De realçar que o nosso clube ocupa a página 30, mesmo ao lado da 31 (como é lógico). A situação é a seguinte. A página ímpar tem como títulos “Mourinho arrasa Ranieri”, “Quero ajudar Ibrahimovic” e “Beckenbauer dava-me jeito”. Das duas uma: ou o senhor Vítor Serpa (editor d’ A Bola) quis colocar os artigos sobre Mourinho, Ibrahimovic e Beckenbauer na página seguinte à que fala sobre o SCLM para chamar a atenção para este último ou então, e é o que me parece mais evidente, o artigo sobre o nosso clube foi colocado estrategicamente nesta página para que as pessoas também pudessem ler um bocadinho sobre pessoas tão desconhecidas como Mourinho, Ibrahimovic e Beckenbauer.
Deixemo-nos de floreados e vamos ao que realmente interessa, o artigo sobre o grande Sport Clube Leiria e Marrazes.
Na aldeia do Astérix
A história perde-se no tempo e refere-se a um jogo em que o Marrazes estava a perder por muitos a poucos minutos do fim. Uma mulher levantou-se e gritou: «Força Marrazes que ainda há esperança!» A frase ainda hoje é entoada como se fosse o lema de um clube de resistentes.
«Bem-vindo à aldeia do Astérix», comenta Carlos Valente, presidente do histórico emblema. A resistência começa na década de 60, quando a autarquia de Leiria decidiu fundir os clubes da cidade num só. O Marrazes, o maior e mais popular, só aceitaria se o novo clube adoptasse o seu nome. Que não, teria de ser União de Leiria. E o Marrazes ficou, orgulhosamente, de fora.
«Do lado direito do rio é Marrazes, do lado esquerdo Leiria», comenta-se com bairrismo. Até porque foi no Campo da Mata que se começou a jogar futebol em Leiria. E foram os quartafeiristas - trabalhadores das diversas corporações que folgavam à quarta, já que domingo era dia de feira - a estar na génese do Marrazes Sport Clube, fundado em 1936. Em 1952 mudou para Futebol Clube Marrazes (filial do FC Porto durante 12 anos) e em 1964 foi rebaptizado como Sport Clube Leiria e Marrazes.
Queixas de discriminação
Apesar do Marrazes estar na I divisão distrital, a rivalidade com o U. Leiria é grande. «Se jogássemos no Municipal, gostava de mostrar que levávamos mais gente ao estádio», comenta, orgulhoso, Carlos Valente. Eleito em 2007 e com vontade de dinamizar o clube, desportiva e socialmente. «Irrita-me que uma cidade do Euro '04 não dê a devida importância ao apoio às infra-estruturas do Marrazes», desabafa, aludindo depois aos subsídios para a formação: «Nós formamos jovens de Marrazes. A equipa de juniores do U. Leiria tem seis brasileiros e muitos jovens de outras cidades. Quem faz mais pela juventude de Leiria?»
Trabalho social
Carlos Valente é claro. «Os clubes, hoje, têm de ser prestadores de serviços para sobreviverem.» Por isso, aproveitou a ampla sede e fez uma parceria com a divisão de educação da Câmara. «Essa sim, acredita no Marrazes.» E o clube promove um ATL e campos de férias. Internamente, criou um fundo para pagar material escolar para os seus jogadores, criou actividades extracurriculares e de apoio ao estudo, controlando as notas. «Eu próprio cresci e joguei no Marrazes. Que me apoiou e ajudou a pagar os estudos. Temos muito orgulho neste trabalho social», comenta o dirigente.
Carlos Valente olha para o problemático Bairro Sá Carneiro e quer que o clube seja pólo de integração. «Antes vandalizavam a sede, roubavam as redes das balizas. Fomos ter com os miúdos, falámos com eles, ouvimo-los, damos o apoio e tudo mudou. Bastou abrir pontes», comenta orgulhoso.
