domingo, 29 de abril de 2007

A Aula de António

Professor – Bom-dia meus meninos!
Alunos –
Bom-dia senhor profe…

Professor – Pouco barulho! Alguém vos mandou falar?! Só disse que estava um bom dia. Ora bem, já podem baixar os braços.
Alunos –
Sim senhor!

Professor – Para começar bem esta semana nada melhor que uma boa dose de Avés-Marias e Pais-Nossos!
Mariano –
Mas, mas… se-senhor pro-professor…

Professor – Já está? Pronto! Agora admirem a minha infinita beleza. Muito obrigado, eu sei que sou um exemplo a seguir!
José –
Senhor professor, hoje vamos estudar as estradas, viadutos e outro tipo de construções?

Professor – Isso tem alguma coisa que ver com Deus, com a Pátria ou com a Família? Não! Por isso, não falemos de coisas estranhas.
Mariano
– E… e… se falar-falarmos sobre o estado do-do nosso país? Parece que-que há Uni-Universidades que vão fe-fechar.

Professor – Universidades?! O que é isso? No meu país ninguém precisa de aprender. Por falar nisso, oh José, como é que se diz “Olá” em inglês?
José –
Hello!

Professor – Muito bem, o menino está passado a Inglês Técnico. Perfeito. Menino Mariano, que parvoíce é que estava a dizer?
Mariano –
Não-não era na-nada, se-senhor pro-professor! Ora essa!

Professor – Acho bem! É que eu tenho aqui o meu assistente que, caso precisem de alguma coisa, basta dizer. Chama-se António e é um homem de Ferro! Mas, prossigamos. Oh Mariano, estás muito gago hoje, o que se passa? Esta aula está a dar comigo em doido…
Mariano –
Pois, pois. É que vou-vou ter que-que sair.
José – É normal, senhor professor! O professor já está há uma hora em pé. Por que é que não se senta?

Professor – Sentar onde? Na cadeira? Deus me livre! Oh José, tu não sabes o que é estar sentado numa cadeira… Aliás, tu não sabes nada…
José –
Só sei que nada sei.

André Pereira

sábado, 28 de abril de 2007

Mstislav Rostropovich 1927-2007

Caía o muro de Berlim ele tocava Bach e lia-se nos olhos toda a emoção que lhe ia no peito.

Violoncelista genial, chegou a reger algumas das grandes orquestras mundiais e privou com grandes compositores como Chostakovitch ou Prokofiev. Acérrimo defensor dos direitos humanos, foi perseguido pelas autoridades soviéticas que o forçaram ao exílio por apoiar dissidentes do regime. Recentemente foi homenageado pelo seu octogésimo aniversário numa cerimónia no Kremlin presidida por Vladimir Putin.

Mstislav Rostropovitch, considerado um dos maiores violoncelistas do século XX, faleceu hoje vítima de cancro, tinha oitenta anos completados há um mês.

sexta-feira, 27 de abril de 2007

Casa Municipal da Cultura abraça a Sétima Arte


“Era uma vez em Coimbra”

A película está pronta, o senhor de chapéu e mãos experientes prepara um novo mundo a ser visto por todos os que se sentam inquietos nas cadeiras do salão. Há sussurros e constantes trocas de olhares na plateia. Os corpos agitados moldam-se lentamente às cadeiras e as pupilas vão apreendendo gradualmente a iluminação que sai da enorme tela mágica.

Todo este ambiente, apesar das constantes mudanças que tem sofrido ao longo dos tempos, nunca saiu da nossa imagem cerebral cinematográfica. Quem não se lembra de ser menino e ajudar o senhor das fitas a rodar o filme? Era o Paraíso...

A Casa Municipal da Cultura de Coimbra (CMC) proporciona a todos os seus visitantes um meio envolvente semelhante. Iniciado no mês de Janeiro do ano passado, o Ciclo de Cinema proporciona a visualização de películas míticas do panorama nacional e internacional. Mensalmente, são apresentados vários temas nos quais se englobam os filmes a serem exibidos.

