quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Entrevista ao Novo Vizinho - "Sempre fui a estrela mais brilhante"

Estamos numa manhã de Setembro. As t-shirts e os calções reflectem a temperatura que se tem verificado durante este Verão e as buzinas dos automóveis confirmam a chegada de um novo período de trabalho.

As letras mantêm-se as mesmas e a sua disposição vai sendo alterada conforme a altura do dia. Tudo se encontra no seu local habitual, à excepção de um novo vizinho que chama a atenção de todos os outros…

Diário de Fictícias – Está um belo dia de sol… (diz, olhando pela vidraça). Assim, até apetece ser vendido e andar por aí a passear…
Novo Vizinho –
Bom dia! Por acaso está um dia bem agradável. E parece que vai continuar assim solarengo durante uns bons tempos…

DF – Pois, espero que sim… Mas, agora que estou a olhar para si, não o conheço, pois não? Não me recordo da sua cara, desculpe, da sua capa…
Novo Vizinho –
Pois não, eu sou novo aqui na papelaria. Cheguei hoje de manhã e arranjaram-me aqui este cantinho. Mas sinto-me muito cansado, a viagem foi longa e um pouco atribulada… Acho que ainda vou fechar os olhos antes de a porta abrir…

DF – Olhe que a papelaria entretanto abre. Talvez não valha a pena adormecer agora… Descansa logo à tarde, já que a viagem foi assim tão difícil…
Novo Vizinho –
Epá, não me diga isso. E eu que pensava que ia ter agora um tempinho para descansar. Sabe, vim de Lisboa, da capital, e, como tenho o carro avariado e o comboio é muito caro, decidi vir de autocarro expresso. A viagem não foi assim tão má, até vimos alguns filmes, contudo, a saída foi o que me custou mais, tropecei e ia caindo. Mas, felizmente, cheguei ao destino e agora é só trabalhar para ver se as coisas me correm bem.

DF – Decerto que irão correr. Sabe, o local onde se encontra foi, durante muitos anos, de um jornal muito independente. Fazia tudo sozinho, e raramente pedia alguma coisa emprestada. Quando chegou, a dona da papelaria entregou-lhe a chefia de todas as portas. Era um jornal muito acessível e com um sentido de humor único. Há dias, pediu a reforma e colocou um ponto final na sua carreira.
Novo Vizinho –
Sinto-me lisonjeado por estar neste lugar, tenho uma visão global da sala. Já reparei que tenho público a assistir sempre que queira discursar, tal e qual eu imaginava. De manhã entregam-me em mão o correio, à tarde faço um jogo de futebol, pego na bola e bato o record de golos do Eusébio! Tudo isto em 24 horas! Pena é só poder fazê-lo uma vez por semana… Já agora, a que horas é o despertar?

DF – Há um despertar semanal, às sextas-feiras, no início da manhã. Mas é só aqui na zona de Coimbra. Aproveito, então, para lhe apresentar outros dos seus colegas. À sua frente tem um jornal muito poupadinho, que só vê números à frente, chamamos-lhe o “económico”, está cá diariamente. À sua direita tem dois irmãos que só falam de notícias, o Jornal e o Diário. Lá ao fundo, na porta 666, mora um cujo nome nem me atrevo a dizer… Aquela zona é uma zona de muita criminalidade, como se pode ver pelo jornal ao lado. Depois, temos deste lado esquerdo a zona das revistas, a maioria cor-de-rosa.
Novo Vizinho –
Sim senhor, fiquei esclarecido em relação à minha vizinhança. Agora, só com o tempo é que se verá. Espero que daqui a três anos já esteja mais habituado a estas andanças e consiga dinheiro, pelo menos, para vir de táxi, já estou um bocadinho farto de andar de expresso.

DF – Olhe, as portas abriram-se. Vai começar o dia. Curioso, estamos aqui a falar há tanto tempo, e nem sequer sei o seu nome…
Novo Vizinho –
Nasço todos os dias sem nunca ter morrido, tenho uma clave só para mim, e, apesar de ser novo neste mundo sempre fui a estrela mais brilhante! Consegue adivinhar?

1 comentário:

Anónimo disse...

Imaginação e criatividade não te faltam. Continua assim com esse teu ar crítico do mundo que te rodeia, mas insere-te nele. Bjs