Aldeia do desporto
O Campo da Mata, onde trabalha toda a formação, é pelado. E tem de dar para as 18 equipas, entre as 18 e 22 horas. Já deu entrada na Câmara um projecto para se colocar um relvado. Mas o processo arrasta-se. Também o piso do Pavilhão está em mau estado e já aconteceram acidentes na patinagem. Se a autarquia não ajudar, a solução passará por um pavilhão na Marinha Grande.
O Marrazes vai abandonar o seu velhinho parque de jogos, pelado, em nome do desenvolvimento urbano de Marrazes. Para compensar, a Junta de Freguesia avançou com a construção da Aldeia do Desporto. As obras estão em curso e contemplam um campo com relvado sintético e bancadas para duas mil pessoas. E um campo secundário de futebol de 7. Até ao momento a autarquia ainda não contribuiu. Marrazes, repete-se, é a «aldeia do Astérix».
Diferendo com o Sporting
Na localidade conta-se também a história de Rui Patrício. Que começou a jogar no Marrazes, aos seis anos, como... médio. Aos nove, teve de fazer um jogo na baliza. Gostou tanto e deu-se tão bem que não mais a largou. Aos 12 foi para o Sporting, hoje é titular na equipa leonina. O Marrazes reclamou a compensação pela formação mas como o Sporting se recusa a pagar a Federação vai decidir. Em Marrazes lamenta-se que os grandes clubes estejam sempre a levar jovens jogadores. São 360 os que, diariamente, ali se formam.
Curiosidades
ULISSES. O treinador da Naval, Ulisses Morais, terminou a carreira de jogador e iniciou a de treinador no Marrazes.
PATROCÍNIO. As camisolas serão sponsorizadas pelo promissor grupo musical All Star Project, de Marrazes, já lançado pela Antena 3.
GASTRONOMIA. Marrazes é a Terra da Gastronomia. A cada Outubro, o clube organiza o Festival dos Doces da Avó e do Petisco.
DANÇA. A Academia de Dança é um orgulho pela qualidade e número de espectáculos. Aeróbica é outra das actividades propostas.
DAVID FONSECA. Natural de Marrazes, o músico será convidado a participar na criação e interpretação de um hino.
SUBIDA. Oitenta por cento do plantel sénior é formado no clube. O treinador António Paiva tentará em breve a subida aos nacionais.
II DIVISÃO. A participação na II Divisão Nacional, em 1977/78 (equivalente à Liga de Hora actual) foi um momento marcante.
3 comentários:
Ora aí está uma maneira útil de ocupar o tempo de férias: transcrever o artigo d'A Bola... que assim escuso de ir procurar ;) FORÇA MARRAZES :D
Sim, sim... yupiii... vivam os Marrazes!! ;)
Peço desculpa pelo manifesto atraso no comentário, mas só hoje, por acidente, reparei neste blog e neste post.
Naturalmente que me orgulho pela apreciação elogiosa ao trabalho que fiz com todo o gosto e com toda a honra. E admiro-lhe, sinceramente, a paciência de o ter transcrito na íntegra... O que quer dizer que a reportagem fazia todo o sentido, pois há, de facto, gente que gosta tanto do Marrazes.
A sua teoria em relação à colocação da página faz todo o sentido... rs... rs...
Estou a brincar, não leve a mal, mas também desde já lhe digo que estou plenamente convencido, até pelo título que escolhi, que nesse dia o Marrazes teve mais leitura do que o Mourinho. Vi isso pela reacção de colegas e amigos de A BOLA, que ficaram muito curiosos para ler. O que só prova que os leitores não são ovelhas que não pensam... Quando se lhes oferece um assunto interessante e com qualidade (perdoe-me a presunção, falo assim por ser um trabalho meu... rs...), o leitor sabe parar para ler e apreciar, sendo ou não do Marrazes.
Foi um trabalho que me deu muito gozo fazer e escrever. Com a pena de que, como compreende, não tinha mais espaço para escrever muito mais.
Com os melhores cumprimentos
Jorge Pessoa e Silva
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