Não é esse o significado que dou ao Natal. O Natal, acima de qualquer religião ou playstation, significa Família. Portanto, num rasgo de lamechice, mas também de profundo sentimento e saudade, decidi partilhar convosco um texto que fiz sobre a Casa da Avó.
A CASA DA MINHA AVÓ
Tem quatro paredes, um telhado e mil recordações. Lá fora, um caminho de terra segue para a mata que toca com as pontas do verde nos muros da casa. De um lado, um terreno de cultivo com árvores de fruto e legumes por nascer. Do outro lado, um monte de areia que sobe pelo muro do galinheiro. Um portão vermelho de ferro, um canteiro de flores e vinte e oito janelinhas ao longo da parede de entrada. Cá dentro, duas bicicletas encostam-se à parede da Casa dos Sacos - um parque de diversões de velharias: balanças, caixotes, baldes, cadeiras, mesas, vasos, candeeiros e sacos, muitos sacos. O pátio de pedra desce ligeiramente em direcção ao poço de água - sempre esteve tapado, afinal, de onde poderia eu roubar ameixas daquela árvore? Ao lado do poço, uma porta com uma carpintaria lá dentro e ainda uma garrafeira dezassete degraus abaixo. O chão está frio - sempre esteve frio - e a corda que pendura a roupa ainda é a mesma. A roupa é que não. A minha avó agora apenas existe nas peças de dominó escondidas no armário - na terceira prateleira do lado esquerdo, ao fundo, debaixo dos casacos e atrás das camisolas de lã -, nos blocos de papel debaixo do telefone, nas bolachas Maria com manteiga, na ponta do sofá junto à lareira, nas fotografias penduradas ao lado da porta do quarto de hóspedes. E, claro, na máquina de costura junto à televisão. Ao fundo do corredor, a casa de banho. Pequenina. A mesma madeira do chão leva a um quarto, à cozinha e a uma sala utilizada apenas em dias de festa. Tudo continua na mesma. As coisas não mudaram de sítio. Nem as recordações. Tem um telhado e quatro paredes. É a casa da minha avó.
4 comentários:
A casa da minha mãe, para mim.
Como ela gostava de vos ver lá a brincar...
Não saltem, tenham cuidado...
vejam lá se se magoam...
Oh, Zé [o avô], deixa lá os meninos...
Como ela gostava de lá ter os netos e os filhos todos debaixo das suas asas. Como ela pedia que nos mantivéssemos sempre unidos.
E, quando eu, o teu pai e os tios éramos muuuiiito mais novos, sentados à braseira, a jogar às cartas com o avô e ela a fritar as filhós para as comermos quentinhas!
Isso sim, o verdadeiro espírito de Natal!...
Que saudades!
Obrigada por te lembrares da minha mãe, tua avó.
Que saudades! :)
a casa da nossa avó :')
É tão bom recordarmos os bons momentos que lá vivemos. Pode ser doloroso, e caímos sempre na tentação de desejar que o tempo volte atrás, mas recordar acalma e dá a sensação de vida vivida.
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