Agostinho da Silva percorreu os “caminhos de um homem transparente”, tendo sido um controverso e enigmático pensador. Nasceu no Porto mas escolheu Barca d’Alva como “Terra Mãe”, a última terra Portuguesa, entre a Beira e Alto Douro, antes da fronteira Espanhola. Era uma terra de gente pobre, onde não havia escola nem luz eléctrica e só havia pão uma vez por semana. Contudo, era o paraíso de vida para Agostinho da Silva.
O pensador, e também pedagogo, terminou a licenciatura em Filologia Clássica, na primeira Faculdade da cidade do Porto, com a média final de 20 valores.
Antes de começar a estudar, o seu grande sonho era ser marinheiro, sonho esse que não conseguiu realizar.
Leonardo Coimbra, fundador da Faculdade de Letras do Porto, assumiu o papel de Professor de Filosofia Medieval de Agostinho. Porém, este não nutria muita simpatia pela matéria, acabando, mesmo assim, por fazer a disciplina.
Quando acabou a sua licenciatura, cita que: ”A minha licenciatura não foi em Filologia Clássica, foi em Liberdade”.
Em 1942, publica um caderno que designa por “Cristianismo”. Este escrito chocou com as ideias do Regime Salazarista, o que fez com que Agostinho fosse acusado de perturbador, impedindo-o de fazer as suas conferências. Mais tarde, acabou por ser detido em regime de isolamento total, durante 20 dias, por ter desrespeitado as regras que lhe foram impostas. Esta sua força fez dele um homem de movimento, pluridimensional e pluricultural.
Partiu, então, para o Brasil, onde esperava encontrar, do outro lado do Atlântico, a oportunidade de realizar os seus sonhos e também encontrar uma cultura que respeitasse o modo de pensar de cada um.
Em 1958, acaba por se naturalizar Brasileiro. Era um homem que afirmava não estar interessado em coisa alguma, somente em viver.
Regressa a Portugal, em 1969, devido à ditadura que tinha chegado ao Brasil e, em 1990, transforma-se num líder de comunicação na RTP com o programa televisivo “Conversas Vadias”. Posteriormente, retira-se, acabando por rejeitar a comunicação social: “Cada vez gosto mais de menos gente”.
Já com 87 anos, este homem que falava 12 línguas, admite que raramente lia jornais, com excepção do “Público”, por causa do “Calvin”. Quando foi questionado em relação à morte, afirmou: “Não penso nada, nunca morri, depois, quando morrer, e se souber alguma coisa, eu comunico”. Em 1994, acaba por falecer de um acidente vascular cerebral.
André Pereira
Mariana Alves