quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Entrevista a Pedro Tochas

“Andar pelo mundo de mochila às costas é romântico”
Pedro Tochas é um comediante bastante versátil. Desde o stand-up comedy até ao teatro de rua, Tochas destaca-se pela sua capacidade de improviso. O Quinze chegou à conversa com o artista que gosta de ser palhaço. Tem actuação marcada no Teatro José Lúcio da Silva, no próximo dia 6 de Novembro (quinta-feira). Ao palco levará o espectáculo “Já tenho idade para ter juízo”.

Como nasceu o gosto pela comédia?
É difícil apontar um dia em específico, mas as coisas tornaram-se mais claras para mim quando tinha dezanove anos. Estava numa festa de Natal e havia palhaços e música. Para alegrar ainda mais o ambiente, decidi fazer algumas brincadeiras e uns malabarismos. As pessoas gostaram e eu não mais parei. Fiz festas para os amigos, para as crianças, nas feiras e, com o tempo, fui adquirindo a minha independência nesta área. Mais tarde, fui estudar teatro para Inglaterra, deixando para trás o curso de Engenharia Química que estava a tirar em Coimbra.

Como é actuar na rua?
É bastante diferente de actuar num teatro ou numa sala, por exemplo. A interacção com o público é muito maior e, no meu caso, sinto-me muito mais “artista” desta forma. Eu escolho uma rua, de preferência com algum movimento, e faço o meu papel. Passear pelo mundo de mochila às costas é espectacular e romântico.

Por onde já andaste?
Já actuei em dezassete países, incluindo Austrália, Nova Zelândia, Singapura, Estados Unidos, Escócia, Inglaterra e Suécia. Porém, o meu sonho é actuar no Japão.

Qual foi o espectáculo mais marcante?
Foi, sem dúvida, na Escócia. Todos os anos, em Edimburgo, se realiza o maior (e, na minha opinião, o melhor) espectáculo do mundo de artistas de rua. Actualmente, são 800 os espectáculos diários. Na primeira vez, estava a fazer interrail e, chegado à estação de Edimburgo, deparei-me com um grandioso espectáculo. “Um dia hei-de actuar aqui”, pensei. Passados alguns anos, aconteceu.

De todos os locais onde actuaste, terás certamente bastantes histórias para contar…
Sim, lembro-me de, na Nova Zelândia, quando terminei o meu espectáculo, um miúdo de cinco anos ter vindo ter comigo: “You are a cool clown!”. Fiquei sem palavras. Foi um dos maiores elogios que recebi, ainda para mais vindo de uma criança.

Ouves muitas críticas?
Eu trabalho para o público. Se as pessoas não gostam, não trabalho para ninguém. Reconheço que o meu trabalho suscita amor/ódio, mas eu gosto disso porque odeio indiferença. Admito que as pessoas possam não gostar do espectáculo, mas podem ter a certeza de que eu dou sempre o meu melhor.

Normalmente tem-se a ideia de que os comediantes são pessoas muito tristes… Isso é verdade?
Comigo é claramente mentira. Sou tão alegre no palco como o sou fora dele. A diferença é que o ritmo que coloco em cada actuação é alucinante. E, como é óbvio, não transporto essa energia para o meu dia-a-dia. Acho que, se o fizesse, não aguentaria muito tempo.

Como é o teu processo de criação?
Como criador, dá-me gozo fazer coisas diferentes, mas é um processo bastante doloroso. Preciso de ter um deadline, para sentir pressão.

O que te faz rir?
A vida, as pequenas coisas… Tento ver o mundo de um ponto de vista positivo. Hoje ainda nada me fez rir. Mas ajudei um senhor a comprar o bilhete do metro. Ele ficou contente e eu também. Não é só o rir, mas também o sorrir.

E o que te faz chorar?
Não há nada que me faça chorar, mas fico triste com muitas situações… O momento que o nosso país atravessa não é de muitas alegrias, por exemplo. Quando alguém me questiona sobre Portugal eu respondo que é um bom sítio se não tiveres problemas de saúde ou problemas legais. É necessário que o sistema legal funcione com maior rapidez. A justiça em Portugal é muito lenta.
Gostavas de fazer papéis dramáticos?
Penso que seria uma experiência curiosa. Se bem que optaria por fazer papéis mais ligeiros, em séries ou cinema. Já o teatro não é algo que esteja dentro dos meus planos.

Já tens um longo percurso profissional, mas tornaste-te “conhecido do público” com os anúncios da Frize…
Sim, foi um anúncio marcante para mim. Mas há pessoas que avaliam o meu trabalho apenas por essa “gota de água” no mar que é todas as outras coisas que faço.

No “Programa da Maria”, tinhas o teu quarto a preto e branco. Terminado o programa, gradualmente deixaste a televisão. Foste à procura de cor?
Não (risos), eu sempre tive cor. Mas encaro a televisão como um meio para passar o meu trabalho e não como um fim.

Quem são os teus ídolos?
Em Portugal, sem dúvida, o Herman José e o Raul Solnado. A nível internacional, venero Charlie Chaplin, Daniel Keaton e Dave Gorman, entre muitos outros.

No próximo dia 6 de Novembro vais actuar no Teatro José Lúcio da Silva (TJLS), levando a palco o espectáculo “Já tenho idade para ter juízo”. Esse título reflecte mesmo o que sentes?
Muita gente me faz essa pergunta, mas na verdade não sei responder. Para quem anda pelo mundo inteiro de mochila às costas a pedir esmola… (risos). Em relação ao espectáculo, espero que as pessoas vão de espírito aberto e ouçam a minha mensagem. Este é o espectáculo mais positivo que já escrevi em toda a minha vida e vou entregar-me de corpo e alma. Só espero levar mais gente ao TJLS do que o futebol leva ao estádio.

Sendo de Avelar (Ansião), sentes algo de especial ao actuares em Leiria?
Sim, será uma actuação perto de casa. Gosto das pessoas de Leiria e tenho uma boa relação com o Académico, que já me contratou para alguns eventos.

Quem é o Pedro Tochas?
É um artista de rua comediante performer, por esta ordem. Artista de rua sempre em primeiro lugar, uma vez que actuar na rua é a melhor sensação do mundo. Adoro o que faço e tenciono fazer isto até aguentar. Trabalhando, não trabalho. O meu hobbie e a minha profissão são a mesma coisa.

Que conselho podes dar aos jovens que te vêem como ídolo?
Se descobrirem alguma coisa que vos dá prazer e satisfação pessoal, agarrem-na e não deixem que ninguém nem nada se meta à frente. Acreditem em vocês! Falo em qualquer área. Se gostam do processo e do fim, óptimo. Se optam apenas pelo fim, talvez não valha a pena.

1 comentário:

Anónimo disse...

nice...