sexta-feira, 20 de abril de 2007

Doutores e Engenheiros

Como simples e humilde cidadão que me considero, venho, por este meio, transmitir a minha opinião a todos aqueles que a desejem saber. Quem não se englobar neste pequeno (reconheço que sim) grupo, talvez seja melhor nem gastar movimentos pupilares a percorrer o meu texto. Não porque quero escrever para uma elite, de que tipo for, ou porque simplesmente ache que há pessoas que não devem ler os meus escritos. Nada disso, antes pelo contrário! Uma vez que eu não sou doutor, engenheiro, nem sequer senhor, as minhas palavras talvez não despertem tanto impacto como se, antes do meu nome, se encontrasse qualquer título académico.

Como o leitor já deve ter reparado, o tema que irei abordar é a polémica acerca das habilitações do nosso primeiro-ministro, José Sócrates. Sinceramente, acho que não há melhor assunto para debater do que este que nos clarifica quanto ao Pré-nome do líder do governo. Aliás, todos os problemas económicos, financeiros e sociais estão totalmente solucionados para podermos, agora sim, discutir de forma assertiva as habilitações de Sócrates!

Não me coloco em algum lado da barricada, tentando, desta forma, analisar a questão da forma mais distante possível. Tenho a minha própria opinião, como é óbvio, e irei transmiti-la ao longo deste texto, mas, primeiramente, tentarei analisar, de forma matemática, o caso.

É certo que esta situação alegadamente ilegal da obtenção do diploma por parte de José Sócrates é um problema que deve ser debatido em sede própria e que deve ser desvendado até ao último pormenor. Ao chegar a público, é absolutamente natural que as pessoas se comecem a interrogar acerca da credibilidade de alguém que está no poder e se comecem a interessar (será mesmo este o termo?) pela vida académica da pessoa em questão. É uma figura pública e, mesmo que não seja do seu agrado, está sujeita a ser criticada e falada em cafés, jardins, locais de trabalho, e em blogues (o novo suporte comunicacional que, quer queiram quer não, é e será, cada vez mais, o centro de todas as futuras tertúlias que já se iniciaram e que continuarão a existir).

Mas permitam-me que discorde do mediatismo de que este tema está a ser alvo. Deixemos o “caso judicial” para a justiça resolver e não nos precipitemos a apontar juízos de valor a quem quer que seja. Sócrates pode ter sido beneficiado, directa ou indirectamente, como até pode nem ter sido. Mas, segundo os documentos a que todos tivemos acesso (pelos meios de comunicação social), a confusão é enorme. Uns afirmam categoricamente que Sócrates foi favorecido, enquanto que outros, entre eles o próprio Primeiro-Ministro (não seria de esperar outra coisa), afirmam que a situação académica está completamente legalizada.

Questões judiciais à parte, o certo é que José Sócrates está a fazer um bom mandato, alicerçado em ideias sólidas e construtivas que permitem transportar o país para um elevado patamar socio-económico. Sou apartidário e não perfilho nenhum ideal que esteja inscrito em tábua bi-milenar que, mesmo sendo rasa, não me permite inscrever o meu verdadeiro pensamento. Neste preciso caso, entendo que temos um governo que está a cumprir as suas funções de forma coerente e rigorosamente bem. Mas, por agora, a minha opinião em relação à actuação do governo é irrelevante.

Sendo engenheiro, doutor, senhor ou excelentíssimo, José Sócrates não deixa de ser um bom (mau para alguns) Primeiro-Ministro. Num país em que os títulos são tão essenciais como as impressões digitais, todos nós nos pavoneamos pelas ruas como se fôssemos autênticos reis. Porém, muitos passeiam nus sem o saber. Basta viajar até Coimbra onde uma simples capa nos assegura o título de doutor! “Há coisas fantásticas, não há?”

Como disse inicialmente, no meu bilhete de identidade o meu primeiro nome é André, sem nenhum título antes. Por essa razão, afirmei que não saberia se estaria habilitado a ser lido por algumas pessoas. Aliás, penso que, se hoje me candidatasse a qualquer cargo público não obteria grande apoio. Não devido às minhas limitadas capacidades mas por me recusar a utilizar algum pré-nome que não fosse meu.

Ao contrário do que muitos dizem por aí, eu admito sem medo a minha ignorância em inúmeros assuntos. Não esquecendo, porém, que admitir a ignorância é o primeiro passo para atingir a sabedoria.

Como um homónimo do nosso primeiro-ministro disse, “só sei que nada sei”. E não consta que fosse engenheiro…

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