domingo, 12 de março de 2006

Cavalo à Solta


Minha laranja amarga e doce, meu poema
Feito de gomos de saudade, minha pena
Pesada e leve, secreta e pura
Minha passagem para o breve, breve instante da loucura.

Minha ousadia, meu galope, minha rédea
Meu potro doido, minha chama, minha réstea
De luz intensa, de voz aberta
Minha denúncia do que pensa, do que sente a gente certa.

Em ti respiro, em ti eu provo
Por ti consigo esta força que de novo
Em ti persigo, em ti percorro
Cavalo à solta pela margem do teu corpo.

Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura…

Minha laranja amarga e doce, minha espada
Poema feito de dois gumes, tudo ou nada
Por ti renego, por ti aceito
Este corcel que não sossego à desfilada no meu peito.

Por isso digo, canção, castigo
Amêndoa, travo, corpo, alma, amante, amigo
Por isso canto, por isso digo
Alpendre, casa, cama, arca do meu trigo.

Minha alegria, minha amargura
Minha coragem de correr contra a ternura…

Minha ousadia, minha aventura…


José Carlos Ary dos Santos