sexta-feira, 29 de dezembro de 2006

Entrevista ao Ano 2006 - "É preciso muita dranquilidade"

Diário de Fictícias – Bom dia, senhor 2006!
2006 –
Diga? Vai ter que falar mais alto… Já estou muito velhinho e não tenho a genica de outros tempos…

DF – Queria falar consigo sobre a sua vida que, apesar de curta, foi muito conturbada…
2006 –
Sim, tem razão. Tenho de aproveitar ao máximo os 12 meses que tenho de vida e, frequentemente, faço aquilo que não devia. Mas, como diz o povo, a vida são 365 dias e o Carnaval são 366…

DF – Desculpe, mas está a fazer alguma confusão... “A vida são dois dias e o Carnaval são 3”. Esta é a citação correcta.
2006 –
Pois, mas disseram-me que aqui em Portugal o Carnaval é durante todo o ano… E eu próprio notei isso durante este período…

DF – Como assim? Viu muita gente a desfilar nas ruas ao som do samba?
2006 –
Neste país, o Carnaval é muito diferente do do Brasil, mas vi muitas palhaçadas. No que diz respeito à música, apesar de este ter sido o ano de Mozart, estava sempre a ouvir o Bailinho da Madeira.

DF – Gosta que lhe dêem música, portanto… Que balanço faz dos seus primeiros meses de vida?
2006 –
Bem, essencialmente, tentei continuar o trabalho do meu pai. Aqui em Portugal, as nossas gerações não são muito diferentes, até porque raramente há uma mudança significativa de mentalidade. Foi eleito um novo Presidente e, por coincidência ou não, arderam mais uns cavacos por este país.

DF – Este ano o país não poderia deixar de arder… Afinal houve quem tivesse festejado o dia da Besta…
2006 –
Desculpe mas eu não gosto que tratem assim as pessoas. Se não gosta daquele senhor do Norte, não tem que lhe chamar nomes…

DF – O dia da Besta foi no dia 6/6/6… Não é minha intenção criticar ninguém. Aliás, se precisasse de o fazer, acho que escreveria um livro…
2006 –
Ah, sim… Pensava que estava a falar de outra pessoa. Mas, já agora que fala em literatura, parece que surgiu uma publicação que tem sido o Sol deste fim de ano. Aliás, tem colocado muita gente à sombra e, por vezes, ao bater nos objectos dá-lhes uma cor dourada… Mas não me posso pronunciar sobre esse assunto… Ainda não li o livro. Só falo em tribunal e na presença do meu advogado.

DF – No que respeita a filmes, qual foi o seu preferido?
2006 –
Gostei bastante da adaptação a cinema do “Auto da Barca do Inferno”, do Senhor Gil Vicente, porque mistura vários géneros: desde o terror, passando pelo drama e acabando na comédia. Também gostei muito de um filme franco-italiano, em que, no final, o mau da fita dá uma cabeçada no inimigo.

DF – É inédito alguém entrevistar um ano, como eu estou a fazer, entrevistando-o a si. Talvez devêssemos entrar para o Guiness… O que acha?
2006 –
Tenha calma, é preciso ter muita “dranquilidade”, como diz o senhor Bento.

DF – Mas, normalmente, as palavras do Bento não são muito bem-vindas no mundo islâmico…
2006 –
Referia-me ao Paulo, o treinador dos leões!

DF – Ah, peço imensa desculpa! Acho que é das horas… Está a ficar tarde e temos de ir. Ainda tenho que ir fazer um doce para a noite de Natal.
2006 –
Talvez seja isso. Eu não gosto muito de açúcar, prefiro salgados…

DF – Como eu o compreendo… Gostei muito de ter falado consigo, foi muito amável para com o Diário de Fictícias.
2006 –
Ora essa, o prazer foi meu. Brevemente virá a minha substituição. E certamente ninguém sairá para as ruas a protestar…

quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

Biafra

Biafra foi um momento decisivo na minha vida porque comecei a ver crianças a morrer. Perdi o meu interesse pelos soldados que são treinados para matar pessoas. Mas quando se vê uma criança caída no chão, rastejando, morrendo… Elas não pediram essa crueldade.

