sexta-feira, 9 de março de 2007

Criação do Mundo Social

“Sei um ninho / E o ninho tem um ovo / E o ovo, redondinho / Tem lá dentro um passarinho novo.” Com estas palavras inicio este texto. Faço o mesmo que o saudoso Adolfo Rocha fez um dia. Penso, pego numa caneta e num pedaço de papel e transmiti à minha mão o que provém dos meus impulsos cerebrais. E as palavras não poderiam ser mais adequadas à mensagem que se pretende transmitir. O poeta é Miguel Torga e a simples ordenação das letras corresponde a um dos muitos escritos que nos deixou. O Instituto Superior Miguel Torga comemora, este ano, 70 anos de existência. Apesar de em 1937 ter nascido com outro nome – Escola Normal Social – esta instituição tem muito que contar.

Com o intuito de proporcionar uma acção educativa e assistencial persistente e esclarecedora aos mais desfavorecidos, em 1937 é criada em Coimbra a Escola Normal Social, por iniciativa das Irmãs Franciscanas Missionárias de Maria, com o apoio do professor Bissaya Barreto, presidente da Junta da Província da Beira Litoral. As razões da criação desta escola em Coimbra prendem-se com a necessidade de formação de técnicos no âmbito médico-social que permitisse uma resposta às carências verificadas no sector materno-infantil.

Por despacho ministerial de 16 de Março de 1965, foi autorizada a mudança de denominação da Escola Normal Social "A Saúde" para Instituto de Serviço Social de Coimbra, mais tarde Instituto Superior de Serviço Social de Coimbra (ISSSC).

A 19 de Março de 1979, o ISSSC foi enquadrado nos objectivos de Sistema Nacional de Educação, gozando das prerrogativas das pessoas colectivas de utilidade pública.

O curso de Serviço Social foi oficializado em 1939 e é reconhecido pelo Ministério da Educação a nível de ensino superior em 1962. O ISSSC constitui-se, assim, na primeira escola de ensino superior privado em Coimbra. Já em 1990 este Instituto viu aprovado um plano de estudos de cinco anos ao qual foi atribuído o grau de licenciatura em Serviço Social.

A partir de 1996, são criadas novas licenciaturas: Ciências da Informação (1996), Informática de Gestão (2001), Psicologia (2002) e Multimédia (2003). Em 1998, o ISSSC adopta o nome pelo qual hoje é conhecido: Instituto Superior Miguel Torga (ISMT).

Ainda em 1996, o Instituto iniciou o ciclo de formação académica pós-graduada com os cursos de mestrado em Toxicodependência e Patologias Psicossociais, Família e Sistemas Sociais e Sociopsicologia da Saúde.

No ano 2000 foi criado o mestrado em Serviço Social, seguindo-se o mestrado em Aconselhamento Dinâmico (2002) e o mestrado em Gestão de Recursos Humanos (2006).

A adequação ao processo de Bolonha do 1º ciclo (cinco licenciaturas) e do 2º ciclo (seis cursos de mestrado) realizou-se, respectivamente em Março e Novembro de 2006, tendo-se obtido o registo de todas as licenciaturas.

No âmbito do processo de Bolonha foram ainda criadas mais duas licenciaturas, Comunicação Empresarial e Informática e apresentados quatro novos cursos de mestrado.

Em 70 anos de formação em Serviço Social o Instituto licenciou 3123 Assistentes Sociais e 10 mestres em Serviço Social.

Constituído por um grupo de cerca de 30 funcionários, 100 docentes e 1800 alunos, o ISMT, cujo edifício principal se situa em Celas, pode-se orgulhar de todo o seu manancial criativo, crítico e inovador.

“Exigentes na construção do presente e impacientes no futuro”

Ao visitar o site do Instituto Superior Miguel Torga
, deparamo-nos com um portal tão inovador quanto informativo. Uma imagem bastante organizada e atractiva é o que salta aos olhos de quem visita este Instituto através de um simples clique do rato. No fundo, mais não reflecte que a simples realidade: um instituto que preza pela organização e pela coesa formação de profissionais em diferentes áreas.

E é este grupo bastante unido que arregaçou (mais uma vez) as mangas e preparou uma enorme diversidade de iniciativas com vista a comemorar os 70 anos de existência.

