quarta-feira, 25 de abril de 2007

A Cor das Flores

“Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.”


De espingardas soltas e vazias, os militares iniciaram a revolução que derrubou, em apenas um dia, o regime político que vigorava em Portugal desde 1926. O dia 25 de Abril de 1974 ficou, assim, marcado na memória de todos os portugueses como “o dia mais dia de todos os dias”, sem qualquer tarde cantada por Carlos do Carmo. Chegara ao fim mais uma noite escura de opressão e tortura levada a cabo pelo regime salazarista. As populações não encontraram grande resistência das forças leais ao governo, uma vez que estas acabaram por ceder e se juntar ao movimento popular. A “Revolução dos Cravos” foi conduzida pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (Movimento das Forças Armadas), na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial. Considera-se que, neste dia, a liberdade foi devolvida ao povo português, denominando-se “Dia da Liberdade” o feriado instituído em Portugal para comemorar a Revolução.

Acontecimentos precedentes

Na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que originou a queda da 1ª República, o General Gomes da Costa instaurou uma ditadura militar em Portugal. Para solucionar a grave crise económica em que o país se encontrava, foi convidado para ministro das Finanças António de Oliveira Salazar. Este conseguiu suster a crise mas submeteu todos os outros ministérios ao das Finanças. Passou a intervir cada vez mais na política e estendeu a sua influência a todos os sectores. Em 1932, tornou-se Presidente do Conselho, criando um conjunto de organismos de controlo do aparelho de Estado e da sociedade. Em 1933 fez aprovar uma nova Constituição, que iria estar na base de um novo regime político ditatorial, o Estado Novo.

Salazar passou a controlar o país, não mais abandonando o poder até 1968, quando este lhe foi retirado por incapacidade, na sequência de uma queda que lhe provocou lesões cerebrais. Foi substituído por Marcello Caetano que dirigiu o país até ser deposto no dia 25 de Abril de 1974.

Durante o Estado Novo, Portugal foi sempre considerado uma ditadura quer pela oposição quer pelos observadores estrangeiros. Formalmente, as eleições existiam, mas eram sempre contestadas pela oposição, acusando o governo de fraude eleitoral e de desrespeito pelo dever de imparcialidade.

Como é natural em qualquer ditadura, o governo possuía uma polícia política, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) que mais tarde se viria a chamar DGS (Direcção-Geral de Segurança). Esta força de segurança perseguia e torturava todos os opositores do regime. Contrariamente ao que se verificava com os outros países europeus, Portugal manteve a sua política baseada, essencialmente, na manutenção das colónias do Ultramar, apesar dos constantes avisos mundiais, essencialmente da Organização das Nações Unidas (ONU). “Orgulhosamente só”, Portugal manteve a sua política de força, tendo sido obrigado, a partir do início dos anos 60, a defender militarmente as colónias contra os grupos independentistas em Angola, Guiné e Moçambique.

A nível económico, o monopólio do mercado nacional pertencia a grandes grupos industriais e financeiros, o que encaminhou o país para uma pobreza extrema até à década de 60, em que os portugueses começaram a emigrar. É a partir desta altura que se nota um certo desenvolvimento económico.

O Mapa Clandestino

A “Revolução dos Cravos” foi preparada com bastante minúcia e cautela. Em 21 de Agosto de 1973, em Bissau, teve lugar a primeira reunião clandestina de capitães. No mês seguinte, ao nono dia, o Monte Sobral, em Alcáçovas, é palco da criação do Movimento das Forças Armadas. No dia 5 de Março do ano seguinte é aprovado o primeiro documento do movimento: “Os Militares, as Forças Armadas e a Nação”, colocado a circular clandestinamente.

No dia 14 de Março, os generais Spínola e Costa Gomes são demitidos dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas por Spínola ter escrito, com a cobertura de Costa Gomes, um livro, "Portugal e o Futuro", no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar. No dia 24 de Março, a última reunião clandestina decide o derrube do regime pela força.

O Xadrez Revolucionário

A insegurança e o clima de tensão haviam-se instalado. No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.

Previamente preparada, às 22h55 é transmitida a canção “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa, que dava ordens para a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado. Já todos sabiam quem eram, o que faziam, quem os tinha abandonado e quem pretendiam esquecer.

O segundo sinal foi dado às 00h20, quando foi transmitida a canção “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.