Don McCullin

Esta fotografia representa a fome no Biafra. Os Igbos da Nigéria Oriental declararam-se independentes em 1967, cortando as ajudas ao Biafra. Em 3 longos anos de guerra, mais de um milhão de pessoas morreu, a maioria devido à fome. As crianças morriam em sofrimento por falta de proteínas essenciais. O seu corpo ficava deformado e a toda a força que possuíam era inútil. O repórter de guerra Don McCullin fez com que o mundo acordasse para esta tragédia. A Comunidade Mundial interveio com vista a ajudar o Biafra, acabando por adquirir novas formas de lidar com a fome em grande escala.

Don McCullin viveu de perto muitas guerras (Vietname, Congo Belga, Biafra, Líbano e Israel) e, hoje, arrepende-se de muita coisa que viu. Apesar da fama que alcançou, o preço que está a pagar é demasiado elevado. Anualmente, o fotógrafo recebe diversas cartas pedindo conselhos para a cobertura de guerras. A sua resposta é sempre a mesma: vá fotografar a paz, é muito mais difícil.

Don McCullin nasceu em 1935 no seio de uma família pobre do norte de Londres. Aos 18 anos foi chamado a cumprir o serviço militar oferecendo-se como voluntário para repórter fotográfico. A sua dislexia impediu-lhe que passasse nos exames de admissão, contudo aprendeu a usar a máquina fotográfica.

McCullin recebeu propostas de emprego de vários jornais, entre eles o London Observer. Em 1964, o jornal londrino atribuiu-lhe a missão de cobrir a guerra civil no Chipre. Foi a sua primeira experiência de guerra, conseguindo excelentes fotografias. Muitas outras guerras se sucederam (Vietname, Congo, Biafra…) e McCullin sempre com a sua objectiva apontando para a destruição. Apesar de odiar a guerra, o fotógrafo sente que tem o dever de mostrar ao mundo a miséria e tragédia que existe numa guerra, tanto da parte dos soldados como da parte dos civis.

No Biafra fotografou os efeitos da fome – esqueletos famintos, corpos vazios…, encontrando por diversas vezes o rasto da morte.

Já no Reino Unido, continuou o seu trabalho, fotografando os mendigos de Londres indo, posteriormente, para a zona de conflito da Irlanda do Norte. Fotografou ainda refugiados do Bangladesh, a guerra no Cambodia, entre outras. A guerra havia-se tornado parte da sua vida e é, nesta altura, que decide voltar a Inglaterra e dedicar-se à fotografia mais urbana.

domingo, 24 de dezembro de 2006

Maria, José, Mor, Gado

Maria José Morgado foi nomeada, no dia 14 de Dezembro, para dirigir e coordenar todos os processos relativos ao caso " Apito Dourado".

Esta nomeação tem como objectivo "uma coordenação eficaz no sentido de imprimir a dinâmica e rigor necessários à descoberta da verdade material", de acordo com uma nota da Procuradoria-geral da República lida em conferência de imprensa.

A decisão não poderia ser a melhor prenda de Natal para todos aqueles que anseiam pela justiça em Portugal, com especial atenção no futebol. Numa altura festiva em que escrevemos cartas ao Pai Natal, houve alguém que não se esqueceu de escrever ao Menino Jesus. E parece que a carta foi parar à morada correcta: a barraca de Belém.

Pode parecer confuso o que eu estou a escrever, mas passo a explicar: a versão mais simples e simbólica do presépio é constituída pelas seguintes figuras: o Menino Jesus, José, Maria, a Vaca e o Burro.

