sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

Aborto pe(r)dido

Vergonha! É a palavra com que decido iniciar este texto. Posso aplicá-la ao facto de andarmos a discutir a morte em vez da vida, posso aplicá-la ao facto de andarmos a escolher entre Salazar e Cunhal, posso aplicá-la ao acto demissionário do Governo em convocar um Referendo que deveria ser resolvido no Parlamento. Colocar nas mãos de pessoas tão inteligentes, como é a esmagadora maioria do povo lusitano, uma questão tão importante como a interrupção voluntária da gravidez é simultaneamente um acto de coragem e cobardia totais.

Numa altura em que se fala de aborto tal como se fala de futebol, resolvi equipar-me a rigor e escrever algumas linhas sobre o tema.

Uma falta mal assinalada pelo árbitro não teria tanto efeito como este que ultrapassa idades, classes e religiões. Uns são a favor, outros contra, outros vêem-se espelhados em rábulas do Gato Fedorento… Mas, o que está em questão no referendo do dia 11 de Fevereiro? Somos contra o aborto? Claro que somos, todos! Sem sombra de dúvida, a maioria da população prefere evitar um aborto a cometê-lo. Mas a pergunta não se baseia na nossa opinião sobre o aborto. A frase que estará nos boletins de voto no próximo domingo é a seguinte: "Concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez, se realizada, por opção da mulher, nas primeiras 10 semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizado?". Por aquilo que consigo deduzir, não sou questionado se concordo com o aborto ou com a sua legalização, como muitos andam a dizer em praça pública.

Há vários pontos que necessitam de ser esclarecidos nesta matéria. As palavras-chave desta pergunta são: “despenalização”, “voluntária”, “primeiras 10 semanas” e “estabelecimento de saúde legalmente autorizado”. Muitos têm sido aqueles que confundem estas palavras com “liberalização”, “obrigatória”, “nas primeiras semanas de vida”, “estabelecimento de saúde sem condições”.

Na minha modesta opinião e, tendo em conta que a graduação dos meus óculos é a correcta, as palavras não são bem aquelas, roçando até os próprios antónimos.

O aborto voluntário sempre se praticou e sempre se continuará a praticar. E ninguém fica impune a isso, como é óbvio. O que está em causa é, se a mulher que pratica este acto voluntário até às 10 semanas, deva ser penalizada ou não (pena que vai até três anos de prisão, de acordo com a lei em vigor). Do meu ponto de vista, a resposta é não! Pode ser moralmente condenável mas quem, para além da mulher, tem o poder sobre o seu corpo? Quem, para além da mulher, sofre com as consequências físicas e psicológicas de um aborto mal feito e fora de tempo?

Muitas vozes se levantam do seu sepulcro de riqueza, dizendo que é um crime pecaminoso matar uma vida! Mas, calma… Então Jesus não teve vida inicial. Não houve fecundação por parte do espermatozóide de José no óvulo de Maria (até porque na época não se cometia esse tipo de pecado!). Por amor do vosso senhor! Se a vida começa a partir do momento em que há fecundação, então a pílula do dia seguinte (curiosamente também criticada pela Igreja Católica) também deve ser considerada uma forma de aborto. Se calhar, talvez seja melhor utilizar preservativo, para evitar abortar e arriscar qualquer contágio infeccioso (sei lá, talvez essas pequenas doenças que para aí andam… SIDA, Tuberculose, Hepatite…). Mas o Senhor do Vaticano, perdão, o Senhor do Céu não permite tal afronta à vida humana. Talvez seja melhor, antes de pensar em fecundação, pensar em evitar a penetração. A não ser que seja uma penetração em que não se corra o risco de engravidar… Se pensarmos um bocadinho, quem é que não pode engravidar? Pois, o leitor adivinhou, mas não acredito que senhores da Igreja cometam acto tão bárbaro. Nem há relatos que possam provar isso… Nem membros da Igreja presos…

Enfim, que o tal deus me perdoe (se é que existe mesmo – porque se existisse acho que já cá tinha vindo abaixo crucificar, ele próprio, uns poucos).

