-semana muda a hora!
- A sério?! Então, mas não era no primeiro fim-de-semana de Novembro?
- Não, pah! É no último de Outubro.
- Mas isso não é o Dia da Mãe?!
- Não! Isso é lá para Maio… Este fim-de-semana atrasa uma hora.
- Atrasa outra vez?
- Atrasa, mas da outra vez adiantou!
- Epa, então vamos perder uma hora!!
- Não vamos nada pah! Vamos ganhar! Dormimos mais uma hora!
- Mas como, se ganhamos?!
- Sim! Às duas volta a ser uma.
- Pois! Então perdemos!!
- Sim! Perdemos uma hora!... Calma que já me estás a confundir…
- Mas dormimos mais ou não?!
- Epa, o que é que isso interessa? Somos reformados há mais de quinze anos!

Estúdio de Rádio
Locutor

Ainda não ocorreu esta mudança de hora e os portugueses aguardam já com ansiedade a próxima mudança. Há já alguma angústia sobre o que falar até lá.

André Pereira e Nelson Antunes

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

And the oscar goes to...

Depois de Nuno Gomes ter começado a marcar golos e o Tratado Europeu ter sido acordado em Lisboa, só faltava mesmo o Benfica ganhar na Liga dos Campeões. E, surpresa das surpresas, com uma excelente exibição do Óscar, que marcou o golo que deu a vitória aos encarnados. Já o Sporting, não anda lá muito católico. Depois do Fátima, foi a vez de perder com o Roma.

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

domingo, 21 de outubro de 2007

Cair...

São catadupas de palavras que me assaltam a cabeça. Sinto tudo de todas as formas depressa. Acorro a todos os alarmes de urgência, a todos os meus esgares de impaciência. Tudo por pensar. Por querer pensar também. Porque só eu desejo o que não quero, só eu sinto o que não tenho. Eloquente traste que me atravessa a garganta. Rir? Ria quem canta, que a minha história não se escreve em folhas pautadas no caminho. Vai-se fazendo em noites passadas sozinho.

André Pereira

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Santana, o Regresso

Abram alas para o Santana…
…com o seu sorriso amarelo, após ter sido interrompido pela chegada de José Mourinho a Portugal. Santana Lopes regressa, assim, ao Parlamento, mas desta vez com uma diferença, foi eleito.

Selecção obtém vitórias importantes rumo ao Europeu de 2008
As principais ausências foram as do treinador Luiz Felipe Scolari e do jogador Nuno Gomes. Ambos jogaram onde costumam dar maior contributo às suas equipas: na bancada.

Quaresma com protecção extra
Nos jogos frente ao Azerbaijão e ao Cazaquistão, Ricardo Quaresma foi um importante elemento da equipa das quinas. No entanto, a comitiva portuguesa teve de reforçar as medidas de segurança à volta do “Harry Potter português”. Não por este querer fazer desaparecer alguém, mas sim porque não contava com o seu guarda-costas pessoal Luiz Felipe Scolari. Mesmo assim, Quaresma ainda conseguiu fugir, pelos seus próprios meios, das tentativas de roubo a que esteve sujeito, tendo tempo, ainda, para dar um brinde ao recém-chegado Ariza Makukula.

Cardozo vale 20 golos por época
Por falar em avançados goleadores, Óscar Cardozo disse num jornal desportivo que valia 20 golos por época. “É só conseguir mexer as pernas, depois os braços, abrir os olhos, aprender a dar uns chutos na bola, coordenar os movimentos, largar o soro, e depois vão ver”, afirmou o paraguaio.

José Rodrigues dos Santos sofre interferências
O pivot do Telejornal afirma que a direcção da RTP sofreu pressões por parte do Governo. Após longa conversa, o Zé contou como teve conhecimento destas pressões governamentais: “O tempo estava bom, mas, de um momento para o outro, senti as minhas orelhas a abanar tanto, mas tanto, que só poderiam ser altas pressões. Fiquei a saber que eram pressões do Governo porque me disseram: “Oh Zé, tens as orelhas rosadas, pah!” E eu, pronto, desconfiei.”