Só aqui encontramos várias explicações: a mãe de Jesus (Maria) encontra-se ao lado de Seu pai (José), rodeados pelo Burro e pela Vaca (o Gado). No centro encontramos Jesus, o símbolo do Amor para os Cristãos. Agora, qual receita de culinária, basta-nos juntar o nome “Maria” com “José” e “Gado”: Maria José Gado. Mas o apelido da senhora não é assim tão estranho, tem um “mor” no início, que podemos decifrar (de uma forma muito código-da-vinciana) como diminutivo de Amor (=Jesus).

Agora, misturamos tudo, juntamos uma colherzinha de açúcar, uma pitada de sal e colocamos no forno durante 15 minutos. O resultado é “Maria José Morgado”.

Bela prenda! Agora só resta ter fé e esperar que os Reis Magos cheguem a tempo de presentear quem merece.

André Pereira

Pois, é Natal...

Nesta altura do ano os mails enchem a nossa caixa de correio e o telemóvel não pára de tocar… Somos invadidos por palavras como Amor, Paz, Felicidade, Alegria, etc… Infelizmente, a maioria destas palavras não coincide com aquilo que sentimos e, por mais absurdo que pareça, recebemos estes substantivos de quem menos esperamos. O cinismo toma conta de todos nós e chamamos “amigo” a pessoas cujo nome não nos lembramos…

Eu, ao escrever este texto, estou decerto a confirmar parte do que acima escrevi. Esta mensagem é para amigos, conhecidos, familiares, e muitos outros… Espero que a decifrem consoante o que vos vai no coração e no cérebro.

Desejo, apenas, que tenham um Bom Natal e que o ano de 2007 se transforme consoante o vosso trabalho e sacrifício. Porque não basta esperar que nos caia algo do céu…

Texto: André Pereira
Imagem: Bart

Bicicleta de Passeio

Agosto 2006, Holanda

Acordei sobressaltado, fiz a mala à pressa e olhei-me no espelho. O meu rosto tinha envelhecido e o cabelo justificava a minha idade. O meu corpo tornara-se enferrujado e esquecido, agarrado ao meu passado e aos caminhos que percorri, tal qual uma bicicleta de passeio.

Texto e Fotografia: André Pereira

sexta-feira, 22 de dezembro de 2006

Conto de Natal - Reis de Belém

O Diário de Fictícias, envolvido por este espírito que envolve todo o mundo cristão, mas, essencialmente, todo o mundo EUROpeu, decidiu acompanhar os Reis Magos e ir à Terra Natal entregar alguns presentes ao menino.

– Basta seguir aquela estrela – disse Belchior.
– Mas aquela estrela leva-nos até Sintra, e não a Belém, que é onde queremos ir – responde Baltazar.
– Ele tem razão, Belchior. Devemos antes guiarmo-nos pelo nosso GPS, e não fazer como aquele senhor que, apesar de gerir a empresa SGPS, não se soube orientar. E nós não queremos aparecer na lista de devedores ao fisco, pois não? Muito menos que as nossas companheiras publiquem um livro a incriminar-nos – diz Gaspar.
– Segundo o sistema, devemos ir por aquela rua – afirma Baltazar, apontando a direcção.
– Por aí vamos dar ao estádio de futebol onde também mora um Jesus, mas não é bem esse que queremos encontrar. – remata Belchior.

Assim começou a longa viagem que os três Reis Magos e a nossa equipa de reportagem fizeram até à Terra Prometida*. Chegados a Belém, deparámo-nos com um luxuoso palácio, protegido por guardas imponentes. Fizemos as apresentações, mostrámos os convites e, após terem verificado se nos encontrávamos bem vestidos (o essencial era ter o cinto bem apertado), os guardas que, apesar da noite escura se encontravam de óculos de sol, abriram a porta e entregaram-nos um cartão de consumo mínimo.

Algo incrédulos com aquela recepção, dirigimo-nos ao local onde se encontrava a família reunida, à volta de um cavaco em chamas que aquecia a casa.

