Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...
(in Balada da Neve, Augusto Gil)
Esta fotografia retrata a fuga de crianças a um ataque aéreo de napalm à sua pequena aldeia. Estávamos em plena Guerra do Vietname, no dia 8 de Junho de 1972, quando Nick Ut capta, de forma absolutamente nua e crua, o horror sentido por estas crianças que tinham acabado de perder grande parte da sua família. Até hoje, esta imagem é lembrada como uma das mais terríveis da Guerra do Vietname.
Nick Ut (Ut Cong Huynh), nascido no Vietname do Sul, entrou para a Associated Press, em Saigão, no ano de 1966, cobrindo os últimos anos da Guerra do Vietname. Após o conflito, continuou a trabalhar para a Associated Press em Tóquio transferindo-se, posteriormente, para Los Angeles. A sua carreira como fotojornalista fica marcada, claramente, pelo dia 8 de Junho de 1972 quando fotografou Kim Phuc, uma criança de apenas 9 anos, correndo e gritando nua pela estrada fora. Esta fotografia obteve todos os prémios de 1973, incluindo o Prémio Pulitzer, o Prémio George Polk Memorial, o Overseas Press Club e o National Press Club.
A vida da menina de nove anos iria mudar para sempre. Hoje, 34 anos depois, Kim Phuc vive no Canadá com os seus filhos e é Embaixatriz da Boa Vontade da UNESCO. Recorda, com muita revolta e tristeza, aquele fatídico dia. “Eu me lembro que tinha 9 anos, era apenas uma menina. Naquela noite, a nossa povoação tinha ouvido que os vietcongues viriam e que queriam usar a aldeia como base. Já de dia, eles vieram e iniciaram os combates.
Nós estávamos muito assustados. A minha família decidiu procurar abrigo num templo, porque nós acreditávamos que lá era um lugar sagrado e estaríamos a salvo. Eu não cheguei a ver a explosão da bomba de napalm; só me lembro que, de repente, estava rodeado de chamas. De repente, as minhas roupas começaram a arder, e eu sentia as chamas queimando o meu corpo, especialmente o meu braço. Naquele momento, passou-me pela cabeça que ficaria feia por causa das queimaduras, acabando por nunca me tornar numa rapariga como todas as outras. Estava apavorada, porque não via ninguém à minha volta. Não parava de chorar quando, milagrosamente, ao correr os meus pés não ficaram queimados. Só sei que eu comecei a correr, correr e correr. Os meus pais não conseguiriam escapar do fogo, e decidiram voltar para o templo. A minha tia e dois dos meus primos morreram. Um deles tinha 3 anos e o outro apenas 9 meses.”
Após o disparo de Ut, este despejou água para o corpo nu de Kim Phuc e apressou-se a levá-la para o hospital. Chegados ao hospital, Ut dirigiu-se imediatamente para uma sala escura para revelar as fotografias. Os seus pais viriam mais tarde a encontrá-la no hospital. Após 14 meses no centro hospitalar de Saigão (transferida posteriormente) e 17 cirurgias para curar as queimaduras de primeiro grau (metade do corpo ficou queimada), Kim Phuc começou a pensar em como poderia ajudar as pessoas.
“Os meus pais guardaram a foto, que tinha saído num jornal, e depois mostraram-ma: "Esta és tu", disseram eles. Eu não pude acreditar pois era uma foto aterradora. Todas as pessoas deveriam ver esta foto, mesmo hoje, porque mostra claramente como uma guerra é terrível para as crianças. Basta ver a foto, para as pessoas aprenderem.
Nick salvou a vida de Kim e mantiveram permanente contacto. "Kim Phuc é como minha filha".
“Oh, meu Deus, o que estamos a fazer?" Estas palavras pertencem à escritora Sally Quinn, filha de um general americano, traduzindo, desta forma, a perplexidade de milhões de seres humanos confrontados com a imagem eternizada pelo fotógrafo Nick Ut. Crianças vietnamitas da aldeia de Trang Bang fogem aterrorizadas, por uma auto-estrada, sob a chuva de napalm produzida por bombardeiros dos Estados Unidos.
Sem comentários:
Enviar um comentário