terça-feira, 29 de maio de 2007

Instituto Miguel Torga no Parlamento Europeu

A convite do eurodeputado Fausto Correia, uma delegação da Licenciatura em Comunicação Social do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT) deslocou-se a Bruxelas. Esta comitiva foi presidida por José Henrique Dias, presidente do Conselho Científico do ISMT e por Sansão Coelho, em representação dos docentes da licenciatura. Oito alunos do quarto ano e cinco do terceiro ano completaram a representação do ISMT.

A visita decorreu nos dias 16, 17 e 18 de Maio e inseriu-se na política há vários anos seguida pelo Parlamento Europeu, de aproximação dos cidadãos dos Estados-Membros às instituições europeias. Para além da visita ao Parlamento Europeu, que incluiu encontros com eurodeputados e demais responsáveis da instituição, a delegação do ISMT deslocou-se a Gent e Bruges.

Todos os membros da comitiva são peremptórios ao afirmar que a viagem não poderia ter corrido melhor. “Desde a parte logística, passando pela organização e pelo ambiente entre todos os membros da comitiva e desta para com todos os outros”, afirma Altino Pinto, um dos alunos que se deslocou ao país belga.

A presença de Fausto Correia foi um livro aberto para todos no que respeita aos assuntos relacionados com o Parlamento Europeu e com a Cultura Nacional/Europeia.

À chegada a Bruxelas, a comitiva vinda de Portugal, que incluía a delegação do ISMT mais outros convidados do eurodeputado, instalou-se na capital e, da parte da tarde, visitou o Parlamento. Acompanhado por um membro da equipa de Fausto Correia, o grupo português percorreu os corredores do centro político europeu, absorvendo inúmeras informações sobre a importância deste não só na Europa, como também no resto do mundo.

O Parlamento Europeu é o único órgão da União Europeia que resulta de eleições directas. Os 785 deputados que nele têm assento são representantes dos cidadãos, escolhidos de cinco em cinco anos pelos eleitores de todos os 27 Estados-Membros da União Europeia, em nome dos seus 492 milhões de cidadãos.

Este órgão desempenha um papel activo na redacção de actos legislativos que se reflectem no quotidiano dos cidadãos: desde medidas a nível da protecção do ambiente, dos direitos dos consumidores, da igualdade de oportunidades, dos transportes, bem como da livre circulação de trabalhadores, de capitais, de serviços e de mercadorias. O Parlamento dispõe igualmente de competências para, juntamente com o Conselho, aprovar o orçamento anual da União Europeia.

É no Parlamento Europeu que se discutem as medidas gerais para a construção de uma Europa unida, consistente e forte. O Parlamento é uma verdadeira tribuna internacional, na qual muitos dirigentes se vêm exprimir. Ao longo dos anos, foi-se tornando o intérprete das acções externas e internas da União, o que permite que os deputados e, por conseguinte, os cidadãos, participem na definição da sua visão política europeia.

Após a passagem pelo centro político europeu, no dia seguinte, Gent e Bruges foram as cidades visitadas. A magia e cariz histórico destas cidades embelezam qualquer olhar que as observa. Os vastos espaços verdes, incorporados em cinzentas massas de estradas e catedrais, são elementos constantes num país multicultural, dividido internamente, cada vez mais, pela língua. Este país, que faz fronteira terrestre com a Holanda, a Alemanha, o Luxemburgo e a França sofre bastantes influências culturais dos que o rodeiam. Desta forma, no norte do país (Região da Flandres) é predominante a utilização da língua holandesa, no sul (Região da Valónia) a língua francesa e numa zona do leste do país, a língua alemã. Esta heterogeneidade é fonte de inúmeros conflitos na Bélgica. Na Região da Flandres, por exemplo, há grupos que desejam deixar de serem belgas para pertencerem à Holanda.

À noite, a Grand-Place de Bruxelas envolve qualquer um num abraço imponente e carinhoso. “A praça mais bela do mundo”, segundo o escritor d’ “Os Miseráveis” Victor Hugo, é considerada Património Mundial da UNESCO desde o ano de 1998.

O terceiro dia foi de despedida. Todo o tempo foi pouco para descobrir mais sobre o país e sobre o funcionamento do Parlamento Europeu. No entanto, o conhecimento adquirido será, certamente, uma rampa de lançamento para uma maior integração na sociedade da qual fazemos parte.

André Pereira
O Despertar

sexta-feira, 25 de maio de 2007

Finding Mayor!

Procura-se vivo ou morto, alguém para presidir à Câmara Municipal de Lisboa!
Recompensa de Parque de Estacionamento Grátis Ilimitado

Com apenas dois anos de mandato, António Pedro de Nobre Carmona Rodrigues desapareceu do seu quarto, nos Paços do Concelho – Lisboa. Por favor ajudem, divulgando este pedido de auxílio, de modo a encontrar alguém que possa governar convenientemente a CML. É vital, ainda, encontrar também os sequestradores que engendraram tudo isto. Passem esta mensagem ao maior número possível de pessoas!

Suspeita-se de alguns indivíduos, no entanto, apenas um foi constituído arguido. O seu nome é António Costa e foi visto várias vezes nas imediações da casa onde se encontrava o presidente.

Outros nomes vieram a público, tais como o de Fernando Seara, Fernando Negrão e Paulo Portas, mas não passam de meras especulações. Pelo menos, por enquanto. Por resolver, ainda se encontra “o mistério da estrada de Sintra” e a possibilidade de haver mais um arguido. Ainda há muito a fazer, mas de uma coisa temos a certeza: “O trabalho liberta!”

O calor aumenta à medida que as buscas seguem o seu rumo. O mar continua bastante ondulado e mais azul que nunca, porém, o laranja tórrido do sol ameaça algumas queimaduras. Talvez mesmo para fugir a esta vaga de intensa actividade climática, foi construído um túnel. Este, não serve apenas de ponto de fuga do calor, mas, essencialmente, de ponto de fuga de responsabilidades autárquicas.