– Boa noite, senhores! – disseram em coro os Reis Magos – Cada um de nós tem uma prenda para vos oferecer.
– Senhor José, para si tenho esta caixa de ferramentas. Como bom carpinteiro que é, espero que faça bom uso para tratar da Madeira. E, como sei que também tem dotes de jardinagem, ofereço-lhe estas rosas para plantar.
– Obrigado Belchior, agora é a minha vez de oferecer a minha prenda à “nova inquilina”. É uma caixinha com ouro, mas cá dentro tem um objecto que anda, literalmente, na boca de muita gente… Espero que faça melhor uso que os habituais utilizadores…
– Por último – continuou Gaspar – tenho este espremedor de laranjas para o senhor Silva. Devido às críticas de que tem sido alvo, acho que este é o presente ideal.

A família agradeceu calorosamente aos Reis Magos que, após terem cumprido o consumo mínimo através do pagamento de vários impostos, abandonaram o local sem a certeza de voltarem no próximo ano.

*Terra Prometida não no sentido de estar na agenda de aquisições de alguém mas sim porque é lá onde se fazem muitas promessas.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2006

O Amor

O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p'ra ela,
Mas não lhe sabe falar.

Quem quer dizer o que sente

Não sabe o que há-de dizer.
Fala: parece que mente
Cala: parece esquecer.

Ah, mas se ela adivinhasse,

Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
Pr'a saber que a estão a amar!

Mas quem sente muito, cala;

Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!

Mas se isto puder contar-lhe

O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar...

Fernando Pessoa

Wishlist

Querido Pai Natal, Menino Jesus, Reis Magos e afins

Aqui está a minha lista de desejos:

A Cura de Schopenhauer, de Irvin Yalom
E se Eu Gostasse Muito de Morrer, de Rui Cardoso Martins
Cemitério de Pianos, de José Luís Peixoto
Hitler, de Marleis Steinert
O Confessor, de Daniel Silva

Ligação Directa, de Sérgio Godinho

André Pereira

quarta-feira, 20 de dezembro de 2006

“Café com ‘Dinossauros’ da Comunicação”

Foi no passado dia 4 de Dezembro, por volta das 21h30, que muitas pessoas se juntaram para ver os dinossauros. Não me refiro a nenhuma visita ao Jardim Zoológico, nem sequer a uma ida ao cinema, mas sim de uma ida ao café. Foi este o local eleito pelos estudantes do 4º Ano de Ciências de Informação do Instituto Superior Miguel Torga para reunir, na mesma mesa, os verdadeiros “Dinossauros da Comunicação”.

Moderado pelo também “Dinossauro da Comunicação”, Sansão Coelho esta conversa recebeu o contributo de Varela Pècurto (fotojornalista e primeiro correspondente da Televisão RTP em Coimbra e na Região Centro), Jorge Castilho e Cabral de Oliveira (jornalistas que trabalharam no Jornal de Coimbra, Diário de Coimbra, Jornal da Universidade de Coimbra, Centro, para além do exercício de funções em delegações de jornais e rádios nacionais, como o Jornal de Notícias, o Comércio do Porto e a TSF). Por motivos de força maior, Álvaro Perdigão, também ele um Dinossauro na área radiofónica (um dos pioneiros do Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional, actual RDP, e também antigo colaborador do Diário de Coimbra), não pode estar presente.

Reunidos num local histórico da cidade de Coimbra, o Café Santa Cruz, os convidados falaram das suas experiências vividas dentro do meio jornalístico. Todas as estórias contadas poderiam servir de base para a elaboração de um livro, ou até mesmo de um filme, qual delas a mais contagiante. Desde lembranças de sorrisos, até outras mais tristes, tudo foi captado pela objectiva da máquina fotográfica, pela tinta da caneta ou pelo simples microfone.

