A Fonoteca Municipal de Coimbra (FMC) existe há cerca de oito anos e é considerada por muitos como a “melhor da Península Ibérica”. Localizada na Casa da Cultura (CC), na Rua Pedro Monteiro, a FMC nasceu com o objectivo de construir a memória sonora de Coimbra, dando a oportunidade aos utilizadores de ouvirem a música ou os registos sonoros que melhor se identifiquem com a sua própria sensibilidade.
A Fonoteca Municipal foi recentemente transferida para o piso térreo da CC onde os utilizadores têm à sua disposição um espaço mais amplo, que alberga um espólio de mais de 9000 cds e dvds e cerca de 24 mil discos em vinil.
Tal como num crescendo de uma ópera de Wagner, a colecção aumenta diariamente, através da aquisição contínua de obras musicais. O espaço coloca à disposição dos utilizadores todos os géneros musicais, classificados em: Músicas Tradicionais / World Music, Jazz e Blues, Rock, Música Clássica, Música Contemporânea, Músicas Funcionais, Fonogramas não musicais e Fonogramas para crianças. A Fonoteca possui, ainda, dois fundos específicos: a Canção Coimbrã e a Canção da Resistência.
Mário Nunes, vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, afirma que a Fonoteca é a “melhor discoteca da Península Ibérica”. O responsável camarário baseia-se na enorme quantidade e qualidade de obras musicais. Revela ainda que “os interessados nestas coisas, que já visitaram muitas fonotecas em Portugal e Espanha, dizem que esta é a melhor”.
Pessoalmente, Mário Nunes tem um especial carinho e orgulho nas obras de Mozart e Fernando Lopes de Graça, “dois compositores de elevada qualidade que embelezam a nossa colecção”.
Grande parte do espólio ali encontrado, principalmente no que ao vinil diz respeito, é proveniente da RDP: “existem na Fonoteca muitas edições raras, que foram doadas pela RDP e abrangem os seus 60 anos de actividades”.
A ideia é ter “todas as áreas musicais” e que ali esteja sempre presente “a última novidade”, refere o vereador. “Não podemos viver apenas do passado”, conclui. Esta junção do passado com o presente permite manter um número significativo de utentes que se tem alargado a olhos vistos.
A discoteca permite a audição local e o empréstimo domiciliário de cds e dvds musicais, dispondo, também, de equipamento adequado para a sua utilização no próprio local. “A excelência do serviço e as condições que proporcionamos – desde as obras em si até à literatura sobre os compositores – são factores da qualidade que queremos assegurar”.
Pequenos grandes pedaços de música
A Fonoteca tem em seu poder, ainda, dispositivos técnicos para a regravação e recuperação dos títulos. Assim, os munícipes de Coimbra detentores de registos fonográficos antigos, em disco ou fita magnética, nas áreas da Música da Resistência e da Canção de Coimbra, podem cedê-los à Fonoteca, a título de empréstimo, com o objectivo de transpor o material para “registos mais fiáveis e duradouros”, devolvendo-o de seguida ao seu proprietário.
Diariamente, são mais de 70 as pessoas, na sua maioria estudantes, que frequentam este espaço rodeado por pequenos grandes pedaços de música. Lá fora, o sol de Inverno aquece as folhas caídas no jardim, enquanto que cá dentro o sol transforma-se em clave e o jardim que nos envolve é composto por folhas pautadas. Há muitas semelhanças entre este pequeno espaço sobrecarregado de compassos e notas musicais, e a Natureza que nos abraça através do Jardim da Sereia. Com passos de bailarina, dançamos na nossa mente ao sabor de uma sinfonia de Beethoven ou choramos de forma compulsiva ao ouvir os gemidos da guitarra de Carlos Paredes. Percorremos o mundo no acordeão de Astor Piazzolla, e abanamos o corpo ao som do piano de Ray Charles.
“É um local onde adoro estar sentado a ouvir a música que gosto”, afirma Rui Miguel. “Fecho os olhos, e imagino-me a voar rumo ao infinito, é uma sensação magnífica”, conclui o estudante universitário.
Brevemente, o espaço será alargado com mais uma sala, que servirá “de complemento com actividades práticas” ao que já se realiza na Fonoteca. A ideia é criar um local onde se possam fazer exposições ou concertos que levem mais pessoas à casa da música. O objectivo é que as obras estejam prontas até ao final da Primavera, para se fazer a “animação de Verão na Fonoteca”, espera a chefe daquela secção.
À saída, sentimos que o mundo que percorremos naquele pequeno espaço se resume, apenas, a um Mundo Maravilhoso cantado e tocado pela lenda do Jazz Louis Armstrong. Abrimos a porta, olhamos o andar apressado do mundo e vem-nos à ideia uma frase de Nietzsche: “Sem música, a vida seria um erro”.
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