sexta-feira, 10 de agosto de 2007

À Espera do Fim

Vou andando por aí, sobrevivendo à bebedeira e ao comprimido
Vou dizendo sim à engrenagem e ando muito deprimido
E é difícil encontrar quem o não esteja, quando o sistema nos consome e aleija
Trincamos sempre o caroço, mas já não saboreamos a cereja.

Já houve tempos em que eu tinha tudo não tendo quase nada
Quando dormia ao relento ouvindo o vento beijar a geada
Fazia o meu manjar com pão e uva, fazia o meu caminho ao sol ou à chuva
Ao encontro da mão miúda que me assentava como uma luva.

Se ainda me queres vender, se ainda me queres negociar, isso já pouco me interessa
Perdemos o gosto de viver, eu a obedecer e tu a mandar, os dois na mesma triste peça
Os dois à espera do fim

Tu tens fortuna e eu não, podes comer salmão e eu só peixe miúdo
Mas temos em comum o facto de ambos vermos a vida por um canudo
Invertemos a ordem dos factores, pusemos números à frente de amores
E vemos sempre a preto e branco o programa que afinal é a cores.

Se ainda me queres vender, se ainda me queres negociar, isso já pouco me interessa
Perdemos o gosto de viver, eu a obedecer e tu a mandar, os dois na mesma triste peça
Os dois à espera do fim
Só à espera do fim…

Letra: Jorge Palma
Fotografia: João Ferreira

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