sexta-feira, 4 de julho de 2008

A minha noite não usa baton - III

“... assim está Bagdade, gritos e rajadas de metralhadora de um lado, rosas e cartas de amor do outro.” Rosas e cartas de amor? Que maneira mais lamechas de terminar uma reportagem, ainda para mais sobre guerra. Se ao menos aquela mão parasse de escrevinhar aquela folha, eu deixaria de ouvir estas palermices. Mas não. O movimento mecânico continuava e eu sem saber a razão. Agora estava um convidado em estúdio. Um especialista numa matéria que não tem mais que especialistas: futebol. Neste caso, o tema em debate era a prestação da Selecção Nacional no Euro 2008. Finalmente um assunto de Estado, que interessa a todas as pessoas dotadas de inteligência no nosso país. São poucas, bem o sei, mas as que existem sabem quantas namoradas tem Cristiano Ronaldo, vêem com sentido crítico (mas bastante sapiente) os treinos do Scolari e põem bandeiras nas janelas, nas portas e até na casota do cão. Porém, para lá de toda esta diarreia cultural, o meu olhar centrava-se da tal folha A4 (sim, consegui ver que era A4, devido ao ângulo em que assentava o plano actual). Agora, a caneta parecia não escrever e o jornalista mostrava sinais de extrema inquietude. O polegar carregava freneticamente no topo da caneta, num claro sinal de nervosismo, e a o suor escorria pelos dedos do pivot.

Texto:
André Pereira
Imagem: DR

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