domingo, 29 de outubro de 2006

Fic Notícias - À luz de um orçamento que representa o ensino

Neste período de crise que atravessamos, o Diário de Fictícias decidiu ouvir os lamentos das pessoas sobre aquilo que as preocupa. Guerra, desemprego, preço da gasolina, salários… Foram estes items que colocámos na nossa agenda mas, ao contrário do que esperávamos, saiu-nos tudo ao contrário…

Electricidade:
“Sinto-me no meio de um Guerra, aliás, de uma guerra entre os consumidores e aqueles que me controlam. Sinceramente, espero que o meu valor se amplie, até porque sou muito valiosa para todos! As pessoas, ao nascer, são-me oferecidas, eu sou essencial ao seu crescimento, gostam de ir ao meu estádio, não conseguem ler nem escrever sem a minha ajuda e, até ao morrerem, vêem-me ao fundo do túnel… Seria um ‘choque eléctrico’ se me perdessem.”

Orçamento:
“Muito bom dia, meus senhores! Ainda não estou autorizado oficialmente a falar, só para o ano, mas posso dizer que me sinto muito satisfeito com a dieta rigorosa que estou a programar fazer. Correm boatos que continuarei a abusar dos doces, mas não passa disso mesmo, verdades. Ah, desculpe, quer dizer, boatos!”

Rivoli:
“Gostei muito deste período de férias a que tive direito. Por outro lado, tudo o que foi noticiado dava para uma excelente peça de teatro… É algo a pensar. Sabe (olhando para todos os lados), por agora ainda posso falar consigo em público, mas daqui por uns tempos, se quiser combinar uma entrevista, só em privado.”

Declaração de Bolonha:
“Ainda sou muito novinha para poder criticar mas penso que mais novos são aqueles que me criticam. O desemprego não me aflige, até porque eu tenho dado muito trabalho, especialmente aos estudantes. Mas não há que preocupar, ninguém precisa de ficar com os olhos em bico. Até porque eu nem sei fazer arroz; o meu prato preferido é esparguete… à bolonhesa, pois claro!”

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Soneto do Cativo

Se é sem dúvida Amor esta explosão
de tantas sensações contraditórias;
a sórdida mistura das memórias
tão longe da verdade e da invenção;

o espelho deformante; a profusão
de frases insensatas, incensórias;
a cúmplice partilha nas histórias
do que outros dirão ou não dirão;

se é sem dúvida Amor a cobardia
de buscar nos lençóis a mais sombria
razão de encantamento e de desprezo;

não há dúvida, Amor, que te não fujo
e que, por ti, tão cego, surdo e sujo,
tenho vivido eternamente preso!

David Mourão Ferreira

sexta-feira, 20 de outubro de 2006

Um Jogo Sustenido: Chopin ou Eusebio?

Não se trata de uma luta pelo título de figura mais importante da Europa. Se, por um lado, temos um dos melhores compositores musicais do século XIX, Frédéric Chopin, por outro encontramos um dos melhores jogadores de futebol… da Polónia!

É verdade, não se trata de Eusébio da Silva Ferreira mas sim de um outro que, embora com qualidades bastante diferentes das do “original”, é considerado por muitos como um dos melhores jogadores do seu país.

E assim, o verdadeiro “combate” trava-se entre o compositor de mazurcas e polonesas e o médio ofensivo que recentemente deu música a Portugal.

Até então, Chopin era o símbolo deste país do Velho Continente. Contudo, no dia 11 de Outubro de 2006, surgiu um novo ídolo para os polacos, Eusebio Smolarek.

Esta figura obteve enorme destaque após ter combatido bravamente contra a Nossa Senhora do Caravaggio que pretendia conquistar um dos quatro territórios que o seu comandante lhe pedira, acabando por derrotá-la com dois tiros à queima-roupa.

Nossa Senhora (certa do fim da crise que se abatera à sua volta) entrou demasiado benevolente no terreno, criando muitos espaços ao seu adversário. Este, não teve qualquer problema em controlar os 90 minutos, devido, em boa parte, à pouca valentia dos homens vestidos de negro.

O ambiente encontrava-se tão escuro como um nocturno de Chopin até que, vindo do nada, Eusebio escavou uma rocha bastante mole e atirou certeiro sem qualquer hipótese de fuga para a presa.

Prontamente, todos os santinhos se prontificaram a ajudar Nossa Senhora mas, apenas perto do final do encontro, um anjinho que não faz mal a ninguém, conseguiu atingir Smolarek com um difícil golpe certeiro.

Contudo, essa resposta não foi suficiente por duas razões muito simples: primeiro porque o resultado não se alterou até final e segundo porque o Nuninho (anjinho que reduziu a diferença) despenteou-se de tal forma que teve de ser transportado de urgência para o cabeleireiro mais próximo.

As reacções de ambas as partes fizeram-se notar. Smolarek foi aplaudido de pé e o seu País declarou-o como herói nacional; Caravaggio aceitou a derrota, e afirmou que estava a brincar quando disse que Portugal não estava em crise.

De realçar o apurado sentido de humor de um dos nossos representantes.

