Ver o Avatar cansa. Este fim-de-semana fui ver o filme e fiquei com mais sono do que em qualquer jogo do Sporting. Não que o Sporting não me dê alegrias - ultimamente tem-me dado muitas - mas é um bocado chato estar ali a ver uma equipa inteira a arrastar-se. Mas há coisas que dão sono e são boas. Por exemplo, um copo de vinho do Porto logo a seguir ao jantar, uma massagem, um banho quente. Agora, o Avatar é que não era suposto transmitir essa sonolência. Até porque os Na'vi (os seres alienígenas de Pandora) são azuis e, por essa ordem de ideias, eles gostam é de se mexer, correr, dar murros e pontapés… Particularmente em túneis.
Desde a ideia inicial até ao produto acabado, passaram 15 anos de pesquisa, apuramento de novas técnicas, investigação e construção da história. Porém, se no aperfeiçoamento tecnológico esta década e meia foi bem empregue (os efeitos são inovadores e surpreendentes), na construção da história creio que teria sido preferível optar por contratar alguém que, de facto, soubesse o que estava a fazer. Bastava investir mais uns míseros dólares num bom guionista do que pedir a um qualquer Tozé Martinho de Hollywood para vomitar esta porcaria. Porque o cinema não se constrói apenas de grandes efeitos visuais, de imagens fantásticas de lugares inexistentes, de sons a percorrerem-nos os ouvidos. O cinema precisa, para espanto de muitos, de um cérebro. De uma história convincente e bem contada, que não caia na insistente repetição de clichés - tão bem descritos pelo meu colega blogger Marco Santos no seu Bitaites:
1. Rapaz humano incorporado num avatar alienígena apaixona-se por guerreira alienígena, que também é uma princesa por ser filha do chefe? Sim. O amor é correspondido? Sim. Cliché número 1, variação da história da Pocahontas.
2. Por amor à princesa guerreira, o rapaz humano vai assimilar a pouco e pouco os costumes eco-religiosos da tribo alienígena até se tornar em um deles, de alma e coração e avatar? Sim. Cliché número 2.
3. O rapaz humano acabará por tornar-se num grande guerreiro que irá liderar a tribo alienígena contra a ganância e o militarismo dos humanos maus? Sim. Cliché número 3.
4. O chefe dos humanos maus é mesmo mau, ou seja, não tem nem uma única qualidade que se aproveite? Sim. Cliché número 4.
5. O guerreiro humano/alienígena conseguirá finalmente defrontar o chefe dos humanos maus num duelo final repleto de efeitos especiais? Sim. Cliché número 5.
6. O guerreiro e a princesa ficam juntos no fim, e felizes para sempre ou pelo menos até à sequela? Sim. Cliché número 6.
O que mais me entristece é saber que o Avatar está a um pequeno passo de receber as estatuetas de Melhor Filme e Melhor Realizador na próxima edição dos Óscares, deixando para trás, por exemplo, o genial Inglourious Basterds e o grande Tarantino.
Apenas uma pequena nota: Avatar custou 387 milhões de dólares – 237 em Produção e 150 em Marketing. O orçamento do filme foi superior ao Orçamento do Estado para a Cultura em 2008. Portugal gastou 245,5 milhões de euros na Cultura, a Fox gastou 270 milhões em Avatar.
12 comentários:
olha lá... difere da pocahontas numa coisa então! a pocahontas não ficou com o john smith! :P
Só para perceber... Dá-nos um exemplo de um filme recente que não consideres um "excremento"!
Inglourious Basterds.
O que não falta aí são filmes com argumentos minimamente bons e originais... Para ver efeitos especiais, fico em casa a jogar computador, e talvez até consiga argumentos mais interessantes nos jogos.
Atenção que o Avatar é um excelente filme para quem gosta de comer pipocas e levar com legendas 3D na cara. Como eu não pertenço a esse grupo de pessoas, não gosto. Como diria um grande crítico de arte: "Worst Movie Ever"
O Avatar parece uma colagem de vários filmes já feitos. Titanic, Senhor dos Anéis, Danças com Lobos, Pocahontas, etc, etc, etc. É um filme em que se adivinha tudo o que vai acontecer na cena seguinte. Impressionante...
É sempre bom saber que mais alguém se cansou a ver o Avatar. É que as pessoas olham para mim com cara estranha quando eu digo que só não bati uma valente soneca na segunda parte porque aquilo fazia muito barulho!;)
Eu só não adormeci porque a vontade de rir era maior :)
Tal como no casamento, na amizade também devemos ser sinceros... e no meu caso, André, tenho a dizer-te que relativamente ao Avatar, a minha opinião diverge da tua. :)
Gostei imenso do filme, senti-o e considero um dos melhores filmes que já vi.
P.S. Inglorious Basterds também é muito bom, ou não fosse Tarantino.
Um abraço
É bom ler opiniões diferentes. Só espero que isso não implique um casamento! Eheh
Grande abraço
falhaste no cliché numero 4
falhei?
Enviar um comentário