sexta-feira, 27 de abril de 2007

Casa Municipal da Cultura abraça a Sétima Arte


“Era uma vez em Coimbra”

A película está pronta, o senhor de chapéu e mãos experientes prepara um novo mundo a ser visto por todos os que se sentam inquietos nas cadeiras do salão. Há sussurros e constantes trocas de olhares na plateia. Os corpos agitados moldam-se lentamente às cadeiras e as pupilas vão apreendendo gradualmente a iluminação que sai da enorme tela mágica.

Todo este ambiente, apesar das constantes mudanças que tem sofrido ao longo dos tempos, nunca saiu da nossa imagem cerebral cinematográfica. Quem não se lembra de ser menino e ajudar o senhor das fitas a rodar o filme? Era o Paraíso...

A Casa Municipal da Cultura de Coimbra (CMC) proporciona a todos os seus visitantes um meio envolvente semelhante. Iniciado no mês de Janeiro do ano passado, o Ciclo de Cinema proporciona a visualização de películas míticas do panorama nacional e internacional. Mensalmente, são apresentados vários temas nos quais se englobam os filmes a serem exibidos.

O espaço escolhido é a Sala Polivalente e as sessões cinematográficas têm início às 15 horas, todos os sábados, com entrada gratuita. Mário Nunes, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra, afirma que não pretende concorrer com os outros cinemas da cidade. “Pelo contrário, o nosso objectivo primordial é cativar o público para ir ao cinema.” O vereador encara este projecto como sendo “possuidor de uma componente lúdica, mas também pedagógica, visto que também são fornecidas informações sobre os realizadores dos filmes e o contexto em que estão inseridos”.

Desta forma, já passaram pela sala polivalente da CMC muitas e variadas fitas de cinema. Desde cinema italiano a cinema espanhol, passando por muitos outros, o ano 2006 foi exímio em qualidade. Woddy Allen foi o realizador eleito para começar o ano de 2007, com a passagem dos filmes “Annie Hall”, “Manhattan”, “Ana e seus Irmãos” e “Dias da Rádio”. O ano iniciou-se, assim, de uma forma bastante atractiva para os amantes do cinema, em especial para os admirados deste especial realizador.

O mês de Fevereiro serviu de anfitrião a Ingmar Bergman, realizador altamente conceituado, autor de filmes que marcaram toda uma geração. O público, de olhos hipnotizados seguiu com atenção o que se passava diante do seu corpo. Era quase um corpo de madeira preso por fios controlados por alguém. “Da vida das Marionetas” e “Saraband” foram dois dos filmes escolhidos deste realizador. Apesar do tempo escuro e frio, recordaram-se e anteciparam-se “Sorrisos de uma Noite de Verão”. Porém, por sorrisos ou lábios caídos, todos os nossos sentidos verteram “Lágrimas e Suspiros”.

O mês de Março, por sua vez, foi dedicado a um dos realizadores mais mediáticos do panorama internacional, Steven Spielberg, enquadrado neste Ciclo de Cinema pelos seus filmes de Ficção Científica. Várias são as imagens e sons que se espelham na nossa mente quando o nome deste realizador nos passa pelos ouvidos. Pe(r)didos por muitos, tivemos “Encontros Imediatos de Terceiro Grau” e fomos visitados por aquele ser verde de cabeça grande que nos tocou com o nosso mais importante instrumento de trabalho actual. O filme era “E.T. – O Extraterrestre”, quanto ao instrumento de trabalho não é difícil de adivinhar, mas está nas nossas mãos descobrir qual é. Avançámos no tempo para regressar ao passado longínquo do “Jurassic Park”. No futuro, os dinossauros serão outros e os poderes atribuídos a cada célula do nosso corpo estarão concentrados em toda a nossa inteligência, mesmo que seja “Inteligência Artificial”. O relatório não poderia deixar de ser enorme, com uma perspectiva alargada sobre o que nos espera – “Relatório Minoritário”.

“Boudu Querido” iniciou o mês de Abril dedicado ao cinema francês. “Pedro o Louco” e “Os Juncos Silvestres” são os outros filmes a serem exibidos neste mês de tantas águas...

Porém, outro líquido se irá verter no mês de Maio. Para além do choro habitual das nuvens, o sangue escorrerá pelas caras e corpos dos mais duros. Estão previstos quatro rounds para este mês: “Roco e os seus Irmãos”, “Touro Enraivecido”, “Million Dollar Baby – Sonhos Traídos” e “Cinderella Man”.

Do ringue propositadamente preparado passando para a escura arena que é a vida, viajamos, no mês de Junho, para os sotaques italianos embelezados com anéis de ouro e beijos na cara. A trilogia do “Padrinho”, “Era uma vez na América” e “Tudo bons Rapazes” são os filmes que embelezarão o mês do “cinema Gangster”.

Questionado sobre o seu filme favorito, Mário Nunes recorda nostálgico “A Corrida da Saudade” e sorri quando acrescenta “o filme da menina a correr no meio das flores, ‘Música no Coração’”.

E é precisamente no sítio de onde vem o sangue que ficam todas as memórias vividas e sentidas que muitos destes filmes nos fazem sentir.

Por agora, este é o programa estabelecido. Quanto ao futuro, Mário Nunes diz que, “devido à elevada adesão do público, ainda não está estabelecida uma data final”.

André Pereira
O Despertar

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