Biafra foi um momento decisivo na minha vida porque comecei a ver crianças a morrer. Perdi o meu interesse pelos soldados que são treinados para matar pessoas. Mas quando se vê uma criança caída no chão, rastejando, morrendo… Elas não pediram essa crueldade.
Don McCullin
Esta fotografia representa a fome no Biafra. Os Igbos da Nigéria Oriental declararam-se independentes em 1967, cortando as ajudas ao Biafra. Em 3 longos anos de guerra, mais de um milhão de pessoas morreu, a maioria devido à fome. As crianças morriam em sofrimento por falta de proteínas essenciais. O seu corpo ficava deformado e a toda a força que possuíam era inútil. O repórter de guerra Don McCullin fez com que o mundo acordasse para esta tragédia. A Comunidade Mundial interveio com vista a ajudar o Biafra, acabando por adquirir novas formas de lidar com a fome em grande escala.
Don McCullin viveu de perto muitas guerras (Vietname, Congo Belga, Biafra, Líbano e Israel) e, hoje, arrepende-se de muita coisa que viu. Apesar da fama que alcançou, o preço que está a pagar é demasiado elevado. Anualmente, o fotógrafo recebe diversas cartas pedindo conselhos para a cobertura de guerras. A sua resposta é sempre a mesma: vá fotografar a paz, é muito mais difícil.
Don McCullin nasceu em 1935 no seio de uma família pobre do norte de Londres. Aos 18 anos foi chamado a cumprir o serviço militar oferecendo-se como voluntário para repórter fotográfico. A sua dislexia impediu-lhe que passasse nos exames de admissão, contudo aprendeu a usar a máquina fotográfica.
McCullin recebeu propostas de emprego de vários jornais, entre eles o London Observer. Em 1964, o jornal londrino atribuiu-lhe a missão de cobrir a guerra civil no Chipre. Foi a sua primeira experiência de guerra, conseguindo excelentes fotografias. Muitas outras guerras se sucederam (Vietname, Congo, Biafra…) e McCullin sempre com a sua objectiva apontando para a destruição. Apesar de odiar a guerra, o fotógrafo sente que tem o dever de mostrar ao mundo a miséria e tragédia que existe numa guerra, tanto da parte dos soldados como da parte dos civis.
No Biafra fotografou os efeitos da fome – esqueletos famintos, corpos vazios…, encontrando por diversas vezes o rasto da morte.
Já no Reino Unido, continuou o seu trabalho, fotografando os mendigos de Londres indo, posteriormente, para a zona de conflito da Irlanda do Norte. Fotografou ainda refugiados do Bangladesh, a guerra no Cambodia, entre outras. A guerra havia-se tornado parte da sua vida e é, nesta altura, que decide voltar a Inglaterra e dedicar-se à fotografia mais urbana.
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