André Pereira

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Liga de Cavalheiros

Mais uma excelente noite na Travessa da Fábrica dos Pentes. Desta vez, o nosso mentor foi o grande, o irreverente, o único… Filipe Homem Fonseca! Foram algumas horas de extrema alegria e contagiante galhofa. Obrigado Filipe, por teres pegado na minha história e teres colocado um burro a falar. Eheh Tudo depois de um certo indivíduo ter tido um Acidente Vascular Cómico, passado por um hospital com um fisioterapeuta musculosamente gay e ter batido com a cabeça numa pedra, in the middle of nowhere.

Já agora… vai uma massagem com extra?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

A Evolução Simpsoniana

Esta é mais uma das inúmeras pérolas que a família amarela nos tem proporcionado ao longo dos anos. Simplesmente genial... D'oh!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

15 Outubro 1844 – 25 Agosto 1900

Lei contra o Cristianismo

Datada do dia da Salvação: primeiro dia do ano Um (em 30 de Setembro de 1888, pelo falso calendário).

Guerra de morte contra o vício: o vício é o Cristianismo.

Artigo Primeiro – Qualquer espécie de antinatureza é vício. O tipo de homem mais vicioso é o padre: ele ensina a antinatureza. Contra o padre não há razões: há cadeia.

Artigo Segundo – Qualquer tipo de colaboração a um ofício divino é um atentado contra a moral pública. Seremos mais ríspidos com protestantes do que com católicos, e mais ríspidos com os protestantes liberais do que com os ortodoxos. Quanto mais próximo se está da ciência, maior o crime de ser cristão. Consequentemente, o maior dos criminosos é filósofo.

Artigo Terceiro – O local amaldiçoado onde o Cristianismo chocou seus ovos de basilisco deve ser demolido e transformado no lugar mais infame da Terra, constituirá motivo de pavor para a posteridade. Lá devem ser criadas cobras venenosas.

Artigo Quarto – Pregar a castidade é uma incitação pública à antinatureza. Qualquer desprezo à vida sexual, qualquer tentativa de maculá-la através do conceito de “impureza” é o maior pecado contra o Espírito Santo da Vida.

Artigo Quinto – Comer na mesma mesa que um padre é proibido: quem o fizer será excomungado da sociedade honesta. O padre é o nosso chandala – ele será proscrito, deixá-lo-emos morrer de fome, jogá-lo-emos em qualquer espécie de deserto.

Artigo Sexto – A história “sagrada” será chamada pelo nome que merece: história maldita; as palavras “Deus”, “salvador”, “redentor”, “santo” serão usadas como insultos, como alcunhas para criminosos.

Artigo Sétimo – O resto nasce a partir daqui.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

PAAAMMMMM

Ladies and Gentlemen, girls and boys, please welcome… Nuno Markl! Clap clap clap

Durante quatro aulas, o
Markl foi o mentor de um grupo de treze pessoas que têm em comum o facto de quererem fazer humor. O nosso google da comédia disparou sabedoria em todas as direcções, deixando-nos boquiabertos. Para além disso, ainda possui uma mala sem fundo que tem lá dentro todas as séries realizadas nos últimos 3.000 anos. Foi uma honra absorver os ensinamentos deste verdadeiro senhor. E este grupo é fantástico, estou a adorar esta workshop!

Ah, e para acabar.... PAAAAAAMMMM!

Fátima, SAD (Sociedade Anónima de Deus)

Estas duas últimas semanas foram ricas em acontecimentos de elevado nível jornalístico. Falamos, por exemplo, da chegada de José Mourinho a Portugal. O treinador português trazia vestido umas calças de ganga da Levi’s, umas All Star azuis com os atacadores atados em nó cego e uma t-shirt branca de tamanho M da Lacoste. O perfume era da Channel e a barba teria sido feita há dois… não, desculpem, três dias. Ah, e parece que houve eleições no PSD, e que também se ficou a saber os galardoados com o prémio Nobel.

Res publica
No passado dia 5 de Outubro festejou-se a implantação da República. Se, por um lado, José Sócrates, Cavaco Silva e Mário Soares teceram elogios à democracia, por outro, há ainda quem condene esta ideologia. Numa reunião no Reichstag, estiveram presentes Bush, Hugo Chávez, o Rei Juan Carlos e Alberto João Jardim.