As minhas palavras estão-se a desviar, embora que de forma compreensível, do tema em debate. Esta junção de letras toma este rumo porque a esmagadora maioria dos representantes da Igreja Católica em Portugal defende, de forma imoral, o voto no “Não”. Que fique esclarecido que cada pessoa tem o seu direito de escolha, o que eu respeito e defendo! Como Voltaire um dia disse, “Posso não concordar com uma só palavra do que dizeis, mas defenderei até à morte o vosso direito de dizê-lo”. Contudo, a forma como o voto negativo é “publicitado” pode ou não ser condenável. E, na minha opinião, grande parte dos argumentos dos defensores do “não” é completamente descabida.

“Se a lei for aprovada, uma mulher que aborte à 10ª semana e um dia, será na mesma penalizada”, é um dos argumentos. Claro que será penalizada. O limite é até à 10ª semana, será que a mulher não tem 70 dias em que possa pensar e ponderar o seu futuro e aquilo que deseja do seu corpo??? Tem que haver limites! “Se tivesse chegado um minuto mais cedo, não perderia o autocarro”. É óbvio, da próxima devo planear melhor a minha vida, de modo a não chegar atrasado. É uma comparação um tanto ou quanto desproporcional mas é idêntica! O nosso país tem viajado pelos “ses” ao longo dos anos… “Se D. Sebastião vier…”. “Se a Economia melhorar”, “Se tivéssemos ganho o jogo”, “Se…”, “Se…”, “Se…”… Enfim, tomemos outro rumo e apoderemo-nos dos pontos finais e dos pontos de exclamação! Abaixo as reticências e os falsos pontos de interrogação!

Segundo os dados da Federação Internacional de Planeamento Familiar, a interrupção voluntária da gravidez é considerada crime na Grã-Bretanha, Chipre, Espanha e Polónia (tal como em Portugal), sendo admitidas poucas excepções. Mas entre os 27 da União Europeia só Malta é totalmente contra o aborto, seja em que circunstância for. E a mulher que o praticar incorre numa pena de prisão entre 18 meses e três anos. Ou seja, estamos entre os países mais desenvolvidos da Europa!

Os defensores do “não”, que eu respeito profundamente, argumentam, ainda, que uma aprovação popular levará a uma liberalização do aborto, aumentando drasticamente as interrupções voluntárias de gravidez. Outro erro! O número de abortos não aumentará, até porque tenho a certeza absoluta, mesmo pertencendo ao género oposto, que nenhuma mulher aborte porque lhe dá prazer (“Não utilizámos preservativo, por isso vou abortar”)! Isso é desrespeitar a mulher como pessoa, como ser humano! Desrespeito esse que tem sido preconizado de forma sublime por aquela grande e nobre instituição que é a Igreja Católica.

Agora, o registo do número de abortos aumentará significativamente! Sem qualquer sombra de dúvida! Isto porque passarão a ser legalizados e efectuados em “estabelecimentos de saúde legalmente autorizados”. E não sei onde estará o mal, antes pelo contrário. Combater-se-á o aborto clandestino e proteger-se-á a integridade física e psicológica da mulher.

Os defensores do “sim”, ao contrário dos defensores do “não”, não estabelecem nenhuma obrigatoriedade! Os defensores do “não” afirmam que a mulher não pode e não deve abortar! Os defensores do “sim”, nos quais eu me insiro, defendem que a mulher deve escolher de forma livre, tendo em conta, como é óbvio, todos os pontos de vista e todas as opiniões. Aliás, é uma decisão que não é seguramente fácil, ao contrário do que os partidários do “não” tendem fazer parecer. Votar “sim” não significa obrigar as mulheres a abortar! Este é outro erro frequente que os defensores do “não” pretendem transmitir de forma incorrecta à população.

Nestas últimas semanas, tenho visto espalhados pelas ruas inúmeros cartazes a apelar ao voto no “sim” e no “não”. Não consigo compreender é a mente mesquinha daqueles que desenham pequenas crianças inocentes em amplos cartazes: “Tenho 10 semanas, não me mates!” Por favor… Ou então (e lá voltamos nós ao principal problema, na minha modesta opinião), as mais de 850 cartas que foram colocadas nas mochilas das crianças, apelando ao voto contra o aborto. Isto sucedeu no Centro Paroquial de Nossa Senhora da Anunciada, em Setúbal. Adivinhem quem foram os autores.

Como um grande amigo meu me disse há uns dias, “Se o “não” vencer, será, seguramente, o maior crime do século em Portugal”. E, apesar de ainda nos faltarem umas dezenas de anos para completarmos esta era, estou completamente de acordo.

