quarta-feira, 30 de agosto de 2006

Entrevista ao Desemprego - "Tenho emprego garantido"

Diário de Fictícias – Bom dia, Senhor Doutor, como está?
Desemprego –
Ora muito bom dia. Pode-me trazer uma torrada e um galão, se faz favor?

DF – Não sei se me está a reconhecer, eu sou um jornal, não trabalho neste café. Aliás, desde que o senhor cá entrou, ninguém trabalha cá.
Desemprego –
Epá, que chatice… Estava mesmo a precisar de um bom pequeno-almoço. Há uns anitos que não como nada… Aliás, não faço nada há muito tempo, para onde quer que vá encontro tudo fechado. Viajo apenas de país em país, visitando muitas cidades e diferentes tipos de pessoas.

DF – Conhece muitos países, portanto. Como veio parar a Portugal?
Desemprego –
Não foi difícil. No roteiro turístico que me deram na agência de viagens, Portugal é o país mais procurado pelos meus compatriotas. Não só pelo bom clima económico, como também pela excelente organização a nível social.

DF – Sim, são características do nosso país que atraem muitos turistas.
Desemprego –
Acredito, mas eu não estou em Portugal a passar férias, não sou um turista neste país. Aliás, estou mesmo a pensar comprar casa e investir em diversos sectores.

DF – Pode ser mais específico?
Desemprego –
Sabe, não tenho interesse em nenhuma área específica, o mercado define onde e quando eu devo intervir. O sector público tem sido o meu preferido e, durante uns tempos, continuará a ser.

DF – Porquê a sua insistência no sector público e não no privado?
Desemprego –
Não sou eu que escolho onde trabalhar, mas sim o Governo de cada país. Mas estou a gostar muito de trabalhar na função pública, tudo é muito organizado e a aplicação e eficiência são extremas. No que respeita ao sector privado, parece-me que as decisões estão a ser tomadas correctamente.

DF – Ultimamente, muitas são as pessoas que vêm para a rua manifestar-se contra si e contra o Governo. Perante isso, que análise faz?
Desemprego –
Eu não sei por que razão as pessoas não gostam de mim… Sou essencial para o bom funcionamento de qualquer sociedade. Por outro lado, grande parte das pessoas que está desempregada manifesta-se sem razão. O meu primo Trabalho tem uma área de influência razoável, mas poderia ser maior. As pessoas procuram mais o meu irmão Emprego do que o meu primo. Depois, cai-me tudo em cima.

DF – Hoje em dia, aparece em jornais, revistas, é tema de abertura do Telejornal, conversa de café, tudo gira à sua volta… É uma figura pública com um peso inquestionável na nossa sociedade…
Desemprego –
Sim, eu reconheço isso. Estou “nas bocas do mundo” mas, infelizmente, pelas piores razões. Sou muito activo e de uma coisa posso ter a certeza, tenho sempre emprego garantido.

Desemprego – Já agora, podemos combinar um próximo encontro, para tomar um café ou ir ao cinema?
DF –
(atrapalhado) Não, não… deixe estar. Ultimamente tenho tido muito trabalho e, apesar do esforço e sacrifício que isso implica, prefiro continuar. Obrigado pela entrevista, e veja lá se tira umas férias!

sábado, 26 de agosto de 2006

Carlos Paião (01/11/1957 - 26/08/1988)

Eu não sou poeta
Quem me dera saber
Fazer versos, rimar...
Para um dia escrever
Que tu és a mulher
Que eu quero amar!

Quem me dera fazer poesia
Inspirada na minha paixão!
Inventar sofrimento, agonia,
Um amor de Platão!...

Quem me dera chamar-te de Musa
Em sonetos e coisas que tais...
Numa escrita solene e confusa,
Com palavras a mais!

Eu não sou poeta,
Não, não sou poeta,
Nunca fui um grande sofredor...
Eu não sou poeta,
Não, não sou poeta,
Não te sei falar de amor!

Mas, se eu fosse um poeta dotado
Ou se, ao menos, julgasse que sim,
Falaria com ar afectado,
Aprenderia latim!

Só faria canções eruditas
E, se as ditas ninguém entendesse,
Rematava com frases bonitas,
Para o que desse e viesse...

quarta-feira, 23 de agosto de 2006

O Génio voltou

Rui Costa nunca escondeu o seu amor pelo SL Benfica, o clube que o transformou num verdadeiro Senhor.

A bola de futebol dá lugar a uma bola de cristal e os mágicos, seres de outro planeta, enfeitiçam os verdadeiros amantes deste mundo!

Hoje, apesar de já ter vestido oficialmente a camisola do Benfica esta época, abriu o livro e espalhou magia, ao marcar um golo de belo efeito, que serviu para carimbar uma excelente exibição.

