quarta-feira, 31 de agosto de 2011

CIRCO DE LETRAS
Renegociar Portugal

Queremos isto? Não, portanto, vamos meter mãos ao trabalho e renegociar Portugal. O primeiro passo, como acontece sempre nisto das renegociações, é propor cortes. Acabemos com a classe política e com todo o tipo de liderança. Coloquemos na rua todos os administradores, patrões, chefes e dirigentes. Todos os que estão no topo (tenham o título que tiverem) são para cair. Bem como todos o que estão na base. Acabemos com os trabalhadores, com os empregados, com os súbditos e com os assalariados. Eliminemos o poder central. Cortemo-lo aos pedacinhos e distribuamo-lo pelo povo. Ou, num tom mais panfletário, tiremos aos ricos para dar aos pobres. O povo legisla, o povo regula, o povo executa.


Vamos ser solidários com toda a gente. Vamos encher os carrinhos do Banco Alimentar Contra a Fome e doar todo o nosso dinheiro a instituições de caridade. Vamos dar direitos e esquecer deveres. Vamos dar canetas e microfones a quem quiser. Vamos espreitar pelos buracos das fechaduras. Vamos incendiar as páginas dos jornais com sangue e com suposições.


Vamos abrir as fronteiras. Vamos dar casas e baixar as rendas. Vamos fechar os olhos, autorizar, legalizar e destrancar. Vamos acabar com as privatizações. Vamos baixar os preços dos transportes, das portagens e das batatas. Vamos baixar todos os preços. Vamos sair da União Europeia e desistir do Euro. Vamos acabar com o dinheiro. Vamos acabar com o preço. Vamos acabar com o valor.


Vamos dar nota positiva a todos os alunos. Vamos dar-lhes computadores e máquinas de calcular. Vamos cantar e refilar. Vamos beber e fumar. Vamos fazer cartazes e colocar bandeiras nas janelas. Vamos para a festa. Vamos de férias. Vamos acabar com a hierarquia e com a ordem. Vamos acabar com as filas. Vamos acabar com os papéis, com os anexos e com os carimbos. Vamos pensar. Vamos imaginar como seria. Queremos isto? Não, portanto, vamos meter mãos ao trabalho e renegociar Portugal.

domingo, 21 de agosto de 2011

Planeta dos Macacos: A Origem

A nível de estrutura de guião, o filme está óptimo. Aliás, como é imperativo em todos os filmes que envolvam catrefadas de dólares. Não vale a pena arriscar em novos caminhos estruturais para que a grande maioria do público fique confusa e chateada por ter gasto dinheiro num filme que não percebeu. Quanto à história propriamente dita, está bem pensada, mas conta com algumas falhas desnecessárias.
  • Os dois cientistas querem levar Bright Eyes (a primata) para a reunião. Qual o método que utilizam para a capturar? Um pau com uma rodela na ponta... O mais estúpido é o facto de lhe abrirem a porta e, só depois, tentarem colocar a tal rodela à volta do pescoço para ela não fugir. Obviamente, ela foge, desata aos saltos e parte tudo até acabar morta em cima da mesa da sala de reuniões. Ora, isto foi desnecessário. Bright Eyes poderia ter escapado de outra forma e não por causa desta incompetência dos cientistas (que é, naturalmente, incompetência do guionista).
  • Quando os cientistas voltam à "cela" de onde Bright Eyes escapou, encontram um primata bebé. Espanto total! "Um bebé? Mas... como é possível?" "-Pois é, doutor... Ao que tudo indica, ela estava grávida." WTF?! Como é possível um grupo de cientistas de topo que estuda primatas ao pormenor e que dispõe das técnicas mais sofisticadas para o fazer não descobrir que um deles está à espera de bebé? Ou melhor... que o bebé já nasceu?
  • Jacobs (director da Gen Sys) regressa à empresa e, no hall de entrada, depara-se com todos aqueles primatas a olharem para ele. Como é natural, foge. E bem. Dezenas de primatas saltam atrás dele e vão desfazê-lo em cascas de banana, certo? Errado. A cena seguinte é Jacobs junto ao helicóptero da polícia a dizer que os primatas destruíram tudo bla bla bla. O que o guionista nos quer dizer é que Jacobs foi rápido que nem uma bala. Ou então que os primatas o deixaram fugir depois de lhe terem feito uma espera. Ok.
  • Robert Franklin (um dos cientistas) precisa de entrar urgentemente em contacto com Will Rodman (cientista-"chefe") para lhe dizer que não se está a sentir muito bem depois de ter estado exposto a uma substância tóxica. Ora, o que é que ele faz? Liga para o telemóvel? Manda um sms? Um mail? Não, o melhor é ir bater à porta de sua casa, demorando mais tempo (de lembrar que era uma situação urgente) e correndo o risco de contaminar outras pessoas. Ups! Contaminou o vizinho.
  • Falamos do vizinho que tinha visto o seu dedo arrancado pelos dentes de César e que, no final do filme, - e como a sua profissão a isso o obriga- vai pilotar um avião. Um piloto sem um dedo e que cospe sangue. Perfeitamente verosímil...
  • Este vizinho também já havia deixado a porta do seu carro escancarada, situação que despoletou a memória de Charles Rodman (pai de Will e doente de Alzheimer) e fez com que entrasse no carro a pensar que ainda sabia conduzir. Resultado? Fez umas quantas amolgadelas.
Eu gostei bastante do filme, mas acho que estes erros poderiam muito bem ter sido evitados. Não é que a sua existência estrague o filme, mas deixa algumas feridas. E isto chateia. Um filme que teria tudo para estar junto dos melhores, acaba por não atingir esse estatuto graças a erros infantis.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Guerra, amor e aquários

Acontece eu não ter nada para dizer. Não necessariamente por não estar a acontecer nada. Não digo nada por estar triste ou contente, ansioso ou deprimido, por estar a atravessar esta ou aquela fase. Não. Não digo nada porque, simplesmente, é preciso falar disto. Do não dizer. Aliás, do não ter nada para dizer. E o mais engraçado é que se o dissesse não teria necessariamente de o escrever, que é aquilo que estou a fazer.