O espaço escolhido é a Sala Polivalente e as sessões cinematográficas têm início às 15 horas, todos os sábados, com entrada gratuita. Mário Nunes, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, afirma que não pretende concorrer com os outros cinemas da cidade. “Pelo contrário, o nosso objectivo primordial é cativar o público para ir ao cinema.” O vereador encara este projecto como sendo “possuidor de uma componente lúdica, mas também pedagógica, visto que também são fornecidas informações sobre os realizadores dos filmes e o contexto em que estão inseridos”.

Desta forma, já passaram pela sala polivalente da CMC muitas e variadas fitas de cinema. Desde cinema italiano a cinema espanhol, passando por muitos outros, o ano 2006 foi exímio em qualidade. Woddy Allen foi o realizador eleito para começar o ano de 2007, com a passagem dos filmes “Annie Hall”, “Manhattan”, “Ana e seus Irmãos” e “Dias da Rádio”. O ano iniciou-se, assim, de uma forma bastante atractiva para os amantes do cinema, em especial para os admirados deste especial realizador.

O mês de Fevereiro serviu de anfitrião a Ingmar Bergman, realizador altamente conceituado, autor de filmes que marcaram toda uma geração. O público, de olhos hipnotizados seguiu com atenção o que se passava diante do seu corpo. Era quase um corpo de madeira preso por fios controlados por alguém. “Da vida das Marionetas” e “Saraband” foram dois dos filmes escolhidos deste realizador. Apesar do tempo escuro e frio, recordaram-se e anteciparam-se “Sorrisos de uma Noite de Verão”. Porém, por sorrisos ou lábios caídos, todos os nossos sentidos verteram “Lágrimas e Suspiros”.

O mês de Março, por sua vez, foi dedicado a um dos realizadores mais mediáticos do panorama internacional, Steven Spielberg, enquadrado neste Ciclo de Cinema pelos seus filmes de Ficção Científica. Várias são as imagens e sons que se espelham na nossa mente quando o nome deste realizador nos passa pelos ouvidos. Pe(r)didos por muitos, tivemos “Encontros Imediatos de Terceiro Grau” e fomos visitados por aquele ser verde de cabeça grande que nos tocou com o nosso mais importante instrumento de trabalho actual. O filme era “E.T. – O Extraterrestre”, quanto ao instrumento de trabalho não é difícil de adivinhar, mas está nas nossas mãos descobrir qual é. Avançámos no tempo para regressar ao passado longínquo do “Jurassic Park”. No futuro, os dinossauros serão outros e os poderes atribuídos a cada célula do nosso corpo estarão concentrados em toda a nossa inteligência, mesmo que seja “Inteligência Artificial”. O relatório não poderia deixar de ser enorme, com uma perspectiva alargada sobre o que nos espera – “Relatório Minoritário”.

“Boudu Querido” iniciou o mês de Abril dedicado ao cinema francês. “Pedro o Louco” e “Os Juncos Silvestres” são os outros filmes a serem exibidos neste mês de tantas águas...

Porém, outro líquido se irá verter no mês de Maio. Para além do choro habitual das nuvens, o sangue escorrerá pelas caras e corpos dos mais duros. Estão previstos quatro rounds para este mês: “Roco e os seus Irmãos”, “Touro Enraivecido”, “Million Dollar Baby – Sonhos Traídos” e “Cinderella Man”.

Do ringue propositadamente preparado passando para a escura arena que é a vida, viajamos, no mês de Junho, para os sotaques italianos embelezados com anéis de ouro e beijos na cara. A trilogia do “Padrinho”, “Era uma vez na América” e “Tudo bons Rapazes” são os filmes que embelezarão o mês do “cinema Gangster”.

