quarta-feira, 28 de março de 2007

Computador promete simular efeito de droga

Arquivos digitais podem causar no cérebro efeito parecido com o das drogas. Especialistas ainda não sabem determinar consequências dessa alternativa.

“Clique aqui para se drogar.” Esta frase, que ainda soa um tanto absurda, deve tornar-se cada vez mais comum na internet, ambiente no qual as pessoas procuram simulações para sensações da vida real. Depois dos programadores de jogos criarem personagens que têm seus sentidos alterados por drogas virtuais, um site resolveu oferecer essa sensação aos próprios internautas - uma experiência que pode ser desaconselhável, dependendo da sensibilidade de cada utilizador.

Na página
i-Doser, os internautas encontram batidas musicais que prometem causar essas sensações - é possível ouvir uma amostra grátis no site, além de fazer download dos arquivos pagos ou comprar CDs (cada mídia custa cerca de 15 euros). Segundo a página, a simulação dos efeitos do haxixe, da cocaína e do ópio acontecem porque as batidas sincronizam as ondas cerebrais para os utilizadores sentirem-se eufóricos, sedados ou para terem alucinações.

Arquivos digitais com nove doses custam cerca de 5 euros - cada arquivo tem cerca de 15 minutos e só pode ser ouvido uma vez. “Use a dose uma vez, deite fora e compre mais quando precisar”, diz o site, num discurso que em muito se assemelha com o dos traficantes do mundo real. “Para aqueles que utilizam doses ocasionais, esta é uma alternativa bastante económica”, continua a página, que aconselha o uso de bons auscultadores de ouvido durante o consumo das “doses”.

“É possível que estes sons façam o que prometem. Sabemos que há uma série de estímulos que alteram o mecanismo cerebral, como acontece com a hipnose. Mas ainda é cedo para sabermos as consequências desse tipo de experiência na internet, já que é algo muito novo”, afirmou Dartiu Xavier da Silveira, psiquiatra da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) especializado no tratamento de dependências.

Ele não descarta, no entanto, a possibilidade desses arquivos serem utilizados no tratamento de pessoas com outros tipos de vício. Pessoas dependentes de jogos via internet, por exemplo, poderiam utilizar essa alternativa como um “degrau” para a cura: elas deixariam de apostar dinheiro, passariam a usar o simulador e, então, conseguiriam eliminar a dependência. Mas ainda não é possível dizer se as “drogas virtuais” são uma boa opção para esses casos.

Imprevisível

Pelo facto de os efeitos serem desconhecidos, Silveira não é um entusiasta deste tipo de simulador que, segundo ele, pode viciar. “É uma alternativa menos lesiva que a droga química, mas definitivamente não é benéfica, porque manipula a consciência do utilizador”, afirma, lembrando das mensagens subliminares. “É possível que esses programas comecem a passar mensagens para os internautas, sem que eles se dêem conta disso.”

Erick Itakura, pesquisador do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática (NPPI) da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, concorda com a possibilidade do vício. No entanto, ele lembra que nem todos estão propensos a isso - da mesma forma, muitos internautas podem não ter as sensações prometidas quando ouvirem as batidas. “Com as substâncias químicas acontece o mesmo: os efeitos variam de pessoa para pessoa”, compara.

Ele considera a experiência de conhecer as batidas válida e afirma que esse tipo de alternativa se deve tornar cada vez mais comum, por conta da característica de interactividade da internet.

No entanto, o psicólogo reconhece que esse tipo de simulador pode levar o utilizador a situações extremas.

Como exemplo disso, ele cita um episódio em 1997, quando diversas crianças e adolescentes do Japão foram internados depois de assistir ao desenho “Pokemon”. O forte impacto visual do episódio causou em muitos telespectadores sintomas de uma epilepsia fotossensível, como vómito, desmaio e vertigem. “Estímulos desse tipo podem causar sensações desagradáveis e até assustar.”

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu ouvi e estou super viciada. é bom mas não aconcelho

André Pereira disse...

Lá terei de experimentar.