A preocupação é grande e o empenho na procura de um presidente tem de ser enorme. Quem tiver alguma pista, por mínima que seja, ligue para um dos seguintes números: 213 227 000 ou 253 213 144.

Todos somos poucos para esta missão de devolver o Presidente à Câmara de Lisboa, portanto colabore! Dê o seu contributo monetário como sempre tem feito em qualquer Procissão das Velas.

A esperança é a última a morrer! Temos de unir as nossas mãos e falar com alguém que nunca existiu, mas que pensamos que nos ajuda sempre nestas alturas.

Por falar em personagens imaginárias, o dragão renovou o título de campeão nacional da Liga Bwin. O que, a princípio, parecia ser uma abreviatura de “Liga Benfica Win”, veio, por fim, a revelar-se como “Liga Bi-Win”.

André Pereira
O Despertar

quarta-feira, 23 de maio de 2007

Eras má!

Quanto mais vou sabendo de ti, mais gostaria que ainda estivesses viva. Só dois ou três minutos: o suficiente para te matar. Merecias uma morte mais violenta. Se eu soubesse, não te tinha deixado suicidar com aquelas mariquices todas. Aposto que não sofreste quase nada. Não está certo. Eu não morri e sofri mais do que tu. Devias ter sofrido. Porque eras má. Eu pensava que não. Enganaste-me. Alguma vez pensaste no que isso representou na minha vida miserável? Agora apetece-me assassinar-te de verdade. É indecente que já estejas morta.

Miguel Esteves Cardoso
O Amor é Fodido

domingo, 20 de maio de 2007

RoMaria a Fátima

A Palavra Cruzada

O altar é rodeado de flores colocadas por simples mas conscienciosas mãos que criam o amor que veneram. Fátima é, nesta altura do ano, uma das cidades mais visitadas no país. A religião, que tanto tem trazido ao nosso país, é o sol que, parado como sempre, guia os crentes ao centro do Cristianismo em Portugal, o Santuário de Fátima.

Muitos são os peregrinos que se deslocam a Fátima com o objectivo de festejarem o 13 de Maio, data em que Nossa Senhora de Fátima, como é conhecida na religião católica romana, terá aparecido aos pastorinhos, no ano de 1917.

O 13 de Maio, por se tratar do 133º dia do ano, é considerado pelas ordens secretas, esotéricas, filosóficas e místicas como sendo uma proporção áurea do ano. Para além da suposta aparição de Fátima, este dia foi marcado pelo nascimento de D. João VI (cognominado O Clemente, foi Rei de Portugal entre 1816 e 1826) e pela entrada em vigor da Lei Áurea (extinguindo a escravidão no Brasil), assinada pela neta de D. João VI, a Princesa Isabel.

Fátima tornou-se mundialmente conhecida pelos relatos de três pastorinhos (Lúcia, Francisco Marto e Jacinta Marto) que dizem ter visto a Virgem Maria entre 13 de Maio e 13 de Outubro de 1917, em Fátima, no lugar da Cova da Iria.

A Senhora terá dito aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela hora. As crianças assim fizeram, e nos dias 13 de Junho, Julho, Setembro e Outubro, voltaram a entrar em contacto com a Senhora. Porém, no principal mês de férias, Agosto, a aparição que estava marcada para o dia 13 teve de ser re-agendada para o dia 19, no sítio dos Valinhos. Isto porque ao décimo terceiro dia, as crianças tinham sido levadas pelo Administrador do Concelho, para Vila Nova de Ourém.

À data da última visão, no dia 13 de Outubro, a Virgem terá dito às crianças: "Eu sou a Senhora do Rosário", e terá pedido que fizessem ali uma capela em sua honra (que actualmente é a parte central do Santuário de Fátima). Alguns dos muitos presentes afirmaram observar um milagre que teria sido prometido às três crianças em Julho e Setembro. Segundo uns, o sol, assemelhando-se a um disco de prata, podia fitar-se sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo precipitar-se na terra. Contudo, outros houve que nada viram, como é o caso do escritor António Sérgio, que esteve presente no local e testemunhou que nada se passara de extraordinário com o sol. Não há, de facto, quaisquer registos astronómicos do fenómeno. Nada observaram os milhões de pessoas que à mesma hora se encontravam em pontos de fácil observação em Portugal e no resto da Europa. Lúcia terá afirmado também que a Primeira Guerra Mundial terminara naquele preciso instante, o que não aconteceu, e que não é geralmente mencionado em relatos recentes.

Desde 1917 que Fátima tem sido o ponto de afluência de todos os crentes. A aparição é associada também a Nossa Senhora do Rosário, ou à combinação dos dois nomes, dando origem a Nossa Senhora do Rosário de Fátima visto que, segundo os relatos, Nossa Senhora do Rosário teria sido o nome pelo qual ela se teria identificado.

Este ano, a romaria a esta cidade foi uma das mais concorridas de sempre. Mais de meio milhão de crentes lá se deslocaram com o objectivo de ver a Virgem e acenar-lhe com lenços brancos, numa das cerimónias mais bonitas do ano, a par da Peregrinação das Velas, na noite anterior.

“É a cerimónia mais bonita do mundo. É simplesmente linda.”, afirma Maria Soares, uma das muitas pessoas que fizeram o percurso Coimbra-Fátima durante a passada semana. “Foram muitas horas de caminho. O percurso é bastante cansativo e sinuoso, mas a fé ultrapassa todos os obstáculos”, assegura.

Por seu lado, Deolinda Martins, também peregrina já há 17 anos, acredita que “a fé eleva os espíritos e faz com que as pessoas se sintam bem.” Porém, sente-se algo triste por não ter conseguido assistir à missa, uma vez que o recinto se encontrava sobrelotado.

