quarta-feira, 29 de novembro de 2006

Iniciação

Não dormes sob os ciprestes,
Pois não há sono no Mundo.
O corpo é a sombra das vestes
Que encobrem teu ser profundo.

Vem a noite, que é a morte,
E a sombra acabou sem ser.
Vais na noite só recorte,
Igual a ti sem querer.

Mas na Estalagem do Assombro
Tiram-te os Anjos a capa:
Segues sem capa no ombro,
Com o pouco que te tapa.

Então Arcanjos da Estrada
Despem-te e deixam-te nu.
Não tens vestes, não tens nada:
Tens só teu corpo, que és tu.

Por fim, na funda Caverna,
Os Deuses despem-te mais.
Teu corpo cessa, alma externa,
Mas vês que são teus iguais.

A sombra das tuas vestes
Ficou entre nós na Sorte.
Não estás morto, entre ciprestes.
Neófito, não há morte.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 27 de novembro de 2006

Poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

Tempo para mudar de botas

Um soldado israelita muda de botas à saída de um carro de combate perto do "kibbutz" de Mefalsim, no Sul de Israel, junto à fronteira com a Faixa de Gaza. A trégua acordada entre as duas partes, que pela primeira vez em cinco meses trava o lançamento de "rockets" palestinianos e as operações militares israelitas em Gaza, trazem a esperança de que as negociações de paz sejam retomadas.

domingo, 26 de novembro de 2006

Livro do Desassossego de Bernardo Soares - 17.

São horas talvez de eu fazer o único esforço de eu olhar para a minha vida. Vejo-me no meio de um deserto imenso. Digo do que ontem literariamente fui, procuro explicar a mim próprio como cheguei aqui.

Fernando Pessoa

sábado, 25 de novembro de 2006

Contra a violência sobre as mulheres

Quando chegava o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, um grupo de manifestantes no Paquistão acenderam velas para apoiar uma lei que protege as mulheres paquistanesas contra crimes como a violação.

Fonte:
Público

sexta-feira, 24 de novembro de 2006

Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (24 Novembro 1906 - 19 Fevereiro 1997)

Máquina do Mundo

O Universo é feito essencialmente de coisa nenhuma.
Intervalos, distâncias, buracos, porosidade etérea.
Espaço vazio, em suma.
O resto, é a matéria.
Daí, que este arrepio,
este chamá-lo e tê-lo, erguê-lo e defrontá-lo,
esta fresta de nada aberta no vazio,
deve ser um intervalo.

António Gedeão

Parabéns Sónia (24 Novembro 1970)

Logo passo por tua casa para comer uma fatia de bolo.

Alunos e professores unidos: “Queremos ir para casa estudar!”

São 8h30 da manhã. O dia está escuro e sopra um vento agreste que dá vida aos ramos das árvores e levanta as folhas espalhadas pelos passeios… Contudo, ao contrário do que se possa pensar, a rua está repleta de pessoas que, tremendo tanto como varas verdes, seguram cartazes e gritam palavras de ordem. A campainha toca pela primeira vez mas ninguém parece ouvir. Os portões estão fechados e a chuva bate constantemente nas placas de zinco que abrigam alguns professores.

Pela primeira vez em muitos anos, a escola vê todos os seus professores e alunos no seu recinto e em luta pelos mesmos ideais. É hora de ir para a aula, mas “mais importante que aprender é, seguramente, lutar pelos seus direitos e protestar contra a política vigente”, são estas as palavras de um professor que se manifesta neste dia chuvoso.

Entoando conhecidos gritos de guerra, adaptados à situação em que nos encontramos, professores e alunos unem-se numa só voz e gritam cada vez mais alto, ao verem que estão a ser filmados e entrevistados pelo Diário de Fictícias e outros meios de comunicação.

É neste ambiente de antítese com o tempo que se faz sentir que pedimos a opinião de alguns manifestantes:

“Epa, somos estudantes e não concordamos com as aulas de substituição porque se tivéssemos feriado íamos para casa estudar, pah!”
Estudante

“Eu não sei a razão do protesto mas acho muito bem porque assim não temos aulas.”
Estudante

“Estamos todos unidos contra esta política de discriminação e achamos que a senhora ministra deveria saber o que custa dar aulas das 9h às 16h, ter férias de 2 meses, e escolher o seu próprio horário que mudaria de opinião em relação a nós”
Professor

quarta-feira, 22 de novembro de 2006

A Velha Coca-Cola e o Novo Vêgê

Como telespectador atento que sou, tenho mantido uma vigilância permanente sobre o meio audiovisual e a sua repercussão no nosso mundo actual. A Publicidade é um dos conteúdos que me fascina e, ao contrário de grande parte das pessoas, muitos são os minutos que despendo com os olhos colados aos mais variados anúncios.

De há uns tempos para cá, dois anúncios saltaram-me à vista mas, essencialmente, ficaram no meu pensamento mais tempo do que o normal. A minha primeira reacção foi de surpresa, contudo, após alguns visionamentos mais cuidadosos, notei em mim algum receio, especialmente num deles. Fiquei surpreendido porque, apesar de seguirem as
regras publicitárias, estes dois anúncios afastam-se, de certa maneira, da onda em que até então todos navegavam, criando a sua própria estrutura. O outro sentimento que enumerei é o receio, uma vez que estes anúncios (com especial atenção para um deles) aproveitam um momento de “distracção humana” para entrar no inconsciente das pessoas.

Falo dos anúncios da
Coca-Cola e do óleo Vêgê. No primeiro, a personagem principal é um senhor idoso, de fato-de-treino, praticando diversas actividades físicas demonstrando, assim, a sua excelente forma. O senhor diz que sempre bebeu Coca-Cola e que, apesar de se dizer que o refrigerante é utilizado para “limpar as engrenagens” e “não estar provado que faça bem”, ele continua a beber porque fá-lo sentir feliz. E, “se a felicidade aumenta a esperança de vida, continuarei a beber”.

Por sua vez, o segundo anúncio centra-se numa rapariga na flor da idade. Esta, apresenta, de forma bastante natural, o produto desprezando, por completo, o ambiente envolvente (“Não precisamos de uma bonita cozinha, com um cozinheiro famoso, umas crianças para dar um ar querido e uma super-modelo a apresentar”). Contudo, ao dizer tudo isto, está a captar a atenção do público para esse mesmo aspecto, o espaço envolvente que, nesta película se baseia numa parede branca onde a protagonista cria o seu próprio meio. Esta simplicidade na promoção do produto leva a uma conclusão lógica, referida pela actriz: “Desculpem, vamos continuar com anúncios maus mas com um óleo muito bom”.

Ora, estes dois anúncios causaram em mim surpresa não só pela sua originalidade mas também pela sua “mudança de rumo”, como já havia referido. Contudo, é o anúncio da Coca-Cola que provoca em mim o tal sentimento de receio. Isto porque, se analisarmos bem o anúncio, o texto não confirma nem desmente os malefícios da Coca-Cola, colocando a sua tónica no elemento primordial, a Felicidade! Por entre imagens raras nos dias que hoje correm (um homem de 84 anos em excelente forma), a Coca-Cola como que “injecta” lentamente no nosso inconsciente a frase “a Coca-Cola até pode fazer mal, mas dá felicidade”. E é aqui que eu sinto medo. Isto porque, se até então as pessoas já suspeitavam da qualidade deste refrigerante, a partir de agora sabem, por fonte segura, que provavelmente faz mal. A máxima que este anúncio estabelece e pretende moldar na mente humana é a seguinte: “Façamos o que nos apetece! Até podemos consumir produtos que nos irão prejudicar mas o importante é estarmos felizes.”

Desde sempre que a Coca-Cola nos tem habituado a anúncios de elevada qualidade, mas não nos esqueçamos que foram estes senhores que criaram o Pai Natal. Esperemos que não criem, também, “esta” felicidade.

Este tipo de publicidade é muito difícil de combater pois a própria marca diz “toda a verdade” mas acrescenta um novo elemento (“O nosso produto faz mal, mas dá felicidade” ou “Os nossos anúncios são maus mas o óleo é bom”).

As pessoas continuarão a beber Coca-Cola, eu próprio continuarei a fazer parte deste grupo. As vendas do óleo Vêgê irão, decerto, aumentar como consequência deste anúncio. Mas é importante saber ver os anúncios, e não apenas olhar…

André Pereira

terça-feira, 21 de novembro de 2006

Beija-me!

“Beija-me, aperta-me, acaricia-me muito. – Ela possuía também poesia para seu uso, conhecia palavras que cantavam, que enfeitiçavam e produziam um rufar de tambores – Beija-me… – Fechou os olhos, a sua voz transformou-se num murmúrio ensonado. Beija-me até ao paroxismo, aperta-me sem fraqueza, acaricia-me.”

Admirável Mundo Novo
Aldous Huxley

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

“Antes de Bolonha, os alunos eram papagaios amestrados”

A aula de Representações dos Media do dia 15 de Novembro foi diferente para os alunos de Comunicação Social do Instituto Superior Miguel Torga. José Henrique Dias, Presidente do Conselho Pedagógico do Instituto, dirigiu, a pedido do professor Dinis Manuel Alves, uma aula que rapidamente se transformou numa amena conversa entre o orador e o seu público.

“O Processo de Bolonha” foi o tema escolhido pelo Prof. Dr. José Henrique Dias para iniciar este diálogo com os estudantes. Como todos sabemos, este processo tem causado muitas reacções do mundo político e, essencialmente, estudantil. Todas estas ondas de discórdia são contrapostas por outras de completa concordância, nas quais se engloba José Henrique Dias.

“Com Bolonha, há uma mudança total de paradigma, tal como aconteceu na passagem da Medievalidade para o Renascimento e do Teocentrismo para o Antropocentrismo. Se, neste último caso, se passou de uma crença em Deus como estando no centro do Universo para uma crença no próprio Homem, com Bolonha surge-nos uma semelhante mudança”. É com estas palavras que José Henrique Dias inicia o seu discurso, captando, de imediato, a atenção dos alunos. “Tendo em conta as devidas proporções, antes de Bolonha o ensino encontrava-se centrado na figura do Professor. Só ele era o detentor do saber e tudo teria que ser feito conforme ele dizia, não deixando espaço para a livre pesquisa dos seus alunos, comportando-se como papagaios amestrados. É isto, essencialmente, que Bolonha pretende alterar, dando mais liberdade ao estudante para pesquisar, investigar e tirar as suas próprias conclusões, adquirindo diversos saberes e competências”.

Desta forma, continua o orador, “não se visa tirar responsabilidade ao professor, antes pelo contrário, que terá um papel decisivo na formação do aluno, uma vez que será mais uma ponte de ligação para o conhecimento.”

José Henrique Dias, nascido em Coimbra, recordou ainda com saudade os bons momentos da sua juventude e o seu início bastante prematuro no mundo do trabalho. “Os tempos eram difíceis e, como tive um filho muito cedo, tinha de ganhar dinheiro”, afirma o Professor. “Escrevi para vários jornais e até cheguei a fazer horóscopos e a vestir a pele de consultor sentimental”.

A conversa alongou-se durante cerca de duas horas, alternando entre momentos de transmissão de saber e momentos mais leves. Em ambos, os alunos mantiveram-se bastante atentos, colocando questões pertinentes sobre os mais variados assuntos abordados.

A capacidade oratória do Professor Doutor José Henrique Dias, bem como a sua inteligência fizeram desta tarde uma verdadeira montra de saberes que, segundo ele “não estão fechados em gavetas, mas sim em constante convivência”.

André Pereira

sexta-feira, 17 de novembro de 2006

Governo Fictício corta despesas - Proposta de Orçamento 2007

O Diário de Fictícias apresenta, em primeira-mão, a proposta orçamental do Governo Fictício para o ano de 2007. É de fonte segura que confirmamos este plano governamental, passando, desde já a invocar as principais áreas a serem atingidas:

Economia:

A Economia irá crescer de uma forma gradual, especialmente devido às bases em que se irá sustentar. Os passeios irregulares serão substituídos por bancos que, limadas algumas arestas, tornarão a subida mais segura e confortável.

Desporto:

No próximo ano prevê-se um aumento de agentes da polícia nos estádios de futebol. Isto porque Jorge Costa irá fazer parte da equipa técnica do Sporting de Braga e, após ter visto tantas vezes a cor vermelha em forma de cartão irá agora vesti-la. Até aqui tudo normal, não fosse o facto de o antigo jogador do FC Porto gostar muito de a ver na pele dos adversários.

Descendo até à capital, os trabalhadores do metro de Lisboa já puseram mãos à obra com vista a construir um Tonel que ligará Portugal ao Brasil. Esperemos que não seja mais um Canal da Mancha.

O Chefe de Estado já convocou uma reunião com o Presidente do SL Benfica com vista a assinar um pacto de união entre Nações. Se este encontro tiver os efeitos previstos pelo Governo, Portugal será, à semelhança do Benfica, o maior País do Mundo.

Sociedade:

Há uma nova esperança para os desempregados em Portugal. O Governo propõe um plano de migração para a Madeira, a fim de tratar dos jardins e dos pomares do arquipélago. A falta de jardineiros é uma realidade naquela região e as laranjas são cada vez menos nutritivas.

Ambiente:

O Governo aprovou um plano com a intenção de tratar os resíduos tóxicos em Portugal. A fábrica de Souselas foi a escolhida, mas o método será diferente. Uma reunião entre o Ministério do Ambiente e o Chefe dos Lixos Tóxicos fez com que se chegasse a um acordo mútuo: todos os lixos irão fazer greve e prometem não vir para a rua fazer manifestações. Assim, o caso ficará resolvido, pelo menos durante o próximo ano.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

Na Palma do Coração

E assim, com um simples pestanejar de olhos, debruçou-se sobre a tão presente ausência e pensou... e sentiu... Todos os livros que folheava e flores que cheirava traziam-lhe à memória os seus curtos e lisos cabelos a caírem-lhe sobre o rosto de menina. Mais tarde, quando mergulhava sobre a cama, não prometia visitá-la em sonhos, adormecendo apenas com ela no pensamento. Demorava a entregar-se ao sono mas o inconsciente era algo que nunca compreendera e, talvez por isso, tivesse um certo receio em atravessá-lo durante a noite. De manhã, ao acordar, uma leve brisa inundava o seu quarto, passando-lhe ao de leve pela barba de três dias. Levantou-se, esfregou os olhos com a ponta dos dedos e, ainda meio a dormir, arrastou-se até à casa-de-banho. Dez minutos bastaram para que saísse de lá a cantar, enrolado na sua toalha azul. Vestiu-se, ao som de Jorge Palma, e preparou-se para sair.

André Pereira

segunda-feira, 13 de novembro de 2006

1 Ano de Tinta Electrónica

Um ano passou e o tempo continua. Para uns é tempo de acordar, abrir os braços e viver! Para outros, o tempo é escasso e nada melhor que esvaziar uma garrafa e gastar o salário em nicotina.

Para estes e para os restantes tenho escrito, na esperança de os apoiar no seu objectivo de vida mas também na esperança de fazer pensar. Gosto de provocar, apoiar, incentivar, criticar, ajudar, crescer, amar e viver! E são estas as palavras que compõem o objectivo máximo deste blog, tantas palavras que por vezes se misturam no meu coração e viajam às cavalitas do sangue que percorre todo o meu corpo…

Espero que todos os que habitualmente visitam as minhas letras continuem a fazê-lo. Olhem para elas, sorriam, chorem, cantem, gritem, escrevam!

Comigo, continuarão os meus pedaços de saudade que vou traduzindo em palavras. Saudade passada, saudade do que irei sentir e saudade de tudo aquilo que nem sequer entrará no meu dicionário mental.

André Pereira

sexta-feira, 10 de novembro de 2006

A confirmação do óbvio: Benfica Maior do Mundo!

O Benfica entrou oficialmente para o Guinness Book of Records como clube com mais associados do Mundo, precisamente 160.392 sócios, número que figurará na edição de 2007 do mais famoso livro de recordes.

O certificado, que arrebatou o estatuto aos ingleses do Manchester United, que "reinavam" com 152.000 associados, foi hoje entregue ao presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que dentro de três anos quer atingir a meta dos 300.000 sócios.

"A ideia é ir batendo anualmente o nosso próprio recorde até chegar à meta dos 300.000", frisou o dirigente, que quer agora centralizar nos sócios a estratégia do novo mandato.

Nesse sentido, o futuro canal de televisão do Benfica "permitirá aperfeiçoar a comunicação com sócios e adeptos" para atingir o ambicioso objectivo dos 300.000 associados, "aliando uma estratégia empresarial ao sentido da paixão".

"Hoje tivemos o reconhecimento mundial da nossa grandeza. Mas tracei uma meta e quero lá chegar. Agora, queremos que todos os sócios tragam um amigo ou familiar benfiquista para se filiar. Só com essa ajuda poderemos alcançar os 300.000", alertou o presidente do Benfica.

Para Luís Filipe Vieira, serão os associados a determinar as ambições do Benfica no futuro próximo: "são eles que vão dizer se querem ou não um Benfica na Europa".

Aproveitando a época festiva que se avizinha, Luís Filipe Vieira adiantou que será revelado em breve "porque é que o Pai Natal é vermelho", antecipando, sem revelar grandes pormenores, uma campanha que passará também em sensibilizar os associados a oferecer um "kit" como prenda natalícia.

O clube da Luz projecta também o lançamento do "kit sócio" em Angola e deseja reforçar a campanha em curso na América do Norte.

Em meados de Julho, quando o clube assumiu a corrida ao recorde mundial, o Benfica contava precisamente com 151.424 associados, cifra que, na altura, já ultrapassava outros dois "gigantes" mundiais, o Bayern de Munique (Alemanha) e o FC Barcelona (Espanha), ambos com cerca de 145.000 sócios.

Fonte: RTP

Diário de Vendas - 99% de Desconto*

Não se espantem os leitores com o título desta rubrica. O Diário de Fictícias não abandonou o mundo das letras para se dedicar ao comércio de qualquer outro produto. O único diário semanal optou por dar um passo rumo ao desconhecido, dedicando as próximas linhas à divulgação e recomendação de variados produtos que se podem tornar utensílios indispensáveis, tendo em conta a sociedade em que vivemos actualmente.

Graxa – Numa altura em que a aparência é mais importante do que a essência, nada melhor que ter sempre à mão (ou melhor, ao pé) uma pequena caixinha de graxa. Se a utilizar conforme está indicado no rótulo, poderá subir muitos degraus na carreira política. Isto porque os sapatos se tornam mais resistentes, pois claro…

Colete Salva-vidas – O mau tempo vai chegando e, com ele, outras inundações irão causar alguns danos. Mas, para evitar males maiores, nada melhor que ter bem colado ao corpo um colete que, para além de o proteger de outros perigos, impede que se afogue mais em dívidas. Muitos são aqueles que se vestem de gala mas esquecem-se que actualmente vivemos num Titanic moderno: mais tarde ou mais cedo iremos bater com um iceberg que nos chama à realidade e aí, será tarde demais.

Martelo – Qualquer cidadão responsável tem na sua garagem, junto de todas as outras ferramentas, um martelo que é essencial para construir, arranjar ou destruir, conforme a situação. É a ferramenta mais importante de qualquer carpinteiro, uma vez que trabalha com a madeira e, por vezes, é preciso uma boa martelada para ela amolecer. Basta de bichos da madeira!

Cartaz – Hoje em dia, mais importante que saber ensinar ou até mesmo aprender, é ter um cartaz com frases de ordem e insultuosas contra alguma coisa. Pode-se até nem saber do que se trata, mas é essencial ter um!

* Brevemente, será este o número percentual que iremos descontar para a Segurança Social

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

“Quero ser optimista, mas entendam o meu pessimismo!”

No passado dia 8 de Novembro de 2006 decorreu, no Instituto Universitário Justiça e Paz, em Coimbra, uma conferência intitulada “Imprensa regional: que futuro?”, proferida pela professora Ana Tamarit Rodríguez, da Universidade Pontifícia de Salamanca.

Promovida pelo Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais de Coimbra, esta conferência contou com a presença de muitos estudantes e profissionais de jornalismo da região de Coimbra, representantes de jornais como o “Diário de Coimbra”, “Campeão das Províncias”, “Diário as Beiras”, entre outros.

Tendo como base o tema “Jornalismo Regional”, Ana Rodríguez começa por afirmar que este tipo de imprensa não pode ser considerado de segunda categoria mas sim como diferente de todas as outras.

Num mundo em que a informação navega rapidamente por todo o mundo, a imprensa regional ocupa um papel bastante importante na sociedade, ao contrário do que dizem muitos analistas.

Dirigida a públicos menos numerosos, o círculo de influência é, obviamente, menor. Habitualmente, encontra-se afastada dos centros de poder e os conteúdos referem-se a contextos mais próximos do seu público. Por conseguinte, acede a uma cota de mercado mais pequena, obtendo menos receitas.

Esta informação global chega ao público de formas diferentes. Podemos definir três: descida das elites em cascata, ebulição desde as bases até ao topo e identificação com os grupos de referência. No cimo, encontramos as ideias das elites económicas e sociais. Seguem-se as ideias das elites políticas e governamentais. Como mediador de informação entre as elites e o “povo” temos uma rede de comunicação massiva, pessoal que transmite e difunde as mensagens. Na base desta pirâmide, temos os líderes de opinião a nível local e a estagnação do público e da massa. Logo, a informação, depois de ter passado todos estes níveis, não nos chega da melhor forma.

Esta hierarquia faz-nos pensar na questão da liberdade, uma vez que não acedemos à mesma informação que outras classes acedem. Segundo Ana Rodríguez, “não pode haver liberdade que não tenha informação suficiente para detectar a mentira”.

A oradora aproveitou para fazer a comparação entre Espanha e Portugal, no que diz respeito à importância da imprensa regional. Se, em Portugal, esta ainda não despertou, o mesmo não se pode dizer em relação a Espanha, que conheceu um forte desenvolvimento nesta área.

Esta globalização surge nos anos 80 (simbolicamente com a queda do Muro de Berlim), criando-se grupos multimédia que funcionam como um todo – “pensam globalmente, actuam localmente”.

Estes grupos mediáticos encontram-se implantados em quase todas as regiões, dedicando-se à imprensa, rádio e televisão. Não operam só na região de origem, mas tentam conquistar outros mercados.

Por seu lado, a imprensa regional actua em locais pequenos, com escassos recursos e poucos jornalistas. Depende, portanto, de uma economia que depende de inversões publicitárias do poder local e regional.

Apesar de tentar oferecer informação, a imprensa regional desinforma e entretém, sendo raramente contestada por outra notícia. Notamos, ainda, o predomínio de declarações (“Segundo X…”), como que defesa da sua própria profissão.

Os jornalistas locais são, na sua maioria, gente jovem, sendo os cargos superiores encabeçados por homens.

No final da sua apresentação, a professora Ana Tamarit Rodríguez concluiu com uma frase que marca esta conferência: “Quero ser optimista, mas entendam o meu pessimismo!"
André Pereira

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

Afinal Picasso vai à praça

Na segunda-feira, um juiz de Manhattan suspendeu a venda do Retrato de Ángel Fernández de Soto, de Pablo Picasso, porque segundo Julius Schoeps a sua família foi obrigada a vendê-lo durante a Segunda Guerra Mundial. Ontem, o mesmo magistrado decidiu que afinal a pintura pode ir à praça num leilão que a Christie`s tem agendado para hoje, em Nova Iorque. A obra faz parte do período azul de Picasso e é um dos quadros mais procurados do pintor espanhol.

Fonte: Público
Foto: Kirsty Wigglesworth/AP

terça-feira, 7 de novembro de 2006

IV

Encerraram-te aqui as cinzas veneradas;
Esta urna te contém, eternamente, agora,
Nela também existo e as noites e alvoradas
Passem, pouco me importa, ululando lá fora.

Tenho-lhe a adoração das relíquias sagradas,
Pois este relicário onde o meu sonho mora,
Contém, para a minh’alma, as ilusões passadas
E a pulverização do teu perfil de outrora.

É-me grato sentir, pelas noites sem termo,
Toda a apaziguação do meu tormento vário,
Tendo-te junto a mim a aclarar o meu ermo.

Tendo-te junto a mim, sob este alampadário,
E ver com que saudade e com que esforço enfermo,
Morre a luz em redor do teu incinerário...

Poemas de Morte, Emílio de Menezes

segunda-feira, 6 de novembro de 2006

Esquecimento

Quando eu morrer,
Sem o cansaço inútil da jornada
- Porque nunca senti -
Sem o manto sublime da amargura
- Porque nunca chorei -
Sem a réstia de fogo da alegria
- Porque nunca me ri -
Aqueles que me odiaram,
Os poucos que me acolheram
E os muitos que nunca vi,
Hão-de chorar por convenção
Ou sorrir por teimosia.
Mas nunca mais ninguém se lembrará
Do pobre que nunca riu
Nem chorou
Nem sentiu.

José Carlos Ary dos Santos

domingo, 5 de novembro de 2006

A revolta de Saddam

Saddam Hussein gesticula contra o juiz no momento em que, hoje de manhã, ouviu a sentença que o condenou à morte por enforcamento por crimes contra a humanidade perpetrados na localidade xiita de Dujail, onde foram massacradas 148 pessoas.

Na sessão de hoje do Tribunal Especial Iraquiano, Saddam gritou várias vezes “Deus é grande” e “Longa vida à Nação”. O antigo presidente do Tribunal Revolucionário iraquiano, um dos três meios-irmãos de Saddam e ex-chefe dos serviços secretos, foram sentenciados com a mesma pena.

Fonte: Público
Foto: David Furst/AP

Negras Lágrimas de Sal

E assim, sem esperança e sem qualquer réstea de ilusão, os olhos enchem-se de sal que vai escorrendo pela face arredondada de um futuro que apenas vê o que a janela lhe mostra...

André Pereira

sábado, 4 de novembro de 2006

Entrevista à Lata - Lata Enlatada

Hoje o dia começou mais tarde para a maioria da população estudantil de Coimbra. Já o sol tinha dado lugar à lua quando as capas negras se levantaram para mais uma noite alegre.

O fuso horário já havia mudado, contudo, nestes dias de festa a Torre da Universidade congela os ponteiros, e o badalar dos sinos é substituído pelos ritmos ensurdecedores vindos do outro lado do rio.

Mas para conhecer verdadeiramente o que se passa na outra margem, nada melhor que dar a palavra à personagem principal deste autêntico filme nocturno.

Diário de Fictícias – Boa noite, Senhora Lata!
Lata –
Olha quem ele é… É preciso ter-me para vir falar comigo. Depois do que aconteceu entre nós…

DF – Desculpe, mas não estou a perceber. O que aconteceu?
Lata –
Não se lembra? Já me andou a arrastar pelas ruas de Coimbra…

DF – Sim, mas já lá vai o tempo. Falemos do que interessa. Como se sente nesta altura do ano, em que uma cidade vive para si?
Lata –
Sabe, já estou habituada a este protagonismo. Durante o ano, os estudantes preferem a garrafa e o copo, mas para começar nesta vida nada melhor que ter lata.

DF – Isso é verdade! É preciso coragem para ficar acordado horas e horas a fio durante a noite e no dia seguinte faltar às aulas…
Lata –
Faltar a quê? Eu sou a verdadeira universidade neste início de ano, e olhe que os meus alunos são assíduos e pontuais! Para além de não faltarem, esgotam em segundos as minhas salas de aula.

DF – Alguns clientes do seu espaço dizem que se sentem como sardinhas enlatadas quando assistem às suas aulas…
Lata –
É normal sentirem-se como sardinhas, não é por acaso que nos encontramos junto ao rio…

DF – Mas o Mondego parece não ser apenas uma fonte de sardinhas… Há rumores de alguns tubarões…
Lata –
Sim, confirmo esses boatos. E, como muita gente já reparou, tive de os colocar na entrada do recinto… Podem não ser muito comunicativos e até mesmo violentos para com as pessoas, mas não tinha outra opção. O mais que pude fazer foi convidar o cão do Mickey, um tigre e alguns GNR para ver se conseguem acalmar os ânimos.

DF – Mas no final é habito a festa acabar em xutos e pontapés… Bem, o nosso tempo está a chegar ao fim, mas ainda há uma última questão que lhe gostava de colocar… Qual é a sua ideia em relação ao estado do Ensino em Portugal?
Lata –
Eu acho que o ensino vai muito bem e a crise económica de que tanto se fala não tem tido repercussões na minha actividade. Antes pelo contrário, a cada ano que passa vou ganhando adeptos. Até já pensei em fazer uma OPA à UC.