Só 80 milhões?!
O Bispo de Leiria-Fátima fez mais uma contratação para o seu plantel. Desta vez, não se trata nem de um padre nem de uma freira para alargar a frente de ataque da sua equipa, mas sim de um novo local para realização dos jogos. 80 milhões é o número em cima da mesa. Aliás, a Igreja Católica desde há longos anos que está habituada a lidar com milhões. Alguns exemplos, para reavivar a memória: 9 milhões mortos sob a égide da Inquisição, 7 milhões de judeus mortos nos campos de concentração, com o conhecimento da Igreja Católica, etc, etc, etc. (para mais exemplos, favor abrir os olhos).

Danças com Loucos
Amanhã comemora-se o dia 13 de Outubro. Para as pessoas é um dia normal, para os outros é um dia em que se festeja a aparição da Nossa Senhora de Fátima aos três pastorinhos. Foi no dia 13 de Outubro de 1930 que o Bispo de Leiria tornou público, oficialmente, as aparições de Fátima. Segundo rumores, consta que o sol havia bailado um tango, seguido de um cha-cha-cha e uma salsa. Foram longos os dias de treino, até porque na altura as condições eram mínimas. Os ensaios foram coordenados por Marco di Camilis, que ensinou o sol e a Virgem a mexerem bem a anca. Consta que a Nossa Senhora nunca a tinha mexido…

O Orçamento do PSD
Luís Filipe Menezes é o novo líder do PSD. Desta forma, poderemos apreciar uma forte oposição ao governo socialista, com Menezes e Santana Lopes no mesmo barco. Bem… Santana Lopes? Desculpem, retiro o que disse. Aliás, parafraseando os nossos ilustres comentadores de futebol, reconheço que estas eleições resultaram numa “troca por troca”. José Sócrates já reagiu a estas eleições e disse que já esperava este desfecho: “Meus amigos, o Orçamento de Estado de 2008 vai apoiar a natalidade e os mais jovens. Foi por isso que o Marques Mendes saiu do PSD. Porque no PSD não há esse apoio!”

André Pereira

Doris Lessing vence Prémio Nobel da Literatura

Contra todas as previsões, Doris Lessing foi ontem distinguida com o Prémio Nobel da Literatura. A relativa surpresa com que o anúncio foi acolhido nada tem que ver com os méritos literários de uma autora que, prestes a completar 88 anos, já conquistou quase todos os mais importantes prémios literários - falta-lhe o Booker, para o qual foi nomeada três vezes -, mas apenas pelo facto de, na lista de principais favoritos, não constar o seu nome em evidência (o italiano Claudio Magris dominava os prognósticos das casas de apostas).

"Narradora épica da experiência feminina, que com cepticismo, ardor e uma força visionária perscruta uma civilização dividida", como justificou a Academia Sueca em comunicado, a romancista britânica é autora de uma obra cujo tom pessoalíssimo - a elegância da linguagem é uma marca dos seus livros - se alia a um combate de causas ideológicas (do feminismo aos direitos humanos) para criar uma obra que ao longo dos anos conquistou um número apreciável de leitores fiéis.

"A boa terrorista", "A erva canta" , "O quinto filho" ou "A revoltada" são apenas alguns dos títulos mais notórios de uma obra que reúne mais de 50 títulos de poesia, entre romances, poesia, ensaios, autobiografias, contos e ficção-científica.

O inconformismo discreto da multifacetada autora, nascida no actual Irão, não a impediu de assumir ao longo dos anos posições firmes que visavam colocar em xeque a corrupção latente em vários governos africanos ou a permanente subjugação da mulher às mãos de uma sociedade castradora. Mas o sentido de justiça assumiu também outras formas Lessing era já uma escritora renomada quando resolveu enviar, sob pseudónimo, um escrito inédito para uma editora. O texto acabaria por ser recusado, o que levou a escritora a assumir uma posição pública favorável aos jovens escritores, denunciando a podridão do meio literário.

Quando a Academia Sueca divulgou a sua decisão - "uma das mais meditadas que tomámos até agora", anunciou o director da instituição, Horace Engdahl -, Doris Lessing encontrava-se em Londres a fazer compras e só tomou conhecimento formal do anúncio quando se deparou com a agitação invulgar em frente à sua residência. "Nos últimos 30 anos ganhei todos os prémios. É um verdadeiro 'royal flush'", afirmou, satisfeita, aos jornalistas que durante duas horas esperaram pela sua chegada.

