sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

"Um Outro Olhar" no IPJ

Olhas-me com timidez… Baixas a cabeça, tapas a cara entre dedos de chocolate, e os teus lábios contrariam a lei da gravidade. Reages assim sempre que te espelho na minha memória fotográfica, no meu cristal reflectido, na minha lente tele-objectiva... Não te escondas de mim, não afastes os teus olhos dos meus, mais tarde ou mais cedo irei encontrar-te no meu view-finder.

Raul Vilar

Na próxima quarta-feira, proceder-se-á, no Instituto Português da Juventude, em Coimbra, à inauguração da exposição fotográfica “Um Outro Olhar”. Totalizando 49 fotografias, é composta por trabalhos da autoria de crianças e jovens portadores de deficiência mental de sete instituições particulares de solidariedade social (IPSS) da Região Centro.

A exposição, que se encontra integrada nas comemorações dos 70 anos do Instituto Superior Miguel Torga, conta com fotografias de crianças e jovens da Associação Portuguesa de Pais e Amigos das Crianças com Deficiência Mental (APPACDM) de Anadia, do Centro de Educação Integrada da Bela Vista, em Águeda, ambas no distrito de Aveiro; APPACDM de Coimbra, APPACDM de Soure, Associação para o Desenvolvimento e Formação Profissional de Miranda do Corvo (ADFP), CERCI Penela, todas no distrito de Coimbra; e CERCI Pombal, no distrito de Leiria.

Os jovens autores foram acompanhados por alunos da Licenciatura em Comunicação Social do Instituto Superior Miguel Torga, alunos que também cederam o material fotográfico necessário. A equipa de alunos do ISMT foi composta por Ana Carolina Correia, Ricardo Almeida, Manuel Marques, Igor Pinto, Carlos Constantino e Altino Pinto.

Entretanto, todos os alunos se licenciaram, e muitos pretendem seguir o território do foto-jornalismo. É o caso de Ricardo Almeida, que já trabalha na área. , “Desta vez os fotógrafos foram eles, e não nós...Torná-los autores das fotografias e deixá-los felizes é algo que me deixa reconhecido e bem comigo próprio”, afirma.

Altino Pinto considera ter sido “uma experiência bastante enriquecedora, que gostaria de repetir”. “Ver como aquelas pessoas olhavam e pegavam numa máquina fotográfica deixou-me bastante emocionado”, conclui.

Os papéis inverteram-se e aqueles que normalmente se encontram à frente da máquina fotográfica perderam o medo e tomaram as rédeas dos seus olhos. As fotografias variam entre retratos dos colegas, trabalhos manuais, paisagens, entre outros. Muitos deles nunca tinham pegado numa máquina fotográfica, o que dificultou um pouco o método. Porém, mais genuínas não poderiam ficar. Desde o sorriso de uns lábios inquietos até ao mais pormenorizado olhar de um rosto, os utentes destas associações sentiram o carinho atirado em flashs de luz e sombras.

“Adorei a experiência e, sem dúvida, que repetiria”, assegura Ana Carolina Correia. “Não estava à espera de tão boa recepção, todos eles foram muito queridos connosco”, afirma com um brilhozinho nos olhos. Foi com eles, inocentes de enganos, que Carolina fez um Amigo, coisa mais preciosa do mundo. O Amigo multiplicado por todos os corações que encontrou.

Esta exposição pretende dar a conhecer um universo considerado insondável por muitos. Simultaneamente, proporcionou-se às crianças e jovens um dia diferente, pautado por grande animação e alegria.

Patente até ao próximo dia 5 de Janeiro, a exposição cumprirá posteriormente circuito de itinerância pelas IPSS aderentes a este projecto.


Texto:
André Pereira
Fotografia: Ana Carolina Correia

1 comentário:

Anónimo disse...

Interessante e boa reportagem.
Parabéns aos dois.