terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Na Terra dos Sonhos

Andava eu sem ter onde cair vivo
Fui procurar abrigo nas frases estudadas do senhor doutor
Ai de mim não era nada daquilo que eu queria
Ninguém se compreendia e eu vi que a coisa ia de mal a pior

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal

Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Andava eu sozinho a tremer de frio
Fui procurar calor e ternura nos braços de uma mulher

Mas esqueci-me de lhe dar também um pouco de atenção
E a minha solidão não me largou da mão nem um minuto sequer

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal

Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Se queres ver o Mundo inteiro à tua altura

Tens de olhar para fora, sem esqueceres que dentro é que é o teu lugar
E se às duas por três vires que perdeste o balanço
Não penses em descanso, está ao teu alcance, tens de o reencontrar

Na terra dos sonhos, podes ser quem tu és, ninguém te leva a mal

Na terra dos sonhos toda a gente trata a gente toda por igual
Na terra dos sonhos não há pó nas entrelinhas, ninguém se pode enganar
Abre bem os olhos, escuta bem o coração, se é que queres ir para lá morar

Texto: Jorge Palma
Fotografia: Augusto Peixoto

domingo, 28 de janeiro de 2007

Eutanásia, Ortotanásia e Aborto

A morte saiu à rua

Este texto começa pelo fim. Não na tentativa de implementar uma nova forma de escrita, mas sim por se iniciar com um pequeno parágrafo sobre a morte. Aliás, não só as primeiras linhas nos atiram para o “pensamento final” como todo o texto que, desta forma, pretende elucidar as pessoas sobre este tema tão antigo quanto controverso. Muitos de nós imaginamo-la como um vulto sem rosto, vestido de negro e com uma foice afiada pelo constante uso da lâmina. Outros, vêm-na como uma ponte para outro mundo onde seremos julgados e, conforme a nossa conduta terrestre, enviados para o Inferno ou para o Paraíso.

Muitos foram aqueles que dedicaram grande parte das suas obras à Morte, como Schopenhauer, Nietzsche, Platão, entre outros, através de perspectivas mais pessimistas até outras que a encaram como uma libertação.

Biologicamente, a morte pode ocorrer para o todo, para parte do todo ou para ambos. Por exemplo, o organismo pode continuar a funcionar após a morte de células individuais ou até mesmo de órgãos. Muitas destas células têm pouco tempo de vida, e a maior parte é continuamente substituída por novas.

Esta constante renovação de células não permite, porém, o rejuvenescimento do corpo em si. A irreversibilidade da morte é a única certeza que o ser humano possui. E, quando o momento se aproxima, há quem o viva de forma angustiante ou, por contrário, de forma serena.

Neste campo, a Medicina tem tido um papel bastante importante. Surgem-nos questões como a Eutanásia, a Ortotanásia e até mesmo o Aborto.

A palavra Eutanásia vem do grego “Eu”, que significa “Boa”, e “Tanathos”, equivalente a “Morte”. Sendo assim, Eutanásia tem na sua raiz a expressão “Boa morte”. Este termo, no entanto, refere-se ao acto de tirar a vida de outra pessoa por solicitação dela, com o propósito de acabar com o seu sofrimento.

Já a Ortotanásia consiste num método que autoriza os médicos a suspender os tratamentos que mantêm artificialmente a vida de doentes terminais, quando estes o desejarem. É importante, neste caso, distinguir Ortotanásia de Eutanásia Passiva, na medida em que na primeira não são levadas a cabo quaisquer medidas que visem manter ou melhorar o estado de saúde do doente. Já na segunda estas são tomadas e interrompidas num determinado momento da sua vida.

O Aborto, por seu lado, consiste numa interrupção voluntária ou involuntária da gravidez, impedindo a sobrevivência do feto.

Há quem defenda o direito à morte com dignidade e há quem entenda que não cabe aos homens pôr termo à vida. Quer a nível pessoal quer profissional, na abordagem do “direito” de escolha pela morte ocorrem conflitos de interesses e opiniões diferentes, fundamentadas pelo percurso de vida e por componentes biológicas, psico-afectivas, sociais, económicas e culturais que caracterizam cada um de nós.

A questão da Eutanásia tem trazido para debate público aspectos importantes: pessoais, científicos, educacionais, religiosos, sociais e económicos. Todos devem ser cuidadosamente aprofundados uma vez que aqui sim, trata-se de uma questão de vida ou de morte.

Luís Abreu, médico obstetra, afirma que “este é uma tema que, mais tarde ou mais cedo, todos vamos ter de debater”. Questionado sobre as questões morais e deontológicas da sua profissão, “enquanto médico não concordo de forma alguma com a eutanásia. Da mesma forma que não concordo com a suspensão de um tratamento por motivos económicos. Enquanto médicos, devemos diminuir o sofrimento das pessoas e proporcionar-lhes uma morte digna e sem sofrimento”.

Já Agostinho Almeida Santos, presidente do Conselho de Administração (CA) dos Hospitais da Universidade de Coimbra (HUC) reconhece que a aplicação da Ortotanásia “não pode ser ética nem deontologicamente condenável, uma vez que um médico pode abster-se de medidas terapêuticas que, por vezes, são elas próprias condenáveis”.

“É preciso re-socializar a morte”

Se, nos últimos tempos, a questão da Eutanásia e do Aborto tem invadido as nossas mentes através do mediatismo causado pelos meios de comunicação social, não nos podemos abstrair da Ortotanásia.

Agostinho Almeida Santos reconhece que “o termo não é muito apelativo às pessoas”. Contudo, é uma questão que deve ser debatida no seio da sociedade portuguesa. “É preciso re-socializar a morte”, assegura o presidente do CA.

“A pessoa que, nos momentos finais da sua vida, é rodeada de afecto e carinho pelos profissionais de saúde e pela família, é um ser que vai morrer tranquilo, sem angústias e sem a agonia da morte – antigamente as pessoas morriam em casa e não num espaço tão impessoal como é o hospital”, continua.

