quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Amália ontem, hoje e amanhã (foi o José Cid que fez este título)

Ontem escrevi que amanhã poderia dizer que ontem vi os Amália Hoje. E assim foi. Lá fora, estava frio e chovia que deus andava, enquanto que no Coliseu estava um calor do caraças. Diz quem ficou na plateia. Já que eu fiquei no balcão a rapar uma ventania no pescoço. De qualquer das formas, valeu bem a pena.
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Nuno Gonçalves, Sónia Tavares, Fernando Ribeiro e o outro deram um excelente espectáculo. A sala estava cheia e as pessoas dançaram, bateram palmas e cantaram os fados imortalizados por Amália, hoje com uma roupagem nova. O projecto é assumidamente pop e não pretende, de forma alguma, "rasgar o passado". A sonoridade é diferente, a coloração é outra, mas o núcleo mantém-se. A mensagem não é apagada nem tão pouco alterada. É de louvar - ao contrário do que muitos dizem - esta reconstrução de um passado tão rico e importante para nós portugueses. Claro que quando se lida com a obra de Amália Rodrigues é preciso ter muito cuidado e ter plena noção do que se está a fazer. E, verdade seja dita, Nuno Gonçalves soube pegar nas pinças e fazer a operação.
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Pegou em três músicos para dar a cara ao projecto: Sónia Tavares, Fernando Ribeiro e aquele. A primeira era uma escolha óbvia, até porque pertence aos The Gift e tem um vozeirão que arrepia; a segunda foi a menos óbvia de todas: Fernando Ribeiro, vocalista dos Moonspell, banda de heavymetal, a cantar Amália Rodrigues? É verdade! E foi uma das surpresas mais agradáveis deste projecto. O seu poderio vocal, a sua presença em palco e o seu carisma caíram ali de forma tão inesperada quanto perfeita; já a terceira escolha - Paulo Praça (tinha de dizer o nome) - foi um autêntico erro de casting. A voz é normalíssima e a presença em palco é ridícula. Troca duas ou três vezes de guitarra, mas não toca nem uma! E ainda bem... Paulo Praça está para os Amália Hoje como o Paco Bandeira está para os Slipknot: não combinam. Era ridículo, não era? "Oh Elvas oh Elvas tchanananannan pum pah pah pah Badajoz-joz-joz-joz à VISTAAAAAAAAAAAAAAA" Pois era.
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Tirando esta inutilidade musical chamada Paulo Praça, o concerto de ontem até foi bastante agradável. Acompanhados por outros músicos e ainda pela Orquestra Sinfónica de Praga, os Amália Hoje deram um óptimo concerto e fecharam com chave de ouro este périplo pelo Coliseu de Lisboa (tirando o Paulo Praça, que fechou com chave de fendas). Nota, ainda, para a parte mais emotiva do espectáculo (foi arrepiante, caraças!), em que se mostra um vídeo inédito de Amália Rodrigues e Alain Oulman a ensaiar uma música que acabou por nunca ser editada: Soledade. Depois do vídeo, os Amália Hoje tocaram uma versão dessa música.
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Ontem vi os Amália Hoje.

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