Questionado sobre o seu filme favorito, Mário Nunes recorda nostálgico “A Corrida da Saudade” e sorri quando acrescenta “o filme da menina a correr no meio das flores, ‘Música no Coração’”.

E é precisamente no sítio de onde vem o sangue que ficam todas as memórias vividas e sentidas que muitos destes filmes nos fazem sentir.

Por agora, este é o programa estabelecido. Quanto ao futuro, Mário Nunes diz que, “devido à elevada adesão do público, ainda não está estabelecida uma data final”.

André Pereira
O Despertar

quarta-feira, 25 de abril de 2007

A Cor das Flores

“Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.”


De espingardas soltas e vazias, os militares iniciaram a revolução que derrubou, em apenas um dia, o regime político que vigorava em Portugal desde 1926. O dia 25 de Abril de 1974 ficou, assim, marcado na memória de todos os portugueses como “o dia mais dia de todos os dias”, sem qualquer tarde cantada por Carlos do Carmo. Chegara ao fim mais uma noite escura de opressão e tortura levada a cabo pelo regime salazarista. As populações não encontraram grande resistência das forças leais ao governo, uma vez que estas acabaram por ceder e se juntar ao movimento popular. A “Revolução dos Cravos” foi conduzida pelos oficiais intermédios da hierarquia militar (Movimento das Forças Armadas), na sua maior parte capitães que tinham participado na Guerra Colonial. Considera-se que, neste dia, a liberdade foi devolvida ao povo português, denominando-se “Dia da Liberdade” o feriado instituído em Portugal para comemorar a Revolução.

Acontecimentos precedentes

Na sequência do golpe militar de 28 de Maio de 1926, que originou a queda da 1ª República, o General Gomes da Costa instaurou uma ditadura militar em Portugal. Para solucionar a grave crise económica em que o país se encontrava, foi convidado para ministro das Finanças António de Oliveira Salazar. Este conseguiu suster a crise mas submeteu todos os outros ministérios ao das Finanças. Passou a intervir cada vez mais na política e estendeu a sua influência a todos os sectores. Em 1932, tornou-se Presidente do Conselho, criando um conjunto de organismos de controlo do aparelho de Estado e da sociedade. Em 1933 fez aprovar uma nova Constituição, que iria estar na base de um novo regime político ditatorial, o Estado Novo.

Salazar passou a controlar o país, não mais abandonando o poder até 1968, quando este lhe foi retirado por incapacidade, na sequência de uma queda que lhe provocou lesões cerebrais. Foi substituído por Marcello Caetano que dirigiu o país até ser deposto no dia 25 de Abril de 1974.

Durante o Estado Novo, Portugal foi sempre considerado uma ditadura quer pela oposição quer pelos observadores estrangeiros. Formalmente, as eleições existiam, mas eram sempre contestadas pela oposição, acusando o governo de fraude eleitoral e de desrespeito pelo dever de imparcialidade.

Como é natural em qualquer ditadura, o governo possuía uma polícia política, a PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado) que mais tarde se viria a chamar DGS (Direcção-Geral de Segurança). Esta força de segurança perseguia e torturava todos os opositores do regime. Contrariamente ao que se verificava com os outros países europeus, Portugal manteve a sua política baseada, essencialmente, na manutenção das colónias do Ultramar, apesar dos constantes avisos mundiais, essencialmente da Organização das Nações Unidas (ONU). “Orgulhosamente só”, Portugal manteve a sua política de força, tendo sido obrigado, a partir do início dos anos 60, a defender militarmente as colónias contra os grupos independentistas em Angola, Guiné e Moçambique.

A nível económico, o monopólio do mercado nacional pertencia a grandes grupos industriais e financeiros, o que encaminhou o país para uma pobreza extrema até à década de 60, em que os portugueses começaram a emigrar. É a partir desta altura que se nota um certo desenvolvimento económico.