João Castanheira, com um sorriso estampado no rosto, diz orgulhoso que provavelmente é a única pessoa a ir descalça e sentada até Fátima, “mas de carro, claro”. As palavras cativantes do senhor Castanheira animam os peregrinos que acompanha. “Na carrinha temos estojos de primeiros-socorros, bebidas, comida, entre outras coisas.” Os carros de apoio são um bem essencial para os grupos de pessoas que se deslocam de longe.

São milhares as pessoas que, munidas de bens estritamente essenciais, se fazem à estrada rumo a Fátima. Vindos de todas as regiões do país, os devotos encontram no percurso uma forma de mostrar o seu amor pela religião ou ainda um meio de pagar algumas promessas de modo a obter alguma indulgência celestial.

Para além de todos os pensamentos que vagueiam pelas mentes de quem visita o Santuário, ninguém fica indiferente ao que encontra nesta localidade. Os olhos enchem-se de brilho e os sentimentos – se é que existem – entram em constante conflito. As velas incendeiam os mais fortes corações, e marcam com cera a memória de todos os que verdadeiramente as vêem.

André Pereira

sábado, 19 de maio de 2007

19 de Maio de 1890 — 26 de Abril de 1916

Além-tédio

Nada me expira já, nada me vive
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

Mário de Sá-Carneiro

sexta-feira, 18 de maio de 2007

Graças! Adeus!

Papa Bento XVI – Olá irmãos portugueses! Acabem com o capitalismo, Nosso Senhor Jesus Cristo amaldiçoou o dinheiro! É ou não é, mordomo? Cuidado, não me pises a minha simples e modesta batina revestida a ouro.
Lula da Silva –
Sumo Pontífice, nós não somos portugueses… Somos brasileiros… Samba, Ronaldinho, Guaraná, PT, Mensalão...

Papa Bento XVI – Desculpem! Olá irmãos brasileiros. (Confundi com aquele belo país, Portugal! Ah, quem me dera estar lá naquela bonita capital que é Fátima).
Lula da Silva –
Mais uma vez, desculpe a interrupção, mas a capital de Portugal não é Fátima, é Lisboa…

Papa Bento XVI (para Lula da Silva) – Ah pois… Onde tenho eu a cabeça? É que Lisboa parece que anda agora à deriva. Até pensei que tivessem mudado de capital e feito uma cerimónia no dia 13 de Maio.
Lula da Silva –
Não, Senhor Papa. Nesse dia comemoraram as aparições da Virgem Maria aos três pastorinhos, em 1917.

Papa Bento XVI – Ah sim, mais uma das nossas menti... Mais uma das nossas enormes e inequívocas verdades históricas! Deixe-me continuar o discurso. Você só atrapalha! Vê-se mesmo que foi funcionário do Estado. Inventa qualquer coisa só para não trabalhar! (virando-se para a imensa multidão de… 50 pessoas) Vim aqui ao Brasil para vos dizer que o dinheiro, perdão, a fé é a melhor coisa do Mundo! Temos todos de nos entregar a este magnífico bem que é o… a fé!
Público –
Jesus Cristo é o Senhor! Viva Jesus! Aleluia, aleluia, aleluia!

Papa Bento XVI – Temos de condenar o aborto! A vida é o bem mais precioso que temos! (depois do dinhei... da fé, pois claro) Até porque é praticamente impossível haver abortos no Vaticano. Lá, nem sequer há mulheres! Há muitos homens, e giros! Ah, há dias fui ver o George Michael a Coimbra. Foi muito bom!
Público –
Aleluia, aleluia, aleluia!

Papa Bento XVI – É preciso “empurrar” as pessoas para o casamento e evitar que estas se divorciem. Ou, se se divorciarem que casem outra vez. Tudo em prol do nosso principal bem, o… a fé!
Público –
Graças a Deus, pôxa!

Lula da Silva – Sumo Pontífice, não quer dançar um sambinha? Ande lá, levante essa saia bordada a ouro, os sapatos com atacadores de ouro, a batina revestida a ouro, o casaco de ouro, o cálice de ouro, a cruz de ouro, os fios de ouro, os anéis de ouro, os dentes de ouro, a Bíblia de ouro, as pulseiras de ouro, os rosários de ouro, os terços de ouro, e tudo o mais que tiver… e venha dar um passo de dança com os seus irmãos das favelas!
Papa Bento XVI –
Gosto muito de vocês, mas estou muitíssimo atrasado para um compromisso! Adeus, auf wiedersehen! Como ouvi há dias no tal concerto, “I’m never gonna dance again”.

André Pereira

terça-feira, 15 de maio de 2007

Paulo de Carvalho - Parabéns!

Meninos de Huambo
Com fios feitos de lágrimas passadas
Os meninos de Huambo fazem alegria
Constroem sonhos com os mais velhos de mãos dadas
E no céu descobrem estrelas de magia.

Com os lábios de dizer nova poesia
Soletram as estrelas como letras
E vão juntando no céu como pedrinhas
Estrelas letras para fazer novas palavras.

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade.

Com os sorrisos mais lindos do planalto
Fazem continhas engraçadas de somar
Somam beijos com flores e com suor
E subtraem manhã cedo por luar.

Dividem a chuva miudinha pelo milho
Multiplicam o vento pelo mar
Soltam ao céu as estrelas já escritas
Constelações que brilham sempre sem parar.

Os meninos à volta da fogueira
Vão aprender coisas de sonho e de verdade
Vão aprender como se ganha uma bandeira
Vão saber o que custou a liberdade.

Palavras sempre novas, sempre novas
Palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo.

Assim contentes à voltinha da fogueira
Juntam palavras deste tempo sempre novo
Porque os meninos inventaram coisas novas
E até já dizem que as estrelas são do povo.