No final, o público terminou esta sessão com aplausos e muitos elogios. Estas aulas abertas promovidas pelo Instituto Superior Miguel Torga já contaram com a participação de outros nomes ilustres como Carlos Esperança (blog
Ponte Europa), João Campos (actual Director do Diário de Coimbra), João Henriques (correspondente do Correio da Manhã), Paulo Marques (jornalista do Diário As Beiras), e Rui Avelar Duarte (ex-Director de Informação da LUSA e actual jornalista do Campeão das Províncias).

André Pereira

terça-feira, 19 de dezembro de 2006

Entre o Luar e o Arvoredo

Entre o luar e o arvoredo,
Entre o desejo e não pensar
Meu ser secreto vai a medo
Entre o arvoredo e o luar.
Tudo é longínquo, tudo é enredo.
Tudo é não ter nem encontrar.

Entre o que a brisa traz e a hora,

Entre o que foi e o que a alma faz,
Meu ser oculto já não chora
Entre a hora e o que a brisa traz.
Tudo não foi, tudo se ignora.
Tudo em silêncio se desfaz.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 18 de dezembro de 2006

You

Desta vez não há nomes próprios, apelidos ou caras risonhas. Simplesmente “You”. É a tradicional escolha da revista Time para "Person of the Year", que este ano não é bem uma, mas muitas pessoas. Com esta escolha, cujo critério é de âmbito muito alargado, a Time quer destacar qualquer pessoa que usa ou produz conteúdos para a Internet, como nós.
Fonte: Público

domingo, 17 de dezembro de 2006

Hey! Anda cá.

Tens dois minutos? Ou fazem-te falta? Sabes o que faz realmente falta? Mais loucura. Mais malucos. Não os “grandes malucos” mas os verdadeiros e as verdadeiras. Aqueles que perdem tempo para falar com os pombos; que vêem quadros onde os outros só vêem paredes; os aventureiros e as aventureiras que acreditam, ainda, haver qualquer coisa no fim do arco-íris. O verdadeiro poder é tu decidires o mundo à tua volta; questionar o estabelecido, as certezas e os costumes, para acreditar que tudo pode ser diferente. É preciso mais absurdo, mais ideias insensatas. Cinco bailarinas a jogar à bola de tutu cor de rosa. Passeios cobertos com relva e flores. Ou, muito simplesmente, trepar a uma árvore quando te apetece. Tu é que mandas. Se gostas de música pirosa, gostas e pronto. Queres cantar alto no meio da rua, deixa-te ir. Se preferes não dar muito nas vistas, anda nas calmas. É preciso rirmos e dançarmos e darmos abraços e beijinhos. O importante é levarmos tudo mais a brincar, até as coisas sérias.

Anúncio Yorn
Fotografia: Hugo Macedo

sexta-feira, 15 de dezembro de 2006

Entrevista à Saia da Carolina - "Sou saia de uma só pessoa"

Diário de Fictícias – Olhe desculpe… por favor… com licença… Olhe, saia da frente que eu estou a trabalhar!
Saia –
Eu até saía mas depois não tinha entrevistado...

DF – Ah, peço imensa desculpa, mas não reparei… Está muito diferente desde a última vez que a vi…
Saia –
Sim, a minha vida sofreu algumas alterações. E é por isso que convoquei esta conferência de imprensa, para mostrar ao país, e também ao mundo, que eu sou saia de uma só pessoa.

DF – Como assim? Sinceramente não estou a perceber…
Saia –
O meu nome, hoje em dia, anda na boca de toda a gente. Não vamos mais longe, há bocadinho você empurrou-me, “Saia da frente!”. Na televisão utilizam-me até ao esgotamento, coitadinha da Floribella. Para não dar outros exemplos! Mas eu, em exclusivo para o Diário de Fictícias, venho dizer, publicamente, que sou saia de uma só pessoa! E essa pessoa é a Carolina!