O Mapa Clandestino

A “Revolução dos Cravos” foi preparada com bastante minúcia e cautela. Em 21 de Agosto de 1973, em Bissau, teve lugar a primeira reunião clandestina de capitães. No mês seguinte, ao nono dia, o Monte Sobral, em Alcáçovas, é palco da criação do Movimento das Forças Armadas. No dia 5 de Março do ano seguinte é aprovado o primeiro documento do movimento: “Os Militares, as Forças Armadas e a Nação”, colocado a circular clandestinamente.

No dia 14 de Março, os generais Spínola e Costa Gomes são demitidos dos cargos de Vice-Chefe e Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas por Spínola ter escrito, com a cobertura de Costa Gomes, um livro, "Portugal e o Futuro", no qual, pela primeira vez uma alta patente advogava a necessidade de uma solução política para as revoltas separatistas nas colónias e não uma solução militar. No dia 24 de Março, a última reunião clandestina decide o derrube do regime pela força.

O Xadrez Revolucionário

A insegurança e o clima de tensão haviam-se instalado. No dia 24 de Abril de 1974, um grupo de militares comandados por Otelo Saraiva de Carvalho instalou secretamente o posto de comando do movimento golpista no quartel da Pontinha, em Lisboa.

Previamente preparada, às 22h55 é transmitida a canção “E depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, pelos Emissores Associados de Lisboa, emitida por Luís Filipe Costa, que dava ordens para a tomada de posições da primeira fase do golpe de estado. Já todos sabiam quem eram, o que faziam, quem os tinha abandonado e quem pretendiam esquecer.

O segundo sinal foi dado às 00h20, quando foi transmitida a canção “Grândola Vila Morena”, de José Afonso, pelo programa Limite, da Rádio Renascença, que confirmava o golpe e marcava o início das operações. O locutor de serviço nessa emissão foi Leite de Vasconcelos, jornalista e poeta moçambicano.

No Norte do País, várias forças tomaram pontos essenciais do regime, como o aeroporto, a RTP e a RCP. Marcello Caetano reagiu, ordenando às forças sedeadas em Braga para avançarem sobre o Porto. Tal não aconteceu, uma vez que estas já tinham aderido ao golpe.

Descendo no mapa, Santarém foi o ponto de partida da Escola Prática de Cavalaria. A esta escola coube um dos papéis mais importantes, a ocupação do Terreiro do Paço. Comandadas pelo capitão Salgueiro Maia, as forças da Escola de Cavalaria ocuparam a zona às primeiras horas da manhã. Salgueiro Maia moveu, mais tarde, parte das suas forças para o Quartel do Carmo onde se encontrava o chefe do governo. Ao final do dia, Marcello Caetano rendeu-se, fazendo, contudo, a exigência de entregar o poder ao general António de Spínola, que não fazia parte do MFA, para que o "poder não caísse na rua". Marcello Caetano partiu, depois, para a Madeira, rumo ao exílio no Brasil.

A revolução, apesar de ser frequentemente qualificada como "pacífica", resultou na morte de 4 pessoas, quando elementos da polícia política dispararam sobre um grupo que se manifestava à porta das suas instalações na Rua António Maria Cardoso, em Lisboa.

O Clarear do Cravo

No dia seguinte à revolução, forma-se a Junta de Salvação Nacional, constituída por militares, e que procederá a um governo de transição. O essencial do programa do MFA é, em termos gerais, resumido no programa dos três D: Democratizar, Descolonizar e Desenvolver.

De imediato, a PIDE/DGS foi extinta e a Censura “censurada”. Os sindicatos livres e os partidos foram legalizados. Os presos políticos da Prisão de Caxias e de Peniche foram libertados e os líderes políticos da oposição no exílio voltaram ao país nos dias seguintes. Passada uma semana, o 1º de Maio foi celebrado legalmente nas ruas pela primeira vez em muitos anos. Em Lisboa reuniu-se cerca de um milhão de pessoas.