Por mera curiosidade, no dia do Referendo – 11 Fevereiro – celebra-se a Independência do Estado do Vaticano (1929), segundo os tratados de Latrão
. Espero que este aniversário não seja angariador de muitos presentes. Para mim, apenas desejo que “me agradem, por favor”. Não fosse esse o título do primeiro disco dos Beatles gravado, coincidentemente, no dia 11 de Fevereiro de 1963 – “Please Please Me”.

André Pereira
Fotografia:
M. Lima

5 comentários:

DrSerranito disse...

Olá,
peço desculpa se me desviar do tema. Mas a questão de colocarem o aborto nesta fase que o país atravessa parece-me muito conveniente para o Primeiro Ministro e partido no poder.

PÃO E CIRCO. Pan et circensis...
É o que os tugas gostam. Circo, quanto mais circo melhor, o pessoal fica entretido e ninguém liga ao que se está a passar.
Ninguém liga aos submarinos, fragatas e F's que se compram lá fora.
Ninguem liga às filas dos hospitais e aos milhares de tugas que morrem nos corredores sem camas à espera de serem atendidos e outros, porque a operação nunca chega a vir.

Ninguém liga se nós perdemos os centros de saúde local ou se temos de fazer 40 kms para chegar ao hospital mais próximo.

Ninguem quer saber se isto está mal. Vamos todos votar domingo em mais uma questão e daqui a 3 anos ou algo mais, voltamos ao mesmo.
Até lá, mais uns circos, e tudo na mesma.

Pedir a um povo que vote Sim ou Não, com uma pergunta feita de modo tão estúpido é perguntar a raiz quadrada de um numero a um miudo de 5 anos.

O Presidente da Republica foi apartidário ao aceitar o referendo e pediu a todos o máximo de reflexão.
Infelizmente à excepção de um partido, todos os outros quiseram ter voto na matéria. O PCP, vem ca estória mal contada tentar enganar o zé povinho, e claro...como é partido, quem é pcp vai votar sim.
Quanto ao Bloco de Esquerda, com o seu papagaio, vem tentar com mentiras tb enganar o zé povinho. Falam os 2 de humilhação da mulher e falta de dignidade.
Falta de dignidade é enganar as pessoas. Nenhum mulher foi presa em PORTUGAL por ter abortado.
Quanto ao Partido Popular, tambem parece ter um papagaio. Desta vez do não.
Creio que o sim não vai trazer melhorias às mulheres. Muito plo contrário. Vai deixar de haver pessoal que engravida e recebe subsidios. As mulheres para se manterem vão abortar.
Nos EUA, a taxa de aborto cresceu 694% (numeros reais) quando foi legalizado.
Portugal, tem falta de pessoas jovens, com isto, a situação deve melhorar....
Situação familiar: no passado era golpe feminimo engravidar para prender o rapaz, funciona muito bem. Agora, deixa de haver desculpa. Nao queres? Aborta ora..

Pode parecer muito feminino ter o poder entre matar ou não um filho.
Sim, o poder de matar é um poder muito grande, mas por ordem de ideias, no futuro vamos fazer um referendo para matar os velhos.
Porque não? Não trabalham... xateiam.. Parece bem?

As mulheres SÓ VÃO PERDER em tudo se o sim ganhar. E quanto aos hospitais..sim, se hoje se espera anos por uma operação, quero ver se o feto é abortado até ao tempo limite...

As mulheres não sabem, digo eu...
Mas podem morrer em tal operação.
Não sabem, digo eu... Mas podem com isso nunca mais ter filhos.

E vão-se arrepender de o ter feito.
Vão-se lamentar quanto quiserem e não o puderem. Vão lamentar-se porque podiam ter e não têem.
E MAIS... a mulher na maioria dos casos só aborta porque é coagida nesse sentido. Por SUA ESPONTÂNEA VONTADE, 90% das mulheres não abortariam.

E não pensem que é machismo eu dizer que não. Defendo a vida, até porque no futuro, um dos bébés abortados poderia ser um médico, um cientista que achasse a cura do cancro, da sida,....
Defendo a vida, porque se vocês não dão valor à vida, eu TENHO o direito de acabar com a vossa.

Não reclamem se vos matarem alguém que vocês gostavam, afinal, quem são vocês para falar, se vão matar alguém que nunca vos vai chamar mãe ou pai porque vocês o mataram?