Letra e Música: Rui Monteiro

sábado, 12 de maio de 2007

Queima das Fitas - A voz da capa

O sol teima em não aparecer. Com os olhos pequeninos como duas avelãs acabadas de surgir, as capas que dão cor à mais profunda de todas as noites, constroem casulos de saudade espalhados pelas ruas de Coimbra. O Mondego transborda as margens e a cor da água que inunda a cidade é da cor de um qualquer petróleo mais viscoso e complexo que o seu próprio preço. Esse valor não é mais que um reflexo condicionado de um qualquer cão de laboratório. E esta ligação equacional é cerradamente encontrada nas capas e batinas pavlovianas daqueles que não querem deixar de ser o que lhes vive na alma, e no sítio de onde vem o sangue... e a saudade.

Em 1899 iniciou-se o “Centenário da Sebenta”, uma tentativa de réplica dos centenários comemorados entre 1880 e 1898, com o intuito de homenagear diversas figuras e factos. Estas iniciativas contavam com diversas actividades, entre elas, cortejo, fogo de artifício, sarau e touradas. Porém, estas formas de homenagem não eram as mais próprias, uma vez que deturpavam o verdadeiro significado das efemérides. Surge, desta forma, a ideia da realização de um centenário humorístico, ridicularizando os até então feitos, tomando por base a sebenta, compilação dos apontamentos do professor. O “Centenário da Sebenta” passa a ter, assim, um âmbito crítico de carácter geral e, simultaneamente, particular, já que se protestava contra a exploração dos sebenteiros. A estrutura de tal manifestação confinou-se a cortejos alegóricos e a um sarau. Tratava-se agora de desenvolver esta ideia, que veio dar origem à Queima das Fitas.

Nos anos que se seguiram, os estudantes do quarto ano de Direito organizam festas idênticas, introduzindo, no entanto, um aspecto inovador: o queimar das fitas que se usavam nas pastas e que eram indicadoras da sua condição de pré-finalistas.

Em 1905 realiza-se o “Enterro do Grau”, como consequência de uma reforma dos cursos universitários que mantinha os graus de Licenciado e Doutor e abolia o grau de Bacharel. Esta iniciativa fez com que a população de Coimbra participasse mais activamente nestas festas.

No dia 27 de Maio de 1913, os estudantes, envoltos num clima eufórico e irreverente, tiraram um boné a um guarda, gritando constantemente “Olha o boné!”. Este incidente teve uma relevante repercussão na época, fazendo deste dia o principal dos festejos.

Até 1919, houve períodos de paragem, devido às condições políticas, económicas e sociais da época, como por exemplo a proclamação da República e a Primeira Guerra Mundial. Desde esta altura que as festividades começaram a adquirir as características actuais. Pela primeira vez, os quintanistas de todas as faculdades celebraram em pleno a festa da Queima das Fitas, para além de se ter dado um passo importante para a sua sedimentação, como o surgimento da Garraiada (1929/30), a Venda da Pasta (1932), e o Baile de Gala (1933).

A alegria e cariz interventivo que a Queima respira rapidamente se alastra ao restante território nacional, atingindo níveis nunca antes alcançados por qualquer outra organização do género.

Em 1969, devido às crises estudantes, o luto académico anulou a realização da Queima das Fitas nesse ano.

O mesmo viria a acontecer após a Revolução dos Cravos. O suposto pensamento de que as razões estudantis não tinham agora nada que criticar rapidamente caiu por terra, como qualquer cravo murcho. Durante 11 anos, os estudantes não puderam festejar a Queima das Fitas. Esta voltaria às ruas da cidade em 1980.

A Queima das Fitas é o culminar de um trajecto de vivência coimbrã, onde os Quartanistas, Fitados e Veteranos assinam um contrato de não-esquecimento com a alma.

Este ano, a Comissão Organizativa da Queima das Fitas 2007 decidiu abraçar um novo projecto de Solidariedade, apoiando a “Comunidade São Francisco de Assis” e a “APPC”. Desde a recolha de livros e brinquedos até à realização de trabalhos de pintura, os utentes desta instituição são os receptores mais privilegiados do espírito académico. Nem as músicas de Rui Veloso nos farão recordar mais o nosso primeiro beijo que estes meninos que nunca esquecerão o primeiro brinquedo. O arquitecto de destinos interiores constrói outros que percorrem mentalmente as galerias destes verdadeiros seres.

O lema deste ano “108 anos de Praxe, Cultura e Desporto” retrata bem o que é a Queima das Fitas. Com eventos académicos, desportivos e culturais que duram há décadas, os estudantes continuam em movimentos perenes a desfilar pelos altos e baixos de uma cidade que não termina.

O coração bate cada vez com mais intensidade, as artérias e veias transportam cada vez mais sangue e o meu corpo adquire um rubor homogéneo que se alastra rapidamente. Fora de mim, algo faz vibrar os meus sentidos, sinto a pele arrepiada, as bolsas lacrimais a vibrarem... Tal como uma corda solta ou um simples acorde menor, o trémulo constante da minha alma absorve em catadupa os sonhos ouvidos. As fitas voam em direcção ao céu, como um arco-íris que não existe. O sol dá lugar à lua e a chuva não cai do alto das nuvens, verte pelas maçãs do rosto daqueles que sentem a saudade do que foram. Não há anticorpos para Coimbra!

André Pereira
O Despertar

sexta-feira, 11 de maio de 2007

Queima com Fitas

A Queima das Fitas está a chegar ao fim. As noites de alegria e sonos mal dormidos terminaram por este ano. Pelo menos no que respeita a esta tradição estudantil secular. No entanto, o Diário de Fictícias irá promover, nesta semana que se segue, uma festa de maior expansão que a Queima das Fitas. O evento tem o nome de “Queima com Fitas”!

Em primeira mão, a Comissão Organizativa da Queima com Fitas tem o prazer de anunciar o cartaz para os sete dias. Por motivos financeiro-económicos, só pudemos convidar um artista por dia. Porém, as suas expectativas não serão defraudadas.


