terça-feira, 26 de junho de 2007

Cortinas negras

Finalistas Comunicação Social
Instituto Superior Miguel Torga
2006 / 2007


Coimbra ouve-se aos poucos. Entranha-se na nossa alma como uma seringa que injecta um qualquer vírus que não nos larga. Antibiótico não existe, e todas as batas brancas que possamos encontrar no hospital nunca nos irão retirar esta epidemia benigna que viaja pelas veias do nosso corpo. Talvez seja esta confusão de palavras que define esta cidade. Talvez seja muito mais que isto, muito mais que qualquer outra definição…

Hoje, olhamos para trás e recordamos com saudade todas as cadeiras da sala de aula, todas as tampas das canetas que roemos por ansiedade, todos os sorrisos que emprestámos sem nunca nos serem devolvidos (outros, porém, vieram como boomerangs direitinhos aos nossos lábios). Letras, números, computadores, teorias, técnicas, folhas, cadernos… Fotocopiámos todo o nosso passado diariamente. Fomos inventando histórias para nos esquecermos do que éramos, fomos realizando desejos para nos inventarmos nessas histórias que mais tarde queríamos esquecer.

As lágrimas muitas vezes moldaram-nos a face, as maçãs do rosto que hoje, penduradas na nossa árvore de feições, amadurecem lentamente prontas a serem colhidas. Fintámos tristezas, muitas vezes até alegrias, mas vivemos! Sentimos! Aprendemos! Construímos amizades nos pilares de lábios rasgados e olhos de sal. Enfrentámos o nervosismo, as dores de barriga antes dos exames, perfurámos segredos escritos na alma…

E muito devemos a este Instituto! Aos professores que não só nos ensinaram uma mais específica junção de letras e números, como também um maior relacionamento interpessoal que nos faz sentir aquilo que vivemos hoje. Somos homens, mulheres, que olhamos para o passado com a saudade de uma vida que ainda não nos largou. Porém, a saudade, essa velha palavra tão nossa, amarrou as cordas ao nosso peito desde o momento em que olhámos a torre da Universidade, em que contemplámos o Mondego, em que arquitectámos o nosso ninho no Penedo…

A peça terminou. Ouvimos os aplausos, agradecemos ao público e saímos de cena. Nos bastidores, tiramos toda a maquilhagem que nos fez encarnar personagens de contos de fada, de vilões, monstros, príncipes, princesas… O espelho que reflecte o nosso rosto continua o mesmo de há uns anos para cá. Porém, a sua imagem é bem diferente. A nossa cara está mais vincada pelos olhares trocados com os livros. As mãos mais pesadas e experientes pelo folhear das aulas. Os olhos, esses, permanecem os mesmos. Nem um desvio pupilar na menina dos nossos sonhos… E, com um simples pestanejar, ouvimos a guitarra que chora nas nossas paredes cerebrais. Parafraseando Miguel Torga, juntos podemos dizer que “Coimbra é a cidade que temos atravessada no coração”.

Texto: André Pereira
Fotografia:

2 comentários:

Anónimo disse...

Gostei*
Sabrina

Ângela disse...

já terminaste?!
Saudades 'Alencar' ;)
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