terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Coimbra acolhe Unidades de Saúde Familiar

Lá fora, as pessoas caminham em sentido contrário, com as mãos geladas enfiadas nos bolsos de um casaco quente e com o pescoço envolto por um cachecol que tenta asfixiar o frio. O sol tanto aparece como se esconde, dando lugar às cinzentas nuvens que apenas servem para nos confirmar o que os meteorologistas afirmam.

Chove, pára de chover. Fica o céu limpo e volta ao cinzento-escuro. O vento alterna com uma leve brisa… Esta altura do ano é propícia a inconstâncias. E não só. É uma altura bastante mentirosa que nos engana facilmente com os seus artefactos. O bonito sol que brilha na nossa cara não merece a mesma hospitalidade que o sol de verão. O meio-dia de calor não significa que estamos habilitados a andar de manga curta e em calções. Antes pelo contrário. Estes meses são os ideais para apanhar um ou mais dos inúmeros vírus que estão à espreita atrás da porta, debaixo da cama, ou mesmo ao virar da esquina. Não é espanto algum, portanto, que os centros de saúde sejam dos locais mais frequentados, por vezes atingindo proporções desadequadas, o que não favorece nem funcionários nem utentes.

Este é um problema que existe há muito tempo em Portugal e que a nova reforma da Saúde pretende combater. As Unidades de Saúde Familiar (USF), estando em ligação directa com os respectivos Centros de Saúde, pretendem fornecer uma maior e melhor prestação de cuidados de saúde primários aos utentes: Medicina Geral e Familiar (Clínica Geral), assim como cuidados de Enfermagem e Vacinação. Em algumas Unidades podem existir consultas de outras especialidades médicas, nas quais outros especialistas dão apoio aos médicos de família.

Estas USF são já uma realidade em Coimbra. Inauguradas no dia 5 de Fevereiro, a USF Cruz de Celas e a USF Briosa são as primeiras instalações deste tipo, no concelho. A primeira encontra-se em funcionamento no Centro de Saúde Cruz de Celas, sob a coordenação de Miguel Mesquita. Os oito médicos, oito enfermeiros e seis administrativos constituem a restante equipa. Por seu lado, a USF Briosa está no Centro de Saúde Norton de Matos, e tem como coordenador Conceição Maia. Esta unidade integra seis médicos, cinco enfermeiros e cinco administrativos.

Ambas as unidades têm como principais objectivos melhorar a organização dos cuidados familiares e garantir uma boa qualidade de atendimento. “Aumentar a capacidade de resposta no atendimento aos utentes, em mais de 15 por cento”, é outra das metas a atingir, segundo os responsáveis.

“Uma reforma consensual”

“O nosso sistema de saúde está tão mal que tudo o que seja para melhorar é sempre bem-vindo”. Quem o diz é João Magalhães, residente na zona de Celas e que, por motivos de saúde, frequenta regularmente o Centro de Saúde.

Da mesma opinião é Catarina Silva, que entende que “desta forma, há uma maior libertação dos Centros de Saúde e uma melhor triagem”.

Estas opiniões acabam por ser o espelho do que as pessoas sentem em relação a esta reforma. Segundo o Ministro da Saúde, Correia de Campos, “esta reforma está a ser consensual e envolve a adesão e o apoio de gente de todas as opções políticas e partidárias”. O ministro sublinha ainda, que esta “é uma reforma ambiciosa, mas tem que progredir”.

As USF são um modelo inovador em que se entrega nas mãos dos profissionais a capacidade para se auto-organizarem, apresentando objectivos e metas concretas e comprometendo-se com a sua execução. O modelo organizacional é leve e flexível, que se contrapõe às tradicionais estruturas hierárquicas e burocráticas de poder e de decisão vertical.

Cada USF integra-se, em articulação com o respectivo centro de saúde, na rede nacional de prestação de cuidados de saúde primários. A organização do trabalho numa USF deve garantir boa acessibilidade aos utentes, nomeadamente através de uma resposta no próprio dia, podendo levar à realização ou marcação de uma consulta.

Cada médico de família é responsável pela prestação de cuidados aos seus utentes, mas o corpo clínico e restante equipa fazem intersubstituição no caso de ausência de qualquer um dos elementos, de modo a garantir a prestação de cuidados a todos os utentes inscritos na USF.

O horário de cada unidade é das 8 às 20 horas, todos os dias úteis, existindo em algumas USF prolongamento de horário, para além das 20 horas e aos fins-de-semana. Para marcar consulta, preferencialmente por telefone, cada Unidade tem um horário previamente designado.

Aos sábados, o contacto por parte dos utentes é feito obrigatoriamente por telefone. “O médico ou o enfermeiro verificam se a situação pode ser resolvida através de aconselhamento ou se é necessário marcar uma consulta para os dias seguintes, com o médico de família”, afirma Miguel Mesquita, coordenador da USF Celas. Em situações mais graves, o utente poderá vir a ter consulta no próprio dia. “Não queremos funcionar como um SAP, mas, se houver necessidade, o doente será observado no sábado na USF”, conclui o coordenador.

André Pereira
O Despertar

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