DOMINGO, 13 MAIO

Marques Mendes – Ao contrário de todos os eventos realizados, no seu ano inaugural, a Queima com Fitas decidiu começar esta semana em... pequeno! Um palco será construído, propositadamente, por cima do principal para que Marques Mendes possa ser visto e ouvido por todos. Algo em que não tem tido muito sucesso. Irá actuar a capella, sem qualquer elemento musical. Parece que tem andado muito sozinho ultimamente.


SEGUNDA-FEIRA, 14 MAIO

José Sócrates – Um grande artista português! Com créditos seguros na sua actividade musical, José e a sua banda têm conseguido dar música a todos os portugueses. José Sócrates estava marcado inicialmente para domingo, mas o líder do grupo teve de se deslocar a uma universidade para receber um diploma...


TERÇA-FEIRA, 15 MAIO

Alberto João Jardim – A noite de terça-feira sempre foi uma noite de festa em Coimbra. Depois de Quim Barreiros na semana anterior, Alberto João Jardim promete fazer vibrar o público que o aguarda ansiosamente. O político até já comentou a sua vinda: “Ainda bem que vou actuar sozinho! Não consigo tocar de outra forma”. Para esta noite, a Comissão Organizativa da Queima com Fitas teve de instalar um aparelho automático de legendagem madeirense-português e programar vários “biiiiiip” para quando o artista actuar.


QUARTA-FEIRA, 16 MAIO

Carmona Rodrigues – A Comissão escolheu para este dia um grande artista de renome nacional. Depois da confusão instalada após a sua passagem por Lisboa, Carmona, que teve de abandonar a capital pelo novo túnel, continua o seu tour na cidade do Conhecimento. Estima-se que Carmona Rodrigues venha de bicicleta, como o fez no última prova de down hill. Esperemos que não volte a cair, até porque parece que ultimamente tem andado cheio de nódoas negras. Contudo, se vier de carro, há parques de estacionamento suficientes.


QUINTA-FEIRA, 17 MAIO

Odete Santos – Após ter abandonado o Parlamento recentemente, a defensora comunista regressa aos palcos. Desta vez, não encontrará uma mancha encarnada de punhos cerrados, mas uma mancha negra de mãos abertas, não para a receber, mas sim para segurar nos copos de cerveja.


SEXTA-FEIRA, 18 MAIO

Paulo Portas – A iniciar o fim-de-semana, Paulo Portas volta a Coimbra para, munido de auto-bronzeador e branqueador dentífrico, tentar cativar a comunidade estudantil a aderir ao seu novíssimo partido.


SÁBADO, 19 MAIO

Pedro Mantorras – É, provavelmente, a maior surpresa da festa. A Comissão da Queima queria colocar o ponta-de-lança do Benfica no início da semana, mas esta recebeu um telefonema de um qualquer engenheiro a dizer que o Mantorras só pode entrar mesmo no fim, quando já não há nada a fazer. E assim será!


O Diário de Fictícias, juntamente com a Comissão Organizativa da Queima com Fitas, deseja uma semana de diversão e alegria a todos os seus leitores!

André Pereira
O Despertar

quarta-feira, 9 de maio de 2007

segunda-feira, 7 de maio de 2007

À espera da morte

Tu não podes avaliar o tamanho do meu suplício... Não podes... A tua alma não compreende a minha... nem a tua, nem a de ninguém. Tenho horror à vida... meu amigo, tenho horror à vida... Tenho horror à morte; menos horror talvez... mais horror... ignoro... Não posso viver, não posso viver... Não quero morrer... não quero morrer... É horrível... horrível... Que ando a fazer neste mundo? O mesmo que as outras pessoas, bem sei... Ah! mas é justamente isso que me aterra, que me horroriza... Vivo como todos, à espera da velhice, percebes? À espera da morte, compreendes?

Mário de Sá-Carneiro
Loucura

sábado, 5 de maio de 2007

Dias e dias de Mãe - Com três letrinhas em penas

Ainda oiço a tua voz:
“Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...”

Eugénio de Andrade

Essa princesa que me sussurravas ao ouvido pertencia ao mundo imaginário de flores cantadas por passarinhos brancos. Junto ao muro, cobria os meus pensamentos com o cheiro à fruta que dava cor ao pôr-do-sol que me acenava. A linha do horizonte oscilava entre as folhas verdes do pomar e o azul cinzento do céu. Não pensava em mais nada, nem sei se pensava. Apenas sentia o que se deparava diante dos meus olhos, sentia-te!

Quem esquece o que foi nunca terá memória suficiente para se lembrar daquilo que será. A mãe, semente de vida que nos gerou, constrói o mundo que nos servirá de rede para as possibilidades que se nos apresentam ao longo da vida. Esta, mesmo nua “ou por isso, quero vestir-lhe o meu poema / só porque tu existes, vale a pena!”

Joana, pequeno palmo de gente, mostra os seus poucos dentes de leite quando lhe pergunto pela mãe. Os seus pequenos lábios de chocolate movem-se lentamente ao sabor de um qualquer desenho animado e dizem com a inocência que a caracteriza: “A minha mãe é a melhor mãe do mundo”.

Irrequieta, e com os olhos pequeninos como duas azeitonas verdes, olha o baloiço que, preso por duas correntes frias, liberta os sonhos que balançam no mundo azul de Joana. Sorriu mais uma vez e correu rumo ao futuro que a esperava.

Rita Andrade, a mulher que aos 26 anos se tornou na mãe de Joana, fala sobre a filha com o título de uma música de Sérgio Godinho. As certezas do seu mais brilhante amor não encontram fronteiras no mundo filosófico da lua da sua filha. Iluminados pelo sol, os cabelos de Rita voam ao sabor do vento, o mesmo que faz balançar o corpo frágil da sua filha. “Para mim, o Dia da Mãe é um dia igual aos outros”, afirma. “Gosto das lembranças que a minha filha me dá, mas o mais importante é eu estar com ela”.