Questionado acerca da prática da Ortotanásia ou Eutanásia em recém-nascidos com poucas ou nenhumas hipóteses de sobrevivência, Luís Abreu responde prontamente: “Se nasce vivo, a nossa obrigação é a de manter a vida”.

A poucos dias do referendo sobre a despenalização do aborto, ainda muitas questões se colocam em bicos dos pés nas cabeças das pessoas. Será condenável provocar a morte de um feto que se sabe que vai sair com malformações graves?

Admitindo a dificuldade e sensibilidade da questão, Agostinho Almeida Santos entende que “as malformações cardíacas graves podem ser tratadas através da intervenção cirúrgica”.

“A situação é completamente diferente se a malformação que o feto apresenta é incompatível com a vida, e esse é o caso frequente. Por exemplo, um feto que não tem cérebro (anencefalia), ele vive, está no ventre materno, mas quando vier para o exterior não terá possibilidades de viver”, assegura.

O médico obstetra Luís Abreu considera a morte provocada uma situação claramente diferente do aborto de um feto que vai sair com malformações graves. “O aborto de um feto é a antecipação de um sofrimento de uma vida que, sendo uma vida, não tem a outra carga que nos faz pessoas – a sociedade, a aprendizagem, a relação com os outros. Nós somos uma soma de tudo o que aprendemos ao longo do nosso percurso social”.

Tendo em conta as condições hospitalares para “receber tratamentos abortivos”, estes dois médicos são unânimes na incerteza.

quinta-feira, 25 de janeiro de 2007

Jornal Monizcipal - "Podem levar o Rio"

Boa noite! Eu sou a Sentinela Moura Guedes e este é o Jornal Monizcipal! Hoje, pela primeira vez em muitos anos, temos connosco, em videoconferência, o presidente do Futebol Clube do Porto, o senhor Jorge Nuno Apito da Costa. Boa noite, senhor presidente…
Apito da Costa –
Logo tinha de me calhar a Moura…

SMG – Diga, senhor presidente?
Apito da Costa –
Nada, nada… Estava apenas a pensar alto.

SMG – Senhor presidente, não posso deixar de lhe fazer esta pergunta. Porque não aceitou o nosso convite de se deslocar aos nossos estúdios em Lisboa?
Apito da Costa –
Ora, porque se eu já a ouço perfeitamente sem a ajuda de microfones e auriculares, imagine se eu aí estivesse…

SMG – Mas então não é nada contra os lisboetas.
Apito da Costa –
Claro que não! Eu até tive um treinador Mouro. E gostava tanto dele que até o chamava de Mourinho.

SMG – Mas diz muitas vezes que gostaria de ver Lisboa a arder.
Apito da Costa –
Eu não disse isso. Apenas prevejo que, brevemente, o meu dragão lançará tantas chamas que vão queimar os alfacinhas… E, além disso, vocês têm um cavaco que arde muito bem. Então agora com um bocadinho de caril ainda vai melhor…

SMG – E se for com um bocadinho de sal? Talvez fique mais saboroso…
Apito da Costa –
Nunca gostei da comida muito salgada. Dá-me a volta ao estômago e à bexiga…

SMG – Os condimentos em excesso não fazem muito bem mas um bocadinho de água ajuda.
Apito da Costa –
Mas eu posso ajudar-vos. Se quiserem, podem vir buscar água ao nosso Rio. Até o podem levar convosco. Não precisamos dele cá em cima.

SMG – Não precisam do Rio Douro?
Apito da Costa –
De ouro? Dessa cor só as lembranças que ofereço aos amigos… Este Rio é mais alaranjado.

SMG – E qual é o seu nome?
Apito da Costa –
Jorge Nuno Apito da Costa, acho que toda a gente já sabe…

SMG – O “seu”, o dele…
Apito da Costa –
Nada do que é meu é dele! Que fique bem claro! E, por falar nisso, desculpe mas tenho que me ir embora. Tenho autocarro para casa dentro de 5 minutos. Dantes tinha quando queria, mas agora não tenho outra escolha. A culpa é do sistema, já dizia o outro mouro… Mas esse tinha Dias.

SMG – Senhor Presidente?... Está aí?... Bem, parece que perdemos contacto com o Estúdio do Dragão. Foi a entrevista possível. Boa noite e não percam, já a seguir, a sobremesa que não se come apenas no fim de cada refeição, mas sim durante todo o dia.

André Pereira

sábado, 20 de janeiro de 2007

A Internet e as Juntas de Freguesia

O mundo na ponta dos dedos

A Internet criou um mundo paralelo a este no qual não possuímos qualquer limite físico que nos impeça de realizar muitos dos nossos sonhos. Podemos adquirir outra identidade, só ao alcance da nossa imaginação, e navegar sem bússola ou astrolábio. Neste mar imenso de águas profundas, muitos são os que se aventuram em busca de conhecimento e informação. Ainda que numa fase inicial, as Juntas de Freguesia de Coimbra, pertencem a este leque imenso de novos marinheiros.

Esta mudança radical que a Internet provocou permitiu ao mundo viajar ao sabor de um click do rato, estar em contacto simultâneo com qualquer local do planeta, ter acesso ilimitado à informação. Contudo, este mundo virtual também possui os seus pontos fracos que atingem uma dimensão proporcional aos inúmeros pixels que nos aparecem no monitor. A Internet cresce infinitamente rumo ao desconhecido e é hoje um dos mais importantes meios difusores de informação. Esta nova realidade não deve, pois, ser desprezada por ninguém visto que cada vez mais vai ocupando um espaço considerável na ponta dos dedos e no centro da cabeça das pessoas. Se, há poucos anos, as mensagens políticas eram difundidas em cartazes, jornais, rádio e televisão, hoje em dia, podemos acrescentar a Internet que, como já vimos neste pequeno interlúdio, possui e reforçará a sua posição privilegiada na sociedade.