Dispersa por várias casas editoriais portuguesas, das Publicações Europa-América à Cotovia, a obra de Doris Lessing deverá agora ser agora alvo de uma atenção superior, já que vários da dezena e meia de livros publicados entre nós se encontram esgotados há muito. No dia 19 chega às livrarias, através da Presença, uma das mais recentes novelas da autora, "O sonho mais doce", publicado em 2001. Ainda sem data definida de publicação encontram-se "The golden notebook", porventura o seu título mais conhecido, e "The cleft", o último romance que assinou.


in Jornal de Notícias

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Fausto Correia (1951-2007)

A minha ligação com Fausto Correia apenas se materializou uma única vez, aquando da visita de alguns alunos do Instituto Superior Miguel Torga ao Parlamento Europeu – a seu convite. Para lá disso, trabalho no jornal “O Despertar”, que ele dirigia até ao dia de ontem. Pouco tenho a dizer sobre a pessoa, não querendo correr o risco de escrever palavras não sentidas. Por essa razão, deixo um texto de José Henrique Dias, docente universitário que recebe toda a minha admiração.

"Há notícias que nos recusamos receber. Depois de entregues, quaisquer que sejam as múltiplas vias, batem contra as nossas resistências, amolgam todas as lógicas, rasgam todas as fibras dos afectos. Há notícias que não deviam chegar-nos se pudéssemos esconjurá-las, tão solidamente brutais nos batem à porta.

Morreu o Fausto. Dito assim, na voz molhada de um amigo comum, tragicamente sincronizada com os noticiários das televisões. Dizermos não pode ser é, ainda mais que o último sopro da incredulidade, a tentativa íntima de deter o indetível, de execrar a dor que começa a minar e a crescer, a subir degrau a degrau ao limiar da insuportabilidade. Até ao regresso à crueza do real, até sabermos que há notícias que temos de receber.

Conheci Fausto Correia não sei bem situar quando, mas que sei situar bem. Nos passos perdidos de todos os fora em que se faz da vida o exercício da cidadania, do compromisso com valores superiores da ideia de servir a res publica, de implicar a existência num viver solidário onde a tolerância impera e os bons costumes importam na busca da luz mais iluminada da razão para ser livre e pensar livremente. Conheci Fausto Correia nos labirintos de uma saudade retocada da lucidez de pensar Coimbra para o futuro, Coimbra à sua espera no caminho da mudança que tarda. E agora, Fausto, que fazer dos projectos e como encontrar quem?

Abro nesta ferida, nesta fenda que a notícia rasgou, a recordação teimosa daquela noite em Bruxelas, em que eu com os alunos do meu Instituto, que tem colado o nome do nosso Miguel Torga, que o Fausto foi tão claramente explicando nos salões da Europa, a fazer o que devia, como ensinara o Mestre, aquela noite em que as raparigas e os rapazes do Curso de Comunicação Social (Fausto, a maioria já está aviada com o diploma a fazer-se à vida, e quantos deles têm aprendido por aqui nas colunas de O Despertar) o ouviram falar de coisas tão sérias com o ar tão leve do magistério esclarecido, as ideias arrumadas, o olhar terno, o sorriso envolvente, a Europa farol do crescimento intelectual a dar as mãos à dos outros desenvolvimentos, o pensar para além dos quintalinhos e quintalecos dos patifes bem falantes que sempre aparecem na hora da despedida.

Fico a dever a Fausto Correia esse momento alto da convivência despreconceituosa que cumpre e se cumpre na função de representar o melhor de nós, a sua disponibilidade e uma maneira de estar que as universidades não ensinam, que se aprendem melhor nas infantes correrias pelas ruelas da baixinha coimbrã, onde mal entra o sol mas se doiram as almas, em que definitivamente nos ganhamos para polir o gume cortante de todas as arestas, para trabalhar a brutidão das pedras rumo aos poliédricos roteiros de uma humanidade melhor. A nossa Coimbra, a do povo, sem capas velhinhas e fitas ao vento. Com mais encanto na hora de estar.

Aqui, nestas páginas que me facultou para umas croniquetas quinzenais em que me esforço por falar de pessoas, de alguns dos seus problemas na medida das minhas posses, vai agora crescer um enorme vazio. Vai faltar-nos a ALVORADA. Apaga-se a luz da discussão dos grandes problemas nacionais, no plano inclinado da dimensão nacional de Coimbra. Coimbra fica mais pobre. Ainda mais pobre. Quem souber olhar na direcção onde nasce o Sol, encontrará o lugar onde se resguardam os eleitos da nossa memória.