Por seu lado, junto ao mesmo parque onde as bolas coloridas viajam de mão em mão, Cátia Vieira olha atentamente a sua pedra filosofal, aquela que lhe alimenta o ego de uma eterna juventude. “Não dou importância a esse Dia, apenas desejo a felicidade da Inês”. Esta, que tem o nome de rainha cujo sangue não seca, brinca com as amigas pela areia de uma praia limitada. O mar apenas existe nos seus olhos, azuis profundos colados na cara de miniatura. “Vou-lhe dar uma flor”, afirma entre lábios rasgados, “uma flor muito bonita”.

O Dia da Mãe já é celebrado desde os tempos da Grécia Antiga, com as comemorações primaveris em honra de Rhea, mulher de Cronos e Mãe dos Deuses. Em Roma, as festas comemorativas do Dia da Mãe eram dedicadas a Cybele, a Mãe dos Deuses romanos, e as cerimónias em sua homenagem começaram por volta de 250 anos antes do nascimento de Cristo.

Já no século XVII, a Inglaterra celebrava o “Domingo da Mãe”, no 4º Domingo de Quaresma, com o intuito de homenagear todas as mães inglesas. Neste período, a maioria da classe baixa inglesa trabalhava longe de casa e vivia com os patrões. No Domingo da Mãe, os servos tinham um dia de folga e eram encorajados a regressar a casa e passar esse dia com a sua mãe.

Com o crescimento do Cristianismo na Europa, passou a homenagear-se a “Igreja Mãe”, que era encarada como a força espiritual que dava vida e protegia do mal todos os servos da cruz. Ao longo dos tempos a festa da Igreja foi-se confundindo com a celebração do Domingo da Mãe. As pessoas começaram a homenagear tanto as suas mães como a Igreja.

Do outro lado do Atlêntico, a comemoração de um dia dedicado às mães foi sugerida pela primeira vez em 1872 por Julia Ward Howe e algumas apoiantes, que se uniram contra a crueldade da guerra e lutavam, principalmente, por um dia dedicado à paz.

A maioria das fontes é unânime acerca da ideia da criação de um Dia da Mãe. Em 1904, Anna Jerwis entrou em profunda depressão após ter perdido a sua mãe. Preocupadas com aquele sofrimento, algumas amigas da jovem norte-americana tiveram a ideia de perpetuar a memória da mãe de Annie com uma festa. Esta quis que a homenagem fosse estendida a todas as mães, vivas ou mortas. Em pouco tempo, a comemoração e consequentemente o Dia das Mães alastrou-se por todo o país e, em 1914, a data foi oficializada pelo presidente Woodrow Wilson, sendo esta o segundo domingo de Maio.

Segundo a jovem norte-americana, neste dia deveriam implementar-se novas medidas para um pensamento mais activo sobre as nossas mães. Através de palavras, presentes, actos de afecto e de todas as maneiras possíveis, as mães deveriam sempre receber prazer e felicidade no coração que tantas vezes verte sangue por amor.

Actualmente, poucos têm conhecimento do que verdadeiramente os faz festejar o dia da mãe. Porém, o que se sente no encarnado da nossa bomba de vida transborda qualquer sensível mundo de Platão.

Em Portugal, até há alguns anos atrás, o dia da mãe era comemorado a 8 de Dezembro, mas actualmente o Dia da Mãe é no 1º Domingo de Maio, em homenagem a Maria, Mãe de Jesus.

E, mesmo aqueles que já não a têm, que já não adormecem com os lábios quentes e ternos a beijarem-nos o rosto e a aconchegar os lençóis, não esquecem o que verdadeiramente lhes deu a vida.

Mãe:
Abre os olhos ao menos, diz que sim!
Diz que me vês ainda, que me queres.
Que és a eterna mulher entre as mulheres.
Que nem a morte te afastou de mim!

Miguel Torga

André Pereira
Foto: Paula Oliveira

O Despertar

sexta-feira, 4 de maio de 2007

O Triunfo das Flores

Jardim – Olá minhas bonitas flores!
Flores –
Olá Excelêntíssimo Senhor Doutor Engenheiro Jardim!

Jardim – Engenheiro?! Quem me chamou engenheiro? Eu não tenho esse curso demoníaco! Aliás, nem reconheço a Universidade onde foi ministrado!
Rosa –
Tem de respeitar o nosso Primeiro-Ministro! A Universidade Independente é que cometeu erros de palmatória!

Jardim – Independente? O único local independente que conheço é a Madeira! Não conheço o senhor Primeiro-Ministro, nunca me foi apresentado. Vamos mas é ao que interessa! Boa tarde senhor jornalista, como está a família? Tudo bem consigo? A sua situação económica está bem? Se necessitar de algo, basta dizer que eu dou. Desde que me regue de forma conveniente as minhas flores...
JM –
Sim, sim. Muito obrigado senhor Jardim. Vou já tratar do assunto, vou buscar a mangueira... O senhor é o melhor Jardim do mundo. Nunca seca, tem umas flores e umas árvores muito bonitas e a sua relva continua verdinha como nunca! Ninguém diria que tem mais de 30 anos...

Jardim – Muito obrigado! Já pode ir trabalhar. Quanto a vocês, há aqui muitas flores que terão de ser arrancadas... Não é, senhor cravo?
Cravo –
Eu não vou morrer! Tenho liberdade para pensar e para dizer o que pen....
Flores – Cravo? Cravo? O que aconteceu ao Cravo, senhor Jardim?

Jardim – Não sei o que se passou. Deve ter perdido a fala... Sinceramente não sei. Prossigamos. Como estava a dizer, temos uma grande batalha pela frente!
Flores –
Sim, senhor Jardim!

Jardim – Parece que há uma flor, cujo nome desconheço, que quer destruir este belo e maravilhoso Jardim. Está algures num monte(iro) e já foi porteira...
Flores –
Vamos a ela!