Esta facilidade de movimentação neste recém-criado mundo é resultado de uma globalização da qual Portugal faz parte. O nosso país aderiu de forma positiva a este processo, todavia, mantêm-se algumas lacunas que, gradualmente, serão eliminadas, tal como fazemos com um simples “Ctrl+Alt+Del” no nosso computador. Esta “desfragmentação de disco” actuará nas áreas que ainda não agarraram a corda que nos leva para o futuro. Entre outras, encontramos o sistema político, com especial atenção para as Juntas de Freguesia. Segundo um estudo realizado pelo Gávea da Universidade do Minho, no ano de 2004, apenas 292 das 4251 Juntas de Freguesia existentes no país tinham como prática responder aos cidadãos que usam a Internet para colocar dúvidas ou questões.

Juntas de Coimbra com experiências embrionárias

Em Coimbra, a utilização da Internet ainda se encontra num período embrionário, sendo já utilizada pelos governantes de forma a aumentarem a proximidade com os seus munícipes. Francisco Andrade, presidente da Junta de Freguesia de Santo António dos Olivais, considera que “a Internet é um meio que deve ser utilizado pelos autarcas para chegar à sua população”. Recentemente, foi assinado um protocolo entre o edil e o Centro de Emprego que permitirá um elo de ligação entre os utilizadores e as restantes entidades envolvidas.

O sítio desta Junta de Freguesia ainda é considerado “caloiro” nesta “universidade de novos valores”. Nasceu no final do ano passado e localiza-se no endereço www.jfsao.pt. Apesar da sua tenra idade, podemos encontrar informações essenciais acerca do Executivo, da Assembleia, da História da Freguesia, entre outros diferentes documentos... “Estamos no bom caminho. A partir de agora é sempre a crescer”, afirma Paulo Correia, técnico de informática da Junta de Freguesia.

“A Internet é já uma exigência do mundo de hoje”, quem o diz é João Pardal, presidente da Junta de Freguesia de Souselas que encara esta realidade paralela como fundamental para a interacção com as pessoas, neste caso particular, com os munícipes. Com os olhos postos no futuro, a Junta de Freguesia de Souselas, já tinha colocado à disposição dos cidadãos um posto de Internet público. Mas a linha do horizonte não termina aqui. “Dentro de dois meses, aproximadamente, teremos a nossa página na Internet onde qualquer cidadão pode entrar em contacto directo com a Junta de Freguesia e ter conhecimento do que se passa de mais importante na sua área”, assegura o presidente.

“O utilizador terá à sua disposição duas importantes áreas: uma centra-se na freguesia e suas características, planeamento territorial, geográfico e histórico; outra pretende abranger a área de vivência das pessoas, através do fornecimento de documentos e outro tipo de informação”, diz.

Em situação idêntica encontra-se a freguesia de São Martinho do Bispo que, apesar de estar em conversações para a criação de um site próprio, tem recebido inúmeros e-mails dos munícipes (juntabispo@sapo.pt) que encontram, na Internet, “um meio para poderem intervir na vida política ou, simplesmente, divulgar opiniões sobre determinado assunto”, afirma Antonino Moura Antunes, presidente da Junta desta freguesia.

Cresce o número de sites e de blogs neste imenso terreno virtual, onde as pessoas, devidamente identificadas ou sob o véu do anonimato, divulgam ideias, partilham informação e apresentam a sua visão perante diversos temas. A crítica política tem sido um dos temas preferidos pelos internautas que encontram, nesta rede universal, o espaço perfeito para a divulgação dos seus projectos.

Na cidade dos Estudantes, os jovens são os utilizadores maioritários da Internet, quer através da navegação por sites de interesse próprio quer na própria intervenção política e/ou relação com as autarquias.

A Internet é, hoje em dia, um meio de excelência para quem se pretende manter constantemente integrado neste mundo governado pelo constante fluxo informativo. Coimbra encontra-se, por enquanto, nos primeiros quilómetros desta auto-estrada cada vez com mais vias e sem qualquer limite de velocidade ou de tráfego. A proximidade entre pessoas de diferentes idades, crenças, ou classes sociais tem tendência a crescer, diluindo todas as diferenças que possam existir. A relação entre a política e os cidadãos é cada vez mais próxima, o que pode trazer benefícios para ambos, quer numa maior intervenção societária quer no debate de diferentes ideais.

quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

Fic Notícias - Pelo ar...

Bem-vindos a mais um “Fic Notícias” aqui, no seu único diário semanal! Estes últimos dias foram marcados por diversos acontecimentos, desde o enforcamento de Saddam até à polémica dos voos da CIA.

Enforcamento de Saddam Hussein:
Após ter morto milhares de inocentes durante o período que esteve no poder, o ditador iraquiano foi condenado à pena capital. De facto, foi uma pena a forma como o Quim Barreiros do Iraque foi tratado. Largos meses sem tomar banho fizeram com que os seus companheiros o acompanhassem de capuz, tal era o cheiro. As forças especiais ainda pensaram que estavam na presença do presidente de outra nação, mas as dúvidas rapidamente se dissiparam quando foram informados que esse estaria condenado à cadeira (do tribunal).

Papa recusa convite para ir a Fátima:
Bento XVI rejeitou o convite que lhe foi endereçado para visitar o Santuário de Fátima. Segundo o Sumo Pontífice, “não quero ir a Fátima porque não gosto de andar de avião. E daqui até ao Brasil ainda são umas horas”. Após ter sido elucidado de que Fátima se encontrava em Portugal, Joseph Ratzinger ficou incrédulo com a existência de tal país. “Pensava que Fátima ficava no Brasil… Mas gostei muito daquele milagre que a Senhora fez. De facto, um saco azul faz milagres…”

Luisão desloca-se a Coimbra:
O defesa-central brasileiro integrou o estágio do Benfica que se deslocou, no passado domingo, a Coimbra para defrontar a Académica. Luisão jogou a titular e muito seguro na defesa. Segundo o próprio “Pô, eu vi aqueles caras de verde fluorescente, e fiquei na dúvida se eram agentes da GNR. Por isso abrandei o meu jogo.” O defesa-central que costuma meter água quando joga, resolveu mudar de bebida e até já confirmou a sua presença na próxima Queima das Fitas de Coimbra, que se realizará no mês de Maio.

Voos da CIA:
“É um avião? É um helicóptero? É um ovni? É o super-homem? Não! São os prisioneiros de Guantanamo!” Estas questões foram colocadas por vários transeuntes que passeavam junto ao aeroporto de Lisboa, no ano passado. É caso para dizer que “o deportado foi descoberto pelo
deputado (ou deputada)”.

André Pereira

quarta-feira, 17 de janeiro de 2007

Muro da Vergonha (Agosto 1961)

Em Fevereiro de 1945, numa altura em que já se dava como iminente o fim da Segunda Grande Guerra no Ocidente, realizou-se em Ialta, na Crimeia, a mais importante de todas as cimeiras pelos reflexos que as suas conclusões vieram a ter no pós-guerra. Entre outras decisões, foi confirmado o desmembramento da Alemanha em 4 zonas: uma sob tutela administrativa dos EUA, outra da Inglaterra, outra da França e outra da URSS.

Em Julho de 1945, logo a seguir à capitulação de Hitler, foram confirmadas as deliberações tomadas em Ialta e foram tomadas novas mediadas relativamente à Alemanha, na condição de derrotada, nomeadamente a definição de um estatuto especial para Berlim, a capital da Alemanha, que, por força da divisão do território, ficou encravada na área de influência soviética. Berlim veio a ser também dividida em 4 zonas divididas pelos países vencedores da Grande Guerra.

O Muro de Berlim foi uma realidade e um símbolo da divisão da Alemanha
em duas entidades estatais, a República Federal Alemã (RFA) e a República Democrática Alemã (RDA). Este muro, além de dividir a cidade de Berlim ao meio, simbolizava a divisão do mundo em dois blocos ou partes: Berlim Ocidental (RFA), que era constituído pelos países capitalistas encabeçados pelos Estados Unidos da América; e Berlim Oriental (RDA), constituído pelos países socialistas simpatizantes do regime soviético.

O objectivo do Muro de Berlim era de impedir a saída de refugiados para a zona Oeste de Berlim. Entre 1945 e a construção do Muro em 1961, 200.000 alemães da zona leste fugiram para a zona oeste de Berlim. O Muro duraria 28 anos.
No dia 9 de Novembro de 1989, a Alemanha de Leste abriu as fronteiras e o Muro foi derrubado.

Esta fotografia é uma das mais marcantes do pós-Segunda Guerra Mundial, uma vez que nela podemos ver um soldado (Hans Conrad Schumann, de 19 anos), que estava de guarda no posto fronteiriço para controlar a linha divisória na rua Bernauer, marcada por arames farpados, pois o muro ainda não estava pronto, foi o primeiro a atravessar a fronteira para o lado ocidental de Berlim, em Agosto de 1961, dois dias depois do início da construção do Muro. Com ele, 2000 soldados seguiram o mesmo caminho.

Peter Leibing, o autor da foto, tirou a fotografia que representa, de certa forma, a liberdade. A agência para onde trabalhava era a Hamburg Picture Agency Contipress

Schumann serviu como voluntário o Exército Alemão em Berlim.

Mais tarde foi-lhe dada permissão para viajar livremente pela Alemanha Ocidental, instalando-se na Baviera. Lá, conheceu Kunigunde e casou.

“Só após a queda do Muro, em 9 de Novembro de 1989 eu me senti verdadeiramente livre”, afirma Schumann que diz sentir-se mais feliz na Baviera do que na sua Terra Natal, junto da família, na Saxónia.

No dia 20 de Junho de 1998, Schumann, que sofria de depressão, enforcou-se no jardim de sua casa em Kipenbereg, na Baviera aos 56 anos.

Texto: André Pereira
Fotografia: Peter Leibing

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Poema Incompleto

A dor, que me tortura sem que eu tenha
Caminho ou alma para lhe fugir,
Parece que, ao tocar-me, me desdenha,
E só me toca p’ra o fazer sentir.

Um nojo, não de mim por minha dor,
Mas como que de minha dor por mim,
Jaz no fundo soez do meu rancor
Contra a dor sem razão que não tem fim.

E, neste circuito de dor e mágoa,
Não me encontro senão p’ra me odiar,
Como o viandante à noite ouve um som de água

Apenas para dele se afastar.
Fernando Pessoa
Fotografia: Carla Salgueiro

sábado, 13 de janeiro de 2007

Reportagem: A Baixa dos Preços Baixos

Apesar de, oficialmente, a época de saldos só ter começado no domingo, as lojas ostentavam já grandes cartazes a anunciar as “Promoções”. Logo a seguir ao período de maior consumo, o Natal, os comerciantes apostam nas reduções de preços para escoarem stocks e para aumentarem a facturação. Apesar do tempo de crise, as vendas sobem, com os clientes a aproveitarem a época de saldos, que se prolonga até 28 de Fevereiro, para renovarem ou rechearem o guarda-roupa.

Historicamente, a época natalícia traz consigo muito frio e promessas de sentimentos pontuais. As pessoas juntam-se à lareira e trocam amor e carinho embrulhados em papel colorido com um laço pomposo. Gradualmente, o verdadeiro espírito natalício tem vindo a desaparecer, dando lugar ao consumismo. Este obriga-nos a “passeios” em ruas apinhadas de gente, a longas filas em centros comerciais, sempre com os olhos postos no nosso relógio. O tempo escasseia e estas semanas passam rapidamente. Tendo todos estes factores em conta, os próprios comerciantes aproveitam esta correria às compras para, logo que a quadra termina, baixarem os preços dos seus produtos, de forma a escoarem mais rapidamente os stocks.

Apesar de, oficialmente, a época de saldos só ter começado no domingo, as lojas de Coimbra começaram logo a seguir ao Natal com o anúncio das promoções. Isto porque os comerciantes estão sujeitos ao pagamento de multas se, em vez de “Promoções” utilizarem a palavra “Saldos”. A diferença encontra-se simplesmente no nome, uma vez que os preços mantêm-se e a afluência de clientes não se altera de forma considerável. Para evitar estas confusões de datas, o Governo já ponderou a hipótese de alterar o início dos saldos para o dia 22 de Dezembro. Esta medida poderá entrar em vigor já neste ano de 2007.