Afinal, estamos mesmo a passar por um mau momento…

E, é por isto mesmo, que agora se discute qual a música que os polacos mais gostam de ouvir, a de Chopin ou a de Eusebio.

quinta-feira, 19 de outubro de 2006

O Documentário de Mariana Otero

O documentário de Mariana Otero (1997) mostra uma televisão privada como nunca antes se vira. Como objecto de estudo do seu trabalho, a cineasta escolheu a estação portuguesa SIC, caso ímpar na Europa em termos de audiência atingindo, em poucos anos de existência, os 50% de share.

Apesar das imagens exibidas corresponderem à realidade diária da SIC, uma realidade em que se dá primazia às audiências em detrimento da qualidade, esta é apenas parcial.

Mariana Otero optou por deixar de parte as grandes reportagens, os debates, programas como “O Século do Povo”, “Tostões e Milhões” e “Internacional SIC”, as reportagens da BBC e National Geographic, e o apoio à música e teatro nacionais.

Sendo legítimo, por parte da SIC, a crítica a Mariana Otero, esta cumpriu aquilo que se propôs a fazer inicialmente, saber de que maneira uma estação tão nova conseguiu atingir tais níveis de audiência.

Durante a execução deste projecto, Mariana Otero não se deparou com qualquer entrave na captação da imagem Emídio Rangel atribuiu-lhe livre-trânsito para o fazer, acabando, posteriormente, por criticá-la pela exibição de determinadas imagens.

Se, por um lado, esta exposição pode prejudicar a SIC tanto na obtenção de patrocínios como nas próprias relações internas entre os seus funcionários, por outro, beneficia a estação na medida em que estabelece a sua notoriedade no plano televisivo europeu.

No nosso entender, Mariana Otero alcança o seu objectivo primordial. É certo que, no seio da SIC, o produto final não foi bem recebido, mas isto porque os seus responsáveis não terão compreendido bem o intuito da cineasta.

André Pereira
José Santiago

terça-feira, 17 de outubro de 2006

Praça do Comércio Português: “Queremos trabalhar, mas sem sair do lugar!”

Esta semana o Diário de Fictícias decidiu vir para a rua, sentir o cheiro a castanha assada e ouvir o burburinho constante da capital de Portugal. Depois de muito caminho percorrido, deparámo-nos com a estátua de D. Sebastião de Melo.

Tudo estava normal: as pessoas corriam de um lado para o outro, num stress desenfreado, os cafés apinhados de gente com cigarro na mão, e o rio, lá atrás, compunha a paisagem da bela cidade de Lisboa.

Mas algo se diferenciava naquele retrato paisagístico. Sim, era uma pequena mancha vermelha muito pequenina mas que fazia um barulho desproporcional ao seu tamanho.

Eram pessoas, que se encontravam com bandeiras e faixas de protesto contra o desemprego, contra o Governo, contra a oposição, contra os salários, contra as reformas, contra os subsídios, contra os contratos, contra os estrangeiros, contra o país, contra tudo! Aliás, não havia nada que estas pessoas não criticassem. Quando se propunha alguma medida, elas contra-atacavam de imediato com uma contra-proposta. Exemplar, o abrangente vocabulário destes senhores de punho cerrado.

Após largas horas de tentativa de comunicação com um dos seus líderes (têm muitos), devido ao intenso ruído sonoro, a conversa resumiu-se a pequenas frases de protesto, pois claro:

“Queremos trabalhar, mas sem sair do lugar!”

“Menos horas no emprego para termos mais sossego!”

“Trabalhar é uma seca, preferimos jogar à sueca!”

“O melhor para o empregado é poder trabalhar sentado!”

André Pereira

sábado, 14 de outubro de 2006

Entrevista ao Ponto - "Sou indispensável a qualquer jornalista"

Diário de Fictícias – Ponto para começar? Aliás, pronto para começar esta entrevista?
Ponto –
Sim, pontíssimo! Prontíssimo.

DF – Como lhe expliquei ao telefone, esta nossa conversa irá basear-se no seu trajecto profissional e na sua opinião sobre a actualidade…
Ponto –
Ou seja, quer saber o meu ponto de vista em relação a determinados assuntos…

DF – Exactamente! Comecemos, então, pelo início auspicioso que teve nos palcos do Teatro.
Ponto –
Bons tempos… A princípio não queria enveredar por essa área, mas a pouco e pouco fui descobrindo a arte de representar. Claro que por vezes precisava de ajuda, mas tinha sempre o meu irmão que me apoiava nesses momentos. Foi um bom ponto de partida e uma base que me proporcionou uma outra visão sobre tudo.

DF – Em que aspecto alterou a sua forma de ver o mundo?
Ponto –
Alterou na medida em que alarguei o meu horizonte visual, adoptando pontos de vista diferentes. Sinto que muitas das pessoas encenam a sua própria vida, representando papéis que não são seus. E isso, por um lado, faz-me sentir revoltado mas, por outro, faz com que possa viver de uma forma mais consciente, pois sei os perigos que se me reservam.

