quinta-feira, 8 de junho de 2006

Pedra Filosofal

Eles não sabem que o sonho
é uma constante da vida
tão concreta e definida
como outra coisa qualquer.

Como esta pedra cinzenta
em que me sento e descanso
como este ribeiro manso
em serenos sobressaltos.

Como estes pinheiros altos
que em verde e oiro se agitam
como estas árvores que gritam
em bebedeiras de azul.

Eles não sabem que sonho
é vinho, é espuma, é fermento
bichinho alacre e sedento
de focinho pontiagudo
que fuça através de tudo
num perpétuo movimento.

Eles não sabem que o sonho
é tela é cor é pincel
base, fuste ou capitel
arco em ogiva, vitral.

Pináculo de catedral
contraponto, sinfonia
máscara grega, magia
que é retorta de alquimista.

Mapa do mundo distante
Rosa dos Ventos Infante
caravela quinhentista
que é cabo da Boa-Esperança.

Ouro, canela, marfim
florete de espadachim
bastidor, passo de dança
Columbina e Arlequim.

Passarola voadora
pára-raios, locomotiva
barco de proa festiva
alto-forno, geradora.

Cisão do átomo, radar
ultra-som, televisão
desembarque em foguetão
na superfície lunar.

Eles não sabem nem sonham
que o sonho comanda a vida
e que sempre que o homem sonha
o mundo pula e avança
como bola colorida
entre as mãos duma criança...

António Gedeão

1 comentário:

Anónimo disse...

É sempre bom recordar "A PEDRA FILOSOFAL".Um clássico!
Obrigado.
Bjs.