Os próprios consumidores utilizam esta altura de promoções para “trocar artigos de Natal, aproveitando para comprar mais uma camisa, umas calças ou um casaco”, ao verem a diminuição dos preços. Quem o diz é Joana Gonçalves, que costuma passear pela zona da Baixa de Coimbra.

Apesar de ter bastantes lojas espalhadas pela cidade, a empresa “Capicua 303” enquadra-se no universo do comércio tradicional. Como este, muitos são os estabelecimentos que aderem à semana de promoções. A dificuldade óbvia em competir com as grandes empresas durante o ano, aumenta nestas semanas. “Os pequenos comerciantes vêem-se obrigados a baixar os preços para poderem competir com as empresas multinacionais, essencialmente, espanholas”, afirma Liliana Horta, funcionária da loja “Capicua 303”, da Rua Ferreira Borges.

Por seu lado, Rafaela Marques afirma de forma categórica que o número de clientes diminuiu em muito em relação ao ano passado devido, em grande parte, aos grandes centros comerciais Dolce Vita e Fórum. Contudo, “nesta altura do ano, a facturação aumenta, mesmo baixando os preços”, conclui a funcionária da loja Salsa da mesma rua.

Aliás, a Ferreira Borges, uma das mais movimentadas ruas da Baixa de Coimbra, torna-se, nesta altura, um autêntico centro de comércio. As lojas, de um lado e de outro, enfeitam-se para receber o Natal e cativar novos clientes. As pessoas, mesmo em tempo de crise económica, carregam sacos de compras de diversas lojas. “Estamos em crise mas nesta altura os preços baixam e temos de aproveitar”, diz Artur Silva, que utilizou o fim-de-semana para fazer algumas compras de Natal atrasadas.

Euforia comercial em toda a cidade

Mas esta euforia comercial não se remete à Baixa de Coimbra, alargando-se por toda a cidade. Em Celas, por exemplo, os autocolantes de “-50%” saltam aos olhos de quem lá passa. “Já se tem tornado hábito todo este ambiente mas, de ano para ano, as lojas fazem promoções cada vez mais cedo”, afirma Susana Ferreira, residente na Avenida Calouste Gulbenkian.

Nesta altura, as peças de vestuário são as preferidas pelo cliente, que encontra uma grande variedade de escolha em todas as lojas. Muitos são os estabelecimentos que aproveitam para escoar os produtos com defeito ou para desimpedir os stocks. Contudo, alguns mantêm a mesma “linha de venda” durante todo o ano. “Os clientes só têm a ganhar com esta época. Os produtos que estão em promoção são os que habitualmente temos à venda”, argumenta Liliana Horta.

Como é natural, as escolhas dos jovens e dos adultos diferem no que respeita à compra de produtos. Os mais novos optam por lojas “que estejam na moda e onde os preços sejam baixos”, diz José Esteves, estudante de Direito. “Costumo optar pela Salsa, Pull & Bear, El Dorado, entre outros, porque têm roupa jovem”, acrescenta. Por sua vez, os adultos, maioritariamente mulheres, escolhem lojas como a Zara ou Oysho, optando, ainda, muitas vezes, pelo comércio tradicional.

Também a diferença de classes se nota neste início de ano. Apesar de agora estas hierarquias monetárias se esbaterem um pouco, as pessoas de uma classe superior não procuram os produtos pelo preço, mas sim pela sua qualidade. Isto já não acontece com a maioria dos consumidores que prefere o custo em relação à qualidade…
Temos vindo a assistir a uma compacta estandardização do conceito de Natal que não se remete somente ao dia 25 de Dezembro, mas que se alarga a olhos vistos encontrando-se entre semanas de elevado consumo. Um bom exemplo é a Baixa de Coimbra em Dezembro e Janeiro que recebe de braços e portas abertas (com autocolantes enormes a anunciar “Promoções”) todos aqueles que se vão moldando ao novo espírito natalício.

André Pereira

sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

Problema de Audição: "Desconfiamos do apito"

João Vieira Pinto sentiu-se mal e deslocou-se a Coimbra para ser observado. Após inúmeros exames, o famoso jogador de futebol surpreendeu tudo e todos ao sair pelo próprio pé das instalações. Inesperadamente, João Pinto conseguiu percorrer os três metros que o separavam do carro sem a ajuda de ninguém e sem ter esboçado uma única simulação de falta. Contudo, ao ser confrontado com algumas questões dos diversos jornalistas que se encontravam à saída, João Pinto fingiu não ter ouvido e entrou no automóvel, desprezando, por completo, todos os meios de comunicação social. Mais tarde, o responsável pelos tratamentos do jogador, convocou uma conferência de imprensa para explicar a situação:

Médico – Boa tarde a todos! O cidadão João Vieira Pinto dirigiu-se às nossas instalações não para tratar de uma lesão no joelho, como se suspeitava, mas sim devido a um problema auditivo.

Diário de Fictícias – O jogador encontra-se com problemas de audição?
Médico –
Podia repetir a pergunta? Não ouvi bem…

DF – Parece não ter sido o único… Qual é o problema concreto do João?
Médico –
Já há uns meses que o nosso cliente, perdão, o nosso paciente se queixava de imensas dores de cabeça mas nunca se deslocou ao nosso hospital para ser observado. Até que um dia, um senhor muito seu amigo, o trouxe a nós para ser sujeito a observação.

DF – Quem é esse senhor? Alguém conhecido?
Médico –
Não posso revelar o nome, como é óbvio, mas posso-lhe dizer que gosta muito de animais… Desde dragões (pintados a ouro) até águias e leões… Ele próprio já foi o rei da selva, mas agora tem andado um pouco em baixo.

DF – Deve ser muito boa pessoa… Em relação ao senhor Pinto, quais foram as suas declarações quando esteve perante os médicos?
Médico –
O senhor Pinto não chegou a vir, porque, por coincidência, tinha ido de fim-de-semana para Espanha, com a sua esposa.

