domingo, 20 de maio de 2007

RoMaria a Fátima

A Palavra Cruzada

O altar é rodeado de flores colocadas por simples mas conscienciosas mãos que criam o amor que veneram. Fátima é, nesta altura do ano, uma das cidades mais visitadas no país. A religião, que tanto tem trazido ao nosso país, é o sol que, parado como sempre, guia os crentes ao centro do Cristianismo em Portugal, o Santuário de Fátima.

Muitos são os peregrinos que se deslocam a Fátima com o objectivo de festejarem o 13 de Maio, data em que Nossa Senhora de Fátima, como é conhecida na religião católica romana, terá aparecido aos pastorinhos, no ano de 1917.

O 13 de Maio, por se tratar do 133º dia do ano, é considerado pelas ordens secretas, esotéricas, filosóficas e místicas como sendo uma proporção áurea do ano. Para além da suposta aparição de Fátima, este dia foi marcado pelo nascimento de D. João VI (cognominado O Clemente, foi Rei de Portugal entre 1816 e 1826) e pela entrada em vigor da Lei Áurea (extinguindo a escravidão no Brasil), assinada pela neta de D. João VI, a Princesa Isabel.

Fátima tornou-se mundialmente conhecida pelos relatos de três pastorinhos (Lúcia, Francisco Marto e Jacinta Marto) que dizem ter visto a Virgem Maria entre 13 de Maio e 13 de Outubro de 1917, em Fátima, no lugar da Cova da Iria.

A Senhora terá dito aos três pastorinhos que era necessário rezar muito e convidou-os a voltarem à Cova da Iria durante mais cinco meses consecutivos, no dia 13 e àquela hora. As crianças assim fizeram, e nos dias 13 de Junho, Julho, Setembro e Outubro, voltaram a entrar em contacto com a Senhora. Porém, no principal mês de férias, Agosto, a aparição que estava marcada para o dia 13 teve de ser re-agendada para o dia 19, no sítio dos Valinhos. Isto porque ao décimo terceiro dia, as crianças tinham sido levadas pelo Administrador do Concelho, para Vila Nova de Ourém.

À data da última visão, no dia 13 de Outubro, a Virgem terá dito às crianças: "Eu sou a Senhora do Rosário", e terá pedido que fizessem ali uma capela em sua honra (que actualmente é a parte central do Santuário de Fátima). Alguns dos muitos presentes afirmaram observar um milagre que teria sido prometido às três crianças em Julho e Setembro. Segundo uns, o sol, assemelhando-se a um disco de prata, podia fitar-se sem dificuldade e girava sobre si mesmo como uma roda de fogo, parecendo precipitar-se na terra. Contudo, outros houve que nada viram, como é o caso do escritor António Sérgio, que esteve presente no local e testemunhou que nada se passara de extraordinário com o sol. Não há, de facto, quaisquer registos astronómicos do fenómeno. Nada observaram os milhões de pessoas que à mesma hora se encontravam em pontos de fácil observação em Portugal e no resto da Europa. Lúcia terá afirmado também que a Primeira Guerra Mundial terminara naquele preciso instante, o que não aconteceu, e que não é geralmente mencionado em relatos recentes.

Desde 1917 que Fátima tem sido o ponto de afluência de todos os crentes. A aparição é associada também a Nossa Senhora do Rosário, ou à combinação dos dois nomes, dando origem a Nossa Senhora do Rosário de Fátima visto que, segundo os relatos, Nossa Senhora do Rosário teria sido o nome pelo qual ela se teria identificado.

Este ano, a romaria a esta cidade foi uma das mais concorridas de sempre. Mais de meio milhão de crentes lá se deslocaram com o objectivo de ver a Virgem e acenar-lhe com lenços brancos, numa das cerimónias mais bonitas do ano, a par da Peregrinação das Velas, na noite anterior.

“É a cerimónia mais bonita do mundo. É simplesmente linda.”, afirma Maria Soares, uma das muitas pessoas que fizeram o percurso Coimbra-Fátima durante a passada semana. “Foram muitas horas de caminho. O percurso é bastante cansativo e sinuoso, mas a fé ultrapassa todos os obstáculos”, assegura.

Por seu lado, Deolinda Martins, também peregrina já há 17 anos, acredita que “a fé eleva os espíritos e faz com que as pessoas se sintam bem.” Porém, sente-se algo triste por não ter conseguido assistir à missa, uma vez que o recinto se encontrava sobrelotado.

João Castanheira, com um sorriso estampado no rosto, diz orgulhoso que provavelmente é a única pessoa a ir descalça e sentada até Fátima, “mas de carro, claro”. As palavras cativantes do senhor Castanheira animam os peregrinos que acompanha. “Na carrinha temos estojos de primeiros-socorros, bebidas, comida, entre outras coisas.” Os carros de apoio são um bem essencial para os grupos de pessoas que se deslocam de longe.

São milhares as pessoas que, munidas de bens estritamente essenciais, se fazem à estrada rumo a Fátima. Vindos de todas as regiões do país, os devotos encontram no percurso uma forma de mostrar o seu amor pela religião ou ainda um meio de pagar algumas promessas de modo a obter alguma indulgência celestial.

Para além de todos os pensamentos que vagueiam pelas mentes de quem visita o Santuário, ninguém fica indiferente ao que encontra nesta localidade. Os olhos enchem-se de brilho e os sentimentos – se é que existem – entram em constante conflito. As velas incendeiam os mais fortes corações, e marcam com cera a memória de todos os que verdadeiramente as vêem.

André Pereira

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