Seguiram-se dois anos de alguma instabilidade, período normalmente referido como PREC (Processo Revolucionário Em Curso), marcado pela luta entre a esquerda e a direita. As grandes empresas foram nacionalizadas e personalidades que se identificavam com o Estado Novo foram forçadas ao exílio.

Um ano após a Revolução, no dia 25 de Abril de 1975, realizaram-se as primeiras eleições livres, para a Assembleia Constituinte, das quais saiu vencedor o Partido Socialista. Uma nova Constituição foi elaborada, de forte pendor socialista, e foi estabelecida uma democracia parlamentar de tipo ocidental. A constituição foi aprovada em 1976 pela maioria dos deputados, abstendo-se apenas o CDS.

A guerra colonial teve o seu fim e, durante o PREC, as colónias africanas e Timor-Leste tornaram-se independentes.

33 Anos Depois

O 25 de Abril de 1974 continua bem presente na massa cinzenta da sociedade portuguesa, com especial predominância nas gerações mais antigas, que viveram in loco os acontecimentos. A divisão existe neste estrato social, onde encontramos opiniões diametralmente opostas: ou o apoio incondicional ao antigo regime salazarista ou o eterno ideal de liberdade absoluta. Por sua vez, entre os jovens, a divisão é praticamente inexistente, visto que nasceram e vivem numa sociedade diferente da do século passado.

Porém, a maioria da população considera que a “Revolução dos Cravos” valeu a pena. Não obstante, as pessoas mais à esquerda do espectro político tendem a pensar que o espírito inicial da revolução se perdeu. Os que se encontram politicamente mais à direita criticam a forma como a descolonização foi levada a cabo e lamentam as nacionalizações.

“De tudo o que Abril abriu
ainda pouco se disse
e só nos faltava agora
que este Abril não se cumprisse.”

José Carlos Ary dos Santos

Coimbra de Cravo na Mão

Para comemorar o 33º aniversário do 25 de Abril, o distrito de Coimbra irá levar a cabo diversas iniciativas. Miranda do Corvo festeja a data aproveitando o título que lhe foi atribuído de “capital da chanfana”. No dia 25 de Abril de 2003, doze restaurantes do concelho deram as mãos e, em colaboração com a Câmara Municipal, promoveram a gastronomia tradicional. Esta iniciativa prolongou-se por duas semanas, incluindo os feriados do Dia da Liberdade e do Dia do Trabalhador. A carne de cabra velha foi o ponto de partida para a chanfana, os negalhos e a sopa de casamento. Este ano, Miranda continuará a promover o inesquecível sabor do seu prato típico.

Já a Câmara de Góis irá promover uma cerimónia, que terá início pelas 9h30 com o hastear da Bandeira nos Paços do Concelho, seguindo-se a Sessão Solene no Auditório da Biblioteca Municipal.

A Câmara Municipal de Cantanhede, por sua vez, realizará uma Sessão Solene Comemorativa do 33º aniversário do 25 de Abril, pelas 15horas, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.

A Federação Distrital do Partido Socialista de Coimbra também comemorará o 25 de Abril, com um jantar que a “Comissão Política Concelhia da Figueira da Foz” conjuntamente com o “Movimento Novas Fronteiras da Figueira da Foz” promove hoje, pelas 20h30 no restaurante “O Teimoso”, na Figueira da Foz. Este jantar contará com a presença de António Campos, Fausto Correia e Victor Baptista, entre outros.

André Pereira
O Despertar

domingo, 22 de abril de 2007

O ar cheirou a velas derretidas


Quando soube que ela tinha morrido, alegrou-se porque percebeu que essa era afinal a maneira que o destino lhes tinha escolhido para aquela paixão: ficariam lado a lado na terra do cemitério. "Daqui a alguns anos, quando estivermos desfeitos", pensou, "o meu corpo misturar-se-á com o dela, como eu sempre soube que iria acontecer irremediavelmente." Nessa tarde inesquecível, vestiu-se e perfumou-se como sempre fazia, escolheu a camélia mais bonita do jardim, pegou numa corda e saiu.