A Sessão Inaugural das comemorações decorreu no passado dia 11 de Janeiro de 2007 no auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. A sala encheu por completo para assistir à Sessão de Abertura e à Conferência de José Paulo Netto (professor na Universidade Federal do Rio de Janeiro). Para além do ilustre e reconhecido professor, estiveram também presentes Carlos Amaral Dias (Director do ISMT), Seabra Santos (Reitor da Universidade de Coimbra), Henrique Fernandes (Governador Civil de Coimbra), Carlos Encarnação (Presidente Câmara Municipal de Coimbra) e José Henrique Dias (Presidente Conselho Científico do ISMT).

Perante uma plateia bastante jovem, José Paulo Netto fez uma pequena introdução ao Serviço Social actual, alertando para “não se confundir a dimensão política nas práticas profissionais com expressões partidárias.” O professor afirmou ainda “estar na agenda do Serviço Social a necessidade de construir um projecto profissional onde as dimensões éticas e políticas estejam tão ligadas que constituam um componente estrutural das práticas profissionais.”

Por sua vez, Alcina Martins, membro da Comissão das Comemorações dos 70 anos do ISMT, prefere colocar os pés no presente mas o olhar para lá do horizonte: “Devemos construir o futuro com todos e com a comunidade académica, profissional e social onde nos inserimos”.

“Apesar dos seus 70 anos, esta casa é bastante jovem.” Quem o diz é Seabra Santos, reitor da Universidade de Coimbra. E, apesar de parecer um paradoxo evidente, a verdade é que o Instituto engloba toda uma juventude sedenta de informação e conhecimento.

É o prazer em encontrar novos saberes que orgulha Amaral Dias, director do Instituto Superior Miguel Torga. “A Associação de Estudantes, bem como todos os alunos, tem mostrado uma notável cooperação com o Instituto”.

É esta ligação entre o corpo discente e o Instituto que a Associação de Estudantes pretende reforçar. Com um sorriso que verte simpatia e uma postura que reflecte firmeza e saber, Andreia Gonçalves, presidente da AEISMT, não poupa elogios à Instituição. “O ISMT possui muito bons profissionais. A minha pertença ao Conselho Directivo, bem como à Associação de Estudantes cimentou a ideia que tinha de quem aqui trabalha”, afirma. Questionada acerca do maior obstáculo que encontrou durante o seu mandato que este mês termina, Andreia Gonçalves aponta “a pouca comunicação com os estudantes do Instituto, devido, em grande parte, às limitações do espaço físico”.

Com um misto de nostalgia e de dever cumprido espelhado nos seus olhos, a finalista do curso de Serviço Social, fala com orgulho do seu passado e presente nesta casa. O seu papel, bem como dos restantes elementos da AEISMT, foi preponderante na preparação dos eventos a realizar no âmbito das comemorações dos 70 anos do ISMT. “Não sentimos grandes dificuldades na preparação dos eventos”, diz Andreia. “Porém, contei com a grande ajuda da Sara Ribeiro, vice-presidente da AEISMT e também representante da Associação na Comissão dos 70 anos”.

Quando confrontada com o futuro desta Instituição, Andreia Gonçalves responde de forma segura, afirmando que “o Instituto será mais direccionado para a área empresarial acompanhando, desta forma, o modelo de sociedade em que vivemos”.

Ao longo do ano, inúmeros eventos irão decorrer. Iniciada oficialmente com a conferência dada pelo professor José Paulo Netto, esta “maratona cultural” terá todos os meses iniciativas relacionadas essencialmente com o Serviço Social e a sua relação com a sociedade.

Ontem, a título de exemplo, realizou-se uma Aula Aberta no Edifício Azul da Rua Augusta, sobre a edição fotojornalística. Paulo Petronilho, editor do grupo Edimpresa, foi o convidado. Muitas outras se seguirão, com o prévio aviso dos órgãos de Comunicação Social.

Desta forma, a cultura cresce enraizada nas pessoas que dentro de pouco tempo tomarão as rédeas do nosso país. Quer através de um simples estender de mão ou de um cerrar de punhos apoiado na sabedoria apreendida ao longo dos tempos. Porque o Instituto Superior Miguel Torga não forma apenas profissionais de diferentes áreas, mas, acima de tudo, ajuda na construção interior de qualquer ser humano.

Após ter iniciado o texto “roubando” as palavras a Miguel Torga, termino-o com uma citação de Carlos Amaral Dias: “Miguel Torga: um nome que nos honra, um nome que faz a nossa identidade e um nome que faz e fez a história do pensamento português”.

Sem comentários: