Vivemos no tempo dos assassinos, tempo de todos os hinos, e ouvimos dobrar os sinos, quem mais jura é quem mais mente. Vou arquitectar destinos, sou praticamente demente.
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
Depois de um cherne, temos agora um polvo. Portugal está mesmo no fundo do mar...
E, por consequência, também está o nosso jornalismo. A falta de liberdade de imprensa que os jornalistas tanto sentem é trazida a público… pelos meios de comunicação social. Estranho? Sem dúvida. É clara a contradição existente neste processo. Se os jornalistas vêm dizer para a comunicação social que são vítimas de censura no exercício das suas funções, estão a mentir. Se realmente houvesse censura, as declarações destes jornalistas seriam proibidas. Coisa que não acontece.
A tentativa de bloquear a impressão do jornal "Sol" de hoje não foi, de todo, a atitude mais correcta. Mas não foi uma atitude governamental. Foi uma atitude de um cidadão comum (seja ele administrador, gerente, sócio ou empregado de limpeza da PT) perante o conteúdo presente nesta edição. Mas será que a publicação de material proibido de ser publicado é uma atitude digna do bom jornalismo? Será que tornar conhecida informação confidencial é um acto ético? Será que apresentar material (já analisado pela Justiça Portuguesa e tido como desnecessário para o processo), apresentando-o como uma prova inequívoca da realidade dos factos é moralmente correcto? Será que enganar o povo português com conteúdos não comprovados em embrulhos coloridos e em capas folclóricas e atractivas é uma atitude certa? A publicação das escutas no "Sol" é uma violação das normas da justiça, é um acto criminoso e deve ser punido como tal. Independentemente da verdade. Os fins não justificam os meios. Se assim fosse, o Sistema Judicial seria abolido e a tortura seria o principal caminho para a obtenção da verdade.
Eu não sei para que lado pende a verdade, sei é que a forma de a descobrir não pode ser através de ilegalidades e de crimes. Um crime não se apaga com outro crime. Tal como um penalti não se compensa com outro penalti. Mas infelizmente estamos em Portugal e temos de nos sujeitar ao manual de instruções deste país. Esta é a nossa mentalidade. Errada. Uma mentalidade de compensações em que o certo anda completamente descompassado do errado.
O jornalismo nacional cria as notícias, desenvolve-as e sentencia-as. Tudo isto feito numa esfera fechada, bastante afastada da população, e dominada sempre pelos mesmos jornalistas, pelos mesmos entrevistados, pelos mesmos comentadores, pelos mesmos arguidos, pelos mesmos réus. As personagens desta história mal contada que é o Jornalismo Português são sempre as mesmas. A chamada Opinião Pública fecha-se em si mesma e estabelece regras e normas para todo o país. O Jornalismo é considerado como o Quarto Poder por isto mesmo. Muito mais do que os poderes Legislativo, Executivo e Judicial, o Jornalismo agita as águas, desempoeira mentalidades e põe o mundo a nu e sujeito à nossa apreciação. Mas cada vez mais se está a tornar no Quarto do Poder, onde as notícias são fabricadas debaixo dos lençóis, na penumbra de um quarto de hotel e na sequência de um cigarro. E o país é que sai fodido.
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5 comentários:
Sem dúvida uma visão diferente e inteligente da realidade. Extremamente bem escrito.
O que é triste é que o jornal está esgotado.
Será que o problema do país são os Governantes, os Jornalistas ou é mesmo o Povo?
Obrigado Paulo. O facto de o jornal estar esgotado não me espanta nada. Aliás, o Sol mais parece um jornal desportivo em período de transferências. "Benfica compra Messi" e depois, em letras pequeninas diz "Se o Barcelona o aceitar vender".
Um abraço
Texto espectacular. Subscrevo na totalidade... É pena o teu blogue não ser tão lido como o Sol. Não há nada como pensar um bocadinho no que se diz e no que se escreve. Ter noção do mundo em que se vive é uma coisa muito difícil para algumas pessoas..
Perfeito!
Abraço!
"O Jornalismo é considerado como o Quarto Poder por isto mesmo. Muito mais do que os poderes Legislativo, Executivo e Judicial, o Jornalismo agita as águas, desempoeira mentalidades e põe o mundo a nu e sujeito à nossa apreciação. Mas cada vez mais se está a tornar no Quarto do Poder, onde as notícias são fabricadas debaixo dos lençóis, na penumbra de um quarto de hotel e na sequência de um cigarro. E o país é que sai fodido".
Bonito parágrafo, sim senhor! :p
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