DF – Para si, as pessoas são um perigo? Não tem esperança na construção de um mundo melhor?
Ponto –
Calma que eu não disse isso! Vamos cá pôr os pontos nos “is”… Eu era uma pessoa muito tímida e com muitos pontos de interrogação na minha cabeça. Depois do Teatro, já substituí os pontos de interrogação pelos pontos finais e até mesmo por alguns pontos de exclamação! (como este). Hoje, vivo uma vida feliz, com alguns casos pontuais de trabalho árduo, mas nada que me aborreça.

DF – Depois seguiu-se a Televisão…
Ponto –
Sim, o meu próximo amor foi a pequena caixinha mágica. Comecei por trabalhar como estagiário, mas lentamente fui obtendo algum prestígio, até que hoje sou indispensável a qualquer jornalista, especificamente os pivots do telejornal.

DF – Mas foi um amor, a princípio, um pouco atribulado…
Ponto –
(risos) No meu primeiro dia bati com a cabeça numa porta. Ainda levei uns pontos. Rezei a todos os santinhos e ao meu em especial, o Ponto Cruz, para que não me crescesse nenhum galo… Todos sabemos os problemas que os galos nos têm trazido.

DF – É verdade, sim senhor. Ora bem, deixe-me só consultar aqui o meu ponto de apoio, uma pergunta final: ultimamente têm surgido rumores de possíveis ligações com a corrupção desportiva…
Ponto –
Olhe, já viu as horas? Os ponteiros andam cada vez mais depressa. Desculpe mas vou ter que sair. Ainda tenho que ir ao Porto com dois amigos para depois viajar para junto da minha esposa que se encontra nos Açores…

André Pereira

sexta-feira, 6 de outubro de 2006

Fic Notícias - Palavras de Bento

O Diário de Fictícias foi para a rua descobrir o que pensam as pessoas acerca das mais recentes declarações do Papa Bento XVI, sobre o Islamismo, que causaram polémica na sociedade actual.

Rico de Azevedo:
“Opa, a minha opinião é muito simples: as pessoas ou aceitam ou não aceitam a leitura do Sumo Pontífice… Mas, opa, os islâmicos viram colocada em causa a sua autoridade de concorrência. PorTanto, entendo as críticas de que o papa tem sido alvo.”

Valentim Poleiro:
“O que é que o senhor quer? A mim ninguém me acusa de nada! Não fui eu, a culpa é deles! Ah, desculpe, não tinha entendido a questão… Eu acho muito estranho o Papa ter dito isso. Há aí qualquer coisa que não liga. Teve cá um galo!”

Sin Laden:
“Ali ba ba, ba ba bali… Ai, peço desculpa, estava aqui a cantarolar. Ora bem, essa é uma questão muito complexa porque vai contra a nossa ideologia. Mas como se diz aqui em Portugal (ai que eu não posso dizer onde estou!), quem semeia Bentos colhe tempestades, não é? Preparem-se!”

Cavado Silvas:
“Ouvi com muita atenção as declarações de Sua Santidade e penso que o melhor a fazer seria uma reunião entre ambas as partes, aqueles que estão mais à direita e os que estão mais à esquerda, se é que me faço entender. Muchas gracias.”

Bimbo da Costa:
“Quem é esse senhor? O único papa que conheço sou eu… Penso eu de que… Mas se é para deitar a baixo os mouros, acho muito bem.”

José Só Crates:
“A essência do problema é a questão da sociedade. E, nesse aspecto, Bento XVI ainda não conseguiu criar uma forte segurança social. As coisas deram para o torto e não se tornaram assim tão simplex como se pensou.”

Manuel Maria Sarilho:
“Tudo isto é uma farsa! Em primeiro lugar, a eleição deste Papa está rodeada de falsidade porque foi manipulada pelos meios de comunicação social. E agora, o feitiço vira-se contra o feiticeiro; são os media que divulgam uma ideia diferente da que Bento XVI queria transmitir.”

terça-feira, 3 de outubro de 2006

O Livro de Métodos dos Media

A SIC Notícias passou imagens de torturas em Guantanamo, à hora de almoço do Dia de Páscoa e sem «bolinha» no écran. A Entidade Reguladora para a Comunicação Social recebeu uma queixa, analisou e agora arquiva o processo.

Segundo a ERCS, o programa em análise, «Tortura – o Livro de Métodos de Guantanamo», “não influi de modo negativo na formação da personalidade das crianças, adolescentes ou de outros públicos.

Se este contém cenas violentas, promove, afinal, um debate sério e consistente sobre a tortura e os tratamentos cruéis, desumanos e degradantes. Não faz a apologia da violência, procura contextualizar e recriar com seriedade a “realidade”, intercalando a exibição de cenas violentas com a apresentação serena de elementos de facto e documentais.

Nessa medida, representa – de facto – uma apologia contra a violência cometida sobre outrem.”

Desta forma, a ERCS considera não ter havido públicos afectados negativamente com a emissão do programa, arquivando, desta forma, o processo.

Este caso remete-nos à “velha questão” da liberdade de escolha (?) dos conteúdos televisivos. Vivemos num mundo cada vez mais agitado onde a (des)informação nos invade e nos controla os movimentos como uma criança maneja as marionetas.

André Pereira
Fonte: Jornal Sol