quarta-feira, 21 de dezembro de 2005

Estrela da Tarde


"Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia

E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

Foi a noite mais bela de todas as noites que me adormeceram
Dos nocturnos silêncios que à noite de aromas e beijos se encheram
Foi a noite em que os nossos dois corpos cansados não adormeceram
E da estrada mais linda da noite uma festa de fogo fizeram

Foram noites e noites que numa só noite nos aconteceram

Era o dia da noite de todas as noites que nos precederam
Era a noite mais clara daqueles que à noite amando se deram
E entre os braços da noite de tanto se amarem, vivendo morreram

Eu não sei, meu amor, se o que digo é ternura, se é riso, se é pranto
É por ti que adormeço e acordo e acordado recordo no canto
Essa tarde em que tarde surgiste dum triste e profundo recanto
Essa noite em que cedo nasceste despida de mágoa e de espanto
Meu amor, nunca é tarde nem cedo para quem se quer tanto!"



José Carlos Ary dos Santos

sábado, 17 de dezembro de 2005

O dinheiro Na (tal) crise


Com vista a conhecer os hábitos de consumo de algumas pessoas residentes na zona comercial de Celas, nesta época natalícia, decidi pegar no meu trenó e partir à procura de respostas, alternando entre vendedores e clientes.

Foi por uma loja de roupa de alta qualidade que comecei o meu estudo. Aqui, a “crise” de que tanto se fala não existe, “aumentando mesmo o peso nos bolsos dos clientes”, segundo Sofia Cardoso.
É de realçar que a classe social que frequenta esta loja é diferente da maioria. Esta maioria prefere as lojas tradicionais, onde os preços são acessíveis podendo comprar mais produtos, mas com menos qualidade. Joana Cardoso afirma isto mesmo: “os clientes desta loja não gastam mais de 15 euros por pessoa”, contrariamente ao que acontece nas lojas de elite, onde os valores variam entre os 750 e os 1000 euros.
Pelas ruas encontram-se pessoas preocupadas em gastar pouco e em encontrar presentes eficazes, é o caso de Carolina Dias, que prefere comprar mais prendas, gastando pouco dinheiro, indo, por norma às lojas chinesas, com grande expansão em Portugal, “ onde há brinquedos e coisas engraçadas a um preço acessível”.
Numa altura baixa a nível económico, as pessoas continuam a subir em pensamento, recorrendo a créditos elevados, sem medir as consequências. Esta época e a época balnear são as mais propícias aos empréstimos bancários, numa altura em que as pessoas pretendem satisfazer alguns sonhos.
A concretização desses sonhos está concentrada no novo centro comercial, em Coimbra, o Dolce Vita, que é preferido em relação aos outros estabelecimentos. É o caso de Catarina Simões que comenta: “vou fazer as minhas compras de Natal ao Dolce Vita, pois lá encontro uma grande variedade de lojas e não ando a perder tempo noutros sítios”. Assim sendo, no resto da cidade, “A afluência de clientes quebrou em relação ao ano passado, por um lado devido à situação económica portuguesa, mas também devido à abertura do novo shopping”, diz Susana Silva funcionária de uma loja de roupa.
Apesar de toda esta indisposição económica, as prendas continuam a descer pela chaminé, poderão é esperar apenas dentro de um sapatinho que se vai remendando cada vez mais.
Trabalho realizado por:
André Pereira
Ana Martins
Mariana Alves
Soraia Fernandes

sábado, 10 de dezembro de 2005

Amor, Sapatos e Zeus by RR


"Então considerei que as botas apertadas são umas das maiores venturas da terra, porque, fazendo doer os pés, dão azo ao prazer de as descalçar. Mortifica os pés, desgraçado, desmortifica-os depois, e aí tens a felicidade barata, ao sabor dos sapateiros e de Epicuro". - Machado de Assis
"Preciso de alguém sem o qual eu passe mal".-Kid Abelha

A falta de amor é um par de botas apertadas. Por que mortificar os pés, e depender do prazer de desmortificá-los? É um prazer masoquista. Mais lógico seria usar sapatos confortáveis, ou então, não usá-los. Mas não: é bom que exista a dor, para que saibamos o que é prazer. Melhor não conhecer o amor do que passar uma vida na infelicidade, tentando encontrá-lo.

Segundo uma lenda grega, no início, os seres eram duplos e esféricos, e os sexos eram três: um constituído por duas metades masculinas; outro por duas metades femininas; e o terceiro, andrógino, metade masculino, metade feminino. Como ousassem desafiar os deuses, Zeus cortou-os para enfraquecê-los. Cada ser tornou-se então um ser distinto, e o amor recíproco origina-se na tentativa de restauração da unidade primitiva. O homem considera-se incompleto, tentando desesperadamente encontrar aquele que o faça passar de um estado de pobreza (espiritual) para um estado de riqueza.

O que eu queria dizer é que seria melhor que não existisse amor; porque a falta dele mortifica a alma. Zeus poderia ter feito seres completos: podemos imaginar um mundo primitivo no qual o amor não existisse: muito sofrimento seria poupado. A humanidade seria constituída por seres completos, e poderia dedicar-se a outras coisas que não a busca do amor, essa coisa passageira e inútil. Claro que são só hipóteses; quem é que abdicaria do amor tendo-o conhecido?

No mínimo, ele trouxe inspiração aos poetas. Na verdade, acho que a única utilidade do amor foi ter ajudado a humanidade a produzir arte. A amizade é um sentimento muito melhor que o amor; é mais irmão, mais fraterno; os amores vêm e vão ao sabor dos ventos. Mas a amizade não resolve o problema da sexualidade, outra necessidade humana cuja falta representa um tormento. O ideal seria não ter sexualidade nem amor, mas, conhecendo-os, é impossível ignorá-los. Por exemplo, durante a infância, a felicidade é plena. Ninguém precisa do amor homem-mulher. Não existe a falta eterna de alguma coisa. Mas quando se entra na adolescência, as duas esferas são magicamente separadas e precisamos de companhia.

O amor é maníaco-depressivo. Na presença dele tudo são flores. Na falta, tudo é um inferno. Deve existir um meio de equilibrar essas duas faces. Não quero precisar de alguém sem o qual eu "passe mal". Parece um vício. Na falta da pessoa amada, é como se existisse uma síndrome de abstinência. O amor destruiu, como a droga: antes, passava-se bem sem ele; fomos-lhe apresentados na adolescência e agora existe um vazio, que nada parece preencher. Mais uma dose, por favor.

Por fim, acabo isto que me atormentava há meses. Fecho o bloco, apago a luz... Ainda assim agradeço o dia em que o amor me foi apresentado. Vem-me à cabeça "Fomos à Lua mas não encontrámos a nossa verdadeira casa. Aqueles que lutam e sofrem por amor encontram-na... "
Adormeço....