A alegria contida durante largos anos explodiu aquando dos festejos, agarrando apaixonadamente a camisola do seu coração! A única camisola que faz chorar de alegria...
André Pereira

domingo, 20 de agosto de 2006

Inquietos passeios

Inquietos passeios pela mente
Pensando em como sentir
Navegando sozinho entre a gente
Esperando ansiosamente
Ficando sem ter que partir.

André Pereira

quinta-feira, 17 de agosto de 2006

ARRENDA-SE

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domingo, 13 de agosto de 2006

Estádio da Nação

Numa altura em que as notícias
Nos informam muito mal
O Diário de Fictícias
Diz o que se passa em Portugal.

Este sobreaquecimento
Que não tem meio de acabar
Até faz com que no Parlamento
Os deputados estejam a suar.

E os polícias e professores
Não negam a manifestação
E dizem que não morrem de amores
Por quem controla a situação.

E quando é preciso calcular
A química das avaliações
Os exames são a brincar
E o ensino aos empurrões.

Na Universidade o tempo voa
E o Estudante cumpre o que sonha
Ou manifesta-se em Lisboa
Ou viaja até Bolonha.

Mas quando chega o momento
De começar a trabalhar
Olha para o orçamento
E dá-lhe vontade de chorar.

Este é o nosso país
Que anda como um caracol
Tem tudo debaixo do nariz

Mas só cheira futebol.

segunda-feira, 7 de agosto de 2006

Entrevista à Capa Negra - "Sou uma manifestante assídua"

Não é difícil encontrar uma capa estendida pelas ruas de Coimbra. Apoiada num ombro amigo, a capa negra cobre os universitários, mas, essencialmente, é perita em encobrir aqueles que se dizem estudantes. O nosso jornal falou com uma das muitas capas que anoitecem esta cidade durante o dia.

Capa – Já de quatro! O que é perante a praxe?
Diário de Fictícias –
Desculpe, mas eu não sou estudante, apenas a queria entrevistar, se fosse possível…

Diário de Fictícias – Antes de mais, agradeço a sua disponibilidade para esta entrevista.
Capa –
Não tem que agradecer, não tenho outra vida senão passear no ombro deste rapaz. Não vou a casa há uma semana e, apesar de estar em altura de exames, ainda não toquei nos livros. A minha vida é essencialmente nocturna, são raros os dias em que vejo o sol. A não ser que haja algum protesto ou manifestação estudantil. Se for o caso nem durmo. Temos que defender os nossos direitos!

DF – Os estudantes manifestam-se muito. Quais as principais razões para isso acontecer?
Capa –
(o rapaz interrompe, irritado) “Ensino gratuito! Não às propinas!” Caloiro, quem manda sou eu, eu é que falo! Tenho mais matrículas que tu! Tu não vales nada! Olhos no chão! (insurge-se a Capa). Peço desculpa, ele ainda é novo. Ora bem, eu sou uma manifestante assídua, “a luta continua, governo para a rua”. Nós manifestamo-nos porque… bem… quer dizer… já não há caloiros como antigamente, é isso! Manifestam-se de segunda a sexta. Têm que aprender com quem sabe, os fins-de-semana também contam. Afinal, para quê andar na Universidade, senão para criticar?

DF – Não considera a Universidade um espaço de estudo, onde podemos apreender novos conhecimentos?
Capa –
Sim, claro. Aliás, foi aqui, na cidade do conhecimento, onde aprendi a fazer o nó da gravata, beber shots, dançar, protestar…

DF – Referia-me às aulas...
Capa –
(espantada) Que aulas? Mas a Universidade não é um bar ali na Padre António Vieira? Nunca vi tanto estudante junto… Mas agora que me fala nisso, não me lembro de alguma vez ter tido uma discussão interessante com alguém, a não ser sobre qual a melhor marca de cerveja.

DF – Já que falou em cerveja, costuma ir à Queima das Fitas?
Capa –
Se costumo? Nunca faltei, nem um único dia! É a melhor festa do mundo! Ali é que se aprende a viver. Por vezes, não me lembro do que se passou no dia anterior, mas isso não interessa. Aliás, o importante é que haja muita bebida e barulho. A música é o que menos interessa.

DF – No que respeita à música, as Tunas Académicas são muito admiradas.
Capa –
Sim, eu própria faço parte de uma Tuna, sou a Chefe, a Dux Veteranorum, faço o que quiser a quem quiser. Apesar de não saber o que é uma clave de sol, queremos é diversão.

DF – E esses emblemas que enverga? Já quase que não tem espaço para mais…
Capa –
Tenho muito orgulho nestas insígnias! Representam o número de matrículas que tenho. Sou mesmo superior!

DF – Muito obrigado. Esperava que tivesse sido uma entrevista mais produtiva, em que pudéssemos falar dos problemas dos verdadeiros estudantes…Capa – Há muitos estudantes que verdadeiramente estudam, mas eu e o meu código da Praxe estamos aqui para impedir que tal aconteça! Agora, tenho que ir ali à tasca estudar mais um bocado.