Pensem em vocês e votem NÃO. Existem todos os motivos para defender a vida. As mulheres grávidas, têem apoios pós-natalicios. Têem instituições que podem tomar conta dos filhos se vocês não puderem..
Pensem em quanta gente procura ter um filho e não consegue..
Pensem naqueles que esperam anos para adoptar uma criança.
Pensem no caso recente do militar que fez tudo para ficar com o filho.

Pensem e verão que ao votar sim, vocês estão a dar o primeiro passo para a infelicidade de todos e não apenas das mulheres.
Saibam que o Não, tem dado alguns passos no sentido de não condenar mulheres. Ninguem quer que as mulheres sejam penalizadas.
O SIM ganha e vão nascer as clinicas como cogumelos. Não pensem que todos vão poder abortar com segurança..Ou esperam ou pagam e bem. Pensem na vizinha Espanha como é..


Dia 11, votem não.
Sínto-me mal ao escrever tudo isto e pensar na falta de informação que anda para os lados do sim.
No circo que os partidos de esquerda andam a fazer com isto, assim como a Publicidade gratuita que estão a ganhar...
Isto deveria ser uma atitude não partidária..

Votar sim, é votar sim à morte dos vossos filhos, e de vocês.

Voto NÃO DIA 11, porque respeito a vida e as pessoas.

DrSerranito disse...

Citado de anónimo:

Nem sou a favor da igreja

Anónimo (não verificado) 05/02/2007 - 21:37
Nem sou a favor da igreja nem a favor das leis actuais.
Tanto uns como outros sempre disse que procedem mal. O que está em causa aqui é a vida de uma pessoa que inicialmente não se consegue defender. Isso eu sou a favor da vida e condeno quem queira meter termo a qualquer vida que seja.
Todo o ser vivo tem o direito à vida e ninguém pode condenar isso.
O problema de a criança poder ir para um lado ou outro isso é que se deveria discutir e ser resolvido e não decorrer à morte.

Anónimo disse...

André,
Gostei muito do teu texto. Há muito tempo que não passava por aqui e o que gostei principalmente foi da clareza com que conseguiste escrever o que por aí se discute.
Pena é que muita gente fale por falar, sem se tentar colocar no lugar do outro.
Quanto à questão da natalidade, referida num dos comentários anteriores, até agora o aborto tem sido proíbido e não foi por isso que a natalidade aumentou. O desiquilibrio demográfico é uma questão muito profunda e que nenhum governo teve coragem de gastar dinheiro a tentar resolver: mais vale cortar nas pensões do que gastá-lo em licenças de parto e afins; mais vale fechar maternidades...
Mas em relação ao que escreveste, gostava só de acrescentar que me parece que, sendo o aborto realizado num estabelecimento de saúde autorizado, haverá muito maior possibilidade de apoiar a mulher no caso de ela mudar de ideias e decidir ter a criança.
Pelo fim da vergonha, do varrer o lixo para debaixo do tapete.
E acima de tudo, pela LIBERDADE de escolha e pela saúde.

Anónimo disse...

Muito bem escrito.... consegues prender a atenção do leitor, a cada linha q passa! Parabéns!

Anónimo disse...

Boas, André!

Olha, não sabia como, mas tinha começado a receber aquela newsletter d'«O Despertar»... e só hoje é que percebi! Aparece-me ali aquilo com a tua foto e com o teu texto... depois comentei com a Clara e ela disse-me que deves ter sido tu quem me inscreveu nessa newsletter! Malvados! Como se não bastassem os mails sobre VI$$$AGRA e CI%%%ALLIS... xD
Não faz mal. De qualquer forma ninguém me liga, é sempre bom que alguém dê valor à minha atenção. :P

Quanto ao assunto em questão... eu nem tenho falado muito sobre isto. Não sei... era um daqueles assuntos que me pareciam tão claros – e, ainda por cima, tão claramente subjectivos – que nem merecia grandes discussões. Cada um diz de sua justiça e pronto...!