José Riço Direitinho
A Casa do Fim

sexta-feira, 20 de abril de 2007

118

Doutores e Engenheiros

Como simples e humilde cidadão que me considero, venho, por este meio, transmitir a minha opinião a todos aqueles que a desejem saber. Quem não se englobar neste pequeno (reconheço que sim) grupo, talvez seja melhor nem gastar movimentos pupilares a percorrer o meu texto. Não porque quero escrever para uma elite, de que tipo for, ou porque simplesmente ache que há pessoas que não devem ler os meus escritos. Nada disso, antes pelo contrário! Uma vez que eu não sou doutor, engenheiro, nem sequer senhor, as minhas palavras talvez não despertem tanto impacto como se, antes do meu nome, se encontrasse qualquer título académico.

Como o leitor já deve ter reparado, o tema que irei abordar é a polémica acerca das habilitações do nosso primeiro-ministro, José Sócrates. Sinceramente, acho que não há melhor assunto para debater do que este que nos clarifica quanto ao Pré-nome do líder do governo. Aliás, todos os problemas económicos, financeiros e sociais estão totalmente solucionados para podermos, agora sim, discutir de forma assertiva as habilitações de Sócrates!

Não me coloco em algum lado da barricada, tentando, desta forma, analisar a questão da forma mais distante possível. Tenho a minha própria opinião, como é óbvio, e irei transmiti-la ao longo deste texto, mas, primeiramente, tentarei analisar, de forma matemática, o caso.

É certo que esta situação alegadamente ilegal da obtenção do diploma por parte de José Sócrates é um problema que deve ser debatido em sede própria e que deve ser desvendado até ao último pormenor. Ao chegar a público, é absolutamente natural que as pessoas se comecem a interrogar acerca da credibilidade de alguém que está no poder e se comecem a interessar (será mesmo este o termo?) pela vida académica da pessoa em questão. É uma figura pública e, mesmo que não seja do seu agrado, está sujeita a ser criticada e falada em cafés, jardins, locais de trabalho, e em blogues (o novo suporte comunicacional que, quer queiram quer não, é e será, cada vez mais, o centro de todas as futuras tertúlias que já se iniciaram e que continuarão a existir).

Mas permitam-me que discorde do mediatismo de que este tema está a ser alvo. Deixemos o “caso judicial” para a justiça resolver e não nos precipitemos a apontar juízos de valor a quem quer que seja. Sócrates pode ter sido beneficiado, directa ou indirectamente, como até pode nem ter sido. Mas, segundo os documentos a que todos tivemos acesso (pelos meios de comunicação social), a confusão é enorme. Uns afirmam categoricamente que Sócrates foi favorecido, enquanto que outros, entre eles o próprio Primeiro-Ministro (não seria de esperar outra coisa), afirmam que a situação académica está completamente legalizada.

Questões judiciais à parte, o certo é que José Sócrates está a fazer um bom mandato, alicerçado em ideias sólidas e construtivas que permitem transportar o país para um elevado patamar socio-económico. Sou apartidário e não perfilho nenhum ideal que esteja inscrito em tábua bi-milenar que, mesmo sendo rasa, não me permite inscrever o meu verdadeiro pensamento. Neste preciso caso, entendo que temos um governo que está a cumprir as suas funções de forma coerente e rigorosamente bem. Mas, por agora, a minha opinião em relação à actuação do governo é irrelevante.

Sendo engenheiro, doutor, senhor ou excelentíssimo, José Sócrates não deixa de ser um bom (mau para alguns) Primeiro-Ministro. Num país em que os títulos são tão essenciais como as impressões digitais, todos nós nos pavoneamos pelas ruas como se fôssemos autênticos reis. Porém, muitos passeiam nus sem o saber. Basta viajar até Coimbra onde uma simples capa nos assegura o título de doutor! “Há coisas fantásticas, não há?”