Obrigado, Fausto, por quanto ensinaste."

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Ai Nulinho, Nulinho

O Benfica venceu ontem o U. Leiria por 2-1 e – atenção que esta revelação é bombástica!!! Sentem-se num sofá e preparem já um copinho de água com açúcar – o Nuno Gomes marcou! Para quem pensa que isto não é nada, o Nulinho (assim conhecido no mundo futebolístico) conseguiu colocar a bola na baliza por duas vezes.

Parafraseando os nossos gatos, “há coisas deprimentes não há?”

domingo, 7 de outubro de 2007

“Se Deus pode acabar com o mal mas não quer, é monstruoso; se quer mas não pode, é incapaz; se não pode nem quer, é impotente e cruel; se pode e quer, por que não o faz?”

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

97 anos de República

“Lisboa amanheceu hoje ao som do troar da artilharia. Proclamada por importantes forças do exército, por toda a armada e auxiliada pelo concurso popular, a República tem hoje o seu primeiro dia de História. A marcha dos acontecimentos, até à hora em que escrevemos, permite alimentar toda a esperança de um definido triunfo [...] não se faz ideia do entusiasmo que corre na cidade. O povo está verdadeiramente louco de satisfação. Pode dizer-se que toda a população de Lisboa está na rua vitoriando a República.”

Jornal “O Mundo”, 5 de Outubro de 1910

O movimento revolucionário de 5 de Outubro de 1910 surgiu naturalmente como consequência de um conjunto de acções que construíam o panorama político da época. A contraposição entre os movimentos republicano e monárquico eram cada vez mais acentuados, com a Partido Republicano Português (PRP) a conseguir tirar partido de alguns factos históricos de repercussão popular. As comemorações do terceiro centenário da morte de Camões, em 1880, e o Ultimatum inglês, em 1890, foram aproveitados pelos defensores das doutrinas republicanas que se identificaram com os sentimentos nacionais e aspirações populares. Foram realizados diversos comícios, com vista a difundir os ideais republicanos. Elis Garcia, Manuel Arriaga, Magalhães Lima e Agostinho da Silva foram alguns dos oradores.

O terceiro centenário da morte de Camões foi comemorado de forma bastante simbólica. As ruas de Lisboa acolheram um enorme cortejo popular que ficou marcado pela festa e entusiasmo dos intervenientes. O poeta dos “Lusíadas” e o navegador Vasco da Gama foram trasladados para o Panteão Nacional, numa cerimónia de autêntica exaltação patriótica. A Sociedade de Geografia de Lisboa foi a autora da ideia destas comemorações, no entanto, a execução coube a uma comissão de representantes da Imprensa de Lisboa, constituída pelo Visconde de Jorumenha, Teófilo Braga, Ramalho Ortigão, Batalha Reis, Magalhães Lima e Pinheiro Chagas. Com isto, o Partido Republicano, ao qual pertenciam as figuras mais representativas da Comissão Executiva das comemorações do tricentenário camoneano, adquiriu uma enorme popularidade.

A Revolta Republicana

De um lado o General Manuel Rafael Gorjão Henriques, que comandava as forças monárquicas, do outro Machado Santos e as suas forças republicanas. A impotência do governo revelou-se pouco tempo depois, e a República era proclamada pelas forças vencedoras. Como consequência, D. Manuel II, que havia sucedido a D. Carlos I, era exilado para Londres.

Os dias 4 e 5 de Outubro de 1910 foram marcados pela revolta de militares da Marinha e do Exército, em Lisboa. Com o objectivo de derrubar a Monarquia, juntaram-se aos militares a Carbonária e as estruturas do Partido Republicano Português. Na tarde do dia 5 de Outubro, José Relvas, em nome do Directório do PRP, proclamou a República à varanda da Câmara Municipal de Lisboa. No dia 6 o novo regime foi proclamado no Porto e, nos dias seguintes, alargou-se ao resto do país.

A queda da Monarquia já era de esperar. Em 1908, D. Carlos e D. Luiz Filipe haviam sido assassinados por activistas republicanos. O reinado de D. Manuel II tentou acalmar o panorama político que se vivia, mas sem sucesso. Foi acusado de falta de firmeza e experiência, e de ser manipulado pela Rainha-mãe D. Maria Pia de Sabóia. Apesar de o 5 de Outubro não ter sido uma verdadeira revolução popular, mas essencialmente um golpe de estado centrado em Lisboa, a nova situação acabou por ser aceite no país e poucos acreditaram na possibilidade de um regresso à Monarquia.

