Passava pouco mais das oito da noite. As canções que tocavam na aparelhagem eram tão banais que já nem se ouviam. Desliguei. A janela estava aberta. As cortinas balançavam ao sabor do vento. Lá fora, o cão ladrava perante todo o vento que lhe soprava no focinho. E ali estava eu, deitado no sofá, a exercitar o polegar no comando da televisão. Desenhos animados, futebol, um documentário da vida dos gorilas em África, um leilão de uma obra de arte... A televisão está mesmo a atravessar um período de grande qualidade de programação, pensei em voz baixa. Mais um clique. Um indivíduo de fato e gravata, pose hirta e olhar sério balbuciava uma série de notícias sobre a guerra do Iraque. Parei. Diminuí o volume e fiquei perplexo a olhar para a televisão. A imagem era absolutamente desinteressante, no entanto, algo me prendeu a atenção. A caneta que o pivot tinha na mão esquerda escrevinhava qualquer coisa num papel deitado na mesa. Toda a postura firme e cuidada do apresentador contrastava com a azáfama desconcertada que existia naquele pedaço de plástico.
Texto: André Pereira
Imagem: DR
4 comentários:
Texto muito giro !
Não sei quem és mas a minha mãe tinha-te nos favoritos na net ... e resolvi dar uma espreitadela :P
e gostei (:
Obrigado Joana! Fizeste muito bem em espreitar o meu estaminé, serás sempre bem-vinda!
Como é óbvio, também fui dar uma vista de olhos pelo teu blogue e gostei bastante. Tens uma perspectiva muito singular da vida e das coisas que te rodeiam, e isso é essencial!
Parabéns
Bjs
não seria o daily show da sic radical?
LOL Bem visto! De facto, o Jon Stewart, esporadicamente, tem vipes esquizofrénicos na mão esquerda. Lá isso é verdade! Se bem que quando o vejo, a minha reacção (pavloviana) é de pôr o som mais alto e não diminuí-lo :)
Cumprimentos
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