Como disse inicialmente, no meu bilhete de identidade o meu primeiro nome é André, sem nenhum título antes. Por essa razão, afirmei que não saberia se estaria habilitado a ser lido por algumas pessoas. Aliás, penso que, se hoje me candidatasse a qualquer cargo público não obteria grande apoio. Não devido às minhas limitadas capacidades mas por me recusar a utilizar algum pré-nome que não fosse meu.

Ao contrário do que muitos dizem por aí, eu admito sem medo a minha ignorância em inúmeros assuntos. Não esquecendo, porém, que admitir a ignorância é o primeiro passo para atingir a sabedoria.

Como um homónimo do nosso primeiro-ministro disse, “só sei que nada sei”. E não consta que fosse engenheiro…

domingo, 15 de abril de 2007

We Will Rock You!

The time is the future, in a place that was once called Earth. Globalisation is complete. Everywhere, the kids watch the same movies, wear the same fashions and think the same thoughts. It's a safe, happy, Ga Ga World. "Unless you're a rebel. Unless you want to Rock"

Planet Mall Rock'n'Roll has been banned for centuries. All musical instruments are banned. It is the age of Boy Bands and Girl Bands. Of Boy and Girl Bands. Of Girl Bands with a couple of boys in them that look like girls anyway. Underneath the gleaming cities, down in the lower depths live the Bohemians. Rebels believe that there was once a Golden Age when kids formed their own bands and wrote their own songs.

The Bohemians dream that one day these lost chores will be heard once more. They call this his day, The Rhapsody. "Open your eyes, look up to the skies and see" Legend persists that somewhere on Planet Mall instruments still exist. Somewhere, the mighty axe of a great and hairy guitar god lies buried deep in rock. Placed there in the golden age against a time when it would be needed to inspire the kids anew.

The Bohemians need a hero to find this axe. A crazy rebel with a heart of solid rock who will draw the guitar from the stone and play the ancient anthems.

quinta-feira, 12 de abril de 2007

Fic Notícias - Ovos da Páscoa

Boa Páscoa! Eu sou a Sentinela Moura Guedes e este é o Jornal Monizcipal!

Sócrates já tem opositor
Paulo Portas afirma que o seu “inimigo político” é José Sócrates e não Ribeiro e Castro. Com as dúvidas dissipadas, José Sócrates descobre, pela primeira vez em dois anos de mandato, o nome do seu opositor. Marques Mendes, ao saber desta notícia, tentou manifestar o seu desagrado. Porém, as suas declarações não foram possíveis de gravar, uma vez que o microfone estava a mais de um palmo do chão.

Desce o IVA e o IRS
Teixeira dos Santos prometeu baixar o IVA. Os portugueses já se manifestaram contra esta medida do Ministro das Finanças, dizendo que “a próxima medida só pode ser baixar o IRS, não?!”. Os punhos mantêm-se cerrados e a foice continuará a trabalhar.

Rolling Stones em Portugal
Os Rolling Stones irão actuar em Portugal no próximo dia 25 de Junho. Numa altura em que o país se encontra a tentar escalar a montanha da evolução, nada pior que Pedras Rolantes para dificultar a subida. Talvez sejamos mesmo assim e cantaremos eternamente “I can’t get no satisfaction”.

Telhados de vidro
Prosseguindo esta avalanche rochosa, um outro mineral é constantemente atirado aos nossos telhados de vidro. A razão por que somos bombardeados por este diamante talvez seja mesmo essa, termos telhados de vidro. Uns, apesar de serem verdadeiros e amarem em demasia, roubaram; outros têm direito, apesar de nunca se terem preocupado antes.