DF – A Carolina? Não estou a ver quem seja…
Saia –
Não sabe quem é a Carolina? Onde está a sua cultura literária e musical? Uma excelente dançarina como ela e não sabe… Sinceramente…

DF – Não me diga que está a falar “daquela” Carolina…
Saia –
Não se lembra da Carolina? “A saia da Carolina tem um lagarto pintado, sim Carolina ó i ó ai, não Carolina ó ai meu bem”. E a saia sou eu, mas não era verdadeiramente um lagarto que eu tinha pintado, era mais um camaleão, mudo facilmente de cor.

DF – Confundi com outra Carolina que, por acaso, também tinha um animal, mas fantasioso…
Saia –
Ah, estou a ver… Aliás, tinha dois: um pinto e um outro que cuspia muito fogo, mas parece que agora se anda a queimar. Enfim, quem brinca com o fogo queima-se, não é verdade?

DF – E o que tem a dizer da Rosa?
Saia –
Desde já lhe digo que não irei divulgar a minha preferência política! Tanto posso ser rosa, como laranja, azul ou até encarnada.

DF – Não é isso… Estou a falar da Rosa pessoa…
Saia –
Ah sim, a Rosa. Peço desculpa mas agora eu é que fiquei confusa. Já não bastava a Rosa que só me arredondava, arredondava… Todos os dias andava tonta, por essa razão é que decidi dar o direito de exclusividade à Carolina.

DF – Quais são os objectivos futuros?
Saia –
O meu maior desejo é ser reconhecida na rua como a saia que, não só tapou as pernas, como também os olhos de muita gente. O apito final ainda está longe, mas quando chegar a altura, espero fechar este ciclo com chave de ouro.

TV belga provoca onda de choque – Flandres proclama a independência... a fingir

A cadeia de televisão belga RTBF interrompeu quarta-feira a programação para anunciar que «a Flandres proclamou a independência», «o rei deixou o país!» e «a Bélgica já não existe», num exercício de ficção política que fez disparar as audiências.

«Isto pode não ser uma ficção»... A mensagem de alguns segundos precedeu o genérico de uma edição especial do telejornal que anunciava a secessão da Flandres.O anúncio inesperado provocou, ao que parece, estupefacção e até o pânico de alguns telespectadores.Muitos ficaram convencidos pelos directos, as reportagens a quente nos eléctricos bloqueados na nova fronteira e as reacções de verdadeiras personalidades políticas belgas a congratularem-se ou a denunciarem a proclamação unilateral desta independência pelo parlamento flamengo.

O número para telefonar indicado pela RTBF no início da edição especial cedo ficou saturado. «A nossa central foi inundada de chamadas e os jornais francófonos recebem também muitas reacções», indicou o porta-voz da RSBF, Bruno Deblander.

«As pessoas acreditaram e quando lhe explicamos que é uma ficção, algumas dizem que é um escândalo, outras ficam tristes ou contentes que isso seja falso», acrescentou, reconhecendo que a iniciativa podia ser «contestável e que ela seria contestada».

Mas nesta emissão que recria à sua maneira a Guerra dos Mundos de Orson Welles, a RTBF apostava em «pôr na praça pública o debate que anima todos os belgas».

Governo francófono exige investigação

Esta quinta-feira surgiram as reacções mais violentas ao que o gabinete do primeiro-ministro belga Guy Verhofstadt já classificou como «uma piada de mau gosto».«É dever da televisão pública informar correctamente o público, não criar confusão», afirmou o porta-voz de Verhofstadt.

O governo da Valónia, a região francófona da Bélgica, pede uma investigação sobre o «escandaloso» programa de meia-hora que surpreendeu o país, e questiona a ética dos jornalistas participantes.

Um país dividido

A Bélgica é um reino dividido entre três comunidades linguísticas (flamenga, francófona e alemã) e três regiões federais (Flandres, Valónia e Bruxelas). A Flandres, que é simultaneamente uma comunidade e uma região, representa metade mais de metade de todos os belgas e quase metade do território nacional.

Nesta região, que ocupa o Norte da Bélgica, vivem 6 milhões de flamengos, um povo germânico que fala uma série de dialectos próximos do Neerlandês (a língua da Holanda). Quase metade dos flamengos não fala o Francês, o idioma da zona Sul da Bélgica.A Flandres é também historicamente mais rica e industrializada que a Valónia (a região francófona do Sul), factor apontado pelos independentistas como mais um motivo para a separação, uma vez que estes argumentam que os francófonos vivem à custa da região do Norte.
Fonte: Sol

quinta-feira, 14 de dezembro de 2006

Zidane de regresso a casa

A estrela de futebol Zinedine Zidane numa demonstração das suas qualidades durante a visita a uma enfermaria para crianças abandonadas em Corso, Argélia.

Fonte:
Sol

Passeio dos Prodígios

Vamos lá contar as armas
tu e eu, de braço dado
nesta estrada meio deserta
não sabemos quanto tempo as tréguas vão durar...

Há vitórias e derrotas

apontadas em silêncio
no diário imaginário

onde empilhamos as razões para lutar!

Repreendo os meus fantasmas

ao virar de cada esquina
por espantarem a inocência

quantas vezes te odiei com medo de te amar...

Vejo o fundo da garrafa

acendo mais outro cigarro
tudo serve de cinzeiro
quando os deuses brincam é para magoar!

Vamos enganar o tempo

saltar para o primeiro comboio
que arrancar da mais próxima estação!

Para quê fazer projectos
quando sai tudo ao contrário?

Pode ser que, por milagre,
troquemos as voltas aos deuses

Entre o caos e o conflito

a vontade e a desordem
não podemos ver ao longe
e corremos sempre o risco de ir longe demais

Somos meros transeuntes

no passeio dos prodígios
somos só sobreviventes
com carimbos falsos nas credenciais

Vamos enganar o tempo...


Jorge Palma

quinta-feira, 7 de dezembro de 2006

Fic Notícias: Cartas ao Pai Natal

Em todo o lado se ouvem os cânticos de Natal, as ruas vestem-se de cores vivas para chamar a atenção de quem nelas passeia e as luzes brilham fazendo das noites dias luminosos. As crianças, junto à lareira, pegam numa caneta e num pedaço de papel e escrevem os seus sonhos para enviar para o Senhor das Barbas Brancas. Mas não só as crianças o fazem, também muitos adultos, e alguns, bem conhecidos por todos nós.

Fátima Felgueiras:
“Oi cara, você me pode trazer o que quiser mas, em vez de ser num saco encarnado, preferia que as prendas viessem num saco azul.”

Floribella:
“Olá Pai Natalzinho! Eu queria que as crianças fossem muito felizes e que houvesse paz no mundo. Eu sou muito pobrezinha, super-hiper-mega-ri-pobrezinha e o meu principezinho não gosta de mim…”

Teixeira dos Santos:
“Vamos cá ver, o shôr Nicolau anda de país em país no seu trenó e não paga os seus impostos? Quanto às renas, tem licença para andar com elas? Venham daí esses euritos.”

Pinto da Costa:
“Estou a escreber-te esta carta para entregares algumas prendas a estes senhores de negro. Para mim não quero nada porque nunca me dei muito bem com indibíduos de bermelho. Penso eu de que….”

Papa Bento XVI:
“Eu gostava que me oferecesses um barrete igual ao teu. É que eu já dei um quando “declarei guerra” aos muçulmanos.”

Luís Filipe Vieira:
“Camarada Pai Natal! Como prenda queria um bom treinador. E, já agora, como grande benfiquista que o senhor é, vai-me comprar um kit de sócio do Glorioso. E as suas renas e os seus duendes também porque eu sei, e toda a gente sabe, que o Benfica é também o Maior do Mundo Imaginário.”

terça-feira, 5 de dezembro de 2006

O fogo que arde no Natal

Lá fora está frio, a chuva cai intermitentemente e o sol aparece escondido por entre as nuvens. Está o tempo ideal para ficar em casa, enrolado nos cobertores, moldar o corpo ao sofá e, com aquela magnífica invenção humana que é o comando, controlar o nosso mundo visual com um simples movimento do polegar. “Vamos acender a lareira”, ouve-se em uníssono pela sala de estar. Talvez não seja pior, até porque este frio é intenso e, como a lua nos vem visitar mais cedo do que nas outras alturas do ano, sabe sempre bem ter os pés descalços junto ao lume que nos abstrai das preocupações diárias.