Jardim – Sim, nós juntos venceremos! Já agora, dêem-me mais uma banana que já estou cheio de fome...
Flores –
Banana? Pensava que não gostava de bananas, senhor Jardim!

Jardim – Nunca estudaram a fauna e a flora? É óbvio que os Jardins gostam de bananas. Mas vamos lá inaugurar este edifício. E, já agora, preparem-se para o Dia da Mãe. Afinal, somos todos filhos dela.

André Pereira

quarta-feira, 2 de maio de 2007

1º Maio 1886 - Mãos Cansadas

“Há aqueles que lutam um dia; e por isso são bons;
Há aqueles que lutam muitos dias; e por isso são muito bons;
Há aqueles que lutam anos; e são melhores ainda;
Porém há aqueles que lutam toda a vida; esses são os imprescindíveis.”

Bertold Brecht

Antecedentes

No século XIX, a “Revolução Industrial”, não descurando todo o desenvolvimento que proporcionou, conduziu também à sujeição dos trabalhadores a condições desumanas de trabalho. A necessidade de se produzir o máximo ao mais baixo custo não respeitava idades nem sexos. As organizações sindicais eram incipientes e perseguidas pelas autoridades policiais.

Em 1864, é criada a Primeira Associação Internacional dos Trabalhadores, em Londres. Esta iniciativa surge num contexto de união entre líderes sindicais e activistas socialistas com vista a dar voz às lutas dos trabalhadores e às nações oprimidas. Esta associação viria a ser a Primeira Internacional Socialista, que duraria sete anos. As divisões ideológicas entre as várias facções (sindicalistas, anarquistas, socialistas, republicanos e democratas radicais, entre outras) puseram fim à agremiação, mas deixaram mais explícitas as reivindicações e propostas pelas quais os trabalhadores se deveriam debater. A redução do horário de trabalho para as 10 horas diárias era uma delas.

Os objectivos saídos desta Internacional tiveram eco no IV Congresso da American Federation of Labor, em Novembro de 1884. As negociações, sucessivamente falhadas com as entidades patronais, fizeram das cidades operárias um barril de pólvora pronto a explodir, até que, no dia q de Maio de 1886, teve início uma greve geral com a adesão de mais de 1 milhão de trabalhadores em todo o território norte-americano. A reacção a esta paralisação foi violenta.


1 Maio 1886

No dia 1 de Maio de 1886 realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago, nos Estados Unidos da América. A reivindicação por melhores condições de trabalho, entre as quais a redução da jornada laboral para 8 horas diárias, deu início a uma greve geral nos EUA. Três dias depois, confrontos entre a polícia e os manifestantes terminaram com a morte de um civil. No dia seguinte, 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos policiais que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete agentes. A polícia abriu fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket. Deste incidente resultou a prisão de oito líderes do movimento. Quatro foram condenados à morte por enforcamento e os restantes a prisão perpétua. Porém, três anos mais tarde, depois da reabertura do processo que levou à condenação dos oito operários, conclui-se que a bomba que explodiu em Chicago tinha sido colocada pela própria polícia.

Curiosos são os títulos de alguns jornais americanos a propósito das manifestações dos trabalhadores. O “Chicago Tribune” dizia na altura: “A prisão e os trabalhos forçados são a única solução adequada para a questão social”. O New York Tribune seguia a mesma linha: “Estes brutos só compreendem a força, uma força que possam recordar por várias gerações”. De sublinhar que nos EUA o chamado Labor Day festeja-se a 3 de Setembro e não a 1 de Maio.


O luto fortaleceu a luta

Três anos mais tarde, dois meses após o nascimento daquele que viria a pintar o mundo de negro, a segunda Internacional Socialista reuniu em Paris e decidiu, por proposta de Raymond Lavigne, convocar anualmente uma manifestação com o objectivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1890, o Congresso americano vota a lei que estabelece a jornada de oito horas de trabalho. A 1 de Maio de 1891, uma manifestação no norte de França foi dispersada pela polícia, o que resultou na morte de dez manifestantes, o que serviu para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores. Poucos meses depois, a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.

No dia 23 de Abril de 1919 o senado francês ratifica o dia de 8 horas e proclama o dia 1 de Maio desse ano como dia feriado. Em 1920, a Rússia adopta o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países.

O objectivo primordial, conforme a lógica liberal, é “a tomada de consciência dos direitos e deveres sociais e o desenvolvimento da capacidade produtiva para apropriação e transformação da natureza em benefício de toda a população” (Isaura Belloni, 1992).


Em Portugal

Em Portugal, só depois da Revolução de 1974, se comemora o 1º de Maio livremente. O primeiro 1º de Maio celebrado em Portugal depois do 25 de Abril foi a maior manifestação alguma vez organizada no país. Só na cidade de Lisboa juntou-se mais de meio milhão de pessoas. Para muitos, esta foi a forma que os portugueses encontraram para demonstrar a sua adesão ao 25 de Abril, que uma semana antes restituía ao país a democracia.

A decisão da Comuna de Paris de decretar o 1º de Maio como o Dia Internacional do Trabalhador teve repercussões no nosso país. Segundo José Mattoso (in História de Portugal, vol. 5), houve um reforço da luta do movimento operário português em finais do séc. XIX sendo "em torno da associação e da greve que gravita o próprio movimento operário". Entre 1852 e 1910 realizaram-se 559 greves no nosso país. A subida dos salários, a diminuição da jornada de trabalho e a melhoria das condições de trabalho eram as principais exigências dos operários.

Mas, segundo o mesmo autor, o movimento operário alcançava grande força quando "aquelas (associações) a que hoje chamaríamos propriamente «sindicatos» se juntavam com as recreativas, as de socorros mútuos e os centros políticos". Tal ficou demonstrado no 1º de Maio de 1900 que juntou em Lisboa cerca de 40 mil pessoas, numa altura em que "as classes médias ainda viam as organizações de trabalhadores com alguma simpatia".