Santo António com dranquilidade
Aproveitando a boleia da cor deste diamante, falemos sobre futebol. A equipa com mais dranquilidade do campeonato continua a surpreender. Desta vez, os jogadores daquele que tem o cabelo parecido com o de Santo António venceram o que carregou a cruz.

Águia morre na praia
Quem continua a cair ao longo do seu percurso sinuoso é o Benfica. A águia, não obstante os seus altos voos, pode ter comprometido o seu principal objectivo ao cair à beira-mar. O Glorioso tem o apoio de um dos mais empenhados apóstolos, mas parece que a tradição se mantém: para baixo todos os Santos ajudam.

Doce Quaresma
O Porto, por sua vez, continua o seu tempo de Quaresma, somando pontos em busca do tão desejado título.

Este foi mais um Jornal Monizcipal, com a publicidade do Coelho da Páscoa, o único coelho que põe ovos… e de chocolate.

André Pereira
O Despertar 13.04.07

quarta-feira, 11 de abril de 2007

terça-feira, 10 de abril de 2007

Os meus lábios de chocolate

Às vezes, quando olho para o passado, recordo com saudade bons momentos que acabaram por ficar nas minhas gavetas cerebrais. Uma delas, na cómoda do meu pensamento, guarda cores da minha infância, joelhos esfolados, brinquedos partidos, lábios de chocolate… Muitos desses instantes foram passados numa pequena casa isolada, rodeada de pinhal, com os olhos na fábrica de cimento.

André Pereira
Fotografia:
Carlos Paes

quarta-feira, 4 de abril de 2007

Salazar Independente Beatificado

Bem-vindos a mais um Fic Notícias!

Os últimos dias têm causado agitação na sociedade portuguesa. Desde a vitória eleitoral de Salazar, passando pelo caso da Universidade Independente, muitos têm sido os temas que saltaram para as primeiras páginas dos jornais.


O Ministro da Economia e da Inovação (?) Manuel Pinho sugeriu alterar o nome da região do Algarve para Allgarve.
Desta forma, o ministro que tem somado letras e letras de gaffes pretende tornar a “nossa Inglaterra” mais atractiva para os estrangeiros. Pelo andar da carruagem, qualquer dia o nosso país muda de nome para Poortugal. Assim, talvez os estrangeiros percebam melhor para onde vêm.

Continuando a viagem pelo nosso belo país à beira-mal plantado, encontramos um enorme cartaz com a inscrição: “Basta de imigração! Nacionalismo é solução. Portugal aos portugueses”.
Este cartaz é da autoria do Partido Nacional Republicano. Um mero objecto que não custou mais de cinco euros, acaba por ser visto e comentado por todos as portugueses… e não só. Mas, não seria mais eficaz se a mensagem estivesse escrita em diferentes línguas? Digo eu…

Os alunos da Universidade Independente estão indignados com os casos de corrupção que têm afectado este estabelecimento de ensino.
De facto, é de admirar uma instituição privada estar envolvida em “casos de polícia”. Aliás, é a primeira vez que estou em contacto com esta palavra… “Corrupção”?! Há com cada coisa…

Salazar foi o grande vencedor do concurso da RTP “Grandes Portugueses”.
Este é um verdadeiro exemplo de que as eleições se ganham nas urnas.

João Paulo II vai ser beatificado por ter, alegadamente, curado uma freira francesa que sofria da doença de Parkinson.
Ora, aqui está um verdadeiro acto de amor ao próximo! “Humm… Eu sofro dessa doença e esta minha constante tremura atrapalha-me bastante. E, só por acaso, até me está a matar… Mas, em vez de me curar a mim, vou curar esta moçoila. Oh fáxabor…”

André Pereira
O Despertar – 05/04/07

Saudades

Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e tão forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como o pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

Florbela Espanca
Foto:
APS

domingo, 1 de abril de 2007

Triste

"A tristeza chora-se, tem de se chorar..."

Patrícia Reis, Morder-te o Coração
Fotografia:
Miguel Andrade