A família reúne-se e, tal como na música de Paulo de Carvalho, todos os meninos brincam com os seus bonecos e bonecas, carros e puzzles. Inventam a sua liberdade e tentam, maioritariamente com sucesso, interferir na liberdade dos seus pais. “Quero este Action-Man, o Noddy e o seu carro amarelo e o Power-Ranger Azul!”, “Eu quero uma saia e umas sapatilhas da Floribella e um Nenuco que come sozinho!”. Quem já não ouviu estas palavras da boca “inocente” de uma criança? E os pais, meros comandos televisivos, invertem posições hierárquicas e são chefiados pelos mais pequenos que exigem e alcançam todos os seus objectivos. Claro que as crianças fazem-no de forma inconsciente, pois o seu mundo ainda não contempla responsabilidades económicas que mais tarde lhes causarão muitas dores de cabeça.

Mas a caixinha mágica, que nos tem proporcionado tantas alegrias e nos permite olhar e ver o mundo que nos rodeia também tem o seu lado menos correcto. A versão manipuladora da televisão (que sempre existiu e nunca deixará de existir) tem-se virado, nestes últimos anos, para a captação da atenção das crianças. De forma aparentemente inofensiva, as empresas publicitam até à exaustão os seus produtos através dos mais variados meios de comunicação, com especial relevo para a televisão. Antes e depois de um programa infantil com elevada audiência, durante o horário nobre, ou seja, sempre que é possível fazê-lo. Não quero estar a retirar o direito à publicidade destas empresas, antes pelo contrário, mas penso que chegámos a um ponto de saturação que tem feito com que o Natal perca todo o seu sentido (o nascimento de Jesus, independentemente para quem acredite ou não).

A Coca-Cola substituiu o menino Jesus pelo Pai Natal e inventou outras noções para o mesmo. A tónica baseada no Amor, Paz, Harmonia, Felicidade, União (e todos os outros conceitos que ninguém respeita na sua totalidade) desapareceram, dando lugar ao Euro, ao Cartão Visa, ao cheque (muitas vezes em branco, da cor da neve) que está ao alcance de todos, mesmo ao alcance daqueles que não têm possibilidades. Até a própria data é antecipada meses antes (sim, já havia enfeites de Natal no mês de Outubro!) para contribuir para este espírito de Amor Universal!

Lá fora continua frio, a chuva cai de forma mais intensa e o sol, que agora já deu lugar à lua, quando aparece, não é para todos. Talvez seja mesmo melhor acender a lareira e aquecer os pés descalços cansados de caminhar.

André Pereira

sábado, 2 de dezembro de 2006

Poesia - Quadras de um País

Depois de semanas inquietas
Em que tudo se contestou
Decidimos fazer de poetas
E escrever o que se passou.

Os estudantes fecham a escola
Criticam a governação
Preferem jogar à bola
A ter aulas de substituição.

A temperatura está alterada
Balança entre o calor e o frio
Metade do país está alagada
Outra passeia no Rossio.

Há números que fazem sonhar
E outros que nem queremos ver
Os primeiros permitem viajar
E os últimos sobreviver.

E o nosso rico futebol
Segue o seu itinerário
Faça chuva ou faça sol
É comandado pelo empresário.

E para quem gosta de dançar
E fazer as coisas à sua maneira
Nada melhor que arranjar par
Para um bailinho da Madeira.

Tudo o que acima foi escrito
É o retrato desta Nação
Que deseja sempre o infinito
Mas nunca tira os pés do chão.