sábado, 14 de março de 2009

Nietzsche e o Nazismo (2/3)

Quanto à raça ariana, Hitler considerava-a como uma raça superior que deveria reerguer os valores nórdicos e palacianos perdidos na Antiguidade. Aqui, nota-se alguma semelhança com Nietzsche, que elevou, em algumas obras, o espírito guerreiro e aristocrático de alguns povos pagãos europeus da Antiguidade, como os Gregos, os Romanos e os Vikings. As suas proezas históricas reflectiam uma vontade de superação do aspecto problemático da própria existência, valor inexistente no ocidente moderno consequente de séculos de predomínio do Cristianismo e da crença em ideais transcendentes. Apesar de tudo, o filósofo alemão nunca defende a soberania de qualquer um destes povos, ao contrário de Hitler. O racismo biológico alemão era bem diferente do “novo homem” proposto por Nietzsche.

Para entender este “novo homem” é necessário uma breve abordagem a uma das suas teorias, a do “Super-homem”. Nietzsche entende que, com a emergência da época moderna, os valores baseados na moral cristã e na tradição metafísica começam a ruir. Simbolicamente, Nietzsche diz que “Deus está morto!”, eliminando, desta forma, todos os valores considerados como absolutos. Com a ausência de valores, o mundo e a própria existência deixam de fazer sentido. A solução, frente a este Niilismo decorrente da “morte de Deus”, é a criação de novos valores. Esses valores não são mais baseados na transcendência, mas sim na terra e na própria vida, mesmo sabendo que há dor e sofrimento – amor à fatalidade (amor fati). E aqui surge o conceito de Super-homem (Übermensch), uma doutrina de superação do próprio homem. Apenas um Super-homem poderia aceitar a vida tal como ela é e, ainda assim, desejar que ela se repita infinitas vezes.

Esta ideia de um Super-homem foi aproveitada por Hitler, porém, de forma completamente deformada, uma vez que o Super-homem nietzschiano não procura uma superação social mas sim uma superação do pensamento e da ética, o oposto defendido pelo ditador austríaco, que dizia estar a “acelerar o inevitável”.

Em relação ao transcendente, Nietzsche e Hitler diferem em larga escala. Nietzsche apoia-se mais na intelectualidade e razão humanas, opondo-se à Moralidade e à Religião. Por seu lado, Hitler era muito supersticioso e fomentava o culto do divino.

É um erro dizer que Hitler era cristão ou nietzschiano. A verdade é que tinha um desejo político baseado no extermínio dos judeus. Para levar a cabo os seus objectivos, procurou, em várias fontes, argumentos que o favorecessem. Uma dessas fontes foi a Filosofia de Nietzsche, especificamente a obra “Assim Falava Zaratustra”, que Hitler mandava distribuir aos soldados alemães nas frentes de batalha.


(continua)

André Pereira

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