quinta-feira, 24 de julho de 2008

A minha noite não usa baton - V

O que se estava ali a passar? Num segundo, o jornalista ficou branco como a cal, o seu tronco entrou em soluços e os olhos começaram a pestanejar nervosamente. O entrevistado de imediato se prontificou a ajudá-lo, estendeu a mão e agarrou-lhe o antebraço. Porém, o jornalista, estranhamente, dizia que estava bem e que não entendia o porquê de tanto alarido no estúdio. Eu estou bem, muito bem até. Podem só pedir aos duendes que não saltem em cima da mesa? Dão cabo disto tudo… Perante tal afirmação, o burburinho na sala cresceu e a preocupação com o jornalista seguiu o mesmo rumo, drasticamente. As luzes caem ao chão, ouvem-se vidros a partir, a mesa parte-se ao meio, as cadeiras saltam de um lado para o outro, como se fossem pequenas bolas saltitonas na mão de deus. Os câmaras assustam-se e deixam a imagem de lado, em frio contacto com o chão. Ao canto do ecrã, um vulto negro arrasta um outro de cor encarnada. Esta última arrasta-se na imagem que se apresenta aos meus olhos. Chego mais de perto para tentar ver o que se esconde para lá da cor, mas logo salto para trás, caio e fico com as costas coladas no chão. Como se tivesse sido empurrado por um martelo pneumático. Morro de susto e de surpresa.

Texto: André Pereira
Imagem: Gustavo Kruel

3 comentários:

Maria Strüder disse...

Sem pleonasmos... escreves mesmo bem que envolvência de palavras com o toque pessoal. Agradou-me!

Anónimo disse...

Era isto que eu esperava de ti. Que prazer me deu ler este texto. Para a semana há mais, assim espero.
Beijinho

André Pereira disse...

Obrigado Maria e Anónimo(a)!

É um prazer escrever e um gosto ser lido. Agradeço as palavras que me endereçam. Farei tudo para que possam continuar a gostar daquilo que vou escrevinhando.

Beijinhos