Com o golpe de 5 de Outubro procedeu-se à substituição da bandeira nacional. O azul e branco da Monarquia foi substituído por um diferente leque de cores. O verde e vermelho ocupam a grande área da bandeira representando, respectivamente, a esperança e o sangue de todos os heróis portugueses. A esfera armilar, colocada no centro da bandeira, simboliza a época áurea dos Descobrimentos. Por sua vez, os sete castelos representam os primeiros castelos conquistados por D. Afonso Henriques. As cinco quinas significam os cinco reis mouros vencidos por este Rei e, finalmente, os cinco pontos em cada uma, as cinco chagas de Cristo. O hino “A Portuguesa”, composto por Alfredo Keil tornou-se o hino nacional.

Seguiu-se um período de democracia republicana, presidido por Manuel de Arriaga. Poeta e advogado, foi um dos principais ideólogos republicanos. Depois da instauração da República, ao ser eleito presidente, tentou reunificar o partido que, entretanto, se desmembrava em diferentes facções. Foi um esforço sem muitos resultados, visto que o seu mandato foi atribulado devido a incursões monárquicas movidas por Paiva Couceiro. Foi substituído pelo professor Teófilo Braga, em 1915. Dois anos depois, o primeiro Presidente da República morria em Lisboa.

Teófilo Braga, fundador do Partido Republicano, assumiu em 1910 a presidência do Governo Provisório Republicano assumindo, em 1915 o cargo de Presidente da República. Foi professor e escritor, tendo deixado uma vasta obra literária.

Este período republicano foi caracterizado por uma forte instabilidade política, conflitos com a Igreja, mas também grandes progressos na educação pública. A chamada I República Portuguesa terminou em 1926, com o golpe de 28 de Maio, a que se seguiram longos anos de ditadura.

“O Governo Provisório da República Portuguesa saúda as forças de terra e mar, que com o povo instituiu a Republica para felicidade da Pátria. Confio no patriotismo de todos. E porque a Republica para todos é feita, espero que os oficiais do Exército e da armada que não tomaram parte no movimento se apresentem no Quartel-general, a garantir por sua honra a mais absoluta lealdade ao novo regime.”

Edital da Proclamação da República

Teófilo Braga, Lisboa, 5 de Outubro de 1910

André Pereira
O Despertar

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

"Anybody seen my baby?"

Continuo a achar que foram os putos:

- Oh Madalena, já é a terceira vez que fazes batota a jogar Monopoly. Toma lá disto que é para aprenderes...

terça-feira, 2 de outubro de 2007

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Ainda com o terço na mão, Simão arrasta-se lentamente pelo corredor vazio do sector C. Todo o seu corpo tende a inclinar-se vertiginosamente para o polido chão branco que pisa. Só os seus olhos lutam por uma sobrevivência agastada por brincadeiras infantis demoradas na eternidade. A sua pele já se confunde com o cinzento pálido das suas roupas, o cabelo despenteado assemelha-se ao andarilho da sua vizinha do quarto número cinco.

André Pereira
Imagem: Direitos Reservados

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Museu da Água comemora Dia Nacional

“A água é o elemento que deu origem e mantém a vida no planeta Terra. Sem água, nenhuma espécie vegetal ou animal, incluindo o homem, pode sobreviver.”

Hoje comemora-se o Dia Nacional da Água. Para comemorar um dia tão importante e natural como a nossa sede, o Museu da Água de Coimbra tem em vista a realização de algumas actividades.

Neste dia, será inaugurada a instalação de Arte “Water Dreams”, do artista plástico Angel Orensanz. Nova-iorquino mundialmente conhecido, Angel já foi premiado nos principais acontecimentos internacionais de arte. A exposição será aberta ao público a partir das 18 horas, no Museu da Água de Coimbra, no Parque Manuel Braga, e estará patente até ao dia 31 de Outubro, podendo ser visitada de terça-feira a domingo, das 10h às 13h e das 14h às 18h.

