quinta-feira, 31 de julho de 2008

“Sabe mais do que uma professora primária que para saber as coisas vai precisar de muitos muitos anos?”

No episódio de 30 de Julho 2008 do “Sabe mais do que um miúdo de dez anos?”, Jorge Gabriel recebeu alguns concorrentes, entre eles, uma rapariga assenhorada que prometia chegar ao topo. Não que ela tivesse afirmado tal coisa, mas o seu curriculum falava por si: professora primária e formadora de professores.

O jogo, esse sim, prometia visto que nele os concorrentes apenas têm de responder a questões retiradas do programa oficial do ensino básico.

Não me recordo bem da ordem das questões, até porque não tenho o hábito de estar a ver televisão com um bloco de notas e uma caneta, mas lembro-me de algumas das perguntas colocadas e, acima de tudo, das respostas dadas pela senhora professora.

À questão “Quantos tempos naturais têm os verbos?”, a concorrente (PROFESSORA PRIMÁRIA!!!) pensa, coça a cabeleira loura, olha o vazio, mexe nervosamente as mãos, olha novamente o Jorge Gabriel e decide espreitar (uma das três ajudas que podem ser utilizadas). Sorte que o rapaz (ou rapariga, não me lembro) sabia a resposta a uma pergunta tão básica como “Qual é o teu nome?” e respondeu: “Três tempos naturais: passado, presente e futuro.”

Ok, até aqui até pode ter sido o sistema nervoso a falar pela concorrente. Mas parece que, ou o seu sistema é tão tagarela como a Júlia Pinheiro, ou a senhora PROFESSORA não sabia falar e tinha de pedir ajuda. Toda a gente sabe que o vértice do sinal de “maior” está virado para a esquerda. Bem como o Hitler foi o terceiro rei de Portugal e a Nossa Senhora de Fátima apareceu mesmo aos três pastorinhos. Tudo verdades incontornáveis da história mundial. Após uma pormenorizada descrição no quadro (se é que era necessária!), Jorge Gabriel lá conseguiu inclinar a senhora PROFESSORA para a resposta correcta: o vértice do sinal de “maior” está virado para a direita. Tcharan! Bravo! Bis! Bis!

A prestação da concorrente ia de vento em popa (tal como a caravela de Salazar em direcção às Caraíbas em 1839 – de certeza que, por este andar, a senhora PROFESSORA anuiria com a cabeça de forma assertiva). Chegava, agora, a vez de colocar à prova os seus conhecimentos matemáticos. Talvez neste campo fosse boa docente. Não é que uma professora PRIMÁRIA precise de ter um conhecimento aprofundado de todas as matérias que lecciona, mas se calhar até daria jeito... “0,3 Hectolitros são 3 Litros”. Pimba! Vai buscar inventor desta unidade de medição! Mais uma vez, Jorge Gabriel (que, de facto, até foi um anjo para a senhora) a conduziu à resposta correcta.

“Qual é a matéria-prima da indústria vidreira?” foi a questão seguinte. Mal a frase interrogativa surgiu no quadro, a concorrente carregou no botão e prontificou-se a responder. Até que enfim uma pergunta à qual sei responder. Vou mostrar a todos que sou uma excelente professora e que não sou nada… burra. Foi este o seu pensamento, desconfio. “É o vidro!”, responde triunfante, com um sorriso rasgado de orelha a orelha.

- Oh meu Deus, por que razão me fazes presenciar cenas destas? Porquê? Porquê? Terei sido um ser demoníaco numa outra vida e agora, de forma a redimir-me de todos os pecados, me obrigas a abrir os olhos a esta praga avassaladora? Salvai-me Senhor, salvai-me! -

A resposta era, obviamente, “areia”, a matéria-prima da indústria vidreira e, quem sabe, da indústria cerebral desta professora. A confusão foi “matéria-prima” com “produto” ou simplesmente “matéria”, mas a concorrente também é professora primária, e não apenas professora. Sendo primária, provavelmente se dedique apenas às coisas básicas, às coisas primárias da vida. Mas “pensar” talvez não seja uma delas.

Finalmente (ou não, porque um concurso é para uma pessoa se divertir, e já não me divertia tanto desde o Sporting-3 Benfica-6 – já lá vão uns anitos e, por isso, deveriam deixar o jogo continuar para bem do meu bem-estar) chega a pergunta em que a senhora PROFESSORA tropeça, cai e não tem ninguém que a possa acudir. Tudo bem que a pergunta não era muito fácil, mas também não era difícil. Ainda para mais quando a resposta está mesmo debaixo do nosso nariz, literalmente! “Quantos pares de costelas tem o ser humano?”. A concorrente não soube responder e decidiu utilizar uma outra ajuda – “copiar”. Porém, o rapaz havia respondido 36 quando a resposta era 12.

Eu não tenho nada contra as mulheres – antes pelo contrário! – mas, em relação a esta, bem que Deus podia estar quietinho e não tirar nenhuma costela a Adão para a fazer.

Tudo bem que criticar é muito fácil e responder sentadinho no meu sofá é simples, cómodo e desprovido de “mãos trémulas”, mas eu não parto a aventura de ir à televisão porque tenho consciência das minhas limitações (e não são poucas, vocês podem confirmar!). Agora, uma pessoa que é professora primária, dá formação a professores e se inscreve num concurso onde a matéria testada é retirada do programa do ensino básico, deve ter consciência de que o nível de exigência é elevado. Posto isto, não tem o direito de não saber responder a perguntas básicas como aquelas que lhe foram colocadas. E, não só se envergonhou a ela própria, como envergonhou uma classe que em muito pouco se lhe assemelha.

3 comentários:

Anónimo disse...

Oi Miudo. Como não podia deixar de ser e após ter-te prometido que deixaria um comentario sobre o teu blog, aqui vai.....gostei imenso, acho que tens muito potencial...és como se diz na giria do futebolês uma diamante por lapidar.lol
Grande abraço.

Acácio

Fir disse...

Caro André Pereira,

também me diverti muito a ver esse programa.
Apenas um reparo à sua crítica: a moça em causa não era professora primária, mas sim licenciada em Ensino Básico. Ou seja, felizmente para os alunos, não conseguiu colocação.
Mais preocupante: dá formação a professores. Até disse que aprende muito com os professores a quem dá formação. Não sei se aprende, mas tenho a certeza que não ensina.
A moça foi a esse concurso, na minha opinião, porque não tem consciência da própria ignorância. E isso aconteceu provavelmente porque na Escola Superior de Educação onde estudou, não lhe ensinaram nada e deram-lhe 18 ou 19 às cadeiras todas.
Era preciso fechar muito curso de formação de professores. E tem razão, felizmente, essa loira não é representativa da classe. Mas pode vir a ser.

André Pereira disse...

Fir, obrigado pelo seu comentário. Agradeço o seu reparo. De facto, devo ter percebido mal a profissão desta senhora. Depois de tanta asneira que saiu daquele ser humano, eu próprio me confundi lol

Volte sempre!