sábado, 4 de novembro de 2006

Entrevista à Lata - Lata Enlatada

Hoje o dia começou mais tarde para a maioria da população estudantil de Coimbra. Já o sol tinha dado lugar à lua quando as capas negras se levantaram para mais uma noite alegre.

O fuso horário já havia mudado, contudo, nestes dias de festa a Torre da Universidade congela os ponteiros, e o badalar dos sinos é substituído pelos ritmos ensurdecedores vindos do outro lado do rio.

Mas para conhecer verdadeiramente o que se passa na outra margem, nada melhor que dar a palavra à personagem principal deste autêntico filme nocturno.

Diário de Fictícias – Boa noite, Senhora Lata!
Lata –
Olha quem ele é… É preciso ter-me para vir falar comigo. Depois do que aconteceu entre nós…

DF – Desculpe, mas não estou a perceber. O que aconteceu?
Lata –
Não se lembra? Já me andou a arrastar pelas ruas de Coimbra…

DF – Sim, mas já lá vai o tempo. Falemos do que interessa. Como se sente nesta altura do ano, em que uma cidade vive para si?
Lata –
Sabe, já estou habituada a este protagonismo. Durante o ano, os estudantes preferem a garrafa e o copo, mas para começar nesta vida nada melhor que ter lata.

DF – Isso é verdade! É preciso coragem para ficar acordado horas e horas a fio durante a noite e no dia seguinte faltar às aulas…
Lata –
Faltar a quê? Eu sou a verdadeira universidade neste início de ano, e olhe que os meus alunos são assíduos e pontuais! Para além de não faltarem, esgotam em segundos as minhas salas de aula.

DF – Alguns clientes do seu espaço dizem que se sentem como sardinhas enlatadas quando assistem às suas aulas…
Lata –
É normal sentirem-se como sardinhas, não é por acaso que nos encontramos junto ao rio…

DF – Mas o Mondego parece não ser apenas uma fonte de sardinhas… Há rumores de alguns tubarões…
Lata –
Sim, confirmo esses boatos. E, como muita gente já reparou, tive de os colocar na entrada do recinto… Podem não ser muito comunicativos e até mesmo violentos para com as pessoas, mas não tinha outra opção. O mais que pude fazer foi convidar o cão do Mickey, um tigre e alguns GNR para ver se conseguem acalmar os ânimos.

DF – Mas no final é habito a festa acabar em xutos e pontapés… Bem, o nosso tempo está a chegar ao fim, mas ainda há uma última questão que lhe gostava de colocar… Qual é a sua ideia em relação ao estado do Ensino em Portugal?
Lata –
Eu acho que o ensino vai muito bem e a crise económica de que tanto se fala não tem tido repercussões na minha actividade. Antes pelo contrário, a cada ano que passa vou ganhando adeptos. Até já pensei em fazer uma OPA à UC.

1 comentário:

DrSerranito disse...

A Dona Lata nao referiu a breve nuvem negra que assombra (que é mesmo sombra)
a todos os que nela participam.
Sombra de um futuro incerto que virá. Sombra de um passado, certo, que já foi..
Em todos os que nela vi descer, todos sorriam, felizes.
Agora,começa mais um ano verdadereiramente académico.
O estudo, as preparações para testes e exames. Enfim, tudo aquilo para que aqui
estamos e para o que muitos vêem para Coimbra.
Sorte de uns, azar para outros. 4 anos aqui serão o futuro para muitos.

Vejo aqueles que se vão, felizes. Deixando tudo para trás. Os amigos, os dias de estudo,
as noites de cortejos, latadas, e as damas saudosas...
Levando apenas na sua lapela, as cores da sua escola, do seu curso e aquela cor amarga
da saudade. Levando o perfume da vitória, o cheiro do Mondego, e o som da Queima..

Vejo e não vejo que o tempo que passamos tristes, vai ser o tempo que mais rapidamente
iremos esquecer.

Vejo e para todo o lado levarei a Dona Lata, os risos de todos e as qualidade de cada um.

Para onde eu e todos iremos daqui, a lata irá connosco.

E tudo o resto é secundário:
Escolas pequenas? são por nos queixarmos do frio..
Escolas caras? porque dizem que o que é caro é bom
Propinas? porque se assim como estamos, eles nao querem sair da escola.. à borla era pior :)
Cursos caros? a vida é um investimento.

DrSerranito