Além disso, também me parece que qualquer coisa que seja publicitada perde a sua nobreza. É que é preciso ter uma grande lata para andar por aí a dizer VOTE NÃO ou VOTE SIM...
Porquê? Porque, para mim, o voto no sim era claro, e a razão por detrás desse voto é a mesma que preside ao que acabei de dizer: é que tudo o que impede que as pessoas pensem por si mesmas, tudo o que é uma imposição – principalmente quando é uma imposição injusta e totalmente subjectiva – é, para mim, condenável. E a verdade é que, por exemplo, apelar à emoção e ao romantismo irrealista – através de fotos de fetos abortados – para angariar votos no não, tal como apelar à emoção e ao sentimento de culpa – ao falar em mulheres que tentam efectuar abortos a si próprias ou que o fazem em condições pouco ou nada higiénicas – para angariar votos no sim, é, para mim, um acto de mau gosto. Nunca gostei de imposições e manipulações, e isso parecem-me actos extremamente manipulatórios. Aliás, até chego a achar estranho... como é que há pessoas que SENTEM este assunto de tal forma que chegam a deixar de lado toda a racionalidade e a noção de que são apenas mais uma pessoa – iguaizinhos a mim e a ti – para vir a praça pública dizer-me que eu devia votar nisto ou naquilo? Enfim... outras conversas.

Eu votei sim, como já disse. Mas cheguei a pensar: não estarei apenas a deixar as decisões para os outros? Deixar tudo em aberto é como dizer «agora não me vou preocupar com isso; façam todos o que quiserem e se eu alguma vez me vir nessa situação logo penso no assunto». (E eu sou conhecido por ter muita dificuldade em tomar decisões...)
Mas concluo que isso não é uma coisa má... eu também gosto – e preciso, mesmo – que me dêem espaço e tempo para tomar as minhas próprias decisões em relação a tudo... já há tantas coisas que não podemos escolher! A família, a língua que falamos, o sítio onde nascemos... mas isso são as bases! A partir daí, devíamos ser capacitados de todas as formas e por toda a gente para tomarmos decisões por nós próprios, sem nos sentirmos obrigados a votar fosse o que fosse ou a interromper voluntariamente fosse o que fosse. Foi por isso que votei no sim: porque sou a favor das opiniões individuais, sejam maioritárias, minoritárias ou mesmo estúpidas. Até porque me convém... por vezes sabe-me bem ter uma opinião estúpida, nem que seja só para contrariar.
E quanto ao valor da vida e ao momento em que ela começa... claramente devíamos proibir a masturbação masculina e a menstruação. É que são milhões e milhões de vidas que morrem ali, dum momento para o outro! Aqueles gâmetas estão vivos! E, muito sinceramente, para mim, são tão valiosos quanto eu e tu. E as alfaces que comemos, e os tomates, para não falar dos bifes e dos ovos... e a erva que pisamos? As flores que cortamos para oferecer a alguém? São tudo vidas, e não vejo por que serão menos valiosas que as nossas...

Quanto ao teu texto – na verdade, quanto a todos os teus textos –: embora concorde plenamente com muitas das coisas que dizes – lá está, tanto neste texto como nos outros –, por vezes parece-me que aquilo que estás a dizer não é exactamente novo ou original ou exclusivamente teu ou de uma autoridade... é como se não estivesses confiante nas tuas opiniões... pode ser presunçoso da minha parte, mas, por MUITO LONGE que esteja de ser um «expert» literário, parece-me que tu tens em ti a capacidade de ir muito além do que mostras nestes textos. Se achas que estou errado não ligues; mas se achas que tenho alguma razão, cá vai: não tenhas medo de ter opiniões fortes e de expô-las de forma mais intensa... não meças as tuas palavras com medo de seres mal compreendido... e acredita que, quando parecemos mais confiantes naquilo que dizemos, é muito mais fácil escrever um texto elegante, poderoso, excitante, e chegamos a um ponto em que podemos dizer o maior disparate do mundo com a autoridade de um filósofo grego e as pessoas vão aceitá-lo, acarinhá-lo e fazer amor com ele! Se os grandes autores transmitissem incerteza e dúvida, certamente não seriam grandes autores... e isto significa que, por exemplo, também podes transmitir, com toda a confiança, que estás com dúvidas!
Poderias argumentar que não queres impôr-te como, por exemplo, as campanhas dos movimentos do SIM e do NÃO... mas, infelizmente, o ser humano é um poço de contradições, e eu acho que temos de abraçá-las...

De resto, acho que podes perfeitamente ir a caminho de ser um dos grandes portugueses dos nossos tempos! E eu também! :D


Muito obrigado pela atenção e por partilhares as tuas opiniões. :)