Portanto, para que não surjam mais confusões do que aquelas que já surgiram e que farão os estimados leitores voltarem a ler o que acabou de ser dito - que, neste caso, está escrito - entendamos o verbo 'dizer' como cópia perfeita do verbo 'escrever'. Na sua plenitude.

O não ter nada para dizer é muito grave mas desaparece quando se transmite essa vontade. É isso que eu estou a fazer aqui. Não tenho nada para dizer e estou a dizer exactamente que não tenho. Portanto, o "nada" acaba por se referir apenas àquilo que eu não digo neste texto, mas que - por não dizer - pode ser tudo o que se quer. Se eu disser "lápis azul", este texto deixa de ser sobre o lápis azul pelo simples motivo de o ter mencionado há poucas palavras atrás. Se, por outro lado, eu não mencionar as palavras "guerra", "amor" e "aquários", este texto poderá muito bem ser sobre "guerra", "amor" e "aquários". No entanto, essa possibilidade esgotou-se ainda agora. O texto que escrevo é este e o facto de ter equacionado, por escrito, a possibilidade de não dizer determinadas palavras ou conceitos, faz com que este texto seja sobre tudo o resto menos sobre essas palavras ou conceitos.

Confuso? Claro que é. Mas a confusão própria e a confusão provocada nos outros é digna de quem não tem nada para dizer. E a verdade é que, se esse alguém não tem nada para dizer, não faz sentido estar a dizê-lo. Esse alguém sou eu, e eu já o disse. Está dito. E assim se escreve uma crónica em que se diz quase tudo e praticamente nada.

terça-feira, 14 de junho de 2011

domingo, 24 de abril de 2011

24 de Abril - Grande Reportagem SIC

Hoje à noite, na SIC, a não perder uma excelente reportagem sobre os dias de extrema tortura que antecederam o 25 de Abril de 1974. Com a participação de: João Cruz, Miguel Curiel, Joana Caçador, Joana Saraiva, Miriam Vieira, Liliana Monteiro e eu.

http://sic.sapo.pt/online/noticias/programas/reportagem+sic/Artigos/24+de+Abril.htm

terça-feira, 1 de março de 2011

A minha geração

Não sei se esta geração de que se fala é rasca, se está à rasca ou se, simplesmente, não se desenrasca. Não faço ideia. Porque, simplesmente, não sei a que geração se referem. Sei apenas que não é a minha. As manifestações desta tal geração não são originadas, ponto um, por toda a geração, ponto dois, pela maioria da geração, ponto três, por mim. Portanto, que não se tome a parte pelo todo. Não me marquem com o carimbo dos coitadinhos e dos refilões. Não faço parte. Faço parte de mim e daquilo que penso. E eu penso que isto está mal e que se deve lutar por melhor. Sem dúvida. Mas deixem-me ser eu a pensar. E não me rotulem.

Eu sinto as dificuldades inerentes à crise, à governação e à tradicional má gestão lusitana, mas não me revejo no que me tentam impingir. Lamento, mas não me incluam nesta reles campanha de marketing e de revivalismo revolucionário dos anos 60.

A geração que marca manifestações pelo Facebook, a geração que é vomitada em cada página de jornal, a geração que é cantada em músicas de suposta intervenção, a geração que abre telejornais… não é a minha. Tenho opiniões e não preciso que me metam numa caixa e me tratem como "frágil". Não quero que falem de mim utilizando o todo e não quero que falem do todo utilizando-me a mim. Ponto.

Esta é a minha liberdade. E exijo-a porque tenho direito a ela e porque a mereço. Porque luto por ela, porque não baixo os braços, porque me levanto sempre que me empurram. Tal como agora. Tanto não admito que me tratem mal profissionalmente, como também não admito que me tratem mal humanamente. Não preciso de cartazes, obrigado. Não preciso de megafones, obrigado. Não preciso de músicas, obrigado. Preciso, sim, de vontade. Preciso de empenho. Preciso de iniciativa. Preciso de honestidade. E preciso de todas as gerações. Da minha, da tua, das deles e das dos outros. Porque só com uma isto não vai lá.

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Agora sim, o regresso!


31 de Dezembro de 2010, o último dia em que publiquei alguma coisa aqui no blogue. Sou um desnaturado, um irresponsável. Merecia ir para Nova Iorque com um modelo de Cantanhede. Mas, felizmente, estou de volta e tenciono voltar a escrever diariamente. Desta vez, as desculpas para a minha ausência prolongada são as seguintes:
  • Estou carregadinho de trabalho até às sobrancelhas.
  • É muito mais fácil publicar conteúdos no Facebook do que aqui.

Basicamente, é isto. Quanto à Dor Crónica, depois de ter passado pelo Youtube e pelo Sapo, agora está no Soundcloud, um espaço dedicado exclusivamente a conteúdos áudio.

Despeço-me com a promessa de que tentarei ser cumpridor e responsável. Até porque acabar num respiradouro do metro de Nova Iorque não deve ser coisa muito agradável.