terça-feira, 21 de fevereiro de 2006

Voar nas Asas de um Corvo


Há muitos anos que o nome “Sport Clube Leiria e Marrazes” me ecoa nas paredes do cérebro. Já em pequenino os meus pais me levavam ao campo de futebol a ver os jogos e, talvez aí, tenha adquirido este sentimento que agora faz parte do meu quotidiano. Para mim, falar deste clube é como falar de um membro da minha família, uma vez que sempre estive ligado a ele. Desde cedo me juntei a esta massa humana, dando uns toques na bola e esfolando os joelhos. Recordo com saudade esses tempos, em que andar à chuva e ao sol, pisando a lama e correndo atrás de uma bola, me davam a alegria que necessitava para viver.
Hoje, vejo o Marrazes de uma forma diferente, mais madura e assente em pilares que fui construindo ao longo da minha vida. A história deste clube é inegável, recheada de troféus e vitórias marcantes. Contudo, os dias actuais não são de grande vaidade. Pelo contrário, o Sport Clube Leiria e Marrazes encontra-se a disputar, há vários anos, campeonatos distritais não conseguindo sair desta triste sina. Muitas são as pessoas que desejam pegar no clube e fazer dele o que já foi, mas quando chega a hora de agir, não existe quem o faça. As direcções vão-se sucedendo e o clube vai-se afundando cada vez mais. Não se pode viver do passado. Aliás, a vida é um constante pensar no futuro, agindo no presente, tendo em conta o que se sucedeu no passado. E é isto que se deve ter em mente quando se pega num projecto como este, o Sport Clube Leiria e Marrazes. Como ex-jogador do clube, durante 13 anos, e como Treinador dos Escolinhas, posso afirmar que a “coragem, esperança e dedicação” tão falados entre os mais velhos se mantêm no seio desta instituição. Falta apenas o “passo seguinte”, dado pelas pessoas que têm poder, que é o de equipar o clube com as infra-estruturas necessárias e adequadas à prática desportiva.
O Sport Clube Leiria e Marrazes tem uma área abrangente bastante grande, alastrando-se a todo o país, onde as pessoas que conhecem o clube relembram com saudade os gloriosos tempos desportivos. Mas os tempos mudam e, como que de um dia para o outro, surge o União Desportiva de Leiria, através da junção de vários clubes da região. Surge a rivalidade entre os dois clubes, um representante da pequena aldeia de Marrazes e outro representante da cidade de Leiria. Disputam-se jogos, torneios, campeonatos e a rivalidade vai crescendo cada vez mais. O tabuleiro do jogo vai-se invertendo, e o União Desportiva de Leiria assume-se como principal clube de Leiria. Razões claras para esta tão brutal reviravolta não encontro, mas o que é certo é que após esta subida ao poder do “clube do Lis”, cada vez mais vai aumentando o fosso entre este e os outros clubes da região. A verdade é que, como clube, o União Desportiva de Leiria não existe, funcionando apenas com os apoios da Câmara Municipal de Leiria. Por seu lado, o Sport Clube Leiria e Marrazes possui dois campos de futebol e uma sede, recebendo também apoios da Câmara. Não se percebe é o porquê desta disparidade.
Apesar de todas estas divergências, o Marrazes mantém-se fiel aos seus princípios, parecendo neste momento renascer das cinzas que o têm impedido de atingir novos horizontes. E eu, que cresci como homem dentro deste clube, continuarei a trabalhar na esperança que um dia, os meninos que hoje lutam por uma bola, possam marcar outro tipo de golos ao longo da sua vida.
André Pereira