DF – Pois, mas não era esse senhor Pinto de que eu estava a falar… Referia-me ao João.
Médico –
Ah, peço imensa desculpa! Deixe-me acender um cigarro que eu já fiz asneira.

DF – Mas fumar faz mal! E o senhor é médico, deveria dar o exemplo!
Médico –
Não é bem assim… Olhe, quando veio cá o tal senhor, o tabaco foi a nossa salvação, caso contrário, teríamos que o observar ao ar livre.

DF – Mas, e o João?
Médico –
Pois, o senhor João Pinto respondia de uma forma muito estranha às perguntas que lhe colocávamos. No mês passado, um senhor muito franco, decidiu enviá-lo até nós. E só nessa altura é que descobrimos que havia qualquer coisa de errado. O senhor João não respondia da mesma maneira. O diagnóstico foi óbvio: problemas de audição.

DF – E encontraram alguma coisa que pudesse ter causado estes problemas?
Médico –
Nós desconfiamos do apito do árbitro.

DF – Não me diga que também está envolvido no caso que tem abalado o futebol português…
Médico –
Não, claro que não! Refiro-me ao som do apito que o João ouviu durante anos. Pudera, estava sempre a sofrer faltas.

DF – E quais são as medidas a tomar?
Médico –
Com a experiência que tenho, o nosso paciente ou vai mais uma vez ao tapete (curiosamente verde) ou então pede ajuda ao Bom Jesus de Braga.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2007

Rir

"Rimo-nos da incongruência do Universo."
Freud

Ordem dos (N)otários

O anúncio da Ordem dos Notários mostrando Hitler, Stalin e Churchill como se fossem comparáveis na presença de um notário originou algum sururu, o que, segundo um lugar-comum pouco verdadeiro, seria bom para a campanha pois mais valeria ser-se alvo de má publicidade do que de nenhuma.

Duvido que os notários ganhassem notoriedade positiva ou clientes novos com este anúncio que raia a irresponsabilidade cultural.

Dizem as letras grandes: "Se eles tivessem tido um notário, talvez não tivesse havido guerra" (já agora: a frase podia ser mais simples -- Com um notário, talvez eles tivessem evitado a guerra). O texto continua com uma frase mal explicada: "Mas foram os embaixadores da Alemanha, da União Soviética e da Inglaterra que tentaram impor os interesses dos seus países." Esta frase é uma mistificação confusa sobre o papel dos diplomatas, que sempre tentam defender os interesses dos seus países; pressupõe não só que os diplomatas geraram a guerra mas também que um notário teria obtido um resultado diferente do dos diplomatas (ou ministros? E onde? Quando?). Eu sei que é absurdo tentar justificar a posição contrária à deste anúncio, porque absurdos são os seus pressupostos. Não por colocar uma hipótese alternativa ao passado histórico, mas porque ela não se poder admitida no próprio terreno da história.

A tolice histórica é que os três não eram iguais no (des)respeito pelos tratados assinados, pelo que um notário não teria feito melhor do que os diplomatas. Por outro lado, a confusão da frase impede qualquer compreensão do momento a que se refere. Mas para quem escreveu tanto faz, porque a confusão da frase foi propositada. Eu vejo este anúncio assim: inventa-se uma provocação histórica só para chamar a atenção; o objectivo do texto e da campanha não tem qualquer relação com a provocação histórica; mas o facto de ela ser usada obriga a uma "explicação" mínima da mesma. Daí a frase sobre os embaixadores e daí que até ao fim do longo texto se não volte a falar do exemplo "histórico" escolhido, mas apenas das vantagens do recurso aos notários.

A mesma irresponsabilidade cultural repete-se num anúncio com as fotos, lado a lado, de um índio e de um cowboy. Diz a frase: "Quando há um notário, não ganha o mais forte. Ganham os dois." Eu diria que isso depende do acordo a que chegam... com o acordo de ambos, incluindo o mais fraco. Com a presença do notário, a vitória do mais forte apenas é legalizada. E foi isso, aliás, o que sucedeu com os índios e os cowboys, isto é, os brancos: com ou sem notário, os índios teriam sido dizimados e despachado para "reservas". Além dos desmandos de cowboys, houve uma política de Estado em Washington prejudicial aos índios, e essa política foi legal. Quer dizer, ganhou a lei, como diz o anúncio, mas não ganharam os dois, que é o que ele diz também. Daí que a irresponsabilidade cultural desta campanha, resultante duma criatividade apressada e incompetente, seja, a meu ver, prejudicial para os notários.

Teria sido mais interessante salientar pela linguagem publicitária, em palavras e imagens, o que se deixou para os últimos parágrafos dos anúncios: "Actualmente o notário é um profissional liberal. (...) Os recursos tecnológicos de que dispõem permitem aos notários prestar os seus serviços com grande rapidez e eficácia"; os preços dos notários são tabelados; o notário é "actualmente (...) um consultor imparcial". Qualquer destas informações é mais desconhecida e importante do que as referências pseudo-históricas indutoras da ideia da imparcialidade dos notários, há muito estabelecida. E a extensão dos textos? Para a próxima os notários precisam de quem lhes faça umas escrituras mais pequenas!

Eduardo Cintra Torres

Queimados


Que quem já é pecador
sofra tormentos, enfim!
Mas as crianças, Senhor,
porque lhes dais tanta dor?!...
Porque padecem assim?!...

(in Balada da Neve, Augusto Gil)

Esta fotografia retrata a fuga de crianças a um ataque aéreo de napalm à sua pequena aldeia. Estávamos em plena Guerra do Vietname, no dia 8 de Junho de 1972, quando Nick Ut capta, de forma absolutamente nua e crua, o horror sentido por estas crianças que tinham acabado de perder grande parte da sua família. Até hoje, esta imagem é lembrada como uma das mais terríveis da Guerra do Vietname.