Durante a I República não se deixou de festejar o Dia do Trabalhador. Porém, um dos primeiros diplomas aprovados, com a instituição do novo regime, dizia respeito ao estabelecimento dos feriados nacionais e destes não constava o dia do trabalhador. Em 1933 é decretada a "unicidade sindical" e o "controlo governamental dos sindicatos", esmorecendo um movimento operário que só ganharia novo ânimo na década de 40. Durante o Estado Novo, as manifestações no Dia do Trabalho (e não do Trabalhador) eram organizadas e controladas pelo Estado.

Actualmente, este festejo acontece de forma cada vez mais esmorecida, muito provavelmente porque as condições reais de vida e trabalho dos trabalhadores se modificaram radicalmente, as relações sindicais com o patronato e o governo têm sido transformadas em mero instrumento institucional de negociação e os novos problemas que surgiram com o avanço da política e ideologia do capitalismo e do liberalismo esperam ainda pela verbalização consciente dum novo equacionar das dificuldades, das modalidades da exploração e das contradições de interesses de classe.

André Pereira
O Despertar

Feira do Livro de Coimbra - Uma letra, uma palavra, um verso

Olho à minha volta e estou rodeado de palavras aleatórias, organizadas em capas e contracapas. As letras enchem-me os olhos de sorrisos rasgados, tais como as folhas que caem no meu chão mental.

A Feira do Livro de Coimbra realiza, este ano, a sua 30ª edição. Uma das feiras mais antigas e a terceira maior do país comemora o centenário do nascimento de Miguel Torga, escritor transmontano intimamente ligado a Coimbra.

Desde livros técnicos até histórias de encantar, onde os cavalos brancos transportam os mais bonitos e felizes amantes, muitos são os livros que podemos encontrar. Encostados a uma parede suja de sangue, carregamos o mapa de tesouro que outrora serviu para encontrar vestígios de diamantes… Ao longe, dois indivíduos sinistros vestem calmamente a capa que os encobre do ouro que trocam. Do outro lado da rua, as cores são vivas e as pessoas transformam-se em animais falantes! Estou numa banda desenhada, rodeado de pinturas e balões, parado num movimento leve e sublime. Espreito pela janela e a minha expressão facial altera-se ao deparar-se com tamanha beleza. Um campo de infinito verde, revela-se perante mim com o relevo que tanto lhe diz respeito. Entrei noutra história, vejo homens de feio e gigantesco porte na minha direcção. Quero fugir… Encontro um esconderijo por detrás de um verso. Um simples verso, onde me encontro perdido. Um simples verso onde perco quem eu sou…

O evento é uma co-organização da Câmara Municipal de Coimbra e da Arcádia, e contou com o apoio do INATEL, delegação de Coimbra. Esta iniciativa começou no dia 19 de Abril e irá desenrolar-se até ao próximo dia seis de Maio.

“Até ao momento, a Feira está a ser um sucesso”, afirma Mário Nunes, Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Coimbra. Não seria de esperar outra coisa, uma vez que esta cidade sempre teve grande tradição cultural, e as letras sempre ocuparam um espaço bastante importante na estante interior da população.

Para além dos inúmeros livros que a Feira coloca ao dispor, muitos deles a preços reduzidos, outras áreas culturais são tidas em consideração. Assim, espectáculos de Ilusionismo, desfiles de gigantones e palhaços, divulgação de gastronomia, entre outros, irão animar e colorir a tenda, situada na Praça da República.

No Dia Mundial do Livro, que se realizou na passada segunda-feira, 23 de Abril, prestou-se uma sentida homenagem a Miguel Torga, um dos grandes pintores de letras nacionais, com a prestação de cinco músicos e dois actores que protagonizaram a “Ópera Bichus”. A narrativa da peça, inspirada na obra «Bichos», de Miguel Torga, desenrola-se através das figuras de Jesus e Madalena, personagens dos contos do escritor transmontano. A guitarra de Coimbra, a guitarra clássica, o violoncelo, o violino, a percussão e a harpa são os instrumentos escolhidos. Aldeia, terra, casa e monte, assim como liberdade, solidão e morte, ambientes e gestos indissociáveis da obra de Miguel Torga, estão presentes em todo o espectáculo. A “Ópera Bichus”, cujo texto foi escrito por Jorge Vaz Nande, perspectiva uma leitura transversal dos catorze contos que integram a obra “Bichos”, recolhendo alguns dos seus elementos centrais e colocando-os num contexto dramatúrgico próprio. “O tema fundamental é a liberdade, enquanto figura da livre expressão humana e questão também fundamental na vida e obra de Miguel Torga”, assinala a Associação Cultural de Música e Teatro Arte à Parte.

João Castro, um dos muitos visitantes da Feira do Livro, afirma estar “bastante satisfeito com a realização deste tipo de eventos, uma vez que enriquece culturalmente a cidade de Coimbra e permite um maior acesso à leitura, neste caso”.

Enquanto folheia um livro de corações pintado, Rita Araújo mexe lentamente os lábios como se dissesse “Sim!” à pergunta que a personagem principal coloca ao seu amor. “Adoro romances e os seus finais felizes. Tudo o que englobe histórias de amor, vingança, traição, eu leio”.

Mário Nunes, por sua vez, não esconde o prazer que tem em ler romances históricos e livros que tenham que ver com a sua área profissional.

Partindo palavras por dentro, ouço com os meus próprios sentidos o que sinto neste momento. Encosto o meu corpo a uma pilha de livros, moldo as minhas veias à minha massa cinzenta, e distribuo o olhar pelo cheiro antigo das letras.

Oh meu caro professor
Eu quero lhe agradecer
Por ter ganho o meu nariz
Nele vou a toda a parte
É uma força motriz
Vou a Roma e a Paris
Vou à lua e vou a Marte.

Carlos Tê

André Pereira
O Despertar