Fundada no dia 3 de Novembro de 1887, a Associação Académica de Coimbra comemora este ano o seu 120º aniversário. A luta pelos direitos dos milhares de estudantes da Universidade de Coimbra marca a longa vida da Academia mais antiga de Portugal e uma das maiores da Europa. Desde a Tomada da Bastilha, passando pelas crises de 62 e 69, até à luta actual contra as propinas.
Diversas comemorações tiveram lugar por toda a cidade, culminando no sábado passado, com um espectáculo no Teatro Académico de Gil Vicente. Evocar o passado e projectar o futuro foram os principais objectivos da comissão organizadora que levou a cabo exposições, lançamentos de livros, tertúlias e uma gala no Casino Estoril. Foram oito meses de festejos, iniciados no dia 24 de Março – Dia do Estudante –, com o descerramento de uma placa comemorativa à porta da AAC.
Ainda no âmbito das comemorações, foi lançado um livro, da autoria de Rafael Marques – presidente da delegação de Coimbra da Cruz Vermelha – que relata alguns momentos marcantes da história da Academia. Os lucros reverterão para a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM).
São essas histórias que constroem as bases daquilo que é hoje a Associação Académica de Coimbra. O primeiro momento de relevante interesse surge no ano de 1836, quando os estudantes se vêem impossibilitados de representar uma peça no antigo teatro de Santa Cruz. Devido a esse facto, a Academia deliberou a construção de um novo teatro, que viria a nascer nos baixos do Colégio das Artes.
Nos finais de 1837, após graves divergências no seio do grupo, surgiu a Nova Academia Dramática, que se instalou no Edifício do Colégio de São Paulo “O Apóstolo”, onde é hoje a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
A Nova Academia Dramática era composta por três institutos: dramático, de música e de pintura. No dia 17 de Abril de 1849, os estatutos da Nova Academia Dramática são revistos e os institutos agregados num único – “O Instituto” –, com autonomia quase total, passando a Academia a denominar-se Academia Dramática de Coimbra.
Mais tarde, o nome sofre alterações para Instituto de Coimbra, alojando-se, em 1868, no Colégio de São Paulo, na Rua Larga. Já sete anos antes, havia sido fundado o Clube Académico de Coimbra, que, também alojado no Colégio de São Paulo, acaba por se fundir com a Academia Dramática de Coimbra, dando origem à Associação Académica e Dramática. Esta, em 1887, após uma revisão de estatutos, passa a designar-se Associação Académica de Coimbra.
Dois anos mais tarde, a AAC é transferida para o Colégio da Trindade. Este acontecimento foi uma verdadeira tragédia para a Academia, pois ditou o quase total desaparecimento das actividades culturais estudantis, já que as novas instalações não permitiam a realização de espectáculos, que eram a principal fonte de receitas da AAC. Assim, singraram as actividades desportivas como a ginástica atlética e acrobática, esgrima, jogo do pau, luta greco-romana, além de longos passeios a pé, a cavalo e de velocípede.
Em 1892, no seguimento de um Guarda-Mor ter detido um estudante por três dias na prisão académica por ter recebido, em oposição às ordens da reitoria, um novato na Porta Férrea com o tradicional Canelão, reúnem-se os estudantes em Assembleia Geral na Igreja da Trindade, votando uma greve geral. Como consequência, encerraram-se as instalações e suspenderam-se as actividades da AAC. A paralisação durou três anos. Os estudantes fundaram o Clube Académico Irmãos Unidos, para logo depois, em Setembro de 1896, retomarem o nome de Associação Académica de Coimbra.
Durante sete anos a AAC não teve casa fixa. A última localizava-se na esquina da Rua do Norte com a Rua do Cosme, para aí levada pelo então académico Egas Moniz. Mais tarde, em 1901, a AAC arrendou novamente o Colégio da Trindade, de onde tinha sido expulsa anos antes.