Nick Ut (Ut Cong Huynh), nascido no Vietname do Sul, entrou para a Associated Press, em Saigão, no ano de 1966, cobrindo os últimos anos da Guerra do Vietname. Após o conflito, continuou a trabalhar para a Associated Press em Tóquio transferindo-se, posteriormente, para Los Angeles. A sua carreira como fotojornalista fica marcada, claramente, pelo dia 8 de Junho de 1972 quando fotografou Kim Phuc, uma criança de apenas 9 anos, correndo e gritando nua pela estrada fora. Esta fotografia obteve todos os prémios de 1973, incluindo o Prémio Pulitzer, o Prémio George Polk Memorial, o Overseas Press Club e o National Press Club.

A vida da menina de nove anos iria mudar para sempre. Hoje, 34 anos depois, Kim Phuc vive no Canadá com os seus filhos e é Embaixatriz da Boa Vontade da UNESCO. Recorda, com muita revolta e tristeza, aquele fatídico dia. “Eu me lembro que tinha 9 anos, era apenas uma menina. Naquela noite, a nossa povoação tinha ouvido que os vietcongues viriam e que queriam usar a aldeia como base. Já de dia, eles vieram e iniciaram os combates.

Nós estávamos muito assustados. A minha família decidiu procurar abrigo num templo, porque nós acreditávamos que lá era um lugar sagrado e estaríamos a salvo. Eu não cheguei a ver a explosão da bomba de napalm; só me lembro que, de repente, estava rodeado de chamas. De repente, as minhas roupas começaram a arder, e eu sentia as chamas queimando o meu corpo, especialmente o meu braço. Naquele momento, passou-me pela cabeça que ficaria feia por causa das queimaduras, acabando por nunca me tornar numa rapariga como todas as outras. Estava apavorada, porque não via ninguém à minha volta. Não parava de chorar quando, milagrosamente, ao correr os meus pés não ficaram queimados. Só sei que eu comecei a correr, correr e correr. Os meus pais não conseguiriam escapar do fogo, e decidiram voltar para o templo. A minha tia e dois dos meus primos morreram. Um deles tinha 3 anos e o outro apenas 9 meses.”

Após o disparo de Ut, este despejou água para o corpo nu de Kim Phuc e apressou-se a levá-la para o hospital. Chegados ao hospital, Ut dirigiu-se imediatamente para uma sala escura para revelar as fotografias. Os seus pais viriam mais tarde a encontrá-la no hospital. Após 14 meses no centro hospitalar de Saigão (transferida posteriormente) e 17 cirurgias para curar as queimaduras de primeiro grau (metade do corpo ficou queimada), Kim Phuc começou a pensar em como poderia ajudar as pessoas.

“Os meus pais guardaram a foto, que tinha saído num jornal, e depois mostraram-ma: "Esta és tu", disseram eles. Eu não pude acreditar pois era uma foto aterradora. Todas as pessoas deveriam ver esta foto, mesmo hoje, porque mostra claramente como uma guerra é terrível para as crianças. Basta ver a foto, para as pessoas aprenderem.

Nick salvou a vida de Kim e mantiveram permanente contacto. "Kim Phuc é como minha filha".

“Oh, meu Deus, o que estamos a fazer?" Estas palavras pertencem à escritora Sally Quinn, filha de um general americano, traduzindo, desta forma, a perplexidade de milhões de seres humanos confrontados com a imagem eternizada pelo fotógrafo Nick Ut. Crianças vietnamitas da aldeia de Trang Bang fogem aterrorizadas, por uma auto-estrada, sob a chuva de napalm produzida por bombardeiros dos Estados Unidos.

quarta-feira, 10 de janeiro de 2007

Na Fronteira

Um refugiado birmanês, com a cara cheia de protector solar tradicional, espera num campo de recolhimento de Mae Sot, perto da fronteira da Birmânia com a Tailândia. Os Estados Unidos propuseram uma resolução nas Nações Unidas que alerta para deterioração da situação política na Birmânia que, segundo Washington, constitui um perigo para a segurança regional. Os EUA exigem que a junta militar que governa o país liberte os prisioneiros políticos.

Fonte:
Público

segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Manuais de instruções dados por um Deus

Apesar disso, considerando que o seu nome estava na lista da morte, Julius pensou que uma cerimónia discreta não seria má ideia. Afastou a ideia como se esta queimasse, já que durante toda a vida fora profundamente contra rituais. Sempre detestou as formas que as religiões usam para tirar a razão e a liberdade dos seus seguidores: os trajes cerimoniais, o incenso, os livros sagrados, os cantos gregorianos com o seu som hipnótico, os tapetes para ajoelhar, os mantos e solidéus, as mitras e os bastões dos bispos, as hóstias e os vinhos bentos, as cabeças a abanar e os corpos a balançar ao ritmo das velhas cantilenas. Considerava tudo isso uma parafernália da mais poderosa e duradoura vigarice, que fortalecia os líderes e satisfazia o desejo de submissão da comunidade.

Irvin D. Yalom
“A Cura de Schopenhauer”

sexta-feira, 5 de janeiro de 2007

2007 - O Jardineiro e o Filósofo

Após a tradicional contagem decrescente e os altos voos das rolhas de espumante, a vasta equipa do Diário de Fictícias reuniu-se e teve a ideia mais original de todos os tempos, convidar uma importante personalidade que pudesse prever os principais acontecimentos do novo ano.

Após longas horas de exercício mental, e tendo em conta o título do nosso diário, o nome escolhido foi o de Maia, essa pequena e amarelada abelha, conhecida em Portugal pelas suas manhãs cor-de-rosa.

Diário de Fictícias – Bom dia, senhora Maia. Antes de mais, agradeço ter aceite o nosso convite para esta pequena sessão. Já lançou as cartas para 2007?
Maia –
Sim, e consegui descobrir coisas bastante interessantes.

DF – Ah sim? Em relação à Justiça, haverá alguma mudança tão radical que faça com que finalmente funcione?
Maia –
Eu não faço milagres, apenas prevejo o que realmente vai acontecer.