No Norte do País, várias forças tomaram pontos essenciais do regime, como o aeroporto, a RTP e a RCP. Marcello Caetano reagiu, ordenando às forças sedeadas em Braga para avançarem sobre o Porto. Tal não aconteceu, uma vez que estas já tinham aderido ao golpe.

Descendo no mapa, Santarém foi o ponto de partida da Escola Prática de Cavalaria. A esta escola coube um dos papéis mais importantes, a ocupação do Terreiro do Paço. Comandadas pelo capitão Salgueiro Maia, as forças da Escola de Cavalaria ocuparam a zona às primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo. Ao final do dia, Marcello Caetano rendeu-se, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao general António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcello Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil.

A revolução, apesar de ser frequentemente qualificada como "pacífica", resultou na morte de 4 pessoas, quando elementos da polícia política dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

O Clarear do Cravo

No dia seguinte à revolução, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída por militares, e que procederá a um governo de transição. O essencial do programa do MFA é, em termos gerais, resumido no programa dos três D: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.

De imediato, a PIDE/DGS foi extinta e a Censura “censurada”. Os sindicatos livres e os partidos foram legalizados. Os presos políticos da Prisão de Caxias e de Peniche foram libertados e os líderes políticos da oposição no exílio voltaram ao país nos dias seguintes. Passada uma semana, o 1º de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa reuniu-se cerca de um milhão de pessoas.

Seguiram-se dois anos de alguma instabilidade, período normalmente referido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta entre a esquerda e a direita. As grandes empresas foram nacionalizadas e personalidades que se identificavam com o Estado Novo foram forçadas ao exílio.

Um ano após a Revolução, no dia 25 de Abril de 1975, realizaram-se as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, das quais saiu vencedor o Partido Socialista. Uma nova Constituição foi elaborada, de forte pendor socialista, e foi estabelecida uma democracia parlamentar de tipo ocidental. A constituição foi aprovada em 1976 pela maioria dos deputados, abstendo-se apenas o CDS.

A guerra colonial teve o seu fim e, durante o PREC, as colónias africanas e Timor-Leste tornaram-se independentes.

33 Anos Depois

O 25 de Abril de 1974 continua bem presente na massa cinzenta da sociedade portuguesa, com especial predominância nas gerações mais antigas, que viveram in loco os acontecimentos. A divisão existe neste estrato social, onde encontramos opiniões diametralmente opostas: ou o apoio incondicional ao antigo regime salazarista ou o eterno ideal de liberdade absoluta. Por sua vez, entre os jovens, a divisão é praticamente inexistente, visto que nasceram e vivem numa sociedade diferente da do século passado.

Porém, a maioria da população considera que a “Revolução dos Cravos” valeu a pena. Não obstante, as pessoas mais à esquerda do espectro político tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. Os que se encontram politicamente mais à direita criticam a forma como a descolonização foi levada a cabo e lamentam as nacionalizações.

“De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.”

José Carlos Ary dos Santos

Coimbra de Cravo na Mão

Para comemorar o 33º aniversário do 25 de Abril, o distrito de Coimbra irá levar a cabo diversas iniciativas. Miranda do Corvo festeja a data aproveitando o título que lhe foi atribuído de “capital da chanfana”. No dia 25 de Abril de 2003, doze restaurantes do concelho deram as mãos e, em colaboração com a Câmara Municipal, promoveram a gastronomia tradicional. Esta iniciativa prolongou-se por duas semanas, incluindo os feriados do Dia da Liberdade e do Dia do Trabalhador. A carne de cabra velha foi o ponto de partida para a chanfana, os negalhos e a sopa de casamento. Este ano, Miranda continuará a promover o inesquecível sabor do seu prato típico.

Já a Câmara de Góis irá promover uma cerimónia, que terá início pelas 9h30 com o hastear da Bandeira nos Paços do Concelho, seguindo-se a Sessão Solene no Auditório da Biblioteca Municipal.

A Câmara Municipal de Cantanhede, por sua vez, realizará uma Sessão Solene Comemorativa do 33º aniversário do 25 de Abril, pelas 15horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

A Federação Distrital do Partido Socialista de Coimbra também comemorará o 25 de Abril, com um jantar que a “Comissão Política Concelhia da Figueira da Foz” conjuntamente com o “Movimento Novas Fronteiras da Figueira da Foz” promove hoje, pelas 20h30 no restaurante “O Teimoso”, na Figueira da Foz. Este jantar contará com a presença de António Campos, Fausto Correia e Victor Baptista, entre outros.

André Pereira
O Despertar

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