quinta-feira, 29 de maio de 2008

“Cuidado com Deus”, de Shalom Auslander

Era isto que Bernstein guardava na mala castanha e velha que mantinha debaixo da cama, na esperança de que o Messias chegasse a meio da noite: dois pares de meias pretas, um par de calças pretas, uma camisa branca, um livro de Salmos, rugalach, três solidéus, um conjunto suplente de filactérias, dois mantos de oração (um para os dias da semana e um para o Sabat) e um fato de banho, porque nunca se sabe.”

Assim começa um dos livros que mais prazer me deu ler. À partida, o título captou, de imediato, a minha atenção. Aliás, sempre que me dirijo à Fnac ou à Bertrand (os meus locais de eleição no que a este assunto diz respeito), antes mesmo de saber o autor do livro, procuro um título que tenha a sua originalidade. Como é óbvio, o facto de o título do livro ser algo de espectacular não melhora automaticamente o conteúdo do mesmo. Não é o que se passa com esta obra de Shalom Auslander.

Antes de termos “cuidado com o cão” ou “cuidado com o sol”, é urgente termos “cuidado com Deus” (não querendo comparar esta figura mitológica com o mamífero canídeo de quatro patas ou com a estrela mais próxima do nosso planeta).

São catorze as histórias que Shalom nos conta ao longo de toda a narrativa. Desde as “Dicas sobre o Holocausto para Crianças”, passando pela “Metamorfose” ou pelo “Dilema do Profeta” todas elas de uma leitura obrigatoriamente compulsiva. Não por ter algum sinal azul com uma seta a indicar “Lês isto de forma compulsiva e mais nada, antes que leves umas chicotadas!”, mas sim porque este livro tem the thing.

Como se pode ler na contracapa do livro, “O autor, educado como judeu ortodoxo, satiriza impiedosamente a divindade do Antigo Testamento: Deus tem enxaquecas, assedia um profeta dos tempos modernos e até aparece como uma galinha gigante.”

Deus já comentou esta obra com um divino “Aaaaaaaaaaatchiiiiim!!!”, mas, como não obteve resposta, entrelaçou os braços, fez beicinho e sentou-se a jogar Playstation 3. “Santinho!”, ouviu-se ao fundo do corredor. Deus levantou-se num impulso e viu, ao longe, um indivíduo com um bigode farfalhudo. Havia chegado o momento! Meteu a mão ao bolso, fez pontaria e pensou: “Seja o que eu quiser”. PAAAAMMM!!!! O som ensurdecedor ecoou pelas quatro paredes da barraca. “Diz lá quem é que está morto agora, diz!”

2 comentários:

Diana disse...

Absolutamente divinal! :D vai ser a minha próxima aquisição! :D

André Pereira disse...

Tens a minha aprovação!