Mário David, deputado do Parlamento Europeu, eleito nas listas do PSD, incentivou José Saramago a abdicar da cidadania portuguesa e confessou ter «vergonha de o ter como compatriota».
«José Saramago, há uns anos, fez a ameaça de renunciar à cidadania portuguesa. Na altura, pensei quão ignóbil era esta atitude. Hoje, peço-lhe que a concretize... E depressa! Mesmo correndo o risco de eu estar a ser politicamente incorrecto», escreveu Mário David no seu site pessoal.
O apelo do eurodeputado social-democrata surge depois de declarações recentes de José Saramago, em que o Nobel português classificou a Bíblia como «um manual de maus costumes, um catálogo de crueldade e do pior da natureza humana».
Mário David diz que, no que respeita a questões religiosas, «Saramago é reincidente, é o seu segundo pecado», logo deveria ser condenado por isso. O eurodeputado terminou dizendo que não está para ouvir as «verdades que a intelectualidade de esquerda lhe quer impingir».
Ora, se Mário David tem vergonha em ser da mesma pátria de uma pessoa que não defende os mesmos ideais que ele defende e que, por isso mesmo, quer expulsá-la e depressa!, então julgo que a pátria de Mário David se situa sensivelmente no centro da Europa entre 1939 e 1945.
Depois, o eurodeputado admite que está a ser «politicamente incorrecto». Isso só prova que não está a agir da melhor forma perante o cargo que ocupa. Um cargo, curiosa e surpreendentemente… político!
Há uma outra coisa que me chamou a atenção: o facto de Mário David apelidar José Saramago de «reincidente». O sacana, afinal, já tinha cometido um outro pecado e este é o segundo. Maldito sejas, José Saramago que não acreditas em Deus! Maldito! Para além de não acreditares em Deus ainda tens a coragem de o dizer publicamente! A questão que eu coloco é a seguinte: qual é o sentido disto? Dizer que Saramago cometeu dois pecados e, por isso mesmo, deveria ser expatriado é a mesma coisa que dizer que Saramago, do ponto de vista futebolístico, é um jogador muito parado e está sempre em fora de jogo. Não faz sentido nenhum, pois está claro! Se há quem baseie as suas decisões nos Dez Mandamentos, eu prefiro basear as minhas nas leis da FIFA. Também pouco se cumprem, mas ao menos têm fundamento.
Quanto à “intelectualidade de esquerda” e às verdades que esta lhe quer impingir, apenas tenho a dizer que – se são verdades – apenas as tem que aceitar. Venham elas de onde vierem. Da esquerda, da direita, do centro… Conotar o ateísmo com a Esquerda Política denota uma ignorância completa perante a realidade, bem como um preconceito perigoso perante os que são de esquerda e os que são ateus.
Caro Mário David, apesar de não pertencer à minha pátria, gostaria que a representasse de uma forma mais digna no Parlamento Europeu.