terça-feira, 1 de julho de 2008

A minha noite não usa baton - II

Franzi os olhos, tentando ver por entre os muitos quadradinhos que compõem a imagem, mas nada. Saltei do sofá e inclinei-me para a frente, sentia o magnetismo a coçar-me a ponta do nariz. Virei a cabeça para a direita, virei para a esquerda, levantei-me e espreitei de cima, como quando estamos na varanda de um oitavo andar e queremos olhar para o passeio. Com calma e muita atenção. Tentava assim espreitar o que estava escrito no papel do apresentador. Em vão, pois está claro. E eu tinha consciência disso. Mas a urgência em saber era tal que nem o INEM a conseguiria resolver. Nem eu, e estava ali tão perto. “Mais doze soldados norte-americanos feridos…” Está bem, o que me interessa isso? Mostra-me o que escreves. Desenhas letras, caras, banda desenhada, flores, bonecos? O quê? Diz-me, mostra-me. Veio a peça televisiva e o ecrã foi invadido totalmente por imagens de tanques de guerra, crianças nuas deitadas nas camas de um hospital velho com buracos nas paredes e caixões com a bandeira norte-americana estendida. Foram dois minutos de uma sucessão imagética acompanhada pela voz melodiosa e timbrada do jornalista.

Texto: André Pereira
Imagem: DR

2 comentários:

André Pereira disse...

Obrigado, meu puto! Hoje somos dois, juntos seremos mais.

Abraço

Joana de Faria Gonçalves disse...

Gosto , André ! está muito giro !

Bjs


P.S : obrigado pelo comentário