Vivemos no tempo dos assassinos, tempo de todos os hinos, e ouvimos dobrar os sinos, quem mais jura é quem mais mente. Vou arquitectar destinos, sou praticamente demente.
terça-feira, 13 de abril de 2010
De Portugal com amor
Portugal vai ajudar a Grécia com 770 milhões de euros. Não é piada. é mesmo uma notícia. E das verdadeiras. Nada daquelas do 24 Horas nem do Correio da Manhã. Isto é verdade. Está confirmado. Portugal - sim, nós!, que atravessamos uma das crises mais graves de que há memória - vai dar setecentos e setenta milhões de euros à Grécia para ajudar à sua recuperação económica. Ou seja, em média, cada um de nós vai contribuir com 77 euros. O Ricardo, aquando da primeira ajuda à Grécia, contribuiu com um frango.
Nós, portugueses, sempre gostámos mais de ajudar os outros do que nós próprios. É uma condição nossa. Foi assim com Timor, com Angola, com o Haiti e com aquele país chamado Madeira.
Ajudamos e ficamos sem nada. E depois? Que solução encontramos para resolver este nosso problema de generosidade excessiva? Pedimos emprestado. Contamos com a generosidade de outros que, seguindo a lógica, pedirão emprestado a outros (que ajudarão com toda a generosidade). E assim sucessivamente. Andamos de generosidade em generosidade até atingirmos um défice jeitoso. E depois lá vêm as medidas drásticas de apertar o cinto, fazer dieta e ir todos os dias ao ginásio. Porque nós só deixamos de ser generosos quando vemos que os outros estão melhor que nós. E aí, alto e pára o baile. A generosidade dá lugar à ganância, e a lamechice dá lugar à crítica. Quando estes conceitos se juntam, é quando nós, portugueses, atingimos o nosso clímax enquanto povo. Se José Gil diz que "Portugal tem medo de existir", eu (outro pensador importantíssimo do nosso tempo) digo que Portugal tem coragem de ajudar. Uma coragem parva e sem sentido. Mas nós somos mesmo assim. Preferimos ser generosos. E deixar andar. Deixar andar é generoso. Não fazer nada é generoso. Dar é generoso. Sorrir é generoso. Chorar é generoso. E o pior disto tudo é que - sendo a nossa generosidade uma doença crónica - nós gostamos de a praticar. Mesmo com quem tenha muito mais que nós.
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6 comentários:
É piada...
Infelizmente não é.
São cedidos sob a forma de empréstimo...
De qualquer forma, não me parece adequado.
Boa crónica.
Abraço
Obrigado puto.
Um abraço,
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