O convite que o Museu da Água de Coimbra endereçou a Angel Orensanz para vir a Coimbra expor os seus trabalhos mundialmente premiados representa a “vontade deste Museu em dar a conhecer à cidade o que de mais actual se vai fazendo na arte internacional”. Quem o diz é Jorge Temido, presidente do Conselho de Administração da Águas de Coimbra. Esta é a primeira exposição de um artista estrangeiro desde a abertura do Museu em Março passado.

“Angel Orensanz é um dos escultores/autores mais iconoclastas que a Arte internacional tem visto”, afirma o presidente. A sua personalidade controversa estabelece constantes debates sobre a relação entre o Belo e o Sonho. Nova Iorque, Veneza, Berlim ou Moscovo são muitos dos locais por onde o artista já expôs as suas obras. Desta vez, será a oportunidade de visitar Coimbra, com o seu “Water Dreams” no espaço alargado do Museu, invadindo o Parque e o rio circundantes.

O Museu da Água de Coimbra foi inaugurado no dia 22 de Março deste ano, através de um protocolo entre a autarquia e a CoimbraPolis, e já atraiu mais de 10.000 visitantes. Nina Figueiredo, do Gabinete de Comunicação e Imagem da Águas de Coimbra afirma que “é ao fim-de-semana que o Museu da Água recebe mais visitantes”. Desde visitas de escolas, excursões organizadas ou pessoas individuais, os elogios a este espaço multiplicam-se à medida que se soma o número de visitas.

Acompanhando o rio na sua margem direita, o Museu possui dois edifícios – a antiga estação elevatória – a “casinha do parque” –, totalmente recuperada, e um edifício novo, construído de raiz, onde funciona a Provedoria do Ambiente e um bar. A autoria deste projecto pertence aos arquitectos João Mendes Ribeiro, Alberto Laje e Paola Monzio.

Peças de relevante cariz histórico documentam o passar dos tempos que o abastecimento de água tem sofrido. Desde contadores, passando por peças manufacturadas pelos próprios funcionários da Águas de Coimbra (AC), até documentos, plantas antigas e património industrial restaurado, tudo se encontra neste edifício, que é também uma casa-museu.

Após uma navegação por águas já passadas, nada melhor que se sentar na esplanada que pertence ao museu e apreciar a magia do Mondego, ou ouvir um dos muitos concertos que a Orquestra Clássica do Centro realiza regularmente no recuperado coreto do Parque.

A Água

Sem água nenhuma espécie vegetal ou animal, incluindo o homem, poderia sobreviver. Cerca de 70% da nossa alimentação e do nosso próprio corpo são constituídos por água. Os oceanos, os mares, os pólos, a neve, os lagos e os rios cobrem aproximadamente dois terços da superfície da Terra. A água é imprescindível à nossa vida. Teorias científicas, que trabalham na tentativa de descobrir a origem da vida no planeta Terra, atestam que ela teve início na água.

A água participa na protecção do embrião antes do nascimento e continua a actuar por toda a vida na manutenção da temperatura do corpo, no funcionamento das glândulas, na digestão, na lubrificação das articulações e tantas outras funções. 90% do corpo de um recém-nascido é formado por água.

A água é imprescindível ao nosso corpo. Uma vez desidratado ele sofre o fenómeno do envelhecimento. Também para a alimentação, a água é um elemento essencial. Nos vegetais, assim como em todos os alimentos com minerais, a sua composição é dissolvida e distribuída a partir da água.

Em média, uma pessoa bebe cerca de 60 mil litros de água durante toda a vida. Outra das curiosidades centra-se no facto de o ciclo da água já não ser suficiente para purificar a água que o homem polui. Hoje em dia morrem 10 milhões de pessoas por ano (metade com menos de 18 anos) por causa de doenças que não existiriam se a água fosse tratada.

Aparentemente infinita, a água disponível para consumo humano por ano não ultrapassa os 9 mil km3. Esta escassez já afecta vários países. De todos os planetas conhecidos, chove em apenas um: na Terra.

A água também apresenta um papel de extrema importância na maioria das religiões. Esta é considerada purificadora no Hinduísmo, Cristianismo, Judaísmo e Islamismo. O filósofo grego Empédocles defendia que a água era um dos quatro elementos básicos da natureza, em conjunto com o fogo, terra e ar, sendo respeitada como a substância básica do Universo.

Capas negras, Santa Clara,
Da tricana à Universidade,
Ó Mondego tens nas águas
Todo o brilho desta cidade.

André Pereira
O Despertar