DF – Peço desculpa, a minha pergunta também não foi muito inteligente… Por falar em inteligência (ou na falta dela), como prevê o penúltimo mandato de George W. Bush?
Maia –
Será um ano muito trabalhoso para a administração norte-americana, que terá de escolher um novo hino nacional para suceder ao “Pombinhas da Catrina”, do ano passado. Talvez uma música da Floribella possa dar jeito.

DF – A Floribella foi um sucesso em 2006. Continuará neste ano?
Maia –
As pessoas continuarão a andar de saia, mas com outra que não a desta pobrezinha. E as danças também serão outras. Por exemplo, o novo formato do “Dança Comigo”, que durará o ano inteiro, terá um par fixo todas as semanas: não me recordo dos nomes dos dançarinos mas um é um famoso jardineiro e outro um importante filósofo, pelo menos de nome…

DF – As suas previsões, como sempre, têm sido bastante esclarecedoras. Não nos pode informar de forma mais concreta e objectiva?
Maia –
Claro que sim. Por exemplo, o futebol vai deixar de ser jogado nas quatro linhas para passar a ser jogado na linha.

DF – Mas porque diz isso?
Maia –
Ora, não viu o presépio do Senhor Futebol? Era composto por Maria, José e pelo (mor)Gado. Jesus fugiu assim que os juízes verificaram o número de pessoas envolvidas no “Apito Dourado” (Jesus, tanta gente!!!).

DF – No que diz respeito à nossa Economia, será este o ano da retoma?
Maia –
Claro que sim! O País irá crescer tanto que as pessoas continuarão a vir para a rua festejar!

DF – Continuarão? Mas 2006 foi um ano repleto de protestos contra o Governo… E estamos em crise.
Maia –
Não sei se lhe podemos chamar crise, quanto a mim tem sido uma crise essencialmente mental, até porque os Portugueses já ganharam várias vezes o Euromilhões, os deputados viajam frequentemente para o Brasil, as pessoas continuam a viver bastante bem e a comprar muitos artigos de luxo…

DF – Não é bem assim! Ontem, por exemplo, fui jantar fora ao melhor restaurante da cidade, no meu automóvel topo de gama descapotável e, quando estava a pagar a conta com um dos meus 23 cartões de crédito, notei que as pessoas estavam muito deprimidas… Mas deixemo-nos de coisas tristes, qual será o maior acontecimento do ano?
Maia –
O maior acontecimento do ano será… ai, tenho de me ir embora! Desculpe mas só lho posso dizer depois deste ter acontecido. Sabe, nós os videntes, regemo-nos pelo mesmo padrão do terceiro segredo de Fátima…

DF – Senhora Maia, onde vai? Ora, esta é que eu não esperava... Deve ter visto o Calimero…

*As vogais e as consoantes, os hífens e os números, os pontos finais e as reticências, os acentos e os pontos de interrogação, todos unidos, desejam aos nossos leitores um excelente ano novo!

quinta-feira, 4 de janeiro de 2007

O teu baton

O teu baton
Teve esse dom de saber assim
O teu baton
Água na boca, chamou por mim.

O teu baton
Teve esse tom de canção de amor
O teu baton
Deixou na roupa o teu sabor.

Só eu sei, ainda é bom lembrar
Só eu sei, ainda é bom sonhar
Já nem sei, será bom acordar?
Pois guardei a cor do gosto bom
Do teu baton.

O teu baton
Brilhou num som tão à Tom Jobim
O teu baton
Foi água, mel, foi cor de carmim.

O teu baton
Foi um bombom, coração, licor
O teu baton
Deixou na pele o teu calor.

Só eu sei, ainda é bom lembrar
Só eu sei, ainda é bom sonhar
Já nem sei, será bom acordar?
Pois guardei a cor do gosto bom
Do teu baton.


Herman José
Fotografia: Paulo Madeira

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Alois Hitler (7 Junho 1837 – 3 Janeiro 1903)

Em 1837, uma lavradora de 42 anos, solteira, católica, chamada Maria Anna Schicklgruber deu à luz um rapaz ilegítimo, na pequena e bucólica vila de Strones, no Waldviertel, uma área de floresta entre montes, no noroeste da Baixa-Áustria, a norte de Viena. A família desta nova mãe já vivia na zona há gerações. A criança recebeu o nome de Alois.

A identidade do pai permanece um mistério até hoje. Maria terá recusado revelar o seu nome, ou então simplesmente não o sabia. No dia em que nasceu, Alois foi baptizado na vila próxima chamada Döllersheim. O espaço para o nome do pai foi deixado em branco no certificado de baptismo e o padre escreveu posteriormente "ilegítimo". O bebé Alois foi criado em casa por Maria, na casa que ela habitava juntamente com o pai Johannes Schicklgruber, em Strones.

Alois seria o pai de uma das maiores figuras históricas de todos os tempos, Adolf Hitler.

O historiador Ian Kershaw afirma: "O primeiro de muitos golpes de sorte para Hitler teve lugar 13 anos antes de ter nascido. Em 1876, o homem que seria o seu pai, mudou o nome de Alois Schicklgruber para Alois Hitler. Podemos tomar a afirmação de Adolf como sincera quando ele disse que "nada que o seu pai tinha feito lhe agradara tanto como a decisão de abandonar rústico e grosseiro de Schicklgruber. Certamente, a saudação 'Heil Schicklgruber' não teria sido tomada para um herói nacional".

Texto e Imagem:
Wikipédia

terça-feira, 2 de janeiro de 2007

2007

Repetindo a dose do ano passado, ouvi as doze “badaladas” na Figueira da Foz. Por entre ruídos de música (?) e outros tantos de euforia, os festejos acumularam-se à medida que a contagem decrescente se aproximava do zero. Com os pés enterrados na areia húmida e rodeado de amigos, liguei o meu ipod e entrei no novo ano a ouvir uma das minhas músicas favoritas – Schindler’s List (reprise). Decidi abrir as portas a 2007 com uma música melodiosa, composta por mais do que duas notas, ao contrário do que aconteceu com aquilo que se ouvia na tenda.

Um bom ano harmónico!

Texto e Fotografia: André Pereira