sexta-feira, 2 de novembro de 2007

"Ídolo das Palavras"

Cena 1
NOTA PRÉVIA:
Todos os personagens entram em cena a cantar, à excepção da actuação de Gonçalo Gabriel. No palco, está uma rapariga com um timbre lindo e completamente afinado. No entanto, canta demasiado bem para conseguir falar em palco. Os júris falam a cantar:

Júri 1 - Sim, tu cantas muito bem/ Mas aqui é para falar.
Júri 2 - E se queres ser alguém/ Ou falas ou pões-te a andar.
Júri 3 - Eles têm razão/ Põe-te mas é na alheta.

Rapariga - Mas eu até tenho apresentação/ E sei conversa da treta.
Todos os júris - (Cantando a música do Toy “Estupidamente apaixonado”) Estupidamente interpretado/ não sabes o que fazer/ como tu há muitas mais/ vai-te embora, não voltes mais/ que já não te queremos ver.

Rapariga chora desconsoladamente e sai da sala a correr.

Cena 2
Encontramo-nos na sala de espera.

Voz-off - Gonçalo Gabriel/ vai ser avaliado/ o que será feito dele/ se for enxovalhado?
Apresentação do candidato, no sofá.

Gonçalo Gabriel - (Cantando música do Marco Paulo “Dois Amores”) Eu tenho dois amores/ que nada são iguais/ um é declamar poemas/ o outro é vender jornais/ um é declamar poemas/ o outro é vender jornais.

Cena 3
Gonçalo Gabriel encontra-se no palco.

Júri 1 - (Cantando música de Tozé Brito e Paulo de Carvalho “Olá, tu por aqui?”) Olá! Tu por aqui?
Gonçalo Gabriel - Olá, então como vai?
Júri 1 - Tudo vai bem?
Gonçalo Gabriel - Olhe, tudo vai mal para mim.
Júri 1 - Mas tudo vai mal porquê?
Gonçalo Gabriel - Estou muito nervoso aqui/ não sei se passarei…/ se falar bem, diz-me que fico aqui.
Júri 1 - Se falares bem, direi.

Cena 4
Analepse de Gonçalo Gabriel no sofá da sala de espera.

Gonçalo Gabriel – Sempre sonhei falar em público.

Cena 5
Gonçalo Gabriel inicia a sua performance.

Gonçalo Gabriel - (Falando) Eu sou o Gonçalo Gabriel, tenho 32 anos e adoro jogar computador. Um dia, andava eu a passear e tropecei numa pedra. “Sacana da pedra!”, resmunguei. Mas ninguém me ouviu porque eu estava sozinho. Depois fui jogar paintball e cortar o cabelo.

Cena 6
Nova analepse. Entrevista à mãe do Gonçalo Gabriel.

Mãe do Gonçalo Gabriel - (Cantando música do José Cid “20 anos”) Há muito muito tempo/ era ele uma criança/ que brincava num baloiço/ e nos escorregas./ Andava pelos cantos/ a ler Ary dos Santos/ e a declamar poemas como o Viegas.

Cena 7
Em palco. O júri chora de emoção à medida que Gonçalo Gabriel vai falando.

Gonçalo Gabriel - (Falando) Fiz um corte “à homem” e depois decidi ir pintar as unhas. Cheguei a casa e cumprimentei o meu colega de quarto. Ele não respondeu porque é um gato, mas eu não liguei. À noite, fui jantar debaixo da ponte porque estava cheio de frio. Adormeci em cima de uma revista cor-de-rosa, que me borrou o casaco de pele que tinha comprado em saldos. E é esta a minha história.

Cena 8
Após a actuação, ainda no palco.

Júri 1 - Então tu falas assim/ e cantas no coro nacional/ não é preciso pensar, tu para mim/ saltas já para a final.
Júri 2 - Estou completamente/ espantada com o que ouvi/ por mim também segues em frente/ encontramo-nos no Tivoli.
Júri 3 - A tua voz é feia / e música não é contigo/ estou aqui a pensar numa ideia/ queres lançar um disco comigo?

Cena 9
Gonçalo Gabriel abandona o palco bastante emocionado e abraça a família.


André Pereira e Nelson Antunes

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