Em 1913, o Senado Universitário concedeu à AAC o rés-do-chão do Colégio de São Paulo, onde já estava instalado o “Clube dos Lentes”, oriundo da mesma raiz: a Academia Dramática. As instalações no Colégio eram já escassas para toda a actividade académica, que já incluía a dos organismos autónomos então existentes: o Orfeon e a Tuna. A relação com o Clube dos Lentes não era boa e o primeiro andar que ocupavam já tinha sido destinado à Academia, mas a entrega tardava, o que muito desagradava os dirigentes da AAC.
No dia 25 de Novembro de 1920, pela madrugada, cerca de quarenta estudantes ocuparam os andares superiores do Colégio, num assalto que se tornou famoso e que a academia denominou Tomada da Bastilha. O Colégio passou a ser conhecido como a Bastilha e o dia 25 de Novembro passou a ser considerado o dia da Academia de Coimbra, data ainda hoje comemorada pela AAC.
A data de 25 de Novembro tem sido anualmente comemorada com o Cortejo dos Archotes, no qual os estudantes evocam esta data tão importante para a Academia de Coimbra.
Durante as décadas do Estado Novo em Portugal, a AAC foi uma instituição de clara oposição ao regime vigente. Reuniões secretas, tomadas de posição públicas e privadas e algum bloqueio ao Governo eram as formas mais usadas. O crescimento do descontentamento estudantil, nomeadamente devido à Guerra Colonial, fez com que muitos estudantes fossem presos e perseguidos pela PIDE. Em 1969, a crise estudantil atinge o seu auge, culminando no dia 17 de Abril, que representou um importante passo rumo à Revolução dos Cravos.
Após o 25 de Abril de 1974, os estudantes tiveram uma voz preponderante na construção do Ensino Superior em Portugal. Novamente, a liderança deste movimento coube à AAC, como mais prestigiada Associação de Estudantes em Portugal. Durante os anos que se seguiram à Revolução dos Cravos, muitas foram as greves e as tomadas de posição dos estudantes em Coimbra.
Hoje, a Associação Académica de Coimbra mantém a força que a caracteriza, erguendo bem alto a capa negra de saudade, mas também de confiança num futuro melhor.
Diversas comemorações tiveram lugar por toda a cidade, culminando no sábado passado, com um espectáculo no Teatro Académico de Gil Vicente. Evocar o passado e projectar o futuro foram os principais objectivos da comissão organizadora que levou a cabo exposições, lançamentos de livros, tertúlias e uma gala no Casino Estoril. Foram oito meses de festejos, iniciados no dia 24 de Março – Dia do Estudante –, com o descerramento de uma placa comemorativa à porta da AAC.
Ainda no âmbito das comemorações, foi lançado um livro, da autoria de Rafael Marques – presidente da delegação de Coimbra da Cruz Vermelha – que relata alguns momentos marcantes da história da Academia. Os lucros reverterão para a Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM).
São essas histórias que constroem as bases daquilo que é hoje a Associação Académica de Coimbra. O primeiro momento de relevante interesse surge no ano de 1836, quando os estudantes se vêem impossibilitados de representar uma peça no antigo teatro de Santa Cruz. Devido a esse facto, a Academia deliberou a construção de um novo teatro, que viria a nascer nos baixos do Colégio das Artes.
Nos finais de 1837, após graves divergências no seio do grupo, surgiu a Nova Academia Dramática, que se instalou no Edifício do Colégio de São Paulo “O Apóstolo”, onde é hoje a Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra.
A Nova Academia Dramática era composta por três institutos: dramático, de música e de pintura. No dia 17 de Abril de 1849, os estatutos da Nova Academia Dramática são revistos e os institutos agregados num único – “O Instituto” –, com autonomia quase total, passando a Academia a denominar-se Academia Dramática de Coimbra.
Mais tarde, o nome sofre alterações para Instituto de Coimbra, alojando-se, em 1868, no Colégio de São Paulo, na Rua Larga. Já sete anos antes, havia sido fundado o Clube Académico de Coimbra, que, também alojado no Colégio de São Paulo, acaba por se fundir com a Academia Dramática de Coimbra, dando origem à Associação Académica e Dramática. Esta, em 1887, após uma revisão de estatutos, passa a designar-se Associação Académica de Coimbra.
Dois anos mais tarde, a AAC é transferida para o Colégio da Trindade. Este acontecimento foi uma verdadeira tragédia para a Academia, pois ditou o quase total desaparecimento das actividades culturais estudantis, já que as novas instalações não permitiam a realização de espectáculos, que eram a principal fonte de receitas da AAC. Assim, singraram as actividades desportivas como a ginástica atlética e acrobática, esgrima, jogo do pau, luta greco-romana, além de longos passeios a pé, a cavalo e de velocípede.
Em 1892, no seguimento de um Guarda-Mor ter detido um estudante por três dias na prisão académica por ter recebido, em oposição às ordens da reitoria, um novato na Porta Férrea com o tradicional Canelão, reúnem-se os estudantes em Assembleia Geral na Igreja da Trindade, votando uma greve geral. Como consequência, encerraram-se as instalações e suspenderam-se as actividades da AAC. A paralisação durou três anos. Os estudantes fundaram o Clube Académico Irmãos Unidos, para logo depois, em Setembro de 1896, retomarem o nome de Associação Académica de Coimbra.
Durante sete anos a AAC não teve casa fixa. A última localizava-se na esquina da Rua do Norte com a Rua do Cosme, para aí levada pelo então académico Egas Moniz. Mais tarde, em 1901, a AAC arrendou novamente o Colégio da Trindade, de onde tinha sido expulsa anos antes.
Em 1913, o Senado Universitário concedeu à AAC o rés-do-chão do Colégio de São Paulo, onde já estava instalado o “Clube dos Lentes”, oriundo da mesma raiz: a Academia Dramática. As instalações no Colégio eram já escassas para toda a actividade académica, que já incluía a dos organismos autónomos então existentes: o Orfeon e a Tuna. A relação com o Clube dos Lentes não era boa e o primeiro andar que ocupavam já tinha sido destinado à Academia, mas a entrega tardava, o que muito desagradava os dirigentes da AAC.
No dia 25 de Novembro de 1920, pela madrugada, cerca de quarenta estudantes ocuparam os andares superiores do Colégio, num assalto que se tornou famoso e que a academia denominou Tomada da Bastilha. O Colégio passou a ser conhecido como a Bastilha e o dia 25 de Novembro passou a ser considerado o dia da Academia de Coimbra, data ainda hoje comemorada pela AAC.
A data de 25 de Novembro tem sido anualmente comemorada com o Cortejo dos Archotes, no qual os estudantes evocam esta data tão importante para a Academia de Coimbra.
Durante as décadas do Estado Novo em Portugal, a AAC foi uma instituição de clara oposição ao regime vigente. Reuniões secretas, tomadas de posição públicas e privadas e algum bloqueio ao Governo eram as formas mais usadas. O crescimento do descontentamento estudantil, nomeadamente devido à Guerra Colonial, fez com que muitos estudantes fossem presos e perseguidos pela PIDE. Em 1969, a crise estudantil atinge o seu auge, culminando no dia 17 de Abril, que representou um importante passo rumo à Revolução dos Cravos.
Após o 25 de Abril de 1974, os estudantes tiveram uma voz preponderante na construção do Ensino Superior em Portugal. Novamente, a liderança deste movimento coube à AAC, como mais prestigiada Associação de Estudantes em Portugal. Durante os anos que se seguiram à Revolução dos Cravos, muitas foram as greves e as tomadas de posição dos estudantes em Coimbra.
Hoje, a Associação Académica de Coimbra mantém a força que a caracteriza, erguendo bem alto a capa negra de saudade, mas também de confiança num futuro melhor.
Fonte: